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O nosso escopo, nas páginas que precedem,
foi indicar a deficiência do estudo relativo à parte exterior e visível do
homem, que é o corpo físico, para fornecer, por si só, o conhecimento integral
da sua natureza. Esse estudo poderá, quando muito, familiarizar o observador
com os fenômenos da vida vegetativa do individuo, mas será sempre incapaz de
conduzir a uma satisfatória explicação do ser abstrato que o anima, com as suas
complexas manifestações de pensamento, sentimento e vontade.
Para atingir esse resultado, se se
quer observar um método gradual - e é o que por nossa parte vamos adotando,
para melhor compreensão dos temas esboçados - cumpre dilatar o campo de
observação a uma ordem de fenômenos mais sutis que, embora relacionados com a fisiologia
dos órgãos e das funções, particularmente do sistema nervoso, exorbitam contudo
da sua capacidade explicativa.
Queremos falar dos fenômenos da psicologia,
propriamente considerada experimental, entre os quais sobreleva mencionar tanto
os que têm feito objeto de pacientes observações, compreendidos no domínio
geral do magnetismo, como os que, sob as denominações particulares de dupla
vista e de clarividência psicométrica, constituem um dos aspectos mais
interessantes e, por isso, mais dignos de estudo desse mistério vivo, tão cheio
de atração, que é a alma humana.
Pouco importa que a ciência acadêmica,
sempre obstinada em seu dogmatismo e, de todos os tempos, voluntariamente escravizada
ao preconceito e à rotina, houvesse por mais de um século repudiado o exame -
sequer o exame - do magnetismo, para só muito mais tarde o admitir, modificado,
porém, não só na denominação, substituída pela de hipnotismo, como no processo operatório
(1), assim não conseguindo mais que uma restrição dos resultados a obter, limitados
a algumas modalidades da sugestão e a certas aberrações da personalidade.
(1)
A diferença entre o processo do magnetismo e o do hipnotismo consiste em
que naquele o operador, por meio de passes, conduz gradual e suavemente o
sensitivo aos mais profundos estados da hipnotismo, ao passo que no outro o
adormecimento é bruscamente provocado pelo olhar, por uma intimação verbal, ou
pela fixação de um objeto brilhante, não raro produzindo graves perturbações no
sistema nervoso.
O magnetismo, que desde a mais
remota antiguidade era conhecido praticado pelos grandes iniciados da Índia, do
Egito e da Caldeia, como parte integrante das ciências ocultas, continuou a ser
experimentalmente estudado por conscienciosos pesquisadores, como Puységur,
Deleuze, Mesmer, Du Potet, La Fontaine, Durville e tantos outros, cujos
numerosos trabalhos constituem valiosos subsídios para o estudo integral da psicologia.
Mas foi sobretudo o coronel de Rochas que, aprofundando certos estados da hipnose
e fazendo convergir as suas observações
no sentido particular da exteriorização da sensibilidade e da motricidade e - o
que é mais importante - da "regressão da memória" e da
"precognição" (2), conseguiu dilatar os surpreendentes descortinos
que oferece a prática do magnetismo.
(2)
Ver A EXTERIORIZAÇÃO DA SENSIBIUDADE, A EXTERIORIZAÇÃO DA MOTRICIDADE,
OS ESTADOS PROFUNDOS DA HIPNOSE e As VIDAS SUCESSIVAS.)
Que resulta das experiências de
todos esses investigadores?
Em primeiro lugar há que registrar a
transferência das percepções sensoriais do indivíduo para uma zona exterior ao
corpo físico. O sensitivo, mergulhado no sono magnético, perde a sensibilidade
cutânea, podendo ser-lhe atravessados os músculos 'por um estilete, sem acusar
a menor dor, ao mesmo passo que uma simples picada na região, exteriorizada do
seu "duplo etéreo" é vivamente percebida.
A visão por seu lado, não somente
cessa de ser exercida pelos olhos (ao demais fechados, podendo mesmo ser
vendados, sem a menor alteração par a o fenômeno) , como atinge uma penetração
considerável. É assim que o sonâmbulo, adquirindo uma propriedade, de que hoje
a ciência não se maravilha em relação, por exemplo, aos raios X, consegue ver através
dos corpos opacos, ler uma carta encerrada no envoltório, descrever objetos em lugares
hermeticamente fechados, inda que colocados a grande distância, e até produzir,
nas mesmas condições, efeitos sensíveis e materiais.
O que prova que há efetivamente, não
apenas uma ação telepática, mas a exteriorização do sensitivo, no seu duplo ou
veículo etéreo, que se transporta ao local determinado pelo magnetizador, é que
nalguns casos, quando o sensitivo não conhece o lugar a que é enviado, é
preciso ir lhe indicando o itinerário a percorrer, de modo que, lá chegado, ele
descreve a casa, o aposento em que penetra e os objetos que examina, assim
confirmando a realidade da sua presença in loco.
Esse fenômeno, ao demais, da
objetividade e exteriorização do duplo etéreo do sonâmbulo foi constantemente
comprovado, em suas numerosas experiências, pelo coronel de Rochas, a quem se
deve uma classificação, de alguma sorte rigorosa, dos sucessivos graus da hipnose,
segundo os característicos particulares de cada um.
Assim, conseguiu ele determinar que,
a partir do primeiro estado (normal ou de vigília), o sensitivo apresenta, no
estado segundo, correspondente ao primeiro grau da hipnose, o seguinte quadro sintomático:
aparência de vigília, com a posse de todos os sentidos; sugestibilidade extrema,
acompanhada de insensibilidade cutânea, que persiste em todas as seguintes fases.
Memória normal.
No segundo grau, o sensitivo só
percebe, o magnetizador e as pessoas com as quais o puser ele em relação. Acentuada sensação de bem-estar, diminuição da
memória normal e da sugestibilidade e fixação da da zona de sensibilidade
exteriorizada a cerca de 35 milímetros da pele. O sensitivo percebe os eflúvios
exteriores dos corpos organizados e dos cristais.
Ao terceiro grau corresponde um acréscimo
de exteriorização formando uma nova camada sensível a 6 ou 7 centímetros da
primeira e de menor sensibilidade. Repercussão das sensações do magnetizador no
sensitivo, mediante contato; desaparecimento da sensibilidade cutânea assim
como da maioria dos fatos, permanecendo apenas a da linguagem.
O quarto grau, ou estado, da hipnose
se caracteriza por um aumento perceptivo das sensações do magnetizador pelo
sensitivo, mesmo sem contato, a distância, porém, não muito grande, O sensitivo
não. percebe mais os eflúvios exteriores dos corpos, mas vê os órgãos interiores
dos seres vivos. Já não é sugestível e revela ter completamente perdido a memória
de sua própria vida. Não conhece mais que duas pessoas - ele e o magnetizador, -
mas não lhes sabe mais os nomes.
"A partir desse estado,
geralmente - diz o coronel de Rochas (1) - um pouco antes ou um pouca depois,
conforme os sensitivos, a sensibilidade, que até então se exteriorizava em
camadas concêntricas à periferia do corpo, se condensa, formando em primeiro lugar,
a cerca de um metro à direita do sensitivo, uma coluna nebulosa azul, da sua estatura
aproximadamente, e depois, ao seu lado esquerdo, uma outra coluna análoga encarnada,
vindo finalmente a se reunir as duas, para formar uma só coluna, cuja forma
cada vez mais se acentua, até constituir o fantasma
do sensitivo.
(1) Ver LES VIES SUCCESSIVES, 2ª
parte, cap. I, “O sono magnético e o corpo fluídico”, págs. 37 e 38.
"Esse fantasma, ligado ao
corpo físico por um laço luminoso e sensível, que é como o seu cordão umbilical,
adquire mobilidade cada vez maior ,e obedece à vontade. Possui uma tendência
muito pronunciada para se elevar até uma altura que não pode ultrapassar .e que
parece depender do grau de evolução moral e intelectual dos sensitivos, os quais
veem em torno de si flutuarem seres que apresentam uma cabeça com um corpo
terminado em ponta como uma vírgula. Sentem-se felizes por haverem saído do seu
envoltório físico, do seu trapo,
conforme uma expressão que empregam muitas vezes e têm repugnância de voltar a
ele .
"Todos esses fenômenos -
observa ainda o Sr. de Rochas - se desenvolvem e se acentuam através uma série
de estados, separados por fases de letargia, que se sucedem como os dias e as
noites. "
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