Antônio Wantuil de Freitas
in ‘Reformador’ (FEB) Outubro
1970
Após ingentes e incessantes esforços
despendidos a serviço da causa de Ismael,
que lhe custaram o esgotamento quase completo de seu organismo físico, Antônio Wantuil de Freitas[1], septuagenário,
não pode, desta vez, atender aos apelos que lhe foram feitos pelos confrades e
renunciou à sua candidatura à Presidência da Federação Espírita Brasileira. Seu
antigo Vice-Presidente já lhe ocupa o lugar eleito que foi na reunião do Conselho
Superior de 22 de Agosto último.
A nova Diretoria da Casa de Ismael
não pode deixar sem um registro especial a passagem de Wantuil de Freitas pelo
seu mais alto cargo. Foram 27 anos duma jornada ardorosa, durante a qual não
faltaram, desde o início, todas as modalidades de luta, principalmente as que
decorriam da crise internacional por que passava o mundo.
LUIZ OLIMPIO GUILLON RIBEIRO
desencarnava em 1943 e era sucedido pelo companheiro de Diretoria. Não foram
nada tranquilos os primeiros passos. A Guerra de 39 ainda ía em meio e refletia
sobre a civilização atônita suas consequências imprevisíveis. Plasmava-se, ante
o trágico processo, uma renovação social, política, econômica, cultural, que
não se sabia aonde conduziria. Como vencedores ou vencidos, os povos aliados, de cujo bloco o Brasil participava, afetariam
forçosamente uma nova realidade histórica, fruto das conquistas científicas,
tecnológicas e sociais, tais as que todo após-guerra enseja .
Dificilmente se arriscaria antever em que termos
se colocariam alguns problemas primordiais do homem, como, por exemplo, o
religioso e o moral. Mas, o Espiritismo não era nem é - todos sabemos - apenas
mais uma religião e por isso mesmo guardávamos a certeza de que ele
sobrenadaria ao tumulto das dúvidas que as novas diretrizes da Guerra
avizinhavam. Importante, porém, era saber como e através de quem. Antônio Wantuil de Freitas assume a
Presidência da FEB, órgão de cúpula do Espiritismo no Brasil, talvez no mundo.
Se os ânimos estavam desgovernados era preciso reorientá-los; se a desesperança
estava medrando, era preciso
compensá-ia; se a religiosidade estava declinando, era preciso galvanizá-la.
Outras religiões, outras filosofias davam mostra de cansaço, esgotamento,
esvaziamento. A Guerra é um fantasma repleno de paradoxo que dispara o
progresso e pulveriza os sentimentos, que aprimora a matéria e alui a
metafísica. Restava porém uma última e bruxuleante centelha: a do Espiritismo, cuja
propaganda e propagação estavam agora em mãos do farmacêutico mineiro Antônio Wantuil de Freitas. Com inteligência,
com labor, com dedicação e acima de tudo com a renúncia da própria vida,
lançou-se à tarefa e dela vimos nascer, a par do término da Guerra, em 45, o
primeiro grande esforço com vistas à recuperação da fé, começado e promovido
dentro das nossas próprias fileiras: o Pacto Áureo, assinado em 1949.
Talvez isso, apenas isso bastasse
para marcar a passagem de Wantuil de
Freitas pela Presidência da FEB. Mas não ficou aí seu empenho. Um "coup
d'oeil", sem maiores detenças, sobre a sua administração, permite-nos o
reqistro de pelo menos mais três iniciativas profícuas: o lançamento dos
primeiros selos espíritas do mundo, a concretização da sede de Brasília, e a
consolidação do Departamento Editorial da Federação.
Cansado, idoso, combatido, adoentado,
Wantuil de Freitas renuncia à sua
reeleição e vê seu Vice-Presidente substituí-lo. Ele sabe que o clima mundial
não é muito diferente daquele que comprometia o ano de 1943. Sabe também que a
hora é igualmente dramática e que talvez não se tenha o vigor e a acuidade que ele
teve para contornar as crises do novo e atual ciclo histórico. Mas sabe que
legou meios para suprir as deficiências dos seus sucessores e que, apesar de
tudo, tanto quanto ontem, hoje, amanhã e sempre, Ismael estará
atento à sua missão e intercederá junto ao Cristo para que a Casa-Máter do
Espiritismo continue a ser o fanal de amor e de paz a nortear o mundo do
Terceiro Milênio, através da consolidação do trabalho de fé e da edificação da
moral cristã.
Neste último sentido, Antônio Wantuil de Freitas pautou todo
o seu esforço. Cabe apenas dar-lhe continuidade.
[1] Do
blogueiro: Seu filho, Zêus Wantuil,
segue entre nós. Lamentavelmente, não encontramos uma só foto deste trabalhador
que tanto contribuiu para a Cultura Espírita através de seus maravilhosos
artigos publicados em ‘Reformador’, entre outras tantas atividades.
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