por J D Innocêncio
“Reformador” (FEB) - Outubro de 1981
"Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão,
em todas as épocas da Humanidade."
Allan Kardec
Emmanuel, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, na página intitulada "Pelo Evangelho", prefaciando a obra "Vida de Jesus", de Antônio Lima (FEB, 1979, págs. 12 a 21), afirmou:
“Fora ridículo proibir-se a elucidação. O que será de evitar-se, zelosamente, é a azedia da polêmica.”
É, exatamente, o que temos procurado fazer nesta série de artigos em que, na realidade, a nossa parte é mínima, pois se resume no trabalho de pesquisa e de transcrição, movendo-nos o intuito único de colaborar com os que se interessam pelo conhecimento da Boa Nova, trazida pelo Senhor Jesus.
Recentemente encontramo-nos com um confrade e companheiro de labuta numa repartição pública. Assunto principal, como não poderia deixar de ser, a doutrina que ambos esposamos.
Relembradas atividades desenvolvidas em conjunto no passado, focalizados alguns eventos recentes, em destaque as últimas publicações espíritas, vem à baila o "Estudar e. .. estudar", com a observação: Tenho lido (diz-nos o confrade), mas, não concordo. Sou kardecista e você roustanguista ... Ao que lhe respondemos, de pronto: Também somos seguidores da Doutrina codificada por Allan Kardec.
Não há lugar para confronto!
O fato de alguns espíritas não aceitarem as ideias constantes de "Os Quatro Evangelhos" é questão de foro íntimo, é o uso do direito inalienável de cada um pensar livremente. Tanto assim que, embora se digam seguidores de Kardec, não levam em consideração os pronunciamentos do Codificador aceitando a obra, deixando para homologação futura apenas um ponto: o corpo fluídico ("agênere") do Senhor Jesus, assunto hoje superado com os pronunciamentos repetidos da Espiritualidade Superior, inclusive do próprio Allan Kardec, como temos focalizado nesta série de artigos.
O Codificador, e ninguém melhor do que ele, afirmou que a obra "Os Quatro Evangelhos" "( ... ) É um trabalho considerável e que tem, para os espíritas, o mérito de não estar, em nenhum ponto, em contradição com a doutrina ensinada pelo "O Livro dos Espíritos" e o dos "Médiuns" ("Revista Espírita", junho de 1866, págs. 188/190). É ainda o Codificador que, coerente com o que escrevera na "Revista Espírita", de fevereiro de 1859, pág. 40: "Interrogado a respeito, um Espírito superior respondeu que efetivamente podemos encontrar seres de tal natureza ("agêneres"), sem que o suspeitemos; acrescentou que isto é raro, mas que se vê." Na pág. 42, do mesmo artigo, transcreve as 16 perguntas feitas a S. Luiz a respeito do assunto e as respectivas respostas, das quais destacamos um trecho: "(. .. ) por vezes existem na Terra Espíritos que revestiram essa aparência ("agêneres") e são tomados como homens", coerente repetimos, acrescenta no citado artigo da "Revista Espírita", de junho de 1866, apreciando a ideia de que o corpo do Senhor Jesus era um "agênere" (págs. 188/190):
"Nisso nada há de materialmente impossível PARA QUEM QUER QUE CONHEÇA AS PROPRIEDADES DO ENVOLTÓRIO PERISPIRITUAL" (o destaque é nosso).
Da mesma forma existem os que pretendem uma Doutrina Espírita sem os Espíritos! Também a estes o Codificador orientou na devida oportunidade, o que não impede que aqui e ali surjam apologistas de tal ideia. Na "Revista Espírita", de abril de 1866, o insigne Codificador focalizou o assunto num artigo intitulado "O Espiritismo Sem os Espíritos". Desse artigo (págs. 108/111) transcrevemos três trechos:
"Os Espíritos podem dividir-se em duas grandes categorias: os que, chegados ao mais alto ponto da escola, deixaram definitivamente os mundos materiais, e os que, pela lei da reencarnação, ainda pertencem ao turbilhão da humanidade terrena:"
(... ) O Espiritismo é o resultado do ensinamento dos Espíritos; de tal sorte que, sem as comunicações dos Espíritos não haveria Espiritismo."
(. .. ) Coma dissemos, as comunicações dos Espíritos fundavam o Espiritismo. Repeli-Ias depois de as haver aclamado é querer sapar o Espiritismo pela base, tirar-lhe o alicerce."
Há os que negam valor às preces. O que não impede que se considerem cristãos e espíritas. No entanto, em "O Evangelho segundo o Espiritismo", capítulo XXVII, "Pedi e obtereis", Allan Kardec, partindo de passagens evangélicas, enaltece o valor da prece e, no item 6, primeiro parágrafo, escreve:
“Há quem conteste a eficácia da prece, com fundamento no princípio de que, conhecendo Deus as nossas necessidades, inútil se torna expor-lhas. E acrescentam os que assim pensam que, achando-se tudo no Universo encadeado por leis eternas, não podem as nossas súplicas mudar os decretos de Deus."
É, ainda, nesse capítulo (item 8, último parágrafo) que encontramos esta extraordinária passagem elucidativa, no que tange à existência de "agêneres" de longa duração:
“Se o anjo que acompanhou a Tobias lhe houvera dito: “Sou enviado por Deus para te guiar na tua viagem e te preservar de todo perigo", nenhum mérito teria tido Tobias. Fiando-se no seu companheiro, nem sequer de pensar precisava. Essa a razão por que o anjo só se deu a conhecer ao regressarem." (FEB, 82ª edição, 1981.)
Os três assuntos: a natureza extra-humana de Jesus (sem confundi-Ia com Deus), a mediunidade entre os dois planos de vida e a eficácia da prece estão presentes na história da Humanidade, de todas as épocas.
Registrados em o Velho Testamento.
Confirmados em o Novo Testamento.
Consolidados com a Doutrina Espírita.
"Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel" (Isaías, cap. 7, verso 14.)
"Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-Ia. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai." (João, cap. 10, verso 17 e 18.)
"E Pilatos se maravilhou de que já estivesse morto. E, chamando o centurião, perguntou--lhe se já havia muito que tinha morrido. E, tendo-se certificado pelo centurião, deu o corpo a José." (Marcos, cap. 15, verso 44 e 45.)
"Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos. Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos." (1º e 2º parágrafos do Prefácio, do Espírito de Verdade, em "O Evangelho segundo o Espiritismo".)
As transcrições do Velho e do Novo Testamento são da Bíblia editada pela Sociedade Bíblica do Brasil, em 1947, tradução de João Ferreira de AImeida, e a de "O Evangelho segundo o Espiritismo", da 82ª edição da FEB, em 1981.
Encerramos o presente artigo repetindo com Emmanuel:
"Fora ridículo proibir-se a elucidação, O que será de evitar-se, zelosamente, é a azedia da polêmica."
Nenhum comentário:
Postar um comentário