04 Ana
Prado
e os Fígner
in “O Trabalho dos Mortos (o livro do
João)” (FEB)
de Nogueira de Faria (FEB) 5ª Ed.
1990
Terceira sessão a 4 de maio de 1921
Pessoas presentes: Sr. Eurípedes
Prado e senhora (a médium), maestro Bosio e senhora, Dr. Mata Bacelar, senhor e
senhora Manoel Tavares, Frederico Fígner, senhora e filha Leontina.
Feito o círculo para a produção dos
fenômenos de efeitos físicos, apagaram-se as luzes. Frederico e eu colocamos
sobre as pernas seis lenços, dos quais quatro estavam comigo. Começaram os
fenômenos tocando o Espírito João no Dr. Mata Bacelar e depois no maestro
Bosio. Senti, em seguida, que me tocavam no colo. Passados alguns momentos,
senti que me colocavam qualquer coisa no colo. Nisto diz a médium que João
mandava que acendessem as luzes, feito o que, verificou-se que eu tinha no colo
um lenço amarrado em forma de flor.
Apagadas de novo as luzes, João
continuou a fazer o mesmo trabalho com os lenços, mas amarrando cada um de uma
forma diversa. Fez isso com um dos de Frederico, sem tocar no outro.
Da primeira vez que tirou os lenços
do meu colo, levou dois e restituiu um amarrado. Tirou depois os outros dois que
haviam ficado e logo mos restituiu amarrados também. Um dos dois primeiros,
porém, ele conservou consigo e só mo deu no fim da sessão, trabalhado
igualmente, como os demais.
De repente, Leontina soltou um grito
e disse que alguém lhe havia tocado na perna. Quase ao mesmo tempo, senti e disse
alto que alguém colocava a mão sobre o meu ombro esquerdo. Julgamos fosse João.
Logo, entretanto, D. Nicota (a médium) disse: “João está dizendo que não foi
ele e sim a irmã de Leontina que a tocou, assim como em D. Esther.” Vindo a saber desse modo que minha filha se
achava presente, se bem que invisível, dirigi-me a ela. Imediatamente Raehel se
fez sentir atrás de mim, tocou-me o rosto e passou
a mão sobre
a minha cabeça, acariciando-me. Eu lhe dizia:
- Vem, minha filha, beija-me,
abraça-me; vem junto de mim, bem sabes que não tenho receio. Vem, minha adorada
Rachel, vem bem junto da tua mãezinha.
À
medida que lhe falava[1],
mais Rachelzinha se fazia sentir. Beijou-me muito, fortemente, dando-me beijos
estalados que a assistência ouvia. Apertava meu rosto contra seus lábios, tal
como se aqui estivesse. Beijei-lhe as mãozinhas, toquei-lhe as unhas,
verificando que estavam como as usava, pontudas e polidas. Quando ela assim
me abraçava, perguntei-Ihe : “Minha filhinha, és feliz?” Ela me
enlaçou então de tal forma com seus braços que não mais senti o espaldar da cadeira
em que estava sentada. Sentia unicamente o contato muito vivo do seu corpinho,
seu calor, sua respiração, seu hálito. Era perfeitamente minha filha a me
dizer ao ouvido: “Sim.” Perguntei-lhe ainda: “Estás contente com tua mãe? Vim
de blusa branca.” Minha RacheI pegou das duas abas da blusa e as sacudiu num
gesto de contentamento, demonstrando que bem estava vendo.
Avaliem os que lerem estas linhas
sinceras a minha alegria, a minha felicidade, o meu reconhecimento a Deus, por me
haver permitido, ainda uma vez, sentir,
ouvir, tocar a minha filha
muito amada!! Ela me tomou de novo o rosto e, puxando-o para o lado, como era
seu costume, beijou-me seguidamente
muitas vezes, com grande amor.
Sempre a conversar com o meu anjo
querido, disse-lhe: “Minha filhinha, vai beijar, vai acariciar teu paizinho.”
No mesmo instante ela se fez sentir atrás do pai e se pôs a beijá-Io e a acariciá-Io da mesma forma que fizera comigo.
Por fim, deu-lhe um beijo estalado
no ouvido.
É uma maravilha, que não se pode
descrever. Ante tanto poder, a criatura de carne desaparece.
Nessa altura dos trabalhos, disse
João : “Terminem esta sessão, pois que a médium está perdendo muitos fluidos, o
que pode vir a prejudicar a sessão de materialização.” Antes, porém, que a
sessão fosse encerrada, disse ele ainda: “Tirem o tímpano que está no chão,
entre Fígner e Leontina, e coloquem-no entre os pés do Fígner. Leontina que
tire os pés do caminho, pois posso esbarrar nela.” Isto disse por brincar com
Leontina, que estava com medo.
Cumpridas as ordens de João, todos
lhe sentimos a presença. Tirou o tímpano que estava no chão, entre os pés de Frederico,
andou, fazendo-o ressoar no espaço, por cima das nossas cabeças e tocando com
ele em todos, especialmente em mim. Tudo isso era feito, apertando João sempre
o botão do tímpano, de sorte que pelo som sabíamos a todo momento onde ele
estava. As vezes o som vinha do teto. Pedi-lhe repetidamente que colocasse o
tímpano na minha mão. Afinal, mandou que eu estendesse a mão e nela depositou o
tímpano. Ordenou que acendessem as luzes, o que feito, todos viram que aquele
objeto estava na minha mão.
Terminada essa sessão, preparamo-nos
para a de materlalização .
Acenderam-se as luzes, arrumaram-se
as cadeiras diante da câmara escura, a médium se sentou numa cadeira de balanço
dentro da câmara, sempre na mesma posição, tapando os olhos com o lenço. Uma
vez tudo disposto, apagaram-se as luzes mais fortes, ficando a sala mergulhada
na semiobscuridade em que ficam os cinemas quando a fita está sendo passada.
Começaram a condensar-se os fluidos
e daí a pouco aparecia um vulto no qual, à medida que se formava, íamos eu, meu
marido e minha filha, reconhecendo a nossa querida Rachel , E, de fato, o era. RacheI nos apareceu em toda a perfeição de
suas formas, tal qual fora, absolutamente reconhecível. Ali estava viva e palpitante.
Antes que houvessem apagado as
luzes, João mandou que uma cadeira fosse colocada entre a assistência e a
câmara. Quando minha filha saiu, perfeitíssima,
da câmara, ajoelhou-se e levantou as mãozinhas para o céu. Ajoelhei-me também e
todos os que estávamos presentes a acompanhamos na prece que dirigia
ao Senhor. Depois, levantou-se e foi sentar-se na cadeira vazia, tomando
exatamente a posição em que está numa fotografia, da qual pouco antes eu
falara, dizendo que nesse retrato se lhe viam bem os braços e as mãos. (Gravura 43.) [2]
Tomou com a maior exatidão a pose em
que se vê na aludida fotografia. Fez, portanto, uma coisa que só ela podia fazer.
Todos os da sua família, que ali nos achávamos, exclamamos ao mesmo tempo: “Olhem a nossa Rachel perfeitinha, igualzinha
ao retrato .” E ela viva, perfeita,
deixava que a víssemos bem e a reconhecêssemos. Não havia dúvida, nem podia
haver, era a nossa Rachel .
Eu lhe falava e ela me prestava toda
a atenção. Em seguida, levantou-se, veio até junto de mim, colocou-se bem à
minha frente, recebeu das minhas mãos umas flores que levara e que suas
irmãzinhas Lélia e Helena lhe mandavam. Disse-lhe Leontina : “O Sr. Amábile
também mandou lembranças e um abraço.” Ao que ela respondeu levantando as mãozinhas
para o céu, como que oferecendo a Deus. Recebeu flores também das mãos de seu
pai e de sua irmã Leontina. Enfim, RacheI
estava diante de mim tão perfeita e tão viva que se não podia ter a mínima
dúvida. Eram os mesmos braços alvos,
as mesmas lindas mãos que tinha aqui na Terra. Em tudo, nas maneiras, nas formas, no rosto,
era a minha adorada filha.
Voltando ela à câmara escura, disse
a médium: “Rachel pede que sua mãe se sente na cadeira em que ela esteve.” Sentei-me
imediatamente nessa cadeira, porém de frente para a câmara. Logo disse RacheI
pela médium: “Mamãe deve voltar as costas para a câmara e ficar muito quieta.”
Assim fiz e disse: “Pronto, minha filha. Estou impassível. Podes vir sem
receio.” Logo ouvi uns passos e senti
minha filha a meu lado, abraçando-me muito apertadamente e dando-me beijos tão
estalados que toda a assistência escutava. Encostava seu rosto ao meu com extremo carinho. Depois de muito me acariciar,
de me dar todas as provas de amor e de que era bem a minha RacheI, disse-me
distintamente, com voz forte, que todos ouviram: “Não quero que ande mais de
preto, ouviu? Quero que venha toda de branco, assim como eu estou.” Respondi-lhe:
“Sim, minha filha, far-te-ei a vontade, farei tudo o que quiseres. Já o fazia
quando estavas na Terra: hoje, que não farei
para te ser agradável? Sim, meu anjo, não usarei mais roupa preta.”
De novo me beijou muito e, com os
braços passados por trás do meu pescoço, tirou, das flores que lhe havíamos
dado, uma rosa vermelha e a enfiou no decote da minha blusa branca. Vi
nitidamente suas mãozinhas, seus dedos. Era positivamente sua aquela maneira de
fazer as coisas, eram indubitavelmente seus aqueles gestos. Estávamos todos vendo a nossa Rachel
exatamente como era.
Foi novamente à câmara escura, isto
é, ficou de pé à porta desta e voltada para dentro como se falasse com alguém. Como
eu continuasse na cadeira, a médium falou assim: “Diga a mamãe que saia da
cadeira. É' papai que deve sentar-se agora.” Imediatamente me levantei e Fred
sentou-se na mesma posição em que eu estivera. RacheI chegou-se a ele, abraçou-o,
beijou-o, acariciou-o muito, do mesmo modo que fizera comigo. Passou o braço
esquerdo sobre o ombro esquerdo do pai, de forma que se lhe via a mão caída
sobre o peito deste, aquela mão lindíssima que eu tão bem conhecia e que não podia
deixar de reconhecer ali ser inteiramente a mesma da minha RacheI. Estendeu o
braço direito tomando uma posição muito graciosa, formando com o seu querido
pai, presa da mais viva emoção, um grupo admirável. Não cessávamos de soltar exclamações
e de agradecer a Deus tanta misericórdia. Dizíamos: “Filhinha adorada, Deus te
abençoe. Deus te pague.”
É' impossível descrever tudo, pois
são inúmeras as minúcias. Separando-se de seu pai, depois de muito o acariciar,
RacheI tomou de um galho de angélicas e, pelas costas dele, o colocou na lapela
de seu paletó. Fez isso com a mais absoluta naturalidade, notando-se-lhe o
esforço a que se viu obrigada para passar o talo um pouco grosso da flor na
casa meio fechada. Nos gestos, que
então fez, como em todos os outros, era
a RacheI que conhecíamos.
Reproduziu por duas vezes a posição
da fotografia, puxando, antes de se sentar, a cadeira, para po-Ia como
desejava. Repetidas vezes veio até junto de nós, distribuiu com os assistentes
o ramo de flores que lhe havíamos oferecido, ouvindo-se distintamente o ruído
que faziam as folhas quando ela separava as flores. Deu-me com muito carinho um
ramo de jasmins do Cabo. Quando assim, diante de nós, virava-se de um lado para
outro, a fim de que bem a reconhecêssemos e nenhuma dúvida nos ficasse nos
espíritos. Frederico e Leontina choravam, soluçando convulsivamente. Ela,
então, parando defronte de nós, disse, com voz firme, que notoriamente partia de
sua boca: “Não chorem.” Todos caímos de joelhos diante da nossa querida RacheI.
Em dado momento; Leontina perguntou-lhe se seus irmãozinhos Aluízio e Gabriel
estavam
presentes e
ela respondeu clara e distintamente: “Não.” Esteve algum tempo a andar de um
lado para outro, mostrando-se bem.
Como trouxesse os cabelos suspensos,
eu disse: “Minha Rachel, ainda não vi os teus cabelos. Mostra-nos a tua linda cabeleira
.” Ela foi à câmara e logo voltou, trazendo os cabelos a lhe caírem soltos sobre os ombros, lindos quais eram na Terra.
Punha-se de frente e de costas para nós, a fim de que bem a pudéssemos
apreciar.
Depois, foi à câmara escura e de lá
veio trazendo um pano branco, com o qual se pôs a acenar em sinal de adeus. Que
emoção! Todos exclamavam: “Adeus, Rachelzinha! Adeus, meu amor! Deus te
abençoe!” Enfim, de nossos lábios saíam todas as exclamações de carinho que se
podem dirigir a uma criatura adorada e saudosa quanto o é a nossa inesquecível RacheI!!
Não há na vida coisa mais sublime. A misericórdia de Deus é tão grande que não
há palavras nem sentimentos com que se lhe agradeça. De puro amor se nos enche o coração.
Depois de Rachel, veio o nosso bom
irmão João, que ainda não aparecera naquela noite. Não apareceu, disse-o ele,
por ter querido deixar todos os fluidos para Rachel, a fim de que ela pudesse materializar-se bem, como de
fato aconteceu.
A música, no andar de cima, tocava
sempre, desde o início da sessão, João aproximou-se de nós e disse que ia
fazer, materializado e em nossa presença, o que não fizera anteriormente, isto
é, trabalhar um dos lenços de Frederico, aquele que na sessão anterior ficara
sem ter sido atado. E assim fez. Fe-Io da maneira mais linda que se possa
imaginar. Todos o víamos perfeitamente bem, em pé defronte de Frederico, a trabalhar o
lenço e cantando ao mesmo tempo. Prestei muita atenção, para ver se aprendia a
atar o lenço daquele modo; porém, ele o fez tão depressa que não me foi
possível perceber. Concluído o trabalho e sempre a cantar, entregou o lenço a Frederico,
tal qual o faria um homem.
Pela médium disse qualquer coisa
sobre a música que estavam tocando. Como não houvéssemos ouvido bem, perguntou-se-lhe
se queria que tocassem outra música. Ao que ele respondeu com voz máscula: “Não.”
Interessante é que canta às vezes num perfeito falsete e doutras vezes em tom grave.
Depois de estar João aí algum tempo
conosco, vimos um vulto pequeno que se encostava à cadeira colocada no meio da
sala e falava com voz muito fraquinha. Eu e as demais pessoas presentes
procurámos ouvir o que dizia e escutamos distintamente: “Mamãe, mamãe.”
Perguntei: “Será um de meus filhinhos?” Respondeu-me: “Sim.” Vi perfeitamente
que era uma criança, que tinha cabelos louros e que repousava um dos
bracinhos sobre a barriga. Também os nossos filhinhos não nos haviam esquecido.
Não pude saber ao certo, se era Aluízio ou Gabriel. Suponho fosse Gabriel, que
era louro, ao passo que Aluizio tinha os cabelos castanho-escuro.
Voltou João, que se despediu de nós.
Quando estava despertando a médium, fez que esta dissesse: “Causa-me tristeza ver
a minha médium ir embora.” Ele queria que ela ficasse em Belém.
Numa das sessões, disse João: “Ah!
se vocês tivessem isto lá no Rio!”
[1] Em
negrito, destaques do blogueiro.
[2] A foto
da ‘morta’ – Raquel - já foi copiada e
aparece nesta série.
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