sexta-feira, 25 de maio de 2012

'Historiografia Transcendental'


   Historiografia
Transcendental

por Hermínio C Miranda

Reformador (FEB) Julho  1974

             
           
            Ao escrever, em 1973, o livro "As Marcas do Cristo", tive a felicidade de encontrar algumas evidências da contribuição que a mediunidade está trazendo à pesquisa histórica e do muito que poderá fazer no futuro.

            Vamos lembrar um desses exemplos aqui.

*

            O Cristianismo chegara a uma encruzilhada: ou seria apenas uma seita judaica ou partiria para a divulgação ampla, em escala mundial, para todos os povos. O teste fora em Antioquia e Paulo estava convencido de que o Cristo viera para todos e não apenas para os judeus. O incidente com Pedro foi o ponto crítico do processo. Anos depois, Paulo diria aos Gálatas (2 :11-14) :

            - Mas quando veio Cefas a Antioquia, enfrentei-o face a face, porque se tornara digno de repreensão, pois antes de chegarem alguns do grupo de Tiago, comia em companhia dos gentios, mas uma vez que aqueles chegaram, foi visto recatar-se e separar-se, temendo os incircuncisos. E os demais judeus o imitaram em sua simulação até o ponto em que o próprio Barnabé se viu arrastado pela simulação deles. Mas quando vi que não procediam com retidão segundo a verdade do Evangelho, disse a Cefas na presença de todos:

            "Se tu, sendo judeu, vives como gentio e não como judeu, como forças os gentios a se judaizarem ?"

            Vimos em Emmanuel as minúcias do dramático acontecimento e ficamos sabendo da tremenda importância do episódio, pois, no seu dizer preciso e sóbrio, "a atitude de Simão Pedro salvara a igreja nascente": (Grifo meu.)

            Tornara-se premente, inadiável, uma definição clara de princípios, pois a causa era grande demais para ficar enredada nas paixões humanas e ao sabor das opiniões pessoais de cada um. Foi assim que Paulo propôs uma reunião em Jerusalém para debater o assunto. Meses depois, Pedro mandou dizer-lhe que estavam prontos para o encontro, que ficaria conhecido na história eclesiástica como o Primeiro Concílio, no ano 49.

            Paulo encontrou a comunidade de Jerusalém profundamente modificada, sob a influência judaizante de Tiago, que mais parecia um "mestre em Israel". Emmanuel, que tem sempre uma palavra de tolerância e suavidade, é particularmente severo neste ponto, dizendo que os olhos de Tiago "deixavam perceber uma presunção de superioridade que raiava pela indiferença" .

            À noite, na hora da reunião, juntaram-se em torno de uma longa mesa os dirigentes da casa. Havia algumas pessoas que Paulo desconhecia. Pareciam componentes de um novo tipo de Sinédrio.

            Como Paulo trouxera Tito consigo, Tiago, muito rígido, quis saber se ele também era judeu. Paulo disse que não.

            - Circuncidado? - insistiu Tiago.

            - Não - esclareceu Paulo.

            Então não podia participar da reunião. A intolerância se instalara no círculo dos seguidores do Cristo. Pouco importavam as excelentes qualidades pessoais de Tito - e continuaria a dar provas disso pelo tempo afora - e o fato de Paulo colocar-se como seu fiador: filho de gregos, incircuncidado, não podia participar dos debates. A reunião somente começou depois que Tito se retirou da sala.

            Pedro, que desejava a presença de Tito, instou junto a Paulo para que o jovem fosse circuncidado, mas Paulo estava indignado; aquilo era uma imposição descabida. Seu primeiro impulso foi regressar a Antioquia e seguir o seu caminho, mas viera a Jerusalém com a intenção de levar "cartas de emancipação", ou seja, uma declaração formal que o liberasse para a pregação entre os gentios. O que estava em jogo para ele era demasiado importante e embora resistisse, a princípio tenazmente, pois a circuncisão de Tito seria um atestado de derrota aos seus princípios doutrinários, acabou cedendo, sob veementes protestos e ressalvas, ante a intransigência das vozes mais influentes na comunidade.

            - No dia imediato - escreve Emmanuel - procedeu-se solenemente à circuncisão de Tito, sob a direção cuidadosa de Tiago e com a profunda repugnância de Paulo de Tarso.

            Ora, esta informação, colhida no mundo espiritual, parece conflitar com a narrativa de Paulo que, na Epístola aos Gálatas, escreveu assim (2:3-5):

            "Pois bem, nem sequer Tito, que estava comigo, por ser grego, foi obrigado a circuncidar-se. Mas, por causa dos intrusos, dos falsos irmãos que solapadamente se infiltraram para espiar a liberdade que temos em Cristo Jesus, com a finalidade de reduzir-nos à escravidão, a quem nem por um instante cedemos, nos submetendo, a fim de salvaguardar para vós a verdade do Evangelho."






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