A palavra de
um bom Espírito[1]
in Reformador (FEB) Dezembro 1972
Efetuava a Federação, em seu edifício recém-inaugurado, a primeira sessão ordinária de estudo dos Evangelhos, na terça-feira, 12 de dezembro, quando, terminado o estudo, foi recebida psicograficamente a seguinte "comunicação final", que, a nosso ver, constitui magnífico e incomparável fecho para esta resenha das festas inaugurais do edifício.
Subscreve-a um nome que nos é caro como o de um excelente irmão, que foi, quando na Terra, um dos mais ilustres colaboradores do "Reformador" - o Dr. Fernando de Alencar - e os conceitos que encerra, de esclarecida e oportuna edificação, merecem bem ser por todos meditados.
É a seguinte:
"Paz. Irmãos em Cristo, sinto-me perfeitamente à vontade neste recinto, apesar de Espírito liberto das peias da carne; sinto-me perfeitamente à vontade, porque vejo com satisfação as paredes desnudas em sua humilde simplicidade, o que me faz recordar os tempos idos, em que os primitivos cristãos, embora já organizados, ainda não tinham encaminhado os seus passos para a idolatria, com a criação de imagens que nada significam, com a ostentação de pompas que distraem os sentidos, concorrendo para que o homem se apegue cada vez mais às coisas terrenas, em vez de desprender o voo para os páramos celestes. Eis-vos no vosso templo, que me agrada pela sua singeleza, simplicidade humilde e pela nudez de suas paredes, embelezadas em vossas reuniões pelas auréolas fulgentes de vossos guias que nelas refletem o seu brilho.
Congratulo-me também convosco, não pela casa edificada, mas por saber que no seu interior se aloja a caridade, que faz constantes sortidas para conforto de todos os nossos irmãos que a imploram, para receber a luz bendita da nova revelação.
Meus irmãos, pressinto que a vossa Federação vai ter grande incremento, se jamais vos afastardes do caminho até agora seguido - pautando os vossos atos pelo desinteresse e tendo por norma - simplicidade em tudo; imitando Jesus, que é rei e se faz o servo de todos.
Jamais abandoneis esta senda: caminhar para o Cristo, - e um dia comungareis com ele na paz eterna do céu, como prêmio merecido pelos vossos labores bem cumpridos na Terra.
Deus vos ajude e abençoe."
Fernando de Alencar
(Extraído do livro "Esboço Histórico da Federação Espírita Brasileira",
página 93, editado pela FEB, em 1912, para comemorar a inauguração
de seu edifício- -sede, ocorrida em 10-12-1911.)
Nota do blogueiro: O Editorial mencionado acima é repetido aqui...
Idolatria
in “Reformador” (FEB) Julho 1972
Ao recordar os fastos da história religiosa da humanidade, em particular aqueles que antecederam o advento do Cristianismo, alguns há que causam, hoje, verdadeiros arrepios, tal a crueza com que retratam o grau de infidelidade e de embrutecimento dos homens diante do Criador.
Moisés, que vinha conduzindo o “povo de Israel” no rumo da Terra Prometida, sustentava-o na penosa marcha mediante as mais exuberantes demonstrações do desvelo e da proteção de Jeová, conseguindo, com isso, manter aquelas criaturas coesas em torno da fé em um Deus único e transcendente. Um dia, aquele condutor seguro e severo teve de abandonar, por algum tempo, o comando imediato de sua gente, a fim de atender ao chamado de seu Senhor, para, no alto do Sinai, receber as tábuas da Lei. Bastou que demorasse mais do que se esperava para que o povo, concentrado na planície, perdesse breve a noção do amparo celestial que o bafejava, descendo célere para as mais primitivas e grosseiras formas de idolatria. O bezerro de ouro foi erigido como objeto de adoração e reverência, ocupando nos corações e nas mentes o lugar reservado ao Pai e Criador.
A energia com que Moisés destruiu o ídolo e objurgou o povo afigura-se, hoje, até pequena diante da enormidade do sacrilégio cometido. Mas, tal entendimento só é possível, agora, graças às noções espíritas, que tornaram inadmissível a aberrante transferência dos atributos da Divindade para objetos fabricados pelo próprio homem.
Contudo, nem todos conseguem banir da mente a inclinação para a idolatria. Já não se adoram objetos, é verdade, mas não faltam os que se entregam, insensivelmente, ao culto de personalidades. Mesmo nos arraiais do Espiritismo, onde são recebidas enxurradas de lições convocando o adepto à adoração exclusiva do Pai, há sempre quem dê guarida a devoções particulares, que já ameaçam transformar os vultos visados em disfarçados “santos”.
Um exame isento de quaisquer entraves mostrará que bem poucas instituições não se afanam a “comemorar” as datas referentes à reencarnação e desencarnação de algumas figuras preeminentes da Doutrina. Nada falta para que passem a constar dum calendário litúrgico. Bezerra de Menezes, por exemplo, já é alvo de uma devoção muito disseminada. Em qualquer recanto se encontram fotografias ou efígies do grande trabalhador, entronizadas e veneradas com requintes rituaIísticos. A admiração a ele tributada vai assumindo o caráter de um “bezerrismo” destoante dos princípios da Doutrina Espírita. Não tenhamos dúvida de que ele é o primeiro a incomodar-se com a coisa ...
Alguns centros já se condicionaram ao cúmulo de florirem o retrato de seus patronos. Há quem vá mais longe, colocando uma luzinha embaixo e, até, lamparina em azeite. Ora, o Espiritismo veio exatamente para refugar essas frivolidades que, sem serem denunciadas a tempo, transformarão a Terceira Revelação em mais uma religião formal e exterior. E era esse, aliás, o maior temor de Kardec. Impõe-se, pois, redobrado cuidado.
O bezerro de ouro é um fantasma que a história guarda à guisa de advertência permanente. Faça-se, portanto, a cirurgia inadiável, antes que o mal infeste todo o organismo. Para os espíritas, seguindo os exemplos de Kardec e Bezerra, somente um deve ser reverenciado e, mesmo assim, exclusivamente em sentido espiritual: Jesus, o Mestre.
[1] Em nosso editorial de julho último, abordamos o mesmo tema desta mensagem. Reproduzi-mo-Ia, aqui, para que o leitor observe não ser de hoje a preocupação do Alto quanto aos perigos duma idolatria perniciosa que, de tempos em tempos, ameaça ressurgir. Convém reler aquele editorial e manter precavido o espírito, a fim de evitar "a criação de imagens que nada significam, com a ostentação de pompas que distraem os sentidos, concorrendo para que o homem se apegue cada vez mais às coisas terrenas, em vez de desprender o vôo para os páramos celestes".
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