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Por esses exemplos, que poderíamos
multiplicar indefinidamente, se o intuito deste livro não fosse antes doutrinário
que de vulgarização de fatos, (1) se vê que não exageramos, afirmando que não
está por fazer a prova da sobrevivência.
(1) Não deixemos, todavia, de mencionar
ainda, entre as comunicações de além túmulo, assinaladas por um evidente cunho
de identidade, em primeiro lugar, as que em grande número se encontram na obra
de E. BOZZANO, DEI CASI D'IDENTIFICAZIONE SPIRITICA, rigorosamente documentada,
e em seguida os ditados recebidos pelo médium Fernando de Lacerda e publicados,
em três volumes, sob o titulo Do PAIZ DA LUZ, nos quais o estilo próprio de
conhecidos escritores, como Eça de Queiroz, Camillo Castello Branco, Júlio
Diniz, A. Herculano, João de Deus e tantos outros constitui um testemunho
pessoal e inconfundível de seus invisíveis autores.
Na mesma categoria se devem
incluir os magníficos ensinamentos contidos na obra ROMA E O EVANGELHO,
particularmente os subscritos pelo evangelista João, e ainda os de que se
compõe o volume JESUS PERANTE A CRJSTANDADE, ditado pelo espírito de
Bittencourt Sampaio .
O valor dessa prova, cientificamente
considerada, poderá ser apreciado à luz de um tríplice critério: em relação ao
numero dos fatos, à sua qualidade e, finalmente, à honorabilidade e competência
dos observadores, ou por outros termos: é preciso, em primeiro lugar, que a
massa dos fenômenos observados seja assaz considerável para constituir um rígido
suporte da doutrina, que tem por objeto a ciência da imortalidade, assim
documentada seguida, que os fatos verificados revistam um cunho de
autenticidade positiva, demonstrando a intervenção de entidades extraterrestres
ou, como o dizemos em nossa terminologia, de espíritos desencarnados, com
exclusão das hipóteses de fraude, sugestão, individual ou coletiva, e subconsciência
mediúnica, automatismo psicológico inclusive; e por último, que haja - da parte
dos observadores o verdadeiro critério cientifico, duplicado do espírito de análise
e de crítica, isenta de ideia preconcebida e de credulidade, em condições,
portanto, de se não deixarem tais observadores iludir, sabendo bem observar,
nesse tão obscuro e complexo domínio.
A primeira dessas condições - já o
dissemos - se acha satisfatoriamente preenchida. O número de fatos, quer espontâneos,
quer provocados, de cinquenta anos para cá observados, por assim dizer, em
todas as latitudes do planeta - pela menos entre todos os povos do ocidente --
é de molde a representar o sólido apoio de que ha mister a doutrina, que faz da
imortalidade a sua base.
Dentre esses fatos, nem todos, - força é confessar - a mingua de uma rigorosa
inspeção científica, podem ser atribuídos à intervenção de desencarnados, neles
podendo algumas vezes reconhecer-se a intervenção, pelo menos parcial, dos
elementos que apontamos - automatismo, sugestão e subconsciência (excluídos os fenômenos
fraudulentos, que não devem ser tomados em consideração). Escoimado, porém, dos
casos duvidosos o conjunto dessa fenomenologia hemisecular, a parte restante
apresenta os desejados caracteres de autenticidade, em condições de demonstrar
que o espírito, que vive no homem, sobrevive à decomposição do corpo e pode
manifestar a sua presença ostensiva junto aos que deixara neste mundo.
Dizemos, propositalmente, ostensiva,
porque a ação oculta das entidades espirituais extraterrestres, sem que seja
dos homens suspeitada, é - e mais adiante nesta obra, teremos ocasião de o
demonstrar - muito mais constante e generalizada do que ordinariamente se supõe.
Resta indagar se a terceira condição
para o valor da prova da sobrevivência se acha do mesmo modo preenchida, isto
é, se aos observadores de tais fenômenos não tem faltado o requisito de idoneidade
indispensável.
A nosso ver, essa idoneidade não reside
exclusivamente na posse de um diploma científico, nem para ela se requer indispensavelmente
um renome conquistado nos prélios da ciência. Há indivíduos dotados de um
espírito de ponderação e de bom senso, adestrados no estudo e na meditação, que
possuem muito mais pronunciada capacidade de observação e um critério analítico
muito mais seguro que certos diplomados. Ao demais, como vimos, com o professor
Charles Richet (1), poucos homens possuem esse raro talento, esse dom de
observação, que não é privativo de nenhuma classe e que permite encontrar e
reconhecer o que se desconhece.
(1) Cap. II, págs. 16.
Pois bem, entre os observadores dos fenômenos
espíritas, mesmo nos casos que ainda há pouco mencionamos, não têm faltado
homens de culta inteligência e claro descortino, diplomados ou não, que à sua
análise se tenham levado esse curso de aptidões que conferem ao seu depoimentos
requerida autoridade.
Mas - que dizemos? - nem mesmo cientistas
de consagrado e universal renome têm recusado, uns a veracidade dos fenômenos,
outros, além dessa veracidade, ao conjunto dos incomparáveis ensinamentos
doutrinários do Espiritismo, o testemunho de sua convicção publicamente confessada.
Incrédulos ao começo, terminaram por se render á evidencia.
Por mais que nos queiramos subtrair,
como argumento à sugestão dos grandes nomes, como dizíamos atrás, não
há remédio senão reportar-nos a alguns deles.
Lembraremos, em primeiro lugar, que
o professor J. Hyslop, da Universidade de Colúmbia, observando os fatos que se
produziam com o concurso da notável médium Ms. Piper, ao fim de uma longa série
de experiências, tornou-se um convencido. Levava ao começo o excesso de precaução
de conservar-se incógnito ao ponto de se apresentar nas sessões do doutor
Hodgson com uma máscara no rosto, a fim de não saber o médium quem era o interlocutor.
Tais foram, porém, as provas de
identidade que obteve de espíritos seus conhecidos, entre eles de seu próprio
pai, que com este por fim conversava desembaraçadamente, por aquele médium,
"com tanta facilidade como se estivesse vivo."
A seu turno, o próprio doutor
Richard Hodgson, vice-presidente da Sociedade de Investigações Psíquicas (seção
americana), cognominado, por sua sagacidade em desmascarar vários médiuns,
"o caçador de fraudes" (fraud Hunter), chegou em tais experiências
ao seguinte resultado:
"Há doze anos - disse ele - que
estudo a mediunidade da Sra. Piper, No começo eu só queria nela descobrir a
fraude. Entrei em sua casa profundamente materialista, com o intuito de a
desmascarar. Hoje, digo simplesmente : eu creio!... A demonstração me foi feita
de modo a afastar a possibilidade sequer da menor dúvida."
Não menos concludente é o testemunho
de Sir Oliver Lodge, o ilustre reitor da Universidade de Birmingham (Inglaterra)
-e membro da Sociedade Real de Londres, que em reunião especial da aludida
Sociedade de Investigações Psíquicas, a 30 de janeiro 1908, comunicando o resultado
de observações feitas com outros colegas, mediante o concurso mediúnico das
Sras. Piper e Verrall, afirmava a convicção de haver conversado com os
espíritos de membros desencarnados daquela associação, como Frederic H. Myers,
Edmond Gurney e outros, acentuando :
"Vemo-los responder às diversas
perguntas de um modo característico e próprio de suas personalidades. Exigimos
severas provas, tão difíceis de imaginar como de obter." E acrescenta: "Comunicações
cruzadas (1), isto é, parte por um médium e parte por outro, foram obtidas, não
podendo nenhuma dessas partes por si só, separadamente, ser compreendida pelo médium
.
(1) Em inglês, cross-correspondence, processo ideado
pelos próprios espíritos e que consiste em ditarem um trecho truncado de comunicação
a um médium e o trecho restante, que lhe completa o sentido, a outro médium.
"Isto nos parece provar que a mesma inteligência
dirigiu os diversos médiuns, e a linguagem caraterística do falecido parece me provar suficientemente a
continuação da atividade intelectual daquele indivíduo.
"Se, além disso, nós
obtemos dele um trecho de critica literária ia no seu estilo peculiar, então a
prova, já convincente, se torna esmagadora." (2).
(2)
Testemunho mais recente, divulgado muito depois de terem sido escritas estas páginas
e coligidos esses depoimentos, é o que deu a público esse mesmo Sir O. Lodge no
livro intitulado RAYMOND - nome de um filho seu, tenente do exercito, morto em combate
na França, durante a conflagração europeia - no qual vem
relatadas as numerosas manifestações desse espírito e consignadas interessantes
informações acerca da outra vida e de suas peculiaridades.
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