Algumas definições
por Roque Jacintho
Espiritismo é inovação no campo
religioso.
Rompendo com o milenar passado,
reedita, com Jesus, os mais ajustados conceitos sobre a vida e a eternidade,
dando-nos maioridade no campo espiritual.
Valerá sempre apreender a dinâmica
de suas definições.
Deus
A primeira pergunta formulada por
Allan Kardec, em "O Livro dos Espíritos", inicia a revolução
religiosa espírita: "Que é Deus?"
Rompendo com o hábito de querer
humanizar o Pai Celestial, quando se indagava: "Quem é Deus", à vista
das limitações de nossa capacidade de analisar o abstrato, a Doutrina Espírita
torna claro que há total despreocupação de querer dar ao Criador as roupagens
ou forma humanas.
É um encontro com Deus-essência e
não homem.
A resposta dos Espíritos é
sintética: "Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as
coisas."
Justiça Divina
Por milênios confundíamos Justiça
Divina com um tribunal de julgamento, onde todas as nossas menores faltas eram
anotadas e, após, cobradas sem comiseração pelas potências espirituais.
Com isso, criamos lugares de punição
para os faltosos.
Céu, inferno, limbo, purgatório -
são expressões do que julgávamos fossem os tribunais divinos ou os recantos
construídos para a liquidação de nossos débitos espirituais.
O Espiritismo, porém, esclarece que
a Providência Divina é manifestação de amor sem limites e que a Espiritualidade
(ou Deus), não são juízes empenhados em catalogar nossas falhas e omissões e
nem estarão entregues ao afã de sentenciar-nos ou castigar-nos.
A Justiça é expressão de
misericórdia.
Os mais avançados tribunais humanos
- porfiando pela reeducação de delinquentes ou transgressores das leis - estão muito longe de exprimir toda a caridade
com que somos envoltos pelos Maiores da Espiritualidade.
O estado de consciência é que
exprime a auto pena.
Justiça não é sinônimo de pena de
resgate.
Reencarnação
O nosso retorno às lides terrenas,
por revestir-nos de um outro corpo, não é castigo e nem poderá ser confundido
de imediato e sem ressalvas com manifestação da Justiça Divina.
É Justiça, a reencarnação, no
sentido de esquecimento do passado e, consequentemente, a nossa incapacidade de
identificar com clareza os amigos e os inimigos.
Graças ao olvido temporário,
reingressamos em lares que já destruímos. Conseguimos ter por pais aqueles a
quem podemos, quiçá, ter ofendido e maltratado. Poderemos amamentar-nos
naquelas que ferimos e vilipendiamos. Recebemos oportunidade de re-harmonização,
sem humilhação, com nossos desafetos.
Os sofrimentos, no curso de uma
romagem terrena, são efeitos imediatos da nossa falta de evolução espiritual.
As dores não nos são impostas; nós as tomamos do acervo de nossa própria
inexperiência.
As frustrações, os traumas, as
decepções, as desilusões, a insatisfação - exprimem a nossa condição evolutiva
e não representam a cobrança imposta, o resgate planificado pelo Mundo Maior.
A Caridade é a
Salvação
Quebrando com o espírito de seita
que sempre nos caracterizou nas mais diferentes épocas e nos mais diversos
graus civilizatórios, o Espiritismo não aponta a si mesmo como o salvo-conduto
para um mundo melhor.
Ser espírita é tornar-se consciente
das leis divinas.
Mas o que efetivamente nos coloca
acima de nossas paixões menos felizes é a vivência do amor fraternal, uma
expressão da caridade moral. Poderemos ou não ser espíritas, sem que tal
titulação religiosa, por si só, seja salvaguarda de impulsos grosseiros.
Por outro lado, estamos sendo
conclamados a não confundir caridade com esmola ou beneficência. Estas poderão
ser uma das facetas da caridade. O seu princípio, um primeiro passo. Mas, a
caridade que nos liberta do egoísmo e do orgulho é aquele movimento espontâneo
de integração com o nosso semelhante, com o nosso companheiro de lutas
redentoras, acima de qualquer expressão dinheirosa.
É imensamente significativo, num
mundo subdividido por grupos que se defendem de outros grupos, um conceito tão
universal e anti-sectário como este esposado e difundido basilarmente pela
Doutrina Espírita.
Evangelho
A Boa Nova do Senhor Jesus,
enfeixada em expressões verbais no Evangelho, não é um livro de poderes
mágicos, capaz de afastar o mal tão-somente por ser compulsado. Não é,
igualmente, um tomo de obrigações religiosas, que leremos com mais ou menos
fervor, desejando cumprir um ritual.
Se não tem poderes especiais em si
mesmo, não é fonte de controvérsias infindáveis, onde as expressões literais
tenham mais força que o gênio que contenham.
É roteiro de luz aos que já se
conscientizaram de que, sem vida espiritual, ainda não tomamos distância das
feras de que nos sabemos uma ramificação biológica.
São as leis espirituais dinamizadas
...
O Espiritismo precisa, dia a dia,
ser redefinido por nós, notadamente pelos contrastes que levanta entre o que
consagrávamos por correto e humano e o que efetivamente é natural e divino.
Reformador (FEB) Março 1974
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