Elementos da
Filosofia Espírita
A poucos passos da serenidade que nos proporciona a
Doutrina Espírita, encontramo-nos com um mundo perplexo e atormentado pelas
suas próprias criações transitórias, à semelhança de um grande barco agitado
pelas vagas ameaçadoras de um mar revolto, com seus representantes anotando
dolorosamente:
Nossa cultura é muito superficial hoje, e nossos conhecimentos são
muito perigosos, já que a nossa riqueza
em mecânica se contrasta com a nossa pobreza de propósitos. O equilíbrio de
espírito que haurimos outrora
na fé ardente, já lá se foi; depois que a ciência destruiu as bases
sobrenaturais da moralidade, o
mundo inteiro parece consumir-se num desordenada individualismo, refletor da caótica fragmentação de nosso caráter.
Novamente somos defrontados pelo problema atormentador de Sócrates: como encontrar uma ética natural que substitua as
sanções sobrenaturais já sem influência
sobre a conduta do homem? Sem filosofia, sem esta visão de conjunto que unifica
os propósitos e estabelece a
hierarquia dos desejos, nós malbaratamos nossa herança social em corrupção cínica de um lado e em loucuras
revolucionárias de outro; abandonamos num momento nosso idealismo pacífico para nos mergulhar nos suicídios
em massa da guerra; vemos surgir cem mil políticos
e nem um só estadista; movemo-nos sobre a Terra com velocidades nunca antes
alcançadas, mas não sabemos para
onde vamos, nem se no fim da viagem alcançaremos qualquer espécie de felicidade.[1]
O grito de perplexidade, diante dos
quadros humanos de nosso mundo, não é articulado por quem ignore as luzes do
Cristianismo. O seu Autor, num subjetivo respeito, anota no subtítulo de seu
trabalho: “In my Father's house are many mansions[2]”, consagrando, na dinâmica do
Cristianismo, a filosofia por plano do Universo, onde o homem se encontra com a
Vida, buscando compreendê-Ia em sua unidade, origem e fins. Porém, embora essa
sua sutil raiz cristã, não alcança equacionar o existencial pelo gênio da
doutrina de Jesus e se mantém sem rumo definido.
É o gemido profundo e sincero
daqueles que se renderam, aturdidos, sob o peso de suas próprias obras e agora
se indagam, por entre as brumas do panorama humano conturbado: o que fazer e
como fazer para
encontrar um roteiro seguro.
Mas, o que para o filósofo é o
horizonte da angústia, a incógnita que completou o vórtice reencenando, na
ribalta da existência, a problemática da era socrática: a busca de uma ética
que substitua as sanções sobrenaturais -- no
Espiritismo é a fase do processo evolutivo que, pelo exercício de nosso
livre-arbítrio, inscrevemos por contristador estágio de nossa maturação
espiritual.
Eis a ocorrência:
Na eclosão da Ciência, o homem foi bruscamente remetido para diante da
realidade objetiva, induzido a
desligar-se de fábulas e superstições, de fé dogmática e sistemas estanques de
filosofia. Essa repentina integração no
existente promoveu o surgimento de duas atitudes mentais diametralmente opostas:
- a daqueles que haviam rompido o cordão umbilical com sua natural
tendência religiosa, gerando
um monstro teratológico, fecundado pelo egoísmo-orgulho: o materialismo;
-
a daqueles que não aviltaram a sua natureza íntima e que, pelo avanço da
Ciência, se ajustaram para
senhorear-se da fenomenologia mediúnica - que é de todos os tempos - já não
mais no sentido mítico ou
terra-a-terra de oráculos e pitonisas e sim na dimensão da racionalidade,
surgindo com esses o
espiritualismo científico: o Espiritismo-cristão.
Esse comportamento filosófico,
decorrente da inter-relação com a Espiritualidade, súmula das atividades
evolutivas do espírito, teve a sua aurora com “O Livro dos Espíritos”, onde o
seu coordenador esclarece: “Como especialidade contém a doutrina Espírita; como
generalidade, liga-se à doutrina espiritualista, da qual apresenta uma das
fases. Essa a razão por que traz sobre o titulo as palavras: Filosofia
Espiritualista[3].”
Vivendo Allan Kardec, codificador do
Espiritismo, numa época de profundas renovações, em todos os campos dos
conhecimentos e das atividades humanas, e sendo os ensinamentos que recolheu
dos Espíritos a mais profunda e ampla renovação de conceitos, revivendo o
Cristianismo do qual herdou o gênio, não se ocupou o mestre lionês em fundar
uma escola sistemática, em que se criaria uma realidade temporal e que
terminaria, como outras, por fugir do plano objetivo. Contrariamente ao
condicionamento de criaturas a uma realidade, lançou as bases da compreensão
dentro dos horizontes individuais, aceitando por inevitáveis os mais
conflitantes comportamentos e as mais divergentes ideações, porque o homem
sempre emerge mais enriquecido espiritualmente depois dos mergulhos nos oceanos
de suas paixões.
A filosofia Espírita, atingida pelo
nosso crescimento intelectual e afetivo, não é, portanto, a construção de um
sistema que encarcere o pensamento e que estabeleça uma realidade, impondo-se
ao homem do exterior para o interior, limitando-lhe a área de experiências
individuais com fé fundamentada no sobrenatural
ou numa autoridade humana, já que o evento da Ciência dissolveu a ascendência
dogmática e hierárquica.
No processo do desenvolvimento
integral, o homem primeiro treinou a sua razão, no contato direto com o meio
tangível e mensurável pelos seus sentidos comuns. Despiu-se das gangas teológicas
e das emoções primitivas, desordenadas, atingindo as fronteiras de sua
maturidade. Já na divisa do imponderável, dominava
regularmente as leis naturais mais próximas, ou seja, aquelas que falavam aos
seus sentidos objetivos, tendo condições, então, para mensurar novas leis com o
seu sentido objetivo, a mediunidade.
Senhor de suas sensações, tendo
frenado e ordenado a emotividade, desvinculando-se de escolas dogmáticas, por
força de sua nova condição, estava apto à realidade psicofísica, seguindo a
metodologia de suas experiências de Ciência, com a amplitude da racionalidade.
O Espiritismo-cristão surgiu, assim,
por coroamento de um laborioso processo evolutivo. Não, evidentemente,
resultante da inventiva humana, mas como decorrência do novo estágio psíquico
atingido em que o homem tem mais amplo descortino do Universo. Foi conquista, conjugada
com a Espiritualidade Superior.
A filosofia Espírita, à semelhança
do próprio Sócrates, libertou-se dos cânones tradicionais e vem realizando, com
substancional mutação de técnica e de forma, sem desmerecer mas sem utilizar o
glossário técnico do filósofo profissional, o diálogo vital, na plataforma da
razão. Não contribui para aumentar o acervo de páginas
obscuras e nem de páginas rendilhadas por elegantes torneios de expressão, sem
substância objetiva. Suas conclusões não são formas interrogativas de quem se
aturdiu com o exame da Vida e nem são editais de
falência de nossa Humanidade.
É uma orientação assistemática do
pensamento.
O filósofo angustiado, perplexo, não
entreviu, ainda, a nova ética espírita-cristã, substituindo as sanções
sobrenaturais, assentada amplamente no raciocínio, em que se estabelece “a
visão de conjunto que unifica os propósitos”. Seus liames, contudo, são
bastante difusos e profundos, gerando as bases de uma nova civilização, entretendo-se com o homem para a
reforma do atual estágio transitório de nossa civilização. Opera-se tal qual
com a semente depositada no seio da terra e que arrosta as intempéries,
fortalecendo-se para garantir o fruto nutritivo do amanhã.
Surge Emmanuel
O processo filosófico, inaugurado
por Allan Kardec, numa doutrina fundamentalmente religiosa - mas onde religião não tem o significado
tradicional de dogma, de hierarquia sacerdotal, de ritos e paramentos
exteriores; de culto organizado, nem de verdade única e integral ou mesmo de
medida salvacionista -, após exatamente sessenta anos do aparecimento de “O
Livro dos Espíritos”, viria aflorar, dinâmico, atual, com o Espírito de
Emmanuel, através da mediunidade psicográfica de Francisco Cândido Xavier.
No primeiro encontro do médium com o
Espírito de Emmanuel ficou inteiramente definido o seu roteiro de atividades,
pelas suas palavras e pelo símbolo, dentro do qual se fez visível:
“Via-lhe os traços fisionômicos de homem
idoso, sentindo minha alma envolvida na
suavidade de sua presença; mas o que mais me impressionava era que a generosa
entidade se fazia
visível para mim, dentro de reflexos luminosos que tinham a forma de uma cruz. Às minhas
perguntas naturais, respondeu o bondoso guia: - “Descansa! Quando te sentires
mais forte,
pretendo colaborar igualmente na difusão da filosofia espiritualista. Tenho seguido sempre
os teus passos e só hoje me vês, na tua existência de agora, mas os nossos espíritos
se encontram unidos, pelos laços mais
santos da vida e o sentimento afetivo que me impele para o
teu coração tem suas raízes na noite profunda dos séculos[4]” ...
Nesse primeiro reencontro, Emmanuel
fez uma síntese, figurada, dos propósitos e do processo da filosofia
espiritualista que propagaria pelo mediunato de Chico Xavier. Era o continuísmo
existencial, em planos que se inter-relacionam continuamente, embora nem sempre
assinalados conscientemente pelo homem. E a
cruz, que irradiava de seus reflexos luminosos, instrumento de regeneração
consagrado pelo Cristo,
seria a geratriz, através da qual seriam examinadas as atividades evolutivas de
nossa Humanidade.
É por demais expressivo esse quadro!
A visão global do homem, em si
considerado e compondo o complexo de sua marcha ascendente, só poderia ser
alcançada com o auxílio de sabedoria que transcenda ao mutável e que possa
abarcar o conjunto do fenômeno evolutivo, sem visão deformada pelo poliedro do
condicionamento vital.
O Sol integral é dos que estão acima
dos horizontes.
O Espírito de Emmanuel, por força do
plano em que se situa e em decorrência de seus estágios evolutivos,
desfruta dessa visão integralizada, dentro do gênio da doutrina do Cristo.
Veio, assim, de espírito limpo. Não trouxe o propósito de organizar uma escola
filosófica ou religiosa, nem pretendeu inaugurar uma sistemática inusitada e
estranha ou mesmo de abordar a problemática filosófica para disseminar
princípios transitórios em essência ou relacionados a uma determinada época ou
evento. Revelou-se fiel ao Mestre, sem trair por
um só momento a dinâmica da reconstrução de mundo novo com o Senhor Jesus e, em
consequência, sem se distanciar ou conflitar com a Doutrina codificada por
Allan Kardec, ditada pelo Espírito de Verdade,
Todas as obras de Emmanuel podem ser
analisadas do prisma da mais pura filosofia, representando a Filosofia
Espírita, numa posição de extraordinário avanço direcional e horizontal,
enriquecendo os temas e aspectos propostos e implícitos na Codificação
Doutrinária. Seria oportuno, de futuro, uma tomada global, para ensaiar
compreendê-lo na sua genialidade-cristã . Contudo, ficaremos restritos, por
ora, ao exame de apenas quatro de suas produções:
- Emmanuel
- A Caminho
da Luz
- O
Consolador
- Roteiro[5]
A
obra “Emmanuel”
A linha central do pensamento
Espírita estava perfeitamente delineada, em seus princípios
fundamentais,
no pentateuco kardequiano, dispensando o seu continuador, o Espírito de Emmanuel,
de retornar à origem primeira para reeditá-Ia. Desse marco básico deveria
irradiar--se, abarcando detalhes e questões que aflorariam no campo do
conhecimento humano, à medida que se processa o sazonamento de nosso
senso-moral.
A obra “Emmanuel” traz a dinâmica
vital da filosofia Espírita, sendo valioso e precioso subsídio para construir a
mente na renovação do Cristianismo-redivivo. Seu escopo central se destaca na
titulação das duas grandes partes em que se divide:
I -
Doutrinando a fé
II -
Doutrinando a ciência.
Submetendo fé e ciência à iluminação
da doutrina espírita-cristã, realiza o seu Autor uma arrojada projeção do
pensamento humano, revelando a objetividade da filosofia nova que não se
deteria nas masmorras
dos sistemas utópicos e nem se confinaria a enregelantes torres de marfim. É' o
exame das cartas, com as quais a Humanidade faz o seu jogo de evolução, dentro
dum realismo transcendental, sem o injetar de fel em nossa boca.
Além da exposição em torno de “importantes
questões que preocupam a Humanidade”, aborda dialeticamente quatro questões que
têm gerado vasta literatura:
1. Determinismo e livre-arbítrlo - onde elucida que o determinismo é o
trajeto previsto para o viajor da evolução; contudo, o livre-arbítrio é uma lei
irrevogável, pela qual pode o homem e as coletividades alterarem o
seu destino.
A proposição é a conciliação dos
extremos - que são extremos tão somente para a nossa visão que, não fazendo uma
tomada do todo, se confunde com os detalhes das partes. Explica a nossa
responsabilidade nos atos, sem extrair-nos da marcha evolutiva a que nos
submetemos.
2. Tempo e espaço - não têm expressões objetivas, no plano das
realidades eternas, são, contudo, figuras precisas ao homem como expressões de
controle dos fenômenos de sua existência.
Apresentando-nos tempo e espaço por
condição transitória, permite-nos ilações sobre o eterno presente da
vida humana, para almas de sublimada condição, abrindo o campo da fenomenologia
de psicometria, de profecias célebres, de reexame existencial do pretérito.
3. Espírito e matéria - podem ser considerados como estados diversos
de uma essência imutável, para chegar-se a estabelecer a unidade substancial do
Universo, fazendo-se preciso, porém, considerar a matéria como um estado
negativo e o espírito como um estado positivo dessa substância.
Que brilhante antecipação do
energetismo!
Se matéria fosse essência diversa do
Espírito - sendo este a criação eterna do Pai - o tenderia um dia a
desaparecer, como todas as formas-transitórias. Ocorrendo ser, todavia; estado
diverso e não criação diversa, consubstancia a eternidade de sua essência e
oferece os princípios da gradação da energia.
4. O princípio da unidade - em que encarece que, mesmo nos planos
elevados do Espírito, observa os princípios da unidade e variação, sem haver
descoberto o seu ponto de interação. Todavia, como o princípio da unidade
absorve todas as variações, crê que, sem perdermos a consciência individual no
transcurso dos milênios, chegaremos a reunir-nos no grande princípio da
unidade, que é a perfeição.
Emmanuel não fecha, em definitivo ou
dogmaticamente, as questões propostas, dando-nos uma visão relativa que podemos
ter sobre as mesmas. Não deixa, contudo, de expender conceitos novos, numa
linguagem direta e fundamentalmente inteligível, seguindo o mesmo estilo
diáfano de Sócrates, rico de eloquente
simplicidade nos problemas que nossa mente tornou complexos.
A obra “A Caminho da Luz”
A razão examinou as religiões.
Entrechocando-se com dogmas e hierarquias humanas, com princípios refratários
ao progresso, com sistemas artificiosos que não suportaram a sua análise fria –
verdadeiras furnas de morcegos que se vitalizam com as sombras da ignorância -
o homem, obnubilado pelas suas ideações materialistas, concluiu que a religião
é uma decorrência das civilizações.
Foi tomada a causa por efeito.
A religião, assim, teria de ser um
elemento condicionado às civilizações, refletindo-lhes as
aspirações,
os anseios, podendo, inclusive, excluir a ideia de Deus de seus princípios
fundamentais, porque Deus seria uma consequência dos homens!
Emmanuel, sem deter-se formalmente
no exame desse teorema que precipita dolorosas
consequências
psicofísicas, aviltando até sacerdotes e condutores de almas -- Emmanuel
escreve, por Francisco Cândido Xavier: “A Caminho da Luz”, um livro magnífico
que é “contribuição à tese religiosa
elucidando a infância sagrada da fé e o ascendente espiritual no curso de todas
as civilizações terrestres”.
O ascendente espiritual é causa e
não efeito.
Pela proposição, as civilizações se
originam do influxo espiritual, do crescimento psicofísico da Humanidade,
cabendo aos homens renovarem-se nos princípios religiosos, renunciando de si,
sem o louco tentame de
estabelecer condições para que a fé sobreviva.
A obra se inicia na gênese
planetária “quando o orbe terrestre se
desprendia da nebulosa solar, a fim de que se lançassem no tempo e no espaço as
balizas de nosso sistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria em ignição,
do planeta” e termina dissertando sobre o “Evangelho e o Futuro”, quando “luzes
consoladoras” envolverão todo o orbe regenerado no batismo do sofrimento. O
homem espiritual estará unido ao homem físico para a sua marcha gloriosa ao ilimitado,
e o Espiritismo terá retirado dos seus escombros materiais a alma divina das
religiões, que os homens perverteram, ligando-as no braço acolhedor do
Cristianismo-restaurado”.
Por conclusão, afiança: “Em nosso modesto estudo da história, um
único objetivo orientou as nossas atividades -- o da demonstração da influência
sagrada do Cristo na organização de todos os surtos da civilização do planeta,
a partir de sua escultura geológica. “
Essa interpretação filosófica da
História, dentro da área Espírita-cristã, restabelece ao Cristo, para nossa
visão, o seu ascendente multissecular sobre a nossa Humanidade. É-nos facultado
compreender que Ele não se encontra entre os homens apenas há dois mil anos e
nem acompanha de longe os lances de nossa evolução, após ter contribuído com
seus exemplos. É' o eterno-presente, o sempre-hoje em nossa vida.
Esmaece, também, o conceito do
fortuito em História.
Nossa evolução é dirigida no seu
todo e, em linhas gerais, responde a um determinismo místico. No curso da
caminhada, contudo, seguimos com nossas próprias pernas, escrevendo, dia a dia,
as páginas de nossa história, no exercício do livre-arbítrio. Nos momentos
cruciais, no entanto, somos beneficiados pela companhia
de grandes Instrutores da Espiritualidade Maior, liderando-nos e
retificando-nos a senda de nosso progresso.
Embora as dores, estamos a caminho
da Luz.
A obra “O Consolador”
O Espírito de Emmanuel, no livro “O
Consolador”, reformula e conceitua os departamentos da filosofia Espírita,
desmembrando-lhe o campo da História, que transfere para o capítulo de Ciências
Combinadas; o campo da Política, que agrega à Sociologia e o campo da Religião
que, muito apropriadamente, afirma ser o ápice
sublime de todo esforço humano e divino.
É uma atitude extraordinária!
Após esse desmembramento admirável,
procede a uma classificação das cinco áreas da filosofia espiritualista com uma
acuidade que só poderemos classificar de genial:
I - Vida aprendizado
experiência
transição
II - Sentimento
arte
afeição
dever
III - Cultura
razão
intelectualismo
personalidade
IV -
Iluminação necessidade
trabalho
realização
V – Evolução dor
provação
virtude.
Observemos, ainda, que, após tal
disposição dos departamentos da filosofia Espírita, Emmanuel realiza uma
triangulação que poderíamos dizer pragmática ou objetiva, induzindo-nos a
aceitar a filosofia por orientação de vida e não por mero exercício ou
ginástica mental. Assim, no primeiro departamento, nas bases, ele coloca:
aprendizado e experiência, tendo por ápice a transição, que é a passagem do
Espírito de um estágio inferior para outro imediatamente superior. No segundo
departamento, ele ajusta como alicerces: arte e afeição, culminando em dever.
No terceiro, encontramo-nos com a cultura e seus problemas, tendo razão e
intelectualismo por fundamento da personalidade. Após, necessidade e trabalho
promovem a realização. E, finalmente, dor e provação culminam com a virtude.
Esse processo, ele só em si, é
mensagem inteiramente nova.
Toda a problemática da filosofia
está em “O Consolador”, nos seus mais absorventes prismas, com a visão de
unidade que conduz o homem ao encontro e à compreensão de si mesmo. É o
autoexame do “conhece-te a ti mesmo”, a fim de burilar-nos, de aparar nossas
arestas espirituais, aproximando-nos da interação do homem-físico com o
homem-espiritual.
A obra “Roteiro”
A visão global da vida gera a
esperança.
A certeza de que nos encontramos a
meio caminho de um porvir dadivoso nos provisionará de imensurável consolação e
coragem, transmudando nossas lágrimas de sinônimo de angústia em pérolas de fé
raciocinada.
A filosofia Espírita é renovação.
Não poderemos satisfazer-nos com o
brilho externo de seus conceitos inovadores, qual se estivéssemos frente a
maravilhosa vitrine de sublimadas criações. Espiritismo não é doutrina
salvacionista, isto é, de ingresso garantido a um paraíso desejável. O
Cristianismo-redivivo é bússola que nos pede o esforço da mutação interior de
valores, sem o dualismo de personalidades que aceitam-mas-não-fazem, acre-ditam-mas-não-se-transformam,
pregam-mas-não-realizam .
“Roteiro”
é um roteiro autêntico, a partir de seu prefácio que é um diálogo, cuja
resposta nos pertence:
“Em verdade, meu amigo, terás encontrado no
Espiritismo a tua renovação mental. O
fenômeno terá modificado as tuas convicções. As conclusões filosóficas
alteraram, decerto, a tua
visão do mundo. Admites, agora, a imortalidade do ser. Sentes a excelsitude de
teu próprio destino.
Mas se essa transformação da inteligência não te reergue o coração com o aperfeiçoamento
íntimo, se os princípios que abraças não
te fazem melhor, à frente dos nossos irmãos da
Humanidade, para que te serve o conhecimento? Se uma força superior te não
educa as emoções, se a cultura te não dirige para a elevação do caráter e do
sentimento, que
fazes do tesouro intelectual que a vida te confia?”
Repetiremos que Emmanuel,
representando o continuismo da filosofia Espírita, é pragmático, ou seja,
identifica o verdadeiro com o útil; revela a verdade, objetivando a reforma
íntima. Não resolve e nem agita problemas: apresenta soluções, orientando o
pensamento humano. Por isso, suas indagações são feitas sem ressalva,
dialogando com nossa consciência:
- Para que te serve o conhecimento?
- Que fazes do tesouro intelectual
que a vida te confia?
A seguir, escreve quarenta
preciosíssimas ponderações, no contexto de “Roteiro”, colocando-nos ante as
grandezas infinitas do Universo, sem que nos ameace com desfechos derrotistas e
amargosos. Sua grandiloquente afirmativa é de que o Universo não vale, para o
Pai Celestial, o mesmo que uma simples alma, repleta de
paixões e de defeitos e, por isso, a
criatura se reerguerá da posição a que se confiou, no movimento de sua
ascensão espiritual.
*
Emmanuel não é grande demais para o
nosso tempo.
Temos de convir que o relógio divino
nunca está sequer num segundo adiantado e nem um
segundo
atrasado. O seu tempo é sempre tempo justo e, em decorrência, era tempo de
Emmanuel, na filosofia Espírita.
Com Emmanuel, a filosofia Espírita
atingiu um cume, permitindo-nos ver mais além, entredivisar detalhes, mensurar
esse complexo que se chama vida, projetando-se para o futuro como uma das mais
sublimes revelações do Plano Maior.
Roque
Jacintho
in “Reformador” (FEB) Junho 1970
[1] Will
Durant, Filosofia de Vida, tradução de Monteiro Lobato, 7ª Edição, Cia Editora
Nacional, páginas VIII e IX, de “Convite”.
[2] "Na
casa de meu Pai há muitas moradas" -- Jesus.
[3] Allan
Kardec, "O Livro dos Espíritos", in "Introdução ao Estudo da
Doutrina Espirita", edição da FEB.
[4]
Francisco Cândido Xavier, no livro "Emmanuel", do Espírito de
Emmanuel, 6ª edição da FEB " página 11.
[5] Obras do
Espírito de Emmanuel, psícografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier,
edições da FEB.
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