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O Médium do Anticristo
por Hermínio C. Miranda
in
‘Reformador’ (FEB) Março 1976
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A lendária lança de Longinus, ingrediente
deste estudo de Hermínio C. Miranda, que vem lendo e comentando livros e periódicos
para os nossos leitores, há quatro lustros, foi apreciada à luz do
conhecimento espírita, de forma sintética, única possível nos limites de um
artigo. Às definições dadas pelo autor à natureza da influência descrita - e
nos referimos à tese, em si, sem penetrar no mérito do caso analisado -, podem
ser acrescentadas as contidas em "A Caminho da Luz", de Emmanuel
(psicografia de Francisco Cândido Xavier), cáp. IV - Os egípcios e as ciências
psíquicas -, versando sobre "saturações magnéticas" e outras
manipulações energéticas.
Quanto ao Anticristo, o mesmo Emmanuel,
respondendo à questão 291 de "O Consolador", esclareceu:
"Podemos simbolizar como Anticristo o conjunto das forças que operam
contra o Evangelho, na Terra e nas esferas vizinhas do homem, mas, não devemos
figurar nesse Anticristo um poder absoluto e definitivo que pudesse neutralizar
a ação de Jesus, porquanto, com tal suposição, negaríamosa a previdência e a
bondade infinitas de Deus."
A literatura espírita mediúnica (vide
"lIbertação", "Dramas da Obsessão" e "Nos Bastidores
da Obsessão", edições da FEB) tem tratado das tramas urdidas na sombra,
sem, entretanto, revelar tudo nem descer a certos pormenores. Mas, dois
documentárIos, minuciosos e dizendo muIto, estão nas livrarias e foram
criticados na imprensa profana; é conveniente, pois, que se saiba, no meio
espiritista, o que eles contêm de verdadeiro ou verossímil, segundo aquele que
os leu e comentou para nós. A REDAÇÃO
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Um jovem de cerca de 20
anos vagava pelo Museu Hofburg, em Viena, como de costume. Estava deprimido
como nunca. O dia fora muito frio, pois o vento trouxera o primeiro anúncio do
outono que se aproximava. Ele temia novo ataque de bronquite que o reteria por
longo tempo no seu miserável quartinho numa pensão barata. Estava pálido, magro
e de aparência doentia. Sem dúvida alguma, era um fracasso. Fora recusado pela
Escola de Belas-Artes e pela de Arquitetura. As perspectivas eram as piores
possíveis.
Caminhando pelo museu, entrou na
sala que guardava as joias da coroa dos Hapsburg, gente de uma raça que não
considerava de boa linhagem germânica.
Mergulhado em pensamentos
pessimistas, nem sequer notou que um grupo de turistas, orientado por um
guia, passou por ele e parou diante de um pequeno objeto ali em exibição.
- "Aqueles estrangeiros -
escreveria o jovem mais tarde - pararam quase em frente ao lugar onde eu me
encontrava, enquanto seu guia apontava para uma antiga ponta de lança. A
princípio, nem me dei ao trabalho de ouvir o que dizia o perito; limitava-me a
encarar a presença daquela gente como intromissão na intimidade de meus
desesperados pensamentos. E, então, ouvi as palavras que mudariam o rumo da minha
vida: "Há uma lenda ligada a esta lança que diz que quem a possuir e
decifrar os seus segredos terá o destino do mundo em
suas mãos, para o bem ou para o mal."
Como se tivesse recebido um choque
de alertamento, ele agora bebia as palavras do erudito guia do museu,
que prosseguia explicando que aquela fora a lança que o centurião romano
introduzira ao lado do tórax de Jesus (João 19:34) para ver se o crucificado já
estava "morto".
Tinha uma longa e fascinante
história aquele rústico pedaço de ferro. O jovem mergulharia nela a fundo nos
próximos anos. Chamava-se ele Adolf Hitler.
Voltou muitas vezes mais ao Museu
Hofburg e pesquisou todos os livros e documentos que conseguiu encontrar sobre
o assunto. Envolveu-se em mistérios profundos e aterradores, teve revelações
que o atordoaram, incendiaram sua imaginação e desataram seus sonhos mais
fantásticos.
*
Estranha era a personalidade do
futuro chefe nacional do nazismo, e duas pessoas, pelo menos, o conheceram
bem nesses anos de formação e busca.
Um deles chamou-se August Kubizek e
escreveu um livro sob o título "O Jovem Hitler - A História de Nossa
Amizade"; outro foi Walter Johannes Stein, cientista e doutor em
filosofia, nascido em Viena e que mais tarde emigrou pura a Inglaterra, onde
morreu[1].
A personalidade de Hitler parece
oferecer inesgotável manancial de sugestões para os mais variados temas. Poucos
livros, no entanto, serão tão fascinantes como "The Spear ot Destiny"
("A Lança do Destino"), do escritor inglês Trevor Ravenscroft, amigo
pessoal do Dr. Stein, jornalista e professor de História em Londres e
Edinburgh. Ravenscroft estudou o assunto Hitler durante 12 anos, parte dos
quais sob a orientação do Dr. Stein. Seu livro é, pois, um documentário e não
uma narrativa romanceada.
Não é fácil escolher, em obra tão densa
e rica, o material a ser comentado num mero artigo como este. Tentaremos.
*
Sabemos hoje, em face da prática e
da literatura espíritas, que os Espíritos, encarnados e desencarnados, vivem em
grupos, dedicados a causas nobres ou sórdidas, segundo seus interesses
pessoais. A inteligência e o conhecimento, como todas as aptidões humanas, são
neutros em si mesmos, ou seja, tanto podem ser
utilizados na prática do bem como na disseminação cio mal. Dessa maneira, tanto
os bons espíritos,
como, aqueles que ainda se demoram pelas trevas, elaboram objetivos de longo
alcance visando aos interesses finais do bem ou do mal. Em tais condições,
encarnados e desencarnados se revezam, neste plano e no outro, e se apoiam
mutuamente, mantendo constantes entendimentos, especialmente pela calada da
noite, quando uma parte considerável da humanidade encarnada, desprendida pelo
sono, procura seus companheiros espirituais para debater planos, traçar
estratégias, realizar tarefas, ajustar situações.
Há, pois, toda uma logística de
apoio aos Espíritos que se reencarnam com tarefas específicas, segundo os
planos traçados.
Estudando, hoje, a história secreta
do nazismo, nos resta dúvida de que Adolf Hitler e vários dos seus principais
companheiros desempenharam importante papel na estratégia geral de implantação
do reino das trevas na Terra, num trabalho gigantesco que, obviamente, tem a
marca inconfundível do Anticristo. Para Isso, eclodem fenômenos mediúnicos,
surgem revelações, encontram-se as pessoas que deveriam encontrar-se, acontecem
"acasos" e "coincidências" estranhas, juntam-se, enfim,
todos os ingredientes necessários ao desdobramento
do trabalho.
August Kubizek descreve uma cena
dramática em que Hitler, com apenas 15 anos de idade, apresenta-se claramente
incorporado ou inspirado por uma entidade desencarnada. De pé, diante de seu jovem
amigo, agarrou-lhe as mãos emocionado, de olhos esbugalhados e fulminantes,
enquanto de sua boca fluía desordenadamente uma enxurrada de palavras
excitadas. Kubizek, aturdido, escreve, em seu livro:
- Era como se outro ser falasse de
seu corpo e o comovia tanto quanto a mim. Não era, de forma alguma, o
caso de uma pessoa que fala entusiasmada pelo que diz. Ao contrário, eu sentia
que ele próprio como que ouvia atônito e emocionado o que jorrava com uma força
primitiva ... Como enxurrada rompendo diques, suas palavras irrompiam dele. Ele
invocava, em grandiosos e inspirados quadros, o seu próprio futuro e o de seu
povo. Falava sobre um Mandato que, um dia, receberia do povo para Iiderá-lo da
servidão aos píncaros da liberdade - missão especial que em futuro seria
confiada a ele.
Ao que parece, foi o primeiro sinal
documentado da missão de Hitler, e o primeiro indício veemente de que ele seria
o médium de poderosa equipe espiritual trevosa empenhada em implantar na Terra
uma nova ordem. Garantia-se a Hitler o poder que ambicionava, em troca da fiel
utilização da sua instrumentação mediúnica. O pacto com as trevas fora selado
nas trevas, É engano pensar que essas falanges espirituais ignoram as leis
divinas. Conhecem-nas muito bem e sabem da responsabilidade que arrostam e,
talvez, até por isso mesmo, articulam seus planos tenebrosos e audaciosos,
porque, se ganhassem, teriam a impunidade com que sonham milenarmente para
acobertar crimes espantosos. Eles conhecem, como poucos, os mecanismos da Lei e
sabem manipular com pericia aterradora os recursos espirituais de que dispõem.
Vejamos outro exemplo: o relato da
segunda visita de Hitler à lança, narrada pelo próprio.
Novamente a sensação estranha de
perplexidade. Sente ele que algo poderoso emana daquela lança[2] Sente ele
que algo poderoso emana daquela peça, mas não consegue identificar o de que se
trata. De pé, diante da lança, ali ficou por longo tempo a contemplá-Ia:
- Estudava minuciosamente cada
pormenor físico da forma, da cor e da substância, tentando, porém, permanecer
aberto à sua mensagem. Pouco a pouco me tornei consciente de uma poderosa
presença em torno dela -,- a mesma presença assombrosa que experimentara intimamente
naquelas raras ocasiões de minha vida
em que senti que um grande destino esperava por mim.
- Começava agora a compreender o significado
da lança - escreve Ravenscroft -- e a origem de sua lenda, pois sentia,
intuitivamente, que ela era o veiculo de uma revelação - "uma ponte entre
o mundo dos sentidos e
o mundo do espírito".
As palavras entre aspas são do
próprio Hitler, que prossegue:
- Uma janela sobre o futuro abriu-se
diante de mim, e através dela vi, num único "flash", um acontecimento
futuro que me permitiu saber, sem sombra de dúvida, que o sangue que corria em minhas veias seria, um dia, o veículo do espírito de meu povo.
Ravenscroft especula sobre a
revelação. Teria sido, talvez, a antevisão da cena espetaculosa do próprio Hitler a
falar, anos mais tarde, ali mesmo em frente ao Hofburg, à massa nazista
aglomerada, após a trágica invasão da Áustria,
em 1938, quando ele disse em discurso:
- A Providência me incumbiu da
missão de reunir os povos germânicos. .. com a missão de devolver minha pátria[3] ao
Reich alemão. Acreditei nessa missão. Vivi por ela e creio que a cumpri.
Tudo começara com o impacto da visão
da lança no museu. Já naquele mesmo dia, em que o guia dos turistas chamou sua
atenção para a antiquíssima peça, ele experimentou estranhas sensações diante
dela. Que fascínio poderia ter sobre seu Espírito - especula ele próprio -
aquele símbolo cristão? Qual a razão daquele impacto? Quanto mais a
contemplava, mais forte e, ao mesmo tempo, mais fugidia e fantástica se tornava
a sua impressão.
- Senti como se eu próprio a tivesse
detido em minhas mãos anteriormente, em algum remoto século da
História. - como se eu a tivesse possuído, como meu talismã de poder, e mantido
o destino do mundo em
minhas mãos. No entanto, como poderia isto ser possível? Que espécie de loucura
era aquela que invadia a minha mente e criava todo aquele tumulto no meu íntimo?
Qual é, porém, a. história conhecida
da lança?
É o que tentaremos resumir em
seguida.
*
Segundo conta Ravenscroft, a lança teria
sido forjada por ordem do antigo profeta Finéias para simbolizar
os poderes mágicos inerentes ao sangue do povo eleito[4] .
A lança já era, pois, antiga, quando Josué a teria nas mãos, ao ordenar aos
soldados que emitissem aquele som terrível que fez ruir os muros de Jericó. Diz-se
que essa mesma lança o rei Saul atirou sobre o jovem David num impulso de
cólera e ciúme. Herodes, o Grande, também teve em seu poder esse talismã,
quando determinou o massacre das crianças. Foi como mandatário de seu sucessor,
Herodes Antipas, que governou do ano 4 antes do Cristo até 39 da nossa era, que um oficial
empunhou a lança, como símbolo da autoridade, com ordens de quebrar as pernas
de Jesus crucificado.
Ao chegar à cena o contingente de
guardas do templo, os soldados romanos deram as costas, enojados, enquanto os
vassalos do Sumo-Sacerdote quebravam o crânio e as pernas, dos dois ladrões
sacrificados lateralmente ao Cristo .
Gaius Cassius era, ao que apurou Ravenscroft,
de origem germânica e foi afastado do serviço ativo por causa
da catarata que atacou seus olhos. Enviado a Jerusalém, ali ficou como
observador dos movimentos políticos e religiosos da Palestina. Durante dois
anos, acompanhou a atividade de Jesus e, depois, seguiu o doloroso processo da
execução do profeta, que diziam ameaçar a autoridade de Roma. Impressionou-o a coragem e a
dignidade com que o jovem pregador suportou o seu martírio. Por outro lado,
entendiam os sacerdotes ser
indispensável mutilar seu corpo, pois era absolutamente essencial desmentir sua
condição de Messias; uma vez que, segundo as escrituras,
seus ossos não seriam quebrados (João 19:36). Gaius Cassius tão impressionado
ficou com o tétrico espetáculo, de um lado, e com a grandeza do Cristo, de
outro, que resolveu
impedir que Jesus também fosse mutilado. E, assim, esporeou o cavalo na direção
da cruz central e trespassou
o tórax do crucificado, entre a quarta e a quinta costelas, procedimento
costumeiro dos soldados romanos quando desejavam verificar se o inimigo, ferido
no campo de batalha, estava realmente morto. Não se sabe ao
certo se Cassius tomou a lança da mão do comandante judeu, que a trazia em nome
de Herodes, ou se usou
sua própria lança. De qualquer forma, a legenda se criou e se consolidou. Gaius
Cassius se converteu ao cristianismo e passou a chamar-se Longinus, nome com
que continuou sua carreira através dos séculos. E a arma ficou sendo conhecida
como a Iança de Longinus.
Diz-se dela que representa um
talismã de poder tanto para o bem como para o mal, mas, ao que parece,
somente tem sido usada como instrumento de conquista e opressão, pois
pertenceu, depois, a Mauritius,
comandante da Legião Tebana, que, com ela nas mãos, morreu martirizado por
ordem de Maximiano,
ao se recusar a adorar os deuses pagãos. Em solidariedade ao chefe, que morreu
cristão, seus 6.666 legionários também se recusaram, ajoelharam-se e ofereceram
o pescoço à espada. Maximiano decidiu pelo
espantoso massacre, como oferenda aos seus deuses. Assim, a mais valorosa legião
romana daquele tempo foi sacrificada numa chacina sem precedentes na História
antiga.
Seria impossível retraçar toda a
história da lança, mas sabe-se que ela esteve em poder de Constantino, Teodósio,
Alarico, Ecius, Justiniano, Carlos Martelo, Carlos Magno, Frederico Barba Roxa
e Otto, o Grande.
Em que outras mãos teria ela estado, e a que propósitos inconfessáveis serviu
através do tempo?
É certo, no entanto, que quem a
cobiçava naquela fria tarde de outono, em Viena, era um jovem que tinha a
impressão viva de tê-la já possuído alhures, no tempo e no espaço.
*
Hitler dedicou-se daí em diante ao
estudo de tudo quanto pudesse estar relacionado com o seu fascinante
problema. Cedo foi dar em núcleos do saber oculto. Um dos seus biógrafos, Alan
Bullock (Hitler: A
Study in Tiranny") , sem ter alcançado as motivações do futuro líder
nazista, diz que ele foi um inconsequente, o que se poderia provar pelas suas
leituras habituais, pois seus assuntos prediletos eram a história de Roma
antiga, as religiões orientais, ioga, ocultismo, hipnotismo, astrologia...
Parece legítimo admitir que tenha lido também obras de pesquisas espíritas,
porque os autores não especializados insistem em grupar espiritismo, magia,
mediunismo e adivinhação, e muito mais sob o rótulo comum de ocultismo.
Sim, Hitler estudou tudo isso
profundamente e não se limitou à teoria; passou à prática. Convencido da sua
missão transcendental, quis logo informar-se sobre os instrumentos e recursos
que lhe seriam facultados para levá-Ia a cabo. O primeiro impacto da ideia da
reencarnação em seu espírito o deixou algo atônito, como vimos, na sua primeira
crise espiritual diante da lança, no museu de Hofburg; logo, no entanto, se
tornou convicto dessa realidade e tratou a sério de identificar algumas de suas
vidas anteriores. Esses estudos levaram-no ao cuidadoso exame da famosa legenda
do Santo Graal, de que Richard Wagner, um dos seus grandes
ídolos, se serviu para o enredo da ópera Persifal.
HitIer foi encontrar nos escritos de
um poeta do século XIII, por nome Wolfram von Eschenbach, a
fascinante narrativa da lenda, cheia de conotações místicas e simbolismos
curiosos, que captaram a sua imaginação, porque ali a história e a profecia
estavam como que mal disfarçadas atrás do véu diáfano da fantasia.
Mas, Hitler tinha pressa, e, para
chegar logo ao conhecimento dos mistérios que o seduziam, não hesitou em
experimentar com o peiote, substância alucinógena extraída do cogumelo
mexicano, hoje conhecida
como mescalina. Sob a direção de um estranho Indivíduo, por nome Ernst
Pretzsche, o Jovem Adolf mergulhou em visões fantásticas que, mais tarde,
identificaria como sendo cenas de uma existência anterior que teria vivido como
Landulf de Cápua, que serviu de modelo ao Klingsor na ópera de Wagner.
Esse Landulf foi um príncipe
medieval (século nono) que Ravenscroft declara ter sido "the most evll figure
of the century" - a figura mais infame do século. Sua influência tornou-se
considerável na política de sua época e, segundo Ravenscroft, "ele foi a
figura central em todo o mal que se praticou então".
O Imperador Luís II conferiu-lhe
posto que o situava como a terceira pessoa no seu reino, e concedeu-lhe
honrarias e poderes de toda a sorte. Landulf teria passado muitos anos no Egito,
onde estudou magia negra e astrologia. Aliou-se secretamente aos árabes que,
apesar de dominarem a Sicília, respeitaram seu castelo, em Carlata Belota, na
Calábria. Nesse local sinistro, onde se situara no passado um templo dedicado
aos mistérios, Landulf exercia livremente suas práticas horríveis e perversas
que, segundo Ravenscroft, deram-lhe a merecida fama de ser o mais temido
feiticeiro do mundo. Finalmente, o homem que o Imperador Luis II
queria fazer Arcebispo de Cápua, depois de elevá-Ia à condição de cidade
metropolitana, foi excomungado
em 875, quando sua aliança com o Islã foi descoberta.
Ravenscroft informa logo a seguir
que, a seu ver, ninguém conseguiu exceder Wagner em inspiração, quando este
coloca, na sua ópera, a figura de Klingsor (ou seja, Landulf) como um mago a
serviço do Anticristo.
Aliás, muitas são as referências ao
Anticristo no livro do autor inglês, em conexão com a trágica figura de
Adolf Hitler. Ainda veremos isto.
Guiado peia sua intuição, Wagner
transpôs para o terreno da arte, na sua genial ópera, o objetivo de Klingsor e
seus adeptos, que era "cegar as almas por meio da perversão sexual, e
privá-Ias da visão espiritual, a fim de que não pudessem ser guiadas pelas
hierarquias celestiais". Essa atividade maligna Landulf desenvolveu em seu
tempo, e suas horríveis práticas teriam exercido "devastadora influência
nos lideres seculares da Europa cristã", conforme Ravenscroft.
Mas Hitler acreditava-se também uma
reencarnação de Tibério, um dos mais sinistros dos Césares. É fato sabido hoje
que ele tentou adquirir ao Dr. Axel Munthe, autor de "O Livro de San
Michele", a ilha deste nome, que, em tempos idos, fora o último reduto de
Tibério, que lá morreu assassinado. O Dr. Munthe se recusou a vender a ilha
porque ele próprio acreditava ter sido Tibério, o que não parece muito
congruente com a sua personalidade.
Aliás, as especulações ocultistas
(usemos a palavra) dos líderes nazistas estão cheias de fenômenos psíquicos e
de buscas no passado. Goering dizia, com orgulho, que sempre se encarnou ao
lado do Führer. Ao tempo de Landulf, ele teria sido o Conde Boese, amigo e
confidente do príncipe feiticeiro, e no século XIII fora Conrad de Marburg, amigo
íntimo do bispo Klingsor, de Wartburg. Goebbels, o ministro da Propaganda
nazista, acreditava-se ter sido Eckbert de Meran, bispo de Bamberg, no século
'XIII, que teria apresentado Klingsor ao
rei André da Hungria[5].
Se essas encarnações estão certas ou
não, não cabe aqui discutir, mas tais especulações evidenciam o interesse
daqueles homens pelos mistérios e segredos das leis divinas, que precisavam
conhecer para melhor desrespeítar
e burlar. Por outro lado, contêm alguma lógica, quando nos lembramos de certos
aspectos que a muitos passam despercebidos. Muitos espíritos reencarnam-se com
o objetivo de infiltrarem-se nas hostes daqueles que pretendem combater, seja
para destruir, seja para se apossarem da organização, sempre que esta
detenha alguma parcela substancial de poder. Não seria de admirar-se, pois, que
um grupo de servidores das trevas,
com apoio das trevas, aqui e além, fosse alçado a postos de elevada influência
entre a hierarquia cristã da
época, quando a Igreja desfrutava de incontestável poder. O papado não esteve
imune - longe disso – e por
várias vezes caiu em mãos de mal disfarçados emissários do Anticristo.
Lembremos outro pequeno e quase imperceptível
pormenor. Recorda-se o leitor daquela observação veiculada por um benfeitor
espiritual que relatou haver sido traçada, no mundo das trevas, a estratégia do
sexo desvairado, a fim de desviar os humanos
dos caminhos retos da evolução? Sexo transviado e magia negra são aliados
constantes, ingredientes
do mesmo caldo escuro, onde se cultivam as paixões mais torpes. Quantos não se
perderam por ai ...
[1] O Dr.
Walter Johannes Stein exerceu. na Inglaterra, o elevado cargo de Assessor
Especial do Primeiro Ministro Winston Churchill para assuntos relacionados com
a personalidade de Hitler. Além de sua vasta cultura, era homem de excelentes
padrões morais.
[2] A Lança
de Longinus consiste, presentemente, de dois segmentos seguros por uma bainha
de prata. Inserido na lança vê-se um cravo dito da cruz do Cristo. (Da obra
"The Spear ot Destiny", citada no texto)
[3] Hitler
era austríaco. Nasceu em 20 de abril de
1889, na encantadora vila de Braunau-am-Inn, onde também nasceram os famosos
médiuns Wllly e Rudi Schneider.
[4] Não sei
se é esse o Finéas, fllho de Eleazar, mencionado em Números 25:7 e Juízes
20:28.
[5] Segundo
apurou Ravenscroft, esse Bispo Kllngsor seria o Conde de Acerra, também de
Cápua, um tipo sinistro, profundamente envolvido em magia negra e que, como
Landulf, séculos antes, reuniu em torno de si um círculo de adeptos que incluía
eminentes personalidades eclesiásticas da época. Afirma, ainda, o autor que foi
nesse grupo que se concebeu o medonho monstro da Inquisição.
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