Palavras e obras
Já não é de hoje que os homens se preocupam mais com a forma do que propriamente com a essência; restringem-se mais à letra do que àquilo que ela, verdadeiramente, representa ou significa.
De um modo geral, fala-se muito e realiza-se pouco.
Todos desejam falar, falar bem, falar muito, falar bonito, mas quase ninguém se lembra de realizar alguma coisa. Pregar, debater, discutir, criticar, é o que importa.
Há os que sobem aos púlpitos ou se assenhoreiam das tribunas tão somente para exibir magníficos dotes de oratória. Através de admiráveis e vibrantes orações, arrebatam as multidões, exortando-as à reforma de sentimentos e pensamentos a se fortalecerem na fé e se purificarem no amor, a se enobrecerem no trabalho e a se escudarem na verdade.
Todavia, ao descerem dos seus postos de oradores eméritos, esquecem-se facilmente das próprias palavras e não executam, eles mesmos, diminuta parcela sequer daquilo que ensinaram. Porquê?
Simplesmente porque suas palavras são mecânicas. Brotam no cérebro, sede do intelecto, e não no coração, sede do sentimento. Falta-Ihes, por isso mesmo, consistência, substância, vida!
Exortam o próximo à reforma; todavia, eles próprios não se reformam, e, assim, não exemplificando o que ensinam, cedo mergulham no descrédito e toda a monumental pirâmide de palavras bonitas e conceitos magníficos, que edificaram no coração alheio, se desfaz como frágil castelo de areia.
Isto é comum. Acontece todos os dias, nos vários setores da atividade humana.
Precisamos, pois, compreender de uma vez por todas que, muito mais que as palavras, falam os exemplos e as obras.
Jesus é um modelo que, infelizmente, muito poucas vezes tem sido imitado: falou pouco e realizou muito!
Enquanto esclarecia as massas, enquanto ensinava a turba, curava os enfermos, levantava o caído, encorajava o desesperado, acariciava a criança, expulsava os maus Espíritos, enfim, exemplificava os próprios ensinos.
É claro que não devemos permanecer mudos. Que a nossa voz se erga sempre na pregação dos ensinos evangélicos, na defesa dos postulados cristãos, mas que, acima de tudo, os nossos braços e as nossas pernas, as nossas mãos e os nossos pés, os nossos corações e as nossas mentes, se movimentem em sintonia perfeita com tudo o que de bom, útil e enobrecedor se nos saia da boca, a fim de que não permaneçamos insensíveis às tarefas que nos conclamam à exemplificação, pois que, conforme afirmou o inesquecível Antônio Vieira, “para falar ao vento, bastam palavras; mas, para falar ao coração, são necessárias obras!”
Jorge Rocha
in ‘Reformador’ (FEB) Junho 1970
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