quarta-feira, 23 de maio de 2012

02-02 'A Reencarnação'





02-02
A Reencarnação


         OBJEÇÕES E REFUTAÇÃO

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            Quer agora o colega saber, em espírito e verdade, segundo o ensina o Espiritismo, qual o alcance, a significação e o benefício da missão do Redentor? Ele, personificação viva da lei divina que trouxe aos homens, e que pôs em prática em todos os seus atos, veio ensinar-lhes o caminho da salvação, oferecendo-lhes o modelo supremo em que se devem inspirar, até atingirem a perfeição.

            Dando-lhes os seus ensinos, de amor, de humildade, de submissão, de indulgência, de fraternidade, e exemplificando, uma por uma, todas essas excelsas virtudes, traçou o roteiro luminoso pelo qual há de seguir todo o rebanho, sejam embora indispensáveis, para alcançar aquele ideal supremo, - e o são forçosamente para todos – as sucessivas reencarnações, cuja necessidade abertamente proclamou a Nicodemos. Tão certo é que desse, e não por outro modo, se há de cumprir a sua promessa feita ao Pai: “das ovelhas que confiastes nenhuma se perderá”.

            E essas ovelhas não são exclusivamente, como o pretenderia a estreiteza de vistas dogmática, nem as que se acham presas no redil do Vaticano, nem as que são apascentadas pelo cajado de novos pastores, umas e outras declarando-se implacável guerra, e assim mostrando quanto se acham divorciadas do espírito do Cristo. São todas essas e mais as que com eles formam a totalidade do rebanho humano, disseminado no planeta, quaisquer que sejam atualmente as insígnias exteriores do seu culto. Porque, assim como Deus não exclui do seu amor a nenhum filho, por mais aviltado que esteja, e sempre lhe oferece os meios de reparação de suas faltas, cedo ou tarde, assim também o Cristo não deixará perder-se um só dos que lhe foram confiados.

            E se alguma vez os ditames da sabedoria e da justiça  impuserem uma seleção, segundo os méritos e o endurecimento de cada um, essa separação será apenas temporária.

            É o que ressalta da seguinte passagem do Evangelho, na qual mais uma vez se evidencia a imprescindibilidade das obras, como condição sine qua non da salvação.  

            O Divino Mestre figura a época em que, segundo o Espiritismo, o planeta terá subido hierarquicamente da condição de mundo expiatório, que é, a de mundo de felicidade e gozo, pelo duplo progresso efetuado, quer em sua constituição física, quer na situação moral dos seus habitantes, quando então o Cristo baixará a assumir a sua direção visível, conservando consigo os espíritos purificados, e relegando os endurecidos para as trevas exteriores de um mundo inferior, onde se irão depurar e preparar para uma futura ascensão, em tempo próprio. 

            “Quando vier o Filho do Homem na sua majestade, e todos os anjos com ele, então se assentará sobre o trono de sua majestade. E serão todas as gentes congregadas diante dele e separará uns dos outros, como o pastor aparta dos cabritos as ovelhas. E assim porá as ovelhas á direita e os cabritos à esquerda.
            Então, dirá o Rei que hão de estar á sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possui o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo:
            Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era hóspede e recolheste-me; estava nu e cobriste-me; estava enfermo, e visitaste-me; estava no cárcere e viestes ver-me.
            Então lhe responderão os justos, dizendo; Senhor, quando é que nós te vimos faminto e te demos de comer; ou sequioso, e te demos de beber? E quando te vimos hóspede e te recolhemos, ou nu e te vestimos? Ou quando te vimos enfermo ou no cárcere e te fomos ver?
            E, respondendo o Rei, lhes dirá: Na verdade vos digo que quantas vezes vós fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes. (Mateus, cap XXV v. v. 31 a 40)
             
            Nesta enérgica  e imponente alegoria do Julgamento, cuja segunda parte apenas deixamos de reproduzir por desnecessária aqui, Jesus estabeleceu de um modo claro e inconfundível o critério que presidirá a escolha dos que forem dignos de ‘possuir a terra’, então regenerada, confirmando-se a sua promessa feita aos mansos, no sermão da montanha. Não se lhe perguntará se foram católicos ou protestantes, judeus, muçulmanos ou budistas ou se professaram mesmo alguma seita particular, nem se acreditaram na virtude mirífica de tal ou tal dogma. A escolha será feita daqueles que praticaram o amor ao próximo, em sua mais ampla acepção, prestando-lhe carinhosa assistência na fome, na sede, na nudez, na enfermidade, no encarceramento, em uma palavra, exercendo a caridade moral e materialmente para com todos os aflitos e necessitados.

            É, pois, a plena consagração da doutrina, soberanamente justa, da salvação pelas obras que não pelo mérito do sacrifício de outrem.

            É, para dar uma ideia da sua solidariedade com todos os desgraçados, sobre os quais Indistintamente se estende a sua piedade, o Divino Mestre torna meridianamente claro o seu
pensamento: “quantas vezes vós fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes.”

            Se, pois, para o julgamento e a salvação hão de prevalecer as obras, e esta doutrina está errada, porque anula os méritos da paixão, morte e sacrifício de Jesus, quem erra não fomos nós, mas o próprio Cristo.

            Em vista do que, pode o nosso colega do ‘Puritano’ persistir na sua teoria da salvação exclusiva pela graça, com todas as responsabilidades que lhe dá o seu papel de pastor de almas, de cuja sorte é seu dever curar.

            Quanto a nós, entre a altiva ortodoxia protestante e o meigo Rabi da Galileia, preferimos, modestamente, mas sem hesitação, permanecer com este último.

            E aqui damos por findo este debate.



inReformador’ (FEB)
Editorial em 15 de Novembro de 1905

administrador
Pedro Richard


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