O Filho do Homem
Apareceu um homem, entre esses milhões de habitantes terrestres ...
E esse homem veio tornar-se o centro
da história da humanidade.
Não fez descobertas nem invenções,
não derrotou exércitos nem escreveu livros - esse homem singular.
Não fez nada daquilo que a outros
homens garante imortalidade entre os mortais - o que nele havia de maior era ele
mesmo ...
Pelo ano do seu nascimento datam
todos os povos cultos a sua cronologia.
Possui a esse homem exímios dotes de
inteligência - e infinita delicadeza de coração.
A sua vida se resume numa epopeia de
divino poder - e num poema de humano amor.
Havia na vida desse homem uma pátria
e uma família - mas também um exílio e uma solidão.
Havia inocentes com o sorriso nos
lábios - e doentes com as lágrimas nos olhos.
Havia apóstolos - e apóstatas ...
Brincava nos caminhos desse homem a
mais bela das primaveras - e espreitava-lhe os passos a mais negra das mortes.
Esse homem vivia no mundo - mas não
era do mundo ...
Quando chegou, não havia lugar para ele
na estalagem - e quando partiu, só havia lugar numa cruz, entre o céu e a
terra.
Esse homem não mendigava amor - mas
todas as almas boas o amavam ...
Era amigo do silêncio e da solidão -
mas não conseguia fugir ao tumulto da sociedade, porque "todos o procuravam"
...
Irresistível era o fascínio da sua
personalidade - inaudita a potência das suas palavras ...
Todos sentiam o envolvente mistério
da sua presença - mas ninguém sabia definir esse estranho magnetismo ...
Era uma luminosa escuridão - esse
homem...
Não bajulava a nenhum poderoso - e
não espezinhava a nenhum miserável...
Diáfano como um cristal era o seu
caráter - e, no entanto, é ele o maior mistério de todos os séculos ...
Poeta algum conseguiu atingir-lhe as
excelsitudes - filósofo algum valeu exaurir-lhe as profundezas ...
Esse homem não repudiava Madalenas
nem apedrejava adúlteras - mas lançava às penitentes palavras de perdão e de
vida...
Não abandonava ovelhas desgarradas
nem filhos pródigos - mas cingia nos braços a estes e levava aos ombros aquelas
...
Esse homem não discutia - falava
simplesmente...
Não esmiuçava palavras nem contava
sílabas e letras, como os rabis do seu tempo - mas rasgava imensas perspectivas
de 'Verdade e beatitude...
Por isso diziam os homens, felizes e
estupefatos: "Nunca ninguém falou como Esse homem fala!" ...
Para Ele, não era o esquife o ponto
final da existência - mas o berço para a vida verdadeira ...
Por isto, vivem por Ele e para Ele
os melhores dentre os filhos dos homens - porque adoram nesse homem o homem
ideal, o homem-Deus ...
Huberto
Rohden
in “De Alma para
Alma”
(Ed. União
Cultural Editora 1956)
Nenhum comentário:
Postar um comentário