quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

11 'Doutrina e Prática do Espiritismo'


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III - Constituição Integral do ser humano. O espirito imortal e o instinto de imortalidade. Provas da sobrevivência do espirito. Fatos e testemunhos.


            O homem, segundo o Espiritismo, é composto de três elementos capitais: O corpo físico, instrumento de sua ação e de suas relações no meio congênere exterior ; o períspirito formado de matéria quintessenciada, inapreciável, por isso, aos sentidos ordinários, mas verificável em certas condições, e finalmente o espírito, cuja natureza íntima escapa ao nosso entendimento, ou é pelo menos indefinível, em nosso estado atual de evolução, mas cuja realidade, como o veremos adiante, se nos impõe à razão e à consciência.

            A esses elementos cumpre acrescentar um acessório - o princípio vital, propriedade da matéria organizada e que desempenha, na economia de todos os seres vivos, um papel preponderante, de que, todavia, não nos ocuparemos por agora, tendo de, no capitulo subsequente, voltar a esse assunto.

            Consideremos, pois, o homem sem seus três principais elementos constitutivos e tratemos de determinar, quanto possível, a realidade e o valor de cada um deles, a começar do corpo físico.       

            Nada parecerá mais real, estável e permanente do que este - única realidade, com efeito, a que se apega a quase totalidade dos humanos, inteiramente absorvidos na miragem terrestre. E, todavia, é essa a maior das ilusões.

            Porque o nosso corpo, do nascimento à morte, não é realmente mais que um aglomerado de moléculas, que se agrupam em células, as quais se multiplicam e são destruídas e incessantemente renovadas, até a sua decomposição final.

            Aparentemente fixo, o corpo humano não é assim mais que um laboratório vivo, em que, à medida que os materiais nele engendrados vão sendo utilizados para o grande trabalho da conservação da vida e da integridade orgânica, uma ação paralela de destruição se vai operando, em virtude mesmo dos fenômenos vitais, de tal sorte que, ao fim de um certo número de anos, por prazos que periodicamente se renovam, todos os tecidos de que se compõe o nosso corpo foram integralmente substituídos.

            É o que o eminente fisiologista Claude Bernard, em sua obra LA SCIENCE EXPÉRIMENTALE, expõe nestes termos (1):

                (1) Ver Gabriel Delanne, A EVOLUÇÃO ANIMICA, capítulo sobre "A vida."

            "Quando no homem ou no animal se opera um movimento, uma parte da substância ativa do músculo se destroi ou se queima; quando a sensibilidade e a vontade se manifestam, os nervos se gastam; quando o pensamento se exerce, o cérebro se consome. Pode-se, portanto, dizer que jamais a mesma matéria serve duas vezes na vida. Quando um ato se executa, a parcela da matéria viva, 'que serviu para o produzir, não mais existe. Se o fenômeno reaparece, foi a matéria nova que lhe prestou o seu concurso.

                "'O consumo molecular é sempre proporcional à intensidade das manifestações vitais. A alteração material é tanto mais profunda ou considerável quão mais ativa se manifesta a vida.

                "A desassimilação expele, das profundezas do organismo, substâncias tanto mais oxidadas pela combustão vital quão mais enérgica for a função dos órgãos. Essas oxidações ou combustões engendram o calor animal, dão origem ao ácido carbônico, que se exala pelos pulmões, e a diferentes produtos que se eliminam por vários outros emunctórios da economia. O corpo se gasta, sofre um consumo e uma perda de peso, que traduzem e medem a intensidade de suas funções. Por toda parte, numa palavra, a destruição físico-química está associada à atividade funcional; e podemos considerar um axioma fisiológico a proposição  seguinte: qualquer manifestação de um fenômeno no ser vivo está necessariamente ligada a uma destruição orgânica."

            Quer isso dizer, por outros termos, que todo movimento que fazemos, ou toda ação que praticamos - andando, falando, trabalhando, escrevendo, ou simplesmente pensando - resulta na destruição de uma parte dos tecidos correspondentes de que se compõe o nosso corpo e que, portanto, ao fim de um certo prazo, que tem sido variavelmente calculado entre sete e cinco anos, e até menos, nem uma única célula subsiste das que anteriormente o integravam. Desde a substância mole do cérebro até às partes resistentes da estrutura óssea, tudo foi completamente substituído. Por que meio? - Graças ao ar que respiramos, aos alimentos sólidos ou líquidos que ingerimos e – poderíamos também acrescentar, se isso não desviasse para outra ordem de considerações que nos reservamos desenvolver noutro capitulo - graças também à absorção de fluidos sutis, na atmosfera que nos cerca.

            Pode-se - mais ainda - deve-se, pois dizer que o nosso corpo de hoje não é o mesmo de há cinco ou sete anos e que temos tido sucessivamente tantos corpos quantos períodos daqueles temos atravessado em nossa vida.

            E aí está, como o dissemos, a maior de todas as ilusões - a do nosso corpo, sempre instável, jamais idêntico a si mesmo - que o homem toma em geral como a primeira das realidades, a que por isso consagra tão excessivos cuidados e tanto apreço dá.

            Mas aqui surge uma outra consideração. Se a matéria do nosso corpo tem sido assim repetidamente substituída, como se explicar a conservação da memória e o sentimento que possuímos da nossa identidade, admitindo que o homem é unicamente constituído de matéria e que a sua vida moral, o conjunto de suas ações e funções psíquicas é o resultado do organismo ?

            É certo que os partidários do materialismo arquitetaram uma teoria que tanto tem de engenhosa como de insubsistente, para iludir a dificuldade dessa explicação. E vem a ser a seguinte.

            Considerando que todas as depressões, percepções e sensações, quer subjetivas, quer provindas do, exterior, se fixam nas células cerebrais, imaginaram eles que, à medida que essas células vão sendo, uma a uma, eliminadas, transmitem, por uma sorte de espontâneo dinamismo, às células novas, que as vêm substituir, as mesmas imagens e percepções anteriormente registradas, as quais se vão por essa forma reproduzindo e acumulando em camadas sucessivas.

            Mas, se assim fosse, a memória dos fatos recentes deveria ser a mais vivaz. Observa-se, entretanto, ao contrário disso, que nas pessoas idosas, enquanto a lembrança de tais fatos é muitas vezes indecisa, quando não desaparece totalmente, - ao menos para a consciência normal - a recordação de acontecimentos ocorridos na infância e rua primeira mocidade permanece nítida e fiel, associada mesmo às datas e aos nomes das pessoas que neles figuraram. Como explicar essa anomalia?

            Ao demais, no que respeita ao sentimento da identidade pessoal, seria preciso atribuir a essas células -
elementos por natureza efêmeros e inconscientes - uma aptidão de síntese e de unidade, que é a característica fundamental da consciência humana e que se não compadece com a perpétua instabilidade em que se resolve aquele turbilhão molecular.

            Não, não é esse o papel nem pode ser esse o valor do corpo físico, no homem. Instrumento, como o indicamos no começo, de sua ação de suas relações no meio congênere exterior, ele é apenas o transitório revestimento, o trapo - conforme diziam ao Sr. de Rochas os seus sensitivos magnéticos - que encobre algo de substancial a cujo dinamismo se acha associado.

            Chegamos assim à consideração do segundo princípio constitutivo do homem, isto é, ao perispírito.






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