quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sobre sua palavra...


Sobre sua palavra ...

            Quando Jesus ordenou a Pedro que se fizesse ao mar alto e atirasse as redes às águas foi sobre Sua Palavra que ele o fez, e com o maior proveito que se possa imaginar.

            Quando o centurião de Cafarnaum procurou o Médico das Almas, para interceder pela cura do seu criado, ele Lhe invoca a Palavra como sendo o bastante à solução do caso, e de fato o foi.

            A ordem de – “Segue-me” - Levi levanta-se, deixa tudo e o acompanha.

            Ao convite para se transformarem em pescadores de pecadores, Simão e André, Tiago e João lhe aderem à Causa.

            Natanael maravilha-se de ouvi-Io e fica com Ele.

            Maria de Magdala encontra em Sua Voz justificação para a unção que Lhe fazia, legando-nos indelével memória do seu belo gesto de delicadeza de sentimento feminino.  

            Maria, irmã de Marta, prefere-Lhe a conversação a tudo mais desta vida, e passou à posteridade como a que soube escolher a melhor parte.

            Sobre Sua Palavra ... repreendida, a febre abandona a sogra de Simão; convocados à vida, despertam o filho da viúva de Naim, a filha de Jairo, e Lázaro é ressuscitado; tocados no íntimo, os apedrejadores desistem de levar a cabo a lapidação da mulher adúltera, e esta pela primeira vez ouve palavras de bondade para consigo; ouvida e ouvindo com atenção, Madalena regenera-se; confiado no que ouvia, Dimas, o bom ladrão, entrega-se, à última hora, à esperança de uma vida melhor.

            Em alguns casos, era Jesus que ia ao encontro das criaturas; em outros, eram elas que iam ao Seu. Mas, quer numa, quer noutra situação, as dádivas celestiais sempre foram o prêmio dos esforços de quantos Lhe ouviam o Verbo renovador, recolhendo-o na intimidade dalma.

            Nos caminhos do mundo pertencemos, também, ao número dos que se dirigem ao Mestre ou a quem Ele se dirige. Encontramo-nos ainda no campo da vida, em que podemos e devemos situar-nos na zona de influência de Sua ação benéfica, ouvindo-Lhe a Voz de Celeste
           
            Amigo,             
            Tudo depende das condições íntimas com que nos apresentemos para esse instante de suprema comunhão com o Seu pensamento.

            Sobre Sua Palavra ... Simão Pedro, depois da pesca maravilhosa, prostrou-se-Lhe aos pés, dizendo: - “Senhor, ausenta-Te de mim, que eu sou um homem pecador.” Jairo, apesar de informado da morte da filha, não duvida da promessa de vida e saúde que lhe fora feita. A hemorroíssa, fitando-Lhe o semblante, ajoelha e dá público testemunho de sua fé. Os sofredores, recuperados, saem a proclamar-Lhe as excelências dos dons. O centurião de Cafarnaum, atendido no que pleiteava, ao vê-Lo aproximar do seu lar, fala-lhe, humilde: - “Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado salvar-se-á.” Zaqueu, ao receber-Lhe a visita, externa-se, sincero: - “Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se alguma coisa tenho defraudado de alguém, eu o restituo quadruplicado.”

            Temos, nestes casos, alguns exemplos de como devemos proceder para fazer jus à ação da Palavra do Mestre em nosso íntimo. Ouvir e guardar, entender e atender, pedir e saber receber, crer e agir, falar e fazer.

            Reconhecendo nosso lastimável estado de precariedade espiritual, firmando-nos em atitudes claras, caminhando à procura do melhor, buscando em tudo e entre todos o Bem, propiciaremos ambiência interna à receptividade das supremas bênçãos da Vida Melhor.

            Até que ponto somos imperfeitos, cada um de nós o sabe; até onde precisamos confiar no Alto, ninguém desconhece; e de que se faz imperiosa a nossa transformação para melhor, todos temos conhecimento disto.

            Olhos voltados, súplices, para os Céus; corações, contritos, em prece; mentes, serenas, em recolhimento interior; procuremos o Senhor na força de nossa crença e no vigor de altanados anseios, dizendo-Lhe: - Senhor, até aqui tenho sido leviano e fraco, invigilante e irresponsável, ingrato e injusto, desleal e infiel, egoísta e orgulhoso, pedante e maledicente, grosseiro e agressivo, insensível e cruel, invejoso e temperamental; sei das inferioridades que me estigmatizam a alma e das misérias e mazelas morais que me deformam o ser; não ignoro o meu deplorável estado de espírito; mas, sobre Tua Palavra, atirar-me-ei, decidido e encorajado, ao trabalho de restauração, em mim, da imagem divina que já fui do Pai Celestial e que preciso tornar outra vez a ser, definitivamente, um dia. Estou desfigurado, Senhor, por vícios e defeitos secularmente alimentados; estou deformado pelas paixões que me desgastaram as energias d’ alma; mas, sobre Tua Palavra, sinto e creio que poderei vir a ser um Contigo, assim como Tu és um com Deus. De nada sirvo, de nada valho, nem mesmo digno sou do Teu Amor, mas dize somente uma Palavra e o Sol da esperança brilhará para sempre em minha alma.

            Em verdade, novas criaturas seremos, como filhos do Homem e de Deus.

            Depois disto, esperemos pela resposta, que será a melhor imaginável, a mais dadivosa possível, se tivermos “ouvidos de ouvir” e se Lhe oferecermos disposições íntimas favoráveis à repercussão e registo dos Seus ensinamentos em nosso coração.

            Sobre Sua Palavra ... Em verdade, novas criaturas seremos, como filhos do Homem e de Deus.

Alberto Nogueira da Gama
(Passos Lírio)
in Reformador (FEB) Abril 1970


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