domingo, 22 de janeiro de 2012

01 / 02 O médium do Anticristo


01/02
O Médium do Anticristo
por Hermínio C. Miranda

in Reformador’ (FEB) Março 1976

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            A lendária lança de Longinus, ingrediente deste estudo de Hermínio C. Miranda, que vem lendo e comentando livros e periódicos para os nossos leitores, há quatro lustros, foi apreciada à luz do conhecimento espírita, de forma sintética, única possível nos limites de um artigo. Às definições dadas pelo autor à natureza da influência descrita - e nos referimos à tese, em si, sem penetrar no mérito do caso analisado -, podem ser acrescentadas as contidas em "A Caminho da Luz", de Emmanuel (psicografia de Francisco Cândido Xavier), cáp. IV - Os egípcios e as ciências psíquicas -, versando sobre "saturações magnéticas" e outras manipulações energéticas.

         Quanto ao Anticristo, o mesmo Emmanuel, respondendo à questão 291 de "O Consolador", esclareceu: "Podemos simbolizar como Anticristo o conjunto das forças que operam contra o Evangelho, na Terra e nas esferas vizinhas do homem, mas, não devemos figurar nesse Anticristo um poder absoluto e definitivo que pudesse neutralizar a ação de Jesus, porquanto, com tal suposição, negaríamosa a previdência e a bondade infinitas de Deus."

         A literatura espírita mediúnica (vide "lIbertação", "Dramas da Obsessão" e "Nos Bastidores da Obsessão", edições da FEB) tem tratado das tramas urdidas na sombra, sem, entretanto, revelar tudo nem descer a certos pormenores. Mas, dois documentárIos, minuciosos e dizendo muIto, estão nas livrarias e foram criticados na imprensa profana; é conveniente, pois, que se saiba, no meio espiritista, o que eles contêm de verdadeiro ou verossímil, segundo aquele que os leu e comentou para nós.       A REDAÇÃO

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                        Um jovem de cerca de 20 anos vagava pelo Museu Hofburg, em Viena, como de costume. Estava deprimido como nunca. O dia fora muito frio, pois o vento trouxera o primeiro anúncio do outono que se aproximava. Ele temia novo ataque de bronquite que o reteria por longo tempo no seu miserável quartinho numa pensão barata. Estava pálido, magro e de aparência doentia. Sem dúvida alguma, era um fracasso. Fora recusado pela Escola de Belas-Artes e pela de Arquitetura. As perspectivas eram as piores possíveis.

            Caminhando pelo museu, entrou na sala que guardava as joias da coroa dos Hapsburg, gente de uma raça que não considerava de boa linhagem germânica.

            Mergulhado em pensamentos pessimistas, nem sequer notou que um grupo de turistas, orientado por um guia, passou por ele e parou diante de um pequeno objeto ali em exibição.

            - "Aqueles estrangeiros - escreveria o jovem mais tarde - pararam quase em frente ao lugar onde eu me encontrava, enquanto seu guia apontava para uma antiga ponta de lança. A princípio, nem me dei ao trabalho de ouvir o que dizia o perito; limitava-me a encarar a presença daquela gente como intromissão na intimidade de meus desesperados pensamentos. E, então, ouvi as palavras que mudariam o rumo da minha vida: "Há uma lenda ligada a esta lança que diz que quem a possuir e decifrar os seus segredos terá o destino do mundo em suas mãos, para o bem ou para o mal."

            Como se tivesse recebido um choque de alertamento, ele agora bebia as palavras do erudito guia do museu, que prosseguia explicando que aquela fora a lança que o centurião romano introduzira ao lado do tórax de Jesus (João 19:34) para ver se o crucificado já estava "morto".

            Tinha uma longa e fascinante história aquele rústico pedaço de ferro. O jovem mergulharia nela a fundo nos próximos anos. Chamava-se ele Adolf Hitler.

            Voltou muitas vezes mais ao Museu Hofburg e pesquisou todos os livros e documentos que conseguiu encontrar sobre o assunto. Envolveu-se em mistérios profundos e aterradores, teve revelações que o atordoaram, incendiaram sua imaginação e desataram seus sonhos mais fantásticos.

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            Estranha era a personalidade do futuro chefe nacional do nazismo, e duas pessoas, pelo menos, o conheceram bem nesses anos de formação e busca.

            Um deles chamou-se August Kubizek e escreveu um livro sob o título "O Jovem Hitler - A História de Nossa Amizade"; outro foi Walter Johannes Stein, cientista e doutor em filosofia, nascido em Viena e que mais tarde emigrou pura a Inglaterra, onde morreu[1].

            A personalidade de Hitler parece oferecer inesgotável manancial de sugestões para os mais variados temas. Poucos livros, no entanto, serão tão fascinantes como "The Spear ot Destiny" ("A Lança do Destino"), do escritor inglês Trevor Ravenscroft, amigo pessoal do Dr. Stein, jornalista e professor de História em Londres e Edinburgh. Ravenscroft estudou o assunto Hitler durante 12 anos, parte dos quais sob a orientação do Dr. Stein. Seu livro é, pois, um documentário e não uma narrativa romanceada.

            Não é fácil escolher, em obra tão densa e rica, o material a ser comentado num mero artigo como este. Tentaremos.

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            Sabemos hoje, em face da prática e da literatura espíritas, que os Espíritos, encarnados e desencarnados, vivem em grupos, dedicados a causas nobres ou sórdidas, segundo seus interesses pessoais. A inteligência e o conhecimento, como todas as aptidões humanas, são neutros em si mesmos, ou seja, tanto podem ser utilizados na prática do bem como na disseminação cio mal. Dessa maneira, tanto os bons espíritos, como, aqueles que ainda se demoram pelas trevas, elaboram objetivos de longo alcance visando aos interesses finais do bem ou do mal. Em tais condições, encarnados e desencarnados se revezam, neste plano e no outro, e se apoiam mutuamente, mantendo constantes entendimentos, especialmente pela calada da noite, quando uma parte considerável da humanidade encarnada, desprendida pelo sono, procura seus companheiros espirituais para debater planos, traçar estratégias, realizar tarefas, ajustar situações.

            Há, pois, toda uma logística de apoio aos Espíritos que se reencarnam com tarefas específicas, segundo os planos traçados.

            Estudando, hoje, a história secreta do nazismo, nos resta dúvida de que Adolf Hitler e vários dos seus principais companheiros desempenharam importante papel na estratégia geral de implantação do reino das trevas na Terra, num trabalho gigantesco que, obviamente, tem a marca inconfundível do Anticristo. Para Isso, eclodem fenômenos mediúnicos, surgem revelações, encontram-se as pessoas que deveriam encontrar-se, acontecem "acasos" e "coincidências" estranhas, juntam-se, enfim, todos os ingredientes necessários ao desdobramento do trabalho.

            August Kubizek descreve uma cena dramática em que Hitler, com apenas 15 anos de idade, apresenta-se claramente incorporado ou inspirado por uma entidade desencarnada. De pé, diante de seu jovem amigo, agarrou-lhe as mãos emocionado, de olhos esbugalhados e fulminantes, enquanto de sua boca fluía  desordenadamente uma enxurrada de palavras excitadas. Kubizek, aturdido, escreve, em seu livro:     

            - Era como se outro ser falasse de seu corpo e o comovia tanto quanto a mim. Não era, de forma alguma, o caso de uma pessoa que fala entusiasmada pelo que diz. Ao contrário, eu sentia que ele próprio como que ouvia atônito e emocionado o que jorrava com uma força primitiva ... Como enxurrada rompendo diques, suas palavras irrompiam dele. Ele invocava, em grandiosos e inspirados quadros, o seu próprio futuro e o de seu povo. Falava sobre um Mandato que, um dia, receberia do povo para Iiderá-lo da servidão aos píncaros da liberdade - missão especial que em futuro seria confiada a ele.

            Ao que parece, foi o primeiro sinal documentado da missão de Hitler, e o primeiro indício veemente de que ele seria o médium de poderosa equipe espiritual trevosa empenhada em implantar na Terra uma nova ordem. Garantia-se a Hitler o poder que ambicionava, em troca da fiel utilização da sua instrumentação mediúnica. O pacto com as trevas fora selado nas trevas, É engano pensar que essas falanges espirituais ignoram as leis divinas. Conhecem-nas muito bem e sabem da responsabilidade que arrostam e, talvez, até por isso mesmo, articulam seus planos tenebrosos e audaciosos, porque, se ganhassem, teriam a impunidade com que sonham milenarmente para acobertar crimes espantosos. Eles conhecem, como poucos, os mecanismos da Lei e sabem manipular com pericia aterradora os recursos espirituais de que dispõem.

            Vejamos outro exemplo: o relato da segunda visita de Hitler à lança, narrada pelo próprio.

            Novamente a sensação estranha de perplexidade. Sente ele que algo poderoso emana daquela lança[2] Sente ele que algo poderoso emana daquela peça, mas não consegue identificar o de que se trata. De pé, diante da lança, ali ficou por longo tempo a contemplá-Ia:

            - Estudava minuciosamente cada pormenor físico da forma, da cor e da substância, tentando, porém, permanecer aberto à sua mensagem. Pouco a pouco me tornei consciente de uma poderosa presença em torno dela -,- a mesma presença assombrosa que experimentara intimamente naquelas raras ocasiões de minha vida em que senti que um grande destino esperava por mim.

            - Começava agora a compreender o significado da lança - escreve Ravenscroft -- e a origem de sua lenda, pois sentia, intuitivamente, que ela era o veiculo de uma revelação - "uma ponte entre o mundo dos sentidos e o mundo do espírito".

            As palavras entre aspas são do próprio Hitler, que prossegue:

            - Uma janela sobre o futuro abriu-se diante de mim, e através dela vi, num único "flash", um acontecimento futuro que me permitiu saber, sem sombra de dúvida, que o sangue que corria em minhas veias seria, um dia, o veículo do espírito de meu povo.

            Ravenscroft especula sobre a revelação. Teria sido, talvez, a antevisão da cena espetaculosa do próprio Hitler a falar, anos mais tarde, ali mesmo em frente ao Hofburg, à massa nazista aglomerada, após a trágica invasão da Áustria, em 1938, quando ele disse em discurso:          

            - A Providência me incumbiu da missão de reunir os povos germânicos. .. com a missão de devolver minha pátria[3] ao Reich alemão. Acreditei nessa missão. Vivi por ela e creio que a cumpri.

            Tudo começara com o impacto da visão da lança no museu. Já naquele mesmo dia, em que o guia dos turistas chamou sua atenção para a antiquíssima peça, ele experimentou estranhas sensações diante dela. Que fascínio poderia ter sobre seu Espírito - especula ele próprio - aquele símbolo cristão? Qual a razão daquele impacto? Quanto mais a contemplava, mais forte e, ao mesmo tempo, mais fugidia e fantástica se tornava a sua impressão.

            - Senti como se eu próprio a tivesse detido em minhas mãos anteriormente, em algum remoto século da História. - como se eu a tivesse possuído, como meu talismã de poder, e mantido o destino do mundo em minhas mãos. No entanto, como poderia isto ser possível? Que espécie de loucura era aquela que invadia a minha mente e criava todo aquele tumulto no meu íntimo?

            Qual é, porém, a. história conhecida da lança?

            É o que tentaremos resumir em seguida.
           
*         

            Segundo conta Ravenscroft, a lança teria sido forjada por ordem do antigo profeta Finéias para simbolizar os poderes mágicos inerentes ao sangue do povo eleito[4] . A lança já era, pois, antiga, quando Josué a teria nas mãos, ao ordenar aos soldados que emitissem aquele som terrível que fez ruir os muros de Jericó. Diz-se que essa mesma lança o rei Saul atirou sobre o jovem David num impulso de cólera e ciúme. Herodes, o Grande, também teve em seu poder esse talismã, quando determinou o massacre das crianças. Foi como mandatário de seu sucessor, Herodes Antipas, que governou do ano 4 antes do Cristo até 39 da nossa era, que um oficial empunhou a lança, como símbolo da autoridade, com ordens de quebrar as pernas de Jesus crucificado.            

            Ao chegar à cena o contingente de guardas do templo, os soldados romanos deram as costas, enojados, enquanto os vassalos do Sumo-Sacerdote quebravam o crânio e as pernas, dos dois ladrões sacrificados lateralmente ao Cristo .

            Gaius Cassius era, ao que apurou Ravenscroft, de origem germânica e foi afastado do serviço ativo por causa da catarata que atacou seus olhos. Enviado a Jerusalém, ali ficou como observador dos movimentos políticos e religiosos da Palestina. Durante dois anos, acompanhou a atividade de Jesus e, depois, seguiu o doloroso processo da execução do profeta, que diziam ameaçar a autoridade de Roma. Impressionou-o a coragem e a dignidade com que o jovem pregador suportou o seu martírio. Por outro lado, entendiam os sacerdotes ser indispensável mutilar seu corpo, pois era absolutamente essencial desmentir sua condição de  Messias; uma vez que, segundo as escrituras, seus ossos não seriam quebrados (João 19:36). Gaius Cassius tão impressionado ficou com o tétrico espetáculo, de um lado, e com a grandeza do Cristo, de outro, que resolveu impedir que Jesus também fosse mutilado. E, assim, esporeou o cavalo na direção da cruz central e trespassou o tórax do crucificado, entre a quarta e a quinta costelas, procedimento costumeiro dos soldados romanos quando desejavam verificar se o inimigo, ferido no campo de batalha, estava realmente morto. Não se sabe ao certo se Cassius tomou a lança da mão do comandante judeu, que a trazia em nome de Herodes, ou se usou sua própria lança. De qualquer forma, a legenda se criou e se consolidou. Gaius Cassius se converteu ao cristianismo e passou a chamar-se Longinus, nome com que continuou sua carreira através dos séculos. E a arma ficou sendo conhecida como a Iança de Longinus.

            Diz-se dela que representa um talismã de poder tanto para o bem como para o mal, mas, ao que parece, somente tem sido usada como instrumento de conquista e opressão, pois pertenceu, depois, a Mauritius, comandante da Legião Tebana, que, com ela nas mãos, morreu martirizado por ordem de Maximiano, ao se recusar a adorar os deuses pagãos. Em solidariedade ao chefe, que morreu cristão, seus 6.666 legionários também se recusaram, ajoelharam-se e ofereceram o pescoço à espada. Maximiano decidiu pelo espantoso massacre, como oferenda aos seus deuses. Assim, a mais valorosa legião romana daquele tempo foi sacrificada numa chacina sem precedentes na História antiga.

            Seria impossível retraçar toda a história da lança, mas sabe-se que ela esteve em poder de Constantino, Teodósio, Alarico, Ecius, Justiniano, Carlos Martelo, Carlos Magno, Frederico Barba Roxa e Otto, o Grande. Em que outras mãos teria ela estado, e a que propósitos inconfessáveis serviu através do tempo?              

            É certo, no entanto, que quem a cobiçava naquela fria tarde de outono, em Viena, era um jovem que tinha a impressão viva de tê-la já possuído alhures, no tempo e no espaço.

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            Hitler dedicou-se daí em diante ao estudo de tudo quanto pudesse estar relacionado com o seu fascinante problema. Cedo foi dar em núcleos do saber oculto. Um dos seus biógrafos, Alan Bullock (Hitler: A Study in Tiranny") , sem ter alcançado as motivações do futuro líder nazista, diz que ele foi um inconsequente, o que se poderia provar pelas suas leituras habituais, pois seus assuntos prediletos eram a história de Roma antiga, as religiões orientais, ioga, ocultismo, hipnotismo, astrologia... Parece legítimo admitir que tenha lido também obras de pesquisas espíritas, porque os autores não especializados insistem em grupar espiritismo, magia, mediunismo e adivinhação, e muito mais sob o rótulo comum de ocultismo.

            Sim, Hitler estudou tudo isso profundamente e não se limitou à teoria; passou à prática. Convencido da sua missão transcendental, quis logo informar-se sobre os instrumentos e recursos que lhe seriam facultados para levá-Ia a cabo. O primeiro impacto da ideia da reencarnação em seu espírito o deixou algo atônito, como vimos, na sua primeira crise espiritual diante da lança, no museu de Hofburg; logo, no entanto, se tornou convicto dessa realidade e tratou a sério de identificar algumas de suas vidas anteriores. Esses estudos levaram-no ao cuidadoso exame da famosa legenda do Santo Graal, de que Richard Wagner, um dos seus grandes ídolos, se  serviu para o enredo da ópera Persifal.

            HitIer foi encontrar nos escritos de um poeta do século XIII, por nome Wolfram von Eschenbach, a fascinante narrativa da lenda, cheia de conotações místicas e simbolismos curiosos, que captaram a sua imaginação, porque ali a história e a profecia estavam como que mal disfarçadas atrás do véu diáfano da fantasia.

            Mas, Hitler tinha pressa, e, para chegar logo ao conhecimento dos mistérios que o seduziam, não hesitou em experimentar com o peiote, substância alucinógena extraída do cogumelo mexicano, hoje conhecida como mescalina. Sob a direção de um estranho Indivíduo, por nome Ernst Pretzsche, o Jovem Adolf mergulhou em visões fantásticas que, mais tarde, identificaria como sendo cenas de uma existência anterior que teria vivido como Landulf de Cápua, que serviu de modelo ao Klingsor na ópera de Wagner.

            Esse Landulf foi um príncipe medieval (século nono) que Ravenscroft declara ter sido "the most evll figure of the century" - a figura mais infame do século. Sua influência tornou-se considerável na política de sua época e, segundo Ravenscroft, "ele foi a figura central em todo o mal que se praticou então".

            O Imperador Luís II conferiu-lhe posto que o situava como a terceira pessoa no seu reino, e concedeu-lhe honrarias e poderes de toda a sorte. Landulf teria passado muitos anos no Egito, onde estudou magia negra e astrologia. Aliou-se secretamente aos árabes que, apesar de dominarem a Sicília, respeitaram seu castelo, em Carlata Belota, na Calábria. Nesse local sinistro, onde se situara no passado um templo dedicado aos mistérios, Landulf exercia livremente suas práticas horríveis e perversas que, segundo Ravenscroft, deram-lhe a merecida fama de ser o mais temido feiticeiro do mundo. Finalmente, o homem que o Imperador Luis II queria fazer Arcebispo de Cápua, depois de elevá-Ia à condição de cidade metropolitana, foi excomungado em 875, quando sua aliança com o Islã foi descoberta.


            Ravenscroft informa logo a seguir que, a seu ver, ninguém conseguiu exceder Wagner em inspiração, quando este coloca, na sua ópera, a figura de Klingsor (ou seja, Landulf) como um mago a serviço do Anticristo.

            Aliás, muitas são as referências ao Anticristo no livro do autor inglês, em conexão com a trágica figura de Adolf Hitler. Ainda veremos isto.

            Guiado peia sua intuição, Wagner transpôs para o terreno da arte, na sua genial ópera, o objetivo de Klingsor e seus adeptos, que era "cegar as almas por meio da perversão sexual, e privá-Ias da visão espiritual, a fim de que não pudessem ser guiadas pelas hierarquias celestiais". Essa atividade maligna Landulf desenvolveu em seu tempo, e suas horríveis práticas teriam exercido "devastadora influência nos lideres seculares da Europa cristã", conforme Ravenscroft.

            Mas Hitler acreditava-se também uma reencarnação de Tibério, um dos mais sinistros dos Césares. É fato sabido hoje que ele tentou adquirir ao Dr. Axel Munthe, autor de "O Livro de San Michele", a ilha deste nome, que, em tempos idos, fora o último reduto de Tibério, que lá morreu assassinado. O Dr. Munthe se recusou a vender a ilha porque ele próprio acreditava ter sido Tibério, o que não parece muito congruente com a sua personalidade.

            Aliás, as especulações ocultistas (usemos a palavra) dos líderes nazistas estão cheias de fenômenos psíquicos e de buscas no passado. Goering dizia, com orgulho, que sempre se encarnou ao lado do Führer. Ao tempo de Landulf, ele teria sido o Conde Boese, amigo e confidente do príncipe feiticeiro, e no século XIII fora Conrad de Marburg, amigo íntimo do bispo Klingsor, de Wartburg. Goebbels, o ministro da Propaganda nazista, acreditava-se ter sido Eckbert de Meran, bispo de Bamberg, no século 'XIII, que teria apresentado Klingsor ao rei André da Hungria[5].

            Se essas encarnações estão certas ou não, não cabe aqui discutir, mas tais especulações evidenciam o interesse daqueles homens pelos mistérios e segredos das leis divinas, que precisavam conhecer para melhor desrespeítar e burlar. Por outro lado, contêm alguma lógica, quando nos lembramos de certos aspectos que a muitos passam despercebidos. Muitos espíritos reencarnam-se com o objetivo de infiltrarem-se nas hostes daqueles que pretendem combater, seja para destruir, seja para se apossarem da organização, sempre que esta detenha alguma parcela substancial de poder. Não seria de admirar-se, pois, que um grupo de servidores das trevas, com apoio das trevas, aqui e além, fosse alçado a postos de elevada influência entre a hierarquia cristã da época, quando a Igreja desfrutava de incontestável poder. O papado não esteve imune - longe disso – e por várias vezes caiu em mãos de mal disfarçados emissários do Anticristo.

            Lembremos outro pequeno e quase imperceptível pormenor. Recorda-se o leitor daquela observação veiculada por um benfeitor espiritual que relatou haver sido traçada, no mundo das trevas, a estratégia do sexo desvairado, a fim de desviar os humanos dos caminhos retos da evolução? Sexo transviado e magia negra são aliados constantes, ingredientes do mesmo caldo escuro, onde se cultivam as paixões mais torpes. Quantos não se perderam por ai ...




[1] O Dr. Walter Johannes Stein exerceu. na Inglaterra, o elevado cargo de Assessor Especial do Primeiro Ministro Winston Churchill para assuntos relacionados com a personalidade de Hitler. Além de sua vasta cultura, era homem de excelentes padrões morais.

[2] A Lança de Longinus consiste, presentemente, de dois segmentos seguros por uma bainha de prata. Inserido na lança vê-se um cravo dito da cruz do Cristo. (Da obra "The Spear ot Destiny", citada no texto)

[3] Hitler era austríaco.  Nasceu em 20 de abril de 1889, na encantadora vila de Braunau-am-Inn, onde também nasceram os famosos médiuns Wllly e Rudi Schneider.

[4] Não sei se é esse o Finéas, fllho de Eleazar, mencionado em Números 25:7 e Juízes 20:28.

[5] Segundo apurou Ravenscroft, esse Bispo Kllngsor seria o Conde de Acerra, também de Cápua, um tipo sinistro, profundamente envolvido em magia negra e que, como Landulf, séculos antes, reuniu em torno de si um círculo de adeptos que incluía eminentes personalidades eclesiásticas da época. Afirma, ainda, o autor que foi nesse grupo que se concebeu o medonho monstro da Inquisição.

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