sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Creio em Deus...



“Creio em Deus
porque Deus está dentro de mim”

Anunciado em nossa edição de novembro último, damos ao leitor um resumo
da palestra realizada pelo tribuno baiano Divaldo Pereira Franco,
na noite de 3 de outubro do corrente, quando da inauguração do Cenáculo
da sede da Seçâo-Brasília da Federação Espírita Brasileira.

Reformador (FEB) Dezembro 1970

            “Naquele 31 de março de 1870, no Cemitério do “Père-Lachaise”, diante do dólmen ali erguido em memória de um dos maiores benfeitores da Terra, Monsieur Levent não conseguia reprimir a sua justa emoção. E depois - de contemplar o quadro, falou em voz embargada: “Continuai a derramar sobre os vossos discípulos o vosso concurso benéfico e benfazejo! A obra se cumprirá e o vosso nome, gravado no Panteon da História, entre os que se tornaram imortais na Humanidade, passará de geração em geração, como os dos profetas antigos!” A voz embargada de Monsieur Levent traduzia as homenagens do mundo espírita a Allan Kardec, por ocasião do 1º aniversário de sua desencarnação, evocando a data em que fora sepultado no Cemitério de “Montmartre” e então trasladado para o “Père-Lachaise”, que guardaria os despojos das pessoas mais célebres do mundo.

            Mas, essas palavras pertencem ao passado. No presente, é a voz atormentada do pensamento moderno a bradar a morte do sentimento, o desequilíbrio psíquico, a ética anárquica dos mais nobres empreendimentos da Humanidade! No dia de hoje, e exatamente nesta hora, é a assertiva de que Deus morreu e de que o homem não tem a mais mínima esperança no sentido moral das suas dimensões na busca da felicidade sobre a Terra! Mas isto também pertence ao passado; mas isto também morreu!

            O brado dos novos teólogos sem Deus não representa mais do que o renascimento de velhas crenças filosóficas, que depois de atingirem o ápice das gerações do passado, adormeceram momentaneamente na indiferença do pensamento para eclodirem nas suas volúpias terríveis da atualidade! E é do passado porque, há quase 100 anos, Nietzsche pregava ao mundo o extermínio de Deus e o aprimoramento das civilizações mediante a preservação apenas dos mais fortes. Contudo, não seria possível matar Deus.

            Depois de Nietzsche, apesar dos químicos alemães, Deus voltou à humanidade. Curie teve oportunidade de deter o rádio e, ao receber o Prêmio Nobel, disse: “Eu adoro a Deus porque é a alma da minha vida”.

            E Deus voltou à humanidade, quando Alfred Russel Wallace disse: “Eu era um materialista completo, mas os fatos são imperiosos. Eu creio no Espírito! Eu creio em Deus!”

            Rutherford, que teve a audácia de, em 1911, bombardear o átomo, também contribuiu para que Deus paulatinamente voltasse ao coração da sociedade amargurada.

            Mas, ao mesmo tempo, na Europa ouvia-se uma voz: “Nós assassinamos Deus, porque nós é que criamos Deus!” E espalhou-se pelo mundo essa asserção. “Matemos Deus e proclamemos a vitória da Vida!”

            Erich Fromm, discípulo de Freud, chega à conclusão de que o homem deve matar Deus, porque Deus é uma frustração sexual. Quando o homem perde o pai, faz o processo de transferência para Deus.

            A mentalidade de Fromm chega até todos.

            Mas que é Deus? Onde se encontra Deus?

            Allan Kardec disse: “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca dum ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto”.  Ainda agora essa palavra é atual. A Doutrina Espírita não tem dogmas, é racional. Deus, carinhosamente estudado na Codificação, veio preencher as lacunas das crenças do passado.

            Examinemos. Desde os pensamentos bíblicos até as conquistas galáticas, tudo proclama a grandeza de Deus!

            Desde os céus de Davi, até aos de Brasília, em cuja Primavera o homem verá milhões de astros cantando como o fulgor de diamantes preciosos. Mas esse homem se reajusta. Ele não pode ver tudo. São 150.000 estrelas! E se Ele usa um grande telescópio, como o de Monte Palomar, pode então contar agora 30 milhões de estrelas! E Ele perguntará atônito: “Quais as mãos que espalharam isso no empíreo?” Contemplará a estrela Polar, Aldebarã, Vega, Antares, e sentirá necessidade de querer saber quem fez essa maravilha! Verá Cabra, Sírio, a Espiga da Virgem, Betelgeuse! E, 30.000 vezes maior que a Terra - Pigmeia! Esse homem, então, recorda a Terra e considera: o sistema em que gravita é um dos mais ínfimos! Olha Plutão a 6 bilhões de quilômetros do Sol, e ele, por não poder mais acompanhar mentalmente essas medidas, cai nas considerações abstratas.  Aceitará dados que não pode comprovar ... Perceberá as ilhas interplanetárias, as nébulas... Esse homem irá interrogar os astrônomos e saberá que além da sua Via-Láctea existem classificados aproximadamente 100 bilhões de sistemas solares!

            Em seguida, o homem se recolherá dentro de si mesmo e meditará nas maravilhas que existem dentro de seu próprio organismo. Em suas conjecturas pensará na mente que o deslumbra e, penetrando na câmara craniana, vê que somente para o fenômeno do pensamento existem cerca de 2 bilhões de células ! No seu sangue, observa a circularem 40 trilhões de hemácias! E para que esse sangue se distribua por todo o seu organismo, a fim de que ele viva, possui milhares de quilômetros de veias e artérias!

            E o fenômeno ótico? A luz penetrando pelo diafragma até chegar à concha do cérebro ...

            Por outro lado, se sua epiderme é picada por um alfinete, logo ela se reconstitui, mediante a fibrina que, como algodão, elabora imediato coágulo protetor! Medita, esse homem, no milagre das hemácias, fabricadas a razão de 1 bilhão e meio em cada segundo, para substituir outro bilhão e meio que desaparece! O homem começa a reconsiderar os seus conceitos e sente a vida manifestar-se dentro dele, desde a hipófise até às glândulas genitais! Tudo canta a glória de Deus! Começa a pensar nas glândulas sudoríparas espalhadas em toda a extensão da sua epiderme, a fim de que ele possa viver mediante a eliminação das toxinas! Começa a estudar o comportamento dos capilares e então,  afinal, perguntará: Como se dá o milagre da célula viva? Responder-lhe-á a Ciência: Não sabemos ... Meditará ainda no processo do sangue dentro dos capilares, no seu aparelho excretor, nos rins com seus 108 quilômetros de artérias, vasos, etc! O homem então há de gritar: Creio em Deus! porque Deus está dentro de mim!

            Crer é fenômeno biológico, hereditário. Pesquisar é fruto da evolução. Por essa razão é que Allan Kardec já afirmava que “fé inabalável só o é aquela que pode enfrentar a razão face a face em todas as épocas”... Por isso disse que o Espiritismo caminhará sempre ao lado do progresso.

            A Ciência investiga as consequências, mas o Espiritismo penetra as matrizes da própria vida.

            Quando Allan Kardec desencarnou, vários espíritas perguntaram: que será da Doutrina?
Ficará de pé, porque ela não é dos homens! “Se fracassares, outro te substituirá” - disseram-lhe os Espíritos, dando ao Codificador a lição de que todos nós somos meros transeuntes da vida carnal, demandando ao porto, além da vida sensorial.

            Porém, quando Kardec desencarnou, já a Doutrina havia atravessado os oceanos e plantara a sua bandeira na Terra do Cruzeiro, em 1865, com Luiz Olímpio Teles de Menezes, na Bahia. Quando Kardec tomba, tem-se a impressão de que a Doutrina fracassará, porque os homens estão acostumados a ver os fundadores de doutrinas morrerem com elas. Eis que ela chega ao Brasil para firmar as suas bases, em 1883, quando Augusto Elias da Silva apresenta o “Reformador”, venerado órgão da Federação Espírita Brasileira. No ano imediato aparece a Federação Espírita Brasileira, em 1884, com Augusto Elias da Silva e um grupo de denodados trabalhadores, a fim de plantar a bandeira “Deus, Cristo e Caridade” no Brasil! No ano seguinte, em 1885, aqueles mesmos lidadores, ao lado de Bittencourt Sampaio e Antônio Luiz Sayão, incorporam à FEB o ”Grupo Ismael”. Em 1887, de repente, como a Verdade, apareceu em “O Paiz”, Max, com crônicas memoráveis que mereceram de Carlos de Laet grandes elogios. Em 1889, diante das ansiedades da Casa de Ismael, Frederico Júnior recebe Allan Kardec para falar sobre o futuro da humanidade. Em 1890 o setor de Assistência aos Necessitados se firma e, em 95, Bezerra de Menezes é convocado por Ismael para dirigir os destinos da FEB, até que em 1900 tomba “O Médico dos Pobres»!

            Sucedem-se as grandes jornadas e, em 1943, a calamidade da guerra chega ao Brasil.  Guillon tomba e Wantuil é chamado a dirigir a FEB. Em outubro de 49 é assinado o Pacto Áureo. Em 8 de março de 1950 o ”Reformador” apresenta a “Proclamação aos Espíritas” e, em 1951, a Caravana da Fraternidade sai de Porto Alegre: Lins de Vasconcelos, Leopoldo Machado,  o gaúcho Spinelli, semeando a esperança e, ao retornar a Caravana, todo o Brasil responde à chamada. Até que, em 6 de março de 1966, sob os céus goianos, é colocada em Brasília a sede da FEB - Seção-Brasília, para servir a este povo, para ensinar este povo a estudar e a amar. Hoje, 4 anos transatos, a Casa de Ismael abre as portas do seu Cenáculo para dizer: Continuai, Allan Kardec, a derramar sobre os vossos discípulos o vosso concurso benéfico e benfazejo!

            Essas palavras são de hoje, porque o maior antídoto contra o Materialismo é o Espiritismo. Este tem resposta para tudo. O Espiritismo diz: bom ânimo! coragem! É a Doutrina que cai sobre a Terra do Cruzeiro e grita: Deus vive! O Deus que os homens mataram foi o Deus que eles criaram, o Deus inclemente e impiedoso!

            A Doutrina Espírita veio apresentar o Deus--Amor.  Aquele a Quem João, o místico de Patmos definiu tão bem: “Deus é Espírito”.

            Em 1968, quando a Apolo n." 8, tripulada pelo homem, dava a sua primeira volta histórica em torno da Lua, ouviu-se dos lábios do comandante Neil Armstrong uma oração: “Oh, Deus! dai-nos a esperança! Oh, Deus! deixai-nos soluçar pelo Dia da Fraternidade Universal !”

            Aquela voz longínqua chegava do espaço sideral ao coração da humanidade e bradava: “Eu creio em Deus!”

            E agora?

            Huxley, eminente psicólogo inglês, escreveu “A Ilha”. É uma experiência no campo da percepção. Solitários, numa ilha, numerosos sensitivos se ressentem da convivência com seus semelhantes. Então, vários mainás foram treinados e educados para sair pela floresta e espalhar repetidamente, com perfeição: “Aqui e Agora!” E saíram a repetir: “Aqui e Agora!”  Aqui e Agora - é este o momento de renovar o homem! Aqueles que trazem a mensagem de Jesus estão agora a dizer: Aqui e Agora! Esse é o momento da nossa renovação espiritual!

            E aqui estão também as realidades das obras do Sr. Rivail, passados apenas 100 anos depois! Passados apenas 100 anos, eis aqui a tua obra, Allan Kardec, no dia da evocação da tua data! As lutas, os espinhos cravados na tua carne, Allan Kardec, aqui estão representados na alma pura do amor, aqui e agora, para apaziguar as ânsias das paixões das almas atormentadas!

            Quando Allan Kardec perguntou aos Espíritos: “Qual o Espírito mais perfeito que o homem conhece?” - a resposta foi um dissílabo: “Jesus”. Voltamos às terras da Galileia que escutou aquela voz meiga e o cantochão: “Oh, vinde a mim vós que estais cansados e aflitos e eu vos aliviarei”! ...

            Quereis conhecer, afinal, Deus? - Amai-vos! E não busqueis entendê-Lo senão pelo coração. “Creio, porque é absurdo” - dizia Santo Agostinho. Só pela imaginação o homem pode entender Deus! Por que, pois, não dizer a Deus do nosso reconhecimento à vida, ao nosso próprio pensamento? É necessário, para entender Deus, que voltemos a ser criança!

            No ato inaugural da sede da Seção-Brasília da FEB, seja esse o nosso dia de gratidão a Deus! Obrigado, Deus! Obrigado pelo amor, a ternura, a esperança que nos deste! Obrigado, Senhor, pelos olhos que me deste para ver a Natureza! Obrigado, Senhor, porque posso escutar! E pela minha voz, obrigado, Senhor! Obrigado, Senhor, pelas minhas mãos, pelas mãos da ternura, que afagam, que apertam ...  Oh, obrigado porque posso abraçar, Senhor! Obrigado, Senhor, porque posso andar! Obrigado, pela minha casa! Obrigado pelo amor que me deste! Obrigado porque amo a Ti; porque Tu és a Vida da Vida, obrigado! Obrigado, meu Pai! Obrigado, meu Deus! Obrigado ...


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