MENSAGEM DO
PERDÃO
Filho meu, minha voz não despreza
tuas pequeninas coisas de cada dia, mas delas se eleva para as grandes coisas
de todos os tempos.
Ama o trabalho, inclusive o trabalho
material.
Coisa elevada e santa, o trabalho,
presentemente, foi transformado em febre. De que não se tem abusado
entre vós? Que coisa ainda não foi desvirtuada pelo homem? Em tudo vos excedeis
e, por isso, ignorais o labor equilibrado, que tão elevado conteúdo moral
encerra: se busca o necessário ao corpo, ao mesmo tempo contenta o espírito. E,
no entanto, transformastes esse dom divino, com o qual poderíeis plasmar o
mundo à vossa imagem, em tormento insaciável de posse. Substituístes a beleza
do ato criador, completo em si mesmo, pela cobiça que nunca descansa. Quantos
esforços empregados para envenenar-vos a
vida!
Ama o trabalho, mas com espírito
novo; ama-o, não pelo que ele é propriamente, porém, como um ato de adoração a
Deus, como manifestação de tua alma, nunca como febre de riqueza ou domínio.
Não prendas tua alma aos seus resultados, que pertencem à matéria e, portanto, sujeitos
à caducidade; ama, porém, o ato, somente o ato de trabalhar. Não seja a posse,
o triunfo, a tua recompensa, mas, sim, a satisfação íntima de haveres
cumprido, cada dia, o teu dever, colaborando assim no funcionamento do grande
organismo coletivo.
Esta é a única recompensa
verdadeira, indestrutível, solidamente tua; as demais depressa se dissipam e se
perdem. Ainda que nenhum resultado positivo obtivesses, uma recompensa ficaria
contigo para sempre: a paz do coração, paz que o mundo perdeu por prender-se às
coisas concretas, julgando-as seguras.
Desapega-te de tudo, inclusive do
fruto de teu trabalho, se queres entrar na posse da paz. Ocupa-te das coisas da
terra, mas o suficiente para aprenderes a desapegar-te delas.
Toda construção deve localizar-se no
teu espírito, deve ser construção de qualidades e disposições da personalidade,
e não edificação na matéria, que é um remoinho de areia que nenhum sinal pode
conservar.
Tudo o que quiserdes vos seja unido
eternamente deve ser unido por qualidades e merecimento, deve ser enlaçado pela
força sutil da Lei, por vós movimentada, nunca por vossa força exterior, ou por
vínculos das convenções sociais ou ainda por liames da matéria. Só nesse
sentido se pode realmente possuir: de outro modo, não obtereis senão a tristeza
depois da ilusão e a consciência posterior da inutilidade de vossos esforços.
Outro grande problema, que vos diz
respeito, é o amor. Elevai-vos em amor, como deveis elevar-vos em todas as
coisas, se quereis encontrar profundas alegrias. Martelai vossa alma, num
íntimo trabalho de cada dia, que vos leva à conquista de amores sempre mais
extensos, únicos que têm a resistência das coisas eternas.
Sabes que o amor se eleva do humano
ao divino e que nessa ascensão ele não se destrói, mas se fortalece,
aperfeiçoando e multiplicando-se. Segue-me e, então, poderás entoar o cântico do
amor:
"Meu corpo tem fome e eu canto;
meu corpo sofre e eu canto; minha vida é deserta e eu canto; não
há carícias para mim, porém todas as criaturas vêm a mim. Meu irmão de mim se
aproxima como inimigo, para prejudicar-me, e eu lhe abro os braços em sinal de
amor. Eu vos bendigo a todos vós que me trazeis a dor, porque com ela me
trazeis a purificação, que me abre as portas do céu. Minha dor é um cântico que
me faz
subir. Louvado sejas, ó Senhor, pelo que é a maior maravilha da vida; que as
pobres intenções malignas de meu próximo sejam para mim a Tua Bênção".
Estes meus ensinamentos são
dirigidos mais à vossa intuição que ao vosso intelecto. Tem um sentido mais
amplo o que vos tenho dito: a felicidade dos outros é vossa única felicidade,
verdadeira e firme. Significa extinção dos egoísmos num amplexo universal de
altruísmo. Tudo isso pode ser de fácil compreensão, mas é difícil senti-lo. Não
procuro vossa razão que discute, antes busco essa visão interior que em vós
opera, que sente por imediata concepção, que enxerga com absoluta clareza e
lealmente se entrega à ação.
Peço-vos o ímpeto que somente nasce
do calor da fé e que nunca vem pelos tortuosos caminhos do
raciocínio. Não desejo erudição, pesquisas e vitórias do intelecto; quero,
antes, que vejais, num ato sintético de fé e que imediatamente vivais vossa
visão, e personifiqueis a ideia avistada, e resplendais, vós mesmos, em seu
esplendor. Somente então a ideia viverá na Terra e personificado em vós
existirá um momento da concepção divina.
Não estou apelando para vossos
conhecimentos nem para vosso intelecto, que não são patrimônio de todos, mas
venho até junto de vós por caminhos inabituais e em vós penetro como um raio
que desce às profundezas e dissipa as trevas, que cintila e vos arrasta através
de novas vias, com forças novas, que levantarão o mundo como num turbilhão.
Também falarei, para ser entendido,
a linguagem fria e cortante da razão e da ciência, porém usarei, acima de tudo,
da linguagem ardente e direta da fé. Minha palavra será ora o brado de comando,
ora a ternura de um beijo de mãe.
Para ser por todos compreendida,
minha palavra percorrerá os extremos de sabedoria e de singeleza, de força e de
bondade. Será pranto de amargura e remoinho de paixão; será nostálgico lamento,
suspirando por uma grande pátria distante, como será também ímpeto de ação para
até ela conduzir-vos. Minha palavra rolará, por vezes, como regato sussurrante
em verde campina, a trazer-vos o frescor das coisas puras; outras vezes,
trovejará com os elementos enfurecidos na fúria da tempestade.
Ao seio de cada alma quero descer e
adaptar-me a fim de ser compreendido; para cada uma devo encontrar uma palavra
que a penetre no mais íntimo, que a abale, que a inflame e a arroje para o
alto, onde eu estou, que até junto de mim a conduza, onde eu a espero.
Almas, almas eu peço. Para conquistá-Ias
vim das profundezas do infinito, onde não existe espaço nem tempo, vim
oferecer-vos meu abraço, vim de novo dizer-vos a palavra da ressurreição, para
elevar-vos até mim, para indicar-vos um caminho mais elevado onde encontrareis
as alegrias puras.
Vós vos identificastes de tal modo
com a vida física que já não podeis sentir senão uma vida limitada como a do
vosso corpo. Pobre vida, rápida e cheia de incertezas, enclausurada nas limitações
de vossos pobres sentidos. Pobre vida, encerrada num ataúde, na sepultura que é
o corpo a que tanto vos agarrais. Minha voz encerrará todos os extremos de
vossas diferentes psicologias. Escutai-me!
Não vos ensino a gozar das coisas
terrenas, porque são ilusórias; indico-vos as alegrias do céu, porque somente
estas são verdadeiras. Minha verdade não é a fácil verdade do mundo; não vos
prometo alegrias sem esforços, minha promessa não vos ilude. Meu caminho é caminho
de dor, porém, eu vos digo que somente ele
vos conduzirá à liberação e à redenção. Minha estrada é de luta e de espinhos,
mas vos fará ressurgir em mim, que vos saciarei para sempre. Não vos digo:
"Gozai, gozai", como o mundo vos fala. O mundo, porém, vos engana; eu
não vos enganaria nunca.
Minha verdade é áspera e nua,
contudo é a verdade. Peço o vosso esforço, mas vos dou a felicidade. Digo-vos:
"Sofrei", mas junto de vós estarei no momento da dor; com piedade
maternal, velarei por vós; medindo todo o vosso esforço, proporcionarei as
provas segundo vossa capacidade; finalmente, farei o que o mundo não faz: enxugarei
vossas lágrimas.
O mundo parece espargir rosas, mas
na verdade distribui espinhos; eu vos ofereço espinhos, porém vos ajudarei a
colher as rosas.
Segui-me, que o exemplo já vos dei.
Levantai-vos, ó homens: é chegado o momento. Não venho para trazer guerra, mas,
sim, paz. Não venho trazer dissensão às vossas ideias nem às vossas crenças:
venho fecundá-Ias com meu espírito, unifica-Ias na minha luz.
Não venho para destruir e sim para
edificar. O que é inútil morrerá por si mesmo, sem que eu vos dê exemplo de
agressividade.
Desejaríeis sempre agredir, até
mesmo em nome de Deus. Com que grande avidez ansiais por discussões e lutas
contra vossos próprios irmãos, prontos a profanar, assim, minha pura palavra de
bondade. Repito-vos: "Amai-vos uns aos outros". Não discutais, mas
dai o exemplo de virtude na dor; amai vosso próximo; aprendei a estar sempre
prontos para prestar um auxílio, em qualquer parte onde haja um padecimento a aliviar,
uma carícia a oferecer. Vossas eruditas investigações tornaram tão ásperas
vossas almas que não vos permitiram avançar um só passo para o céu.
Não venho para agredir, mas para
ajudar; não para dividir, mas unir; não demolir, mas edificar. Minha palavra
busca a bondade, antes que a sabedoria. Minha voz a todos se dirige. Ela é
ampla como o universo, solene como o infinito. Descerá aos vossos corações, às
vezes com a doçura de um carinho, outras vezes arrastadora como o tufão.
Do alto e de muito longe venho até
vós. Não podeis perceber quão longo é o caminho que nós, puro pensamento,
devemos percorrer a fim de superar a imensa distância espiritual que nos separa
de vós, imersos na terra lodosa. Vossas distâncias psicológicas são maiores e
mais difíceis de ser vencidas que as distâncias de espaço e de tempo. Por isso,
às vezes, chego fatigado. Minha fadiga, porém, não é cansaço físico: provém apenas
do desalento que me nasce de vossa incompreensão. E, no entanto, minha palavra
tem a doçura da eternidade e do infinito. Tem tonalidade tão ampla como jamais
possuiu a voz humana: deveríeis, por isso, reconhecer-me.
Venho a vós cheio de amor e de
bondade, e me repelis. Eu, que vejo os limites da história de vosso planeta ;
eu, que num rápido olhar, vejo sem esforço toda a laboriosa ascensão desta
humanidade cujo pai sou, eu me faço pequenino hoje, limito-me e me encerro num
átimo de vosso momento histórico para que possais compreender-me.
Se vos falasse com minha voz
potente, não me entenderíeis. Meu olhar contempla a Terra, quando o homem ainda
não a habitava e também a vê, no futuro distante, morta, a navegar no espaço como
um ataúde de todas as vossas grandezas. Vejo vosso sol moribundo, depois morto
e em seguida chamado a uma nova vida. Vejo, além desse átomo que é o vosso planeta,
uma poeira de astros a revolutearem sem cessar pelos espaços infinitos, e todos
eles transportando consigo humanidades que lutam, sofrem, vencem e se elevam.
Tudo vejo, tudo leio nos vossos corações como nos corações de todos os seres.
Além do vosso universo físico, vejo
um maior universo moral, onde as almas, na sua laboriosa ascensão, cumprindo
seu diuturno esforço de purificação para o Alto; cantam o mais glorioso hino à
Divindade. Esplendorosa luz existe no centro moral do universo, luz que atrai
todos os seres por uma força de gravitação moral mais poderosa do que aquela
que mantém associadas no espaço as grandes massas planetárias e estelares. Tudo
vejo, mas nada falo para não vos perturbar. Tudo vejo e minha mão possante
firma o destino dos mundos. Poderia mudar o curso dos astros, mas nós somos
lei, ordem e equilíbrio e não aprovamos violações. Empunho o destino dos povos
e, no entanto, venho humildemente até vós, para entre vós colher o perfume que
se desprenda de uma alma simples. Esse é meu único conforto, quando desço ao
ao vosso mundo (1), às camadas
profundas e obscuras de matéria densa, formadas de coisas baixas e
repugnantes. Aquele perfume parece perder-se na vossa atmosfera carregada de
emanações perniciosas, como que vencido pelas forças envolventes do mal. Eu o
percebo, no entanto, elegendo-o, e o recolho como se guarda uma joia humilde,
porém preciosa. Recolho a delicada florzinha, humilde e gentil, desabrochada na
lama, e a guardo em meu coração, onde ela repousará. É o único carinho que
encontro em vosso mundo, o único hino, puro e singelo, que me faz descansar.
Com a criancinha repousa aos cânticos de sua mãe, que lhe parecem os mais
belos, assim me acalento, invadido por infinita doçura, no seio dessas vozes
humildes dispersas em vosso mundo.
(1) A propósito dessa Augusta
Visita ao plano terrestre, recordamos ao leitor as excelentes páginas de
"Obreiros da Vida Eterna", de André Luís (psicografia de Francisco
Cândido Xavier, lª edição, 1946, pp. 16-18) que narram a experiência de Metelo,
sábio instrutor espiritual. Ele conta como buscou sua elevação íntima e explica
como o fez invigilantemente a princípio, sem bases espirituais de renúncia e
perfeito amor: "também eu tive noutro tempo a obsessão de buscar apressado
a montanha. A Luz de Cima fascinava-me e rompi todos os laços que me retinham em
baixo, encetando dificilmente a jornada." Buscou elevar-se, mas
ausentando-se sempre das baixas regiões da Terra e dos planos espirituais
inferiores que se lhe avizinham ... até que, narra ele - "certa noite,
notei que o vale se represava de fulgente luz... Que sol misericordioso
visitava o antro sombrio da dor?
Seres angélicos desciam,
céleres, de radiosos pináculos, acorrendo às zonas mais baixas, obedecendo ao
poder de atração da claridade bendita. "Que acontecera?" - perguntei
ousadamente, interpelando um dos áulicos celestiais. - "O SENHOR JESUS VISITA
HOJE OS QUE ERRAM NAS TREVAS DO MUNDO, LIBERTANDO CONSClÊNCIAS ESCRAVIZADAS". Nem mais uma palavra. O
Mensageiro do Plano Divino não podia conceder-me mais tempo. Urgia descer para
colaborar com o Mestre do Amor, diminuindo os desastres das quedas morais,
amenizando padecimentos, pensando feridas, secando lágrimas, atenuando o mal e,
sobretudo, ABRINDO HORIZONTES NOVOS À CIÊNCIA E À RELIGIÃO, de modo a desfazer
a multimilenária noite da ignorância. Novamente sozinho, na peregrinação para o
Alto, reconsiderei a atitude que me fizera impaciente. Em verdade, para onde
marchava o meu Espírito, despreocupado da imensa família humana, junto da qual
haurira minhas mais ricas aquisições para a vida imortal? Porque enojar-me,
ante o vale, SE O PRÓPRIO JESUS, QUE ME CENTRALIZAVA AS ASPIRAÇÕES, TRABALHAVA,
SOLÍCITO, PARA QUE A LUZ DE CIMA penetrasse as entranhas da TERRA?"
A vasta bibliografia
católica-romana, desde os pais da Igreja às "Fioretti" e de São
Francisco a Santa Teresa, reconhece a realidade da Presença operante de Cristo
em nosso mundo, tão ingrato ao Divino Amor. Igualmente a literatura
protestante, através de um dos mais belos livros evangélicos norte-americanos,
- "Como Cristo Veio à Igreja" - defende, atualiza e exemplifica a
mesma tese. (Nota do tradutor).
Essa é a única trégua em meio ao trabalho
de iluminar e guiar-vos, ó homens rebeldes, que acreditais dominar e sois
dominados, que pensais subir, mas, na verdade, desceis. Eu poderia, contudo,
atemorizar-vos por meio de prodígios, aterrorizar-vos com cataclismos.
Convencer-vos-ia, no entanto? Minha mão se levanta sobre vós, que sois maus,
como uma bênção, nunca para vinganças.
Escutai com atenção esta grande
palavra: desejo que o equilíbrio, violado pela vossa maldade, se restabeleça
pelos caminhos do amor e não pelo castigo. Compreendeis a grande diferença?
Eis as razões da minha intervenção,
da minha presença entre vós.
A Lei quer o equilíbrio. É a Lei.
Vós a desrespeitastes com vossas culpas, ultrajando assim a Divindade. O
equilíbrio a “deve" restabelecer-se, a reação a “deve" verificar-se,
o efeito “deve" acompanhar a causa,
por vós livremente buscada.
Deus vos quer livres, já o sabeis.
Pois bem, eu venho para que o equilíbrio se restabeleça pelos caminhos do amor
e da compreensão; venho para incitar-vos, com palavras de fogo, ao entendimento,
estimular-vos a retomar livremente a via da redenção; finalmente, venho
ensinar-vos a fazer de vossa liberdade um uso que vos eleve e salve, e não que
vos rebaixe e condene. Venho tornar-vos conscientes dessa Lei que vos guia e da
maneira de restaurardes a ordem violada, a fim de que essa violação não venha a
recair sobre vós, como tremendo choque de retorno que destruirá vossa civilização.
Venho para salvar-vos, para salvar o
que de melhor possuís, o que fatigosamente os séculos têm acumulado,
ao preço de muitas dores e de muito sangue.
Entre a necessidade férrea da Lei
que, inexoravelmente, volve ao equilíbrio, interponho hoje o meu amor e a minha
luz, como já interpus a minha dor e o meu martírio!
Homens, tremei! É supremo o momento.
É por motivos supremos que do Alto desço até vós. Escutai-me: o mundo será
dividido entre aqueles que me compreendem e me seguem e aqueles que não me
compreendem e não me seguem. Ai destes últimos! Os primeiros encontrarão asilo
seguro em meu coração e serão salvos; sobre os outros a Lei, não mais
compensada pelo meu amor, descerá inelutavelmente e eles serão arrastados por
um vendaval sem nome para trevas indescritíveis.
Não vos iludais: reconhecei a minha
voz. Reconhecei-a pela sua imensa tonalidade, pela sua bondade sem fronteiras.
Algum homem, porventura, já falou assim? Falo-vos de coisas singelas e elevadas,
de coisas boas e terríveis. Sou a síntese de todas as Verdades.
Não me oponhais barreiras de vossas
almas, mas escutai, ponderai, deixai que este raio de luz que vem de Deus desça
à vossa consciência e a ilumine. Eu vo-lo rogo, humilhando-me em vossa presença;
humildemente, para vossa salvação, eu vos suplico: escutai a minha voz!
Que sobre vós desça a paz. A paz! A
paz que não mais conheceis venha sobre vossas almas! Entre vós e a divina
justiça está minha oração: "Deus, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem".
Pobres seres perdidos na escuridão
das paixões; pobres seres que tomais por luz verdadeira o ouropel fascinador
das coisas falsas da Terra! Pobres seres, maus e perversos! E, no entanto, sois
meus filhos e por amor de vós de novo subiria à cruz para vos salvar. Pobre seres
que, numa vitória efêmera de matéria, que chamais civilização, haveis perdido
completamente o único repouso do coração -. a minha paz!
Escutai-me. Falo-vos com amor,
imenso amor. Fui por vós insultado e crucificado, e vos perdoei; perdoo-vos
ainda e ainda vos amo. Trago-vos a paz. Até junto de vós retorno para falar-vos
de uma ciência que a vossa não conhece, para pronunciar-vos a palavra que
nenhum homem sabe falar, palavra que vos saciará para sempre. Escutai-me.
Minha voz conduzirá vosso coração a
um estase que nenhuma vitória material, que nenhuma grandeza do mundo jamais
vos poderá dar.
Como um clarão intuitivo, minha luz
espargirá sobre vós uma compreensão a que os laboriosos processos de vossa
razão não chegarão jamais. A razão, filha do raciocínio, discute e calcula, mas
eu sou o clarão que em vós se acende e pode, num átimo, transformar-vos em
heróis. Aceitai, suplico-vos, este supremo dom que vos ofereço e pelo qual vim
de tão longe até junto de vós: aceitai esta dádiva esplêndida, que é a minha
paz. É a bem-aventurança do céu, que vos trago de mãos cheias; é a felicidade
que coisa alguma terrena jamais vos poderá dar. Reconhecei a minha paz! Para
recebe-Ia, abri todas as portas de vossa alma! Dela saciai-vos, com ela
inebriai-vos! É um dom imenso que vos trago do seio de Deus, é uma graça com
que o meu imenso Amor recompensa a vossa ingratidão.
Até vós eu venho, trazendo os mais
lindos dons, para derramar sobre vossas almas a verdadeira felicidade. Venho
para suavizar a Justiça Divina. Fiz longa e fatigante viagem, do meu céu
radioso às vossas trevas. Vim espontaneamente, pelo amor que vos consagro. Não
renoveis as torturas do Getsêmani, as angústias da incompreensão humana; os
tormentos de um imenso amor repelido.
Quem sou eu? - perguntais-me.
Sou o calor do sol matinal que vela
o desabotoar da florzinha que ninguém vê; sou o equilíbrio que, na
variação alternadora dos elementos, a todos garante a vida. Sou o pranto da
alma quebrantada, em que desabrocha a primeira visão do divino. Sou o
equilíbrio que, nas mudanças dos acontecimentos morais, a todos promete
salvação. Sou o rei do mundo físico de vossa ciência; sou o rei do mundo moral
que não vedes.
Sempre me procurais, em toda a
parte. Sempre mais profundamente vos escapo, de fibra em fibra, nas vossas
mesas de anatomia, de molécula em molécula nos vossos laboratórios. Vós me procurais,
dilacerando e dissecando a pobre matéria: mas eu sou espírito e animo todas as coisas.
Não com os olhos e os instrumentos materiais, mas somente com os olhos e os
instrumentos do espírito podereis encontrar-me.
Sou o sorriso da criança e a carícia
materna; sou o gemido daquele que morre implorando salvação; sou o calor do
primeiro raio de sol da primavera, que traz a vida e sou o vendaval que traz a
morte; sou a beleza evanescente do momento que foge; sou a eterna harmonia do
Universo.
Sou Amor, sou Força, sou Ideia, sou
o Espírito que tudo vivifica e está sempre presente. Sou a Lei que governa o
organismo do universo com maravilhoso equilíbrio. Sou a Força irresistível que
impulsiona todos os seres para a ascensão.
Sou o cântico imenso que a criação entoa ao Criador.
Tudo sou e tudo compreendo, até o
mal, porquanto o envolvo e o limito aos fins do Bem. Meu dedo escreve, na
eternidade e no infinito, a história de miríades de mundos e de vidas, traçando
o caminho ascensional dos seres que para mim se voltam, seres que atraio com
meu Amor e que recolherei na minha luz.
Muitos mundos já vi antes do vosso,
muitos verei depois dele. Vossas grandes visões apocaIípticas para mim são
pequeninas encrespaduras nas dimensões do tempo. Virei, entre raios de tempestade,
para dobrar os orgulhosos e elevar os humildes. Virei vitorioso na minha glória
e no meu poder, triunfante do mal, que será rechaçado para as trevas.
Tremei, porque quando eu já não for
o Amor que perdoa e vos protege, serei o turbilhão que tempestua, serei o
desencadear dos elementos sem peias, serei a Lei que, não mais dominada pela minha
vontade, trazendo consigo a ruína, inexoravelmente explodirá sobre vós.
Tudo é conexo no Universo: causas
físicas e efeitos morais, causas morais e efeitos físicos. Um organismo
compressor vos envolve e nele estais presos em cada ato vosso.
Minha poderosa mão firma o destino
dos mundos e, no entanto, sabe descer até a mais humilde criancinha
para lhe suster, carinhosamente, o pranto. Essa é a minha verdadeira grandeza.
Ó vós que me admirais tímidos, no
ímpeto da tempestade, admirai-me, antes, no poder que tenho de fazer-me humilde
para vós, no saber descer do meu elevado reino à vossa treva; admirai-me nessa
força imensa que possuo de constranger meu poder a uma fraqueza que me torna
semelhante a vós.
Não vos peço que compreendais meu
poder, que me situa longe de vós; rogo-vos que compreendais o meu amor que me
assemelha a vós e me coloca ao vosso lado. Meu poder poderá desalentar-vos e
atemorizar-vos, dando-vos de mim uma ideia não justa, a de um senhor vingativo
e despótico. Não mais quero vossa obediência por temor. Agora deve despontar uma nova aurora de consciência
e de amor. Deveis elevar-vos a uma lei mais alta e eu retorno hoje para
anunciar-vos a boa nova. Não sou um senhor vingativo e tirânico, como outrora,
por necessidade, me supuseram os povos antigos: sou o vosso amigo e é com palavras
de bondade que me dirijo ao vosso coração e à vossa razão.
Não mais deveis temer, mas, sim,
compreender. Vossa razão infantil já acordou e nela venho lançar minha luz. Sou
síntese de verdade e em toda a parte ela surgirá, atingindo a luz da vossa
inteligência.
Não trago combates, mas paz. Não
trago divisões de consciência e, sim, união de pensamentos e de espíritos.
A humanidade terrestre aproxima-se
de sua unificação, numa nova consciência espiritual. Não vos insulteis, pois;
antes, compreendei-vos uns aos outros. Que cada um concorra com o seu grãozinho
para a grande fé e que esta vos torne todos irmãos.
Que a religião, que é revelação
minha, e a ciência, que é o vosso esforço e todas as vossas intuições pessoais
se unam estreitamente numa grande síntese, e seja esta uma síntese de verdade.
Porque eu sou o Caminho, a Verdade e
a Vida.
‘Sua
Voz’
2 de Agosto de 1932
Dia do ‘Perdão de
Porciúncula’ de Francisco de Assis
por
Pietro Ubaldi
in
“Grandes Mensagens”
tradução e apresentação de
Clóvis Tavares (Ed. ‘LAKE’ - 1952)
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