quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O Perispírito dos Espíritos Puros


O Perispírito
dos   Espíritos Puros

por Ivo de Magalhães

Reformador (FEB)                Fevereiro 1975      

            Ensinaram-nos os Evangelistas, por intermédio da extraordinária mediunidade da Senhora Collignon, que até mesmo os puros Espíritos são dotados de perispírito, porém de natureza bem diversa daquele que reveste o Espírito dos materialmente encarnados.

            Lemos, com efeito, na obra comumente denominada "Os Quatro Evangelhos", publicada por Jean-Baptiste Roustaing, a seguinte revelação:

            "O perispírito dos Espíritos puros (o grifo é nosso) é, por sua sutileza, de natureza muito diversa, pelo que toca à atração, da do perispírito dos materialmente encarnados, o que lhes torna impossível aderirem à matéria do corpo humano.[1]"

            Já antes, era-nos dito[2]:

            "O aparecimento de Jesus na terra foi uma aparição espírita tangível. O Espírito tomou - segundo as leis naturais que vos acabamos de explicar - todas as aparências do corpo. O perispírito que o envolvia (o grifo é nosso) foi feito mais tangível ..."

            Portanto, Jesus, Espírito puro, para o cumprimento de sua missão terrena, dera mais tangibilidade ao seu perispírito, bastando-lhe, para tanto, atrair a si os fluidos ambientes necessários, conforme adiante se verá.

            Esse ensinamento trouxe, bem o sabemos, alguma preocupação a estudiosos da Doutrina Espírita, pelo fato de haver Bezerra de Menezes, ao tempo em que entre nós ainda se encontrava, declarado:

            "Os anjos, porém, que já não têm perispírito, porque são puros Espíritos, precisam tomar, na ocasião, no infinito seio do fluido universal, o que os revista e os torne visíveis. "

            Na verdade, porém, não há contradição alguma - nem seria lícito admitir que houvesse - entre o que, nos revelaram os Evangelistas, na obra publicada por Roustaing, e o que, para o matutino "O -Paiz", escreveu Bezerra de Menezes, sob o pseudônimo Max, em magnífico artigo reproduzido no "Reformador" de Março do ano passado.

            O grande apóstolo do Espiritismo no Brasil estava justamente aludindo a inúmeros casos, registrados pela História Sagrada, de anjos (Espíritos puros) baixados à Terra em missão, para tanto retirando do fluido universal o que os revestisse e os tornasse visíveis, como bem explicado está em "Os Quatro Evangelhos", onde nos é revelado ainda[3]:  

            "O perispírito pode, com propriedade, ser qualificado de semi material em razão de que, de si mesmo fluídico, pode materializar-se à vontade. É, com relação à vossa matéria, o que é o vapor com relação à água: matéria tênue, porém matéria, capaz de, em dada ocasião, tomar a aparência de matéria compacta. Não lograreis, repetimos, compreender a natureza dessa parte do vosso ser, senão quando a vossa inteligência se houver desenvolvido bastante para sondar as profundezas do éter que vos cerca."

            Que lição sublime! E com que sabedoria nos é ela ministrada! Aprendemos, assim, que o perispírito é "de si mesmo" fluídico, mas pode ser qualificado de semi material pela propriedade que possui de se materializar à vontade. Compreendemos, então, que, não necessitando de contatos materiais, como no caso dos puros Espíritos (quando não baixados em missão, evidentemente), o perispírito, perdendo tudo quanto de material nele se pode conter, torna-se de tal forma espiritualizado, digamos assim, que passa a se confundir, digamos assim também, com o próprio Espírito.

            E é precisamente isso que se depreende das seguintes explicações:

            "Somente o Espírito puro, não mais sujeito a encarnação alguma em qualquer planeta que seja, por já haver atingido a perfeição sideral, dispõe de todos os fluidos, como possuidor que é de uma ciência completa, goza de inteira liberdade e independência e tem a consciência exata da sua origem, seja qual for o perispírito ou corpo fluídico que tome e assimile às regiões que percorra.[4]"  

            "Jesus houvera podido, unicamente por ato exclusivo da sua vontade, atraindo a si os fluidos ambientes necessários, constituir o perispírito ou corpo fluídico tangível que vestiu para surgir no vosso mundo sob o aspecto de uma criancinha.[5]"  

            Destarte, não nos é difícil compreender que Bezerra de Menezes, quando disse não mais terem perispírito os anjos (puros Espíritos), queria, evidentemente, aludir - encarnado que ainda se achava entre nós - ao mediador plástico tal como o possuímos, isto é, semi material, enquanto - os Evangelistas, dizendo-nos que os Espíritos puros também são dotados de perispírito, aludiam, é igualmente evidente, a um envoltório etéreo, composto unicamente de fluidos espirituais, que não perde, contudo, a propriedade de se materializar mais ou menos intensamente quando necessário, para tanto tomando esses Espíritos, "na ocasião, no infinito seio do fluido universal, o que os revista e os torne visíveis", como Bezerra de Menezes bem salientou.

            Estabelecida está, portanto, segundo nos parece, não uma discordância, mas sim uma perfeita identidade entre os ensinamentos contidos em "Os Quatro Evangelhos" e a explicação de Bezerra de Menezes acerca do perispírito dos Espíritos puros. E nem poderia ser de outra maneira, sabido como é haver sido precisamente o "Kardec brasileiro" quem considerou "preciosa e sagrada" a obra publicada por Roustaing [6]  e fê-Ia, quando Presidente da FEB, reproduzir integralmente no "Reformador".

            Essa identidade, aliás, está plenamente sancionada pelo Codificador. De fato, em "O Livro dos Espíritos", faz Allan Kardec a seguinte pergunta, de nº 186:

            "Haverá mundos onde o Espírito, deixando de revestir corpos materiais, só tenha por envoltório "o perispírito?"

            E logo, do Alto, vem a magistral resposta:

            "Há e mesmo esse envoltório se torna tão etéreo que para vós é como se não existisse. Esse o estado dos Espíritos puros." (o grifo é nosso).

            Aí está, dada por quem pode, a explicação clara, cabal, lógica: o envoltório dos Espíritos puros existe - é o que está dito na obra publicada por Roustaing -, mas se torna tão etéreo que, para nós, é como se não existisse. É o que disseram a Kardec os Espíritos superiores!

            Mais uma vez somos levados a considerar o quanto Kardec e Roustaing se completam e a bendizer a sabedoria do Alto, fazendo baixar à Terra, na mesma época e no mesmo país - a França de tantas tradições espirituais -, muito perto um do outro, Kardec em Paris e Roustaing em Bordéus, esses dois excelsos missionários, o primeiro para codificar a Doutrina Espírita e o segundo para divulgar, em espírito e verdade, os ensinamentos contidos nos Evangelhos de Jesus, nos quais, em última análise, está fundamentada essa Doutrina!


[1] Pág. 372 - Vol I da última edição da FEB.
[2] Idem - pág. 167.
[3] Idem - pág. 331.
[4] Idem - pág. 160.
[5] Idem - pág. 161.
[6] “Vida e Obra de Bezerra de Menezes”, de Sylvio Brito Soares – edição da FEB, pág. 99.

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