sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A Longa Trajetória do GRUPO ISMAEL


"A Longa Trajetória do
Grupo Ismael


            Confiada a Ismael a direção do Espiritismo no Brasil, formou-se, como o diz Richard, sob a sua égide e por inspiração sua o Grupo Confúcio, composto de um pequeno punhado de trabalhadores. Esse Grupo fez o que pode, mas teve duração efêmera, por um conjunto de circunstâncias que não vem a pelo rememorar.

            Mais tarde, em 1873, aquele mesmo Espírito, reunindo novos elementos, fundou a Sociedade Deus, Cristo e Caridade, cuja denominação era uma síntese da Doutrina Espírita. Destinava-se a desenvolver ação mais ampla, qual não fora possível àquele Grupo.

            Para constituírem a Sociedade, congregou Ismael todos os trabalhadores de boa vontade que lhe acudiram ao chamamento.

            "Inúmeros foram, diz ainda Pedro Richard, os "prodígios" que ela operou. A misericórdia divina se fazia sentir incessantemente. A luz, a jorros. deslumbrava os Assistentes. Todos quantos tinham a dita de assistir a um. trabalho da Sociedade se impunham a si mesmos a obrigação moral de inabalável conversão.

            "Os acontecimentos que aí se deram, é ainda Richard quem o diz, produziram ruído em torno dos espíritas e provocaram a ira dos representantes do mal. Então, a marcha vertiginosa que levava a Sociedade atraiu a atenção dos inimigos de Jesus, que cerraram fileiras e juraram destruir aquele templo.
            "As fraquezas humanas, o orgulho, a vaidade, o egoísmo, a presunção foram as portas por onde entraram os inimigos do Bem.
            "Ali, onde a humildade devia ter um altar, o orgulho armou a sua tenda! O egoísmo se crismou de caridade e de fraternidade a dissensão.
            "Desvairados, levantaram um templo à ciência e constituíram uma academia, cujos membros não mais se distinguiriam pelas virtudes de cada um, mas pelo cabedal científico.
            "Passou assim a humilde Deus, Cristo e Caridade a denominar-se Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, cavando dessa forma o túmulo em que se lançaria, como de fato se lançou."

            Nem todos, porém, que compunham a primitiva Sociedade se deixaram dominar pelos sentimentos que determinaram a criação da sua sucessora. Um núcleo pequeno, procurando corresponder ao desejo do seu patrono, constituiu outra agremiação, que denominou Sociedade Espirita Fraternidade, à qual transmitiu o Espírito do Mestre, Allan Kardec, os belíssimos e magistrais ditados que se encontram reunidos num folheto que a Federação editou sob o título de  "Ditados Espíritas".

            Para aí transferiu Ismael o seu estandarte, tendo sido a nova denominação escolhida intencionalmente, para dar a ver aos espíritas a necessidade e a obrigação de formarem uma verdadeira e única família, cujos membros se mostrassem fortemente .unidos pelos laços de fraternidade, de maneira a ser una com Jesus, como ele é uno com o Pai.

            Instalada a Fraternidade, foi-lhe dado por Guia o luminoso Espírito que na terra se chamara Urias, encarnação da bravura, da lealdade e de retidão para com o seu Deus e o seu rei.

            Logo, porém, a treva se pôs em ação e, valendo-se como sempre do orgulho existente no homem, invadiu a nova cidadela e fê-Ia baquear. Ao cabo de algum tempo, a Sociedade reformava seu Estatuto, passando a chamar-se Sociedade Psicológica Fraternidade. Lavrou assim a sua sentença de morte e, efetivamente, pouco depois deixava de existir.

            Mas, a semente que Ismael plantara não podia fenecer, nem o estandarte que ele desfraldara poderia enrolar-se para não mais flutuar ao sopro das brisas do céu. Sob o planejamento desse estandarte luminoso, onde continuava a fulgurar o lema - "Deus, Cristo e Caridade", um pugilo de dissidentes da orientação que ela tomara afastou-se da Psicológica e fundou o núcleo que mais tarde veio a denominar-se Grupo Ismael, como ainda agora se chama.

            Chamou-se a princípio Grupo dos Humildes, mais conhecido, entretanto, pelo nome de Grupo do Sayão, por ter sido em casa desse intrépido lutador da causa do Evangelho que se celebrou, a 15 de julho de 1880, a reunião de que decorreu a sua fundação, depois de outra, efetuada a 6 de julho daquele ano, em que baldadas ficaram as tentativas, para as quais fora ela convocada, de reconstituição da Deus, Cristo e Caridade, com o programa que Ismael de início lhe traçara.

            Conforme consta do precioso volume "Trabalhos Espíritas", magnífico repositório de luminosas comunicações dadas por Espíritos da maior elevação, quaís, para citar apenas alguns, Ismael, Allan Kardec, Urias, Romualdo, Gabriel, Judas, Mateus, Lucas, Pedro, etc., foram os seguintes, os fundadores do novo núcleo: Isabel Maria de Araújo Sampaio, João Gonçalves do Nascimento, Manoel Antônio dos Santos Silva, Francisco Leite Bittencourt Sampaio, Antônio Luiz Sayão e Frederico Pereira da Silva Júnior, médium de poderosas faculdades, por quem o Grupo recebeu a maior parte daquelas comunicações.

            Este último, promotor da reunião de que tratamos, depois de expor aos seus companheiros as dificuldades que havia para se obterem resultados dos trabalhos nos grupos existentes lançou a ideia de se fazerem reuniões para o fim de prepararem-se médiuns pelos quais se recebessem lições proveitosas, "mais do que essas em que sempre se repete o que já foi dito e consta dos livros".

            Obtida de Ismael, num belíssimo ditado aprovação plena para esse programa, entrou Grupo dos Humildes em funcionamento regular, dirigido materialmente pelo mesmo Sayão e espiritualmente por aquele glorioso Anjo.

            Não tardou que também contra ele assestasse a treva suas baterias. Constituído, porém, de combatentes que se tinham aguerrido anteriormente em lutas pelo Evangelho, o reduto resistiu com galhardia, embora fosse tempestuosa a primeira fase da sua existência e lágrimas amaríssimas derramasse o seu diretor humano e grandes dores experimentassem seus componentes, aos quais já se haviam incorporado mais os seguintes: Antônio Netto, Luiz Antônio dos Santos, Zeferino Gonçalves de Campos, Albano Corrêa do Couto, José Silva e Luiz Hipólito Nogueira da Gama.

            A não ser que as resenhas de outras sessões mais tenham deixado de figurar por circunstâncias quaisquer no volume a que nos hemos referido - "Trabalhos Espiritas" -- o que, entretanto, não nos parece haja acontecido, essa primeira fase de existência do Grupo durou cerca de um ano, tendo ele realizado 59 sessões.

*

            A fase imediata lhe transcorreu. mais calma, permitindo que Sayão publicasse o seu segundo livro: "Estudos Evangélicos", reeditado com o título de "Elucidações Evangélicas", cuidadosamente revista e ampliada nalguns pontos dos comentários sobre os textos dos Evangelhos, comentários esses que são um resumo dos Evangelistas na Revelação da Revelação, de J.-B. Roustaing.

            No curso da fase a que nos reportamos, desencarnou, em 1895, Bittencourt  Sampaio, que fora o iniciador de Antônio Sayão no conhecimento do Espiritismo, a quem o mesmo Sayão considerou sempre seu mestre e que muitíssimo o auxiliou nos trabalhos do Grupo, como grande médium que também era.

            Desencarnado Bittencourt Sampaio, seu elevado Espírito encetou, tendo por instrumento o excelente médium sonambúlico Frederico Júnior, a transmissão da primeira das suas três obras mediúnicas - Jesus perante a Cristandade – seguindo-se, pouco depois, a do segundo - De Jesus para as Crianças - e a do terceiro - Do Calvário ao Apocalipse.

            Algum tempo após a transmissão dessa tríade admirável e empolgante sob todos os aspectos, desencarnava o médium Frederico Júnior.

            Transcorrido não longo período, eis desencarna também a 31 de Março de 1903, com a serenidade de verdadeiro justo, a recitar um “Ave Maria!”, aquele que durante 23 anos dirigira os trabalhos do Grupo, que passara a denominar-se  "Ismael", desde que se incorporara à Federação, fundada em 1884, incorporação que se verificou depois que o grande apóstolo do Espiritismo Cristão, Bezerra de Menezes, firmou em definitivo os passos da instituição que posteriormente viria também a cognominar-se Casa de Ismael.

            Com o regresso de Sayão à pátria espiritual, encerrou-se a segunda fase da existência do já então Grupo Ismael. Dele, no momento, faziam parte José Ramos, que sé reputara bom e dedicado obreiro da seara evangélica, e o Dr. Geminiano Brazil, advogado de renome e vulto de grande e justo relevo entre os que se colocaram à frente do movimento espiritista em nosso país, logo que neste fez o seu advento a Terceira Revelação.

            Ao segundo tocou ascender, naturalmente por indicação dos Guias espirituais da oficina do Anjo glorioso, ao posto que ocupara o velho trabalhador que havia concluído a sua tarefa, exemplarmente desempenhada. Houve ele, porém, de repartir com o primeiro, José Ramos, o encargo que lhe fora deferido, ficando com o de explicador do Evangelho e o outro com o de doutrinador.

            Curta duração teve, no entanto, esse período da vida do Grupo, pois que, ao fim de não longo tempo, cerca de dois anos, desencarnava Geminiano Brazil, seguindo-se a breve trecho a saída de José Ramos, por desentendimento com Pedro Richard. Tal circunstância revela que não foi de calma e serenidade o início dessa outra fase, Ia terceira, das atividades do Ismael, fase que propriamente começou ao lhe assumir Pedro Richard a direção, substituindo José Ramos, sempre por determinação do Alto.

            Frederico Júnior fora a seu turno substituído por Ulysses de Mendonça, possuidor de faculdades mediúnicas mais ou menos idênticas às daquele e igualmente desenvolvidas. Incessante que é e violenta sempre, a ação da treva intensificou-se, por assim dizer, contra a pequena oficina do Anjo do Senhor, como que decidida a não permitir que ela prosseguisse no labor que já tão copiosos e bons frutos havia produzido. Tendo constantemente a lhe facilitar o esforço as imperfeições e fraquezas humanas, se é certo que não logrou paralisar aquele labor, ou torná-Io de todo improfícuo, não menos certo é haver conseguido que ele só se desenvolvesse por entre vicissitudes inúmeras, enormes dificuldades, dores vivas e amargares sem conta.

            Entretanto, também nessa outra fase da sua vida ativa, trabalhos da mais alta monta realizou o Grupo em benefício ele fortes entidades espirituais que, chefiando inúmeras falanges de Espíritos atrasados, acometiam sem descanso os fracos e descuidados obreiros da seara do SenhorAlém disso, colheu, através de tocantes manifestações dos grandes Espíritos que de contínuo atuam no seu ambiente, instruções, ensinamentos e conselhos de suma importância e da maior valia. Infelizmente, essas manifestações não foram registradas com método e continuidade, de sorte que muito fragmentário é o acervo que delas resta.

            Em outubro de 1918, encerrou-se a terceira fase de existência do Grupo Ismael, com a desencarnação, a 23 daquele mês, de Pedro Richard, aos 65 anos de uma vida acidentada, mas sempre produtiva e modelar, do ponto de vista espírita. Depondo na Terra o seu bordão de peregrino, valoroso na sua jornada em busca do Mestre divino, foi juntar-se aos companheiros que o tinham precedido no regresso à verdadeira pátria do Espirito e aumentar de uma unidade valiosíssima, do valor de importante unidade coletiva, a coorte formada pelos Romualdo, Geminiano, Sayão, Bezerra, Bittencourt e tantos outros, coorte que, continuamente acrescida, conduz, sob as vistas de Ismael, a Terra de Santa Cruz a investir-se definitivamente na missão, que o Senhor lhe atribuiu, de "Pátria do Evangelho".

*

            Chegamos assim a outra fase, a quarta, da existência laboriosa e cheia de acidentes, mas sempre fecunda, do Ismael, fase cujo início teve a marcá-Io a ascensão de um novo cornpanheiro ao posto de direção humana da sua tarefa de evangelização das verdades divinas do Cristianismo ressurgido. Semelhantemente a de Antônio Sayão por Pedro Richard, também a substituição deste se fez por indicação daquela coorte, sendo designado o nosso companheiro Manuel Quintão, que desde longos anos fazia parte do Colégio e lhe substituía o diretor efetivo nos seus raros impedimentos ocasionais. Era discípulo de Richard, como este fora de Max (Bezerra de Menezes).
             
            Tendo ainda o Grupo, como médium principal o mesmo Ulisses, que substituiria Frederico Júnior e que, como este, possuía notáveis faculdades mediúnicas, sobretudo de incorporação sonambúlica, de desprendimento e vidência, os trabalhos na oficina do glorioso Anjo prosseguiram no mesmo ritmo a que sempre obedeceram e subordinados sempre às normas e ao método adotados desde os primeiros tempos. Também, nessa nova fase, só esporadicamente foram apanhados e conservados os aludidos trabalhos, de sorte que muito falha e incompleta é a coletânea que deles existe. Não poucos, todavia, antes numerosos, de grande monta e alta valia foram eles, contando-se muitas manifestações de tanta magnitude, que, com frequência, a pequena assembleia era profundamente abalada, correndo em todas as faces copioso o pranto, fato de que dá testemunho pessoal quem estas linhas escreve. Dos inúmeros ditados então recebidos psicograficamente, os principais se acham guardados nas páginas do Reformador.

            Assim foi, até que um acontecimento sobreveio, de que resultou a quase completa paralisação dos trabalhos mediúnicos do Grupo, prosseguindo apenas, em todas as sessões, o estudo, que jamais se interrompeu. de um só dia, desde 1880 até agora, dos Evangelhos, pela obra “Revelação da Revelação”, de J.-B. Roustaing. É que, forçado a deixar esta capital, em busca das longínquas terras de Mato Grosso, o médium Ulysses, após algum tempo de ausência, lá desencarnou, encerrando, fora do posto que lhe fora designado, a sua penosa e dolorosa. jornada terrena, pontilhada toda ela de grandes sofrimentos e amarguras, que pungiam vivamente os seus companheiros de tarefa, sempre solícitos, aliás, em ampará-lo de todos os modos, nos momentos mais aflitivos, como já se dera com Frederico Júnior, obedientes ao dever de fraternidade e caridade, precípuo para todos os que comungam no Evangelho do Senhor.

            Foi longo, durou anos esse, período de estagnação dos labores mediúnicos do Grupo.

            Dir-se-ia que, por essa circunstância, aquele punhado de discípulos do Evangelho, onde a cada passo se nos depara o Mestre divino a repetir o "orai e vigiai", fora submetido a uma rigorosa prova de paciência, de submissão aos desígnios divinos e de confiança  nas solenes promessas de Jesus, aos que perseveram no propósito de lhe seguirem as pegadas. E, honra lhes seja: graças à misericórdia do Pai, ao amparo de Ismael, à assistência de seus maiores e ao desvelado amor da Rainha  dos Anjos, eles souberam ser pacientes, resignados, submissos e confiantes, pelo que, munificentemente, viram chegar-lhes, não apenas o companheiro que esperavam e de cujo concurso se sentiam necessitados, mas dois instrumentos aptos às manifestações sonambúlicas, assim dos guias, protetores e amigos, como dos sofredores, obscurecidos e obstinados no erro.

            Não se apresentaram simultânea, mas sucessivamente. Alfredo Félix da Silva foi o primeiro a incorporar-se ao Colégio, o que se deu em começo de 1935. Já de há muito bem reputado médium psicógrafo, revelou-se, em breve tempo, médium também de incorporação pelo transe sonambúlico e sob ambas essas modalidades entrou a trabalhar. Como, porém, não fosse de todo inconsciente na  qualidade de médium sonambúlico, pelas resistências mesmas que oferecia ao domínio de entidades violentas, dessas que chefiam  e manejam falanges de Espíritos pervertidos e afeitos ao mal, não se prestava às suas manifestações. Isso, entretanto, não diminuía o valor da sua cooperação, pois que, em todas as sessões, era utilizado para as de outros que, também obstinados no erro e cegos para as coisas do bem, se mostravam eficazes coadjuvantes daqueles, como se evidencia de várias comunicações que os mentores do Grupo deram ao termo de muitas das reuniões.

            O outro médium, João Celani, se lhe incorporou quatro anos depois, em 1939. Já por muito tempo lhe integrara o quadro dos componentes e fora nele obreiro útil, como médium semi mecânico, de cujo lápis brotaram muitas mensagens excelentes de entidades elevadas, algumas da mais alta hierarquia espiritual. Afastara-se, porém, certo dia. Ao cabo de alguns anos ei-Io que volta e se vê recebido, como era natural, com intenso júbilo, pelos seus companheiros, cuja satisfação cresceu de pronto ao verificarem que ele regressara com as suas faculdades mediúnicas enriquecidas, pois volvia não mais como médium semi mecânico apenas, porém como médium sonambúlico inconsciente, de incorporação completa. Com esse regresso, abriu-se mais uma fasea quinta, para os trabalhos da oficina do Anjo Ismael, os quais vão até dezembro de 1940. Mais ou menos equivalentes aos que se realizaram nos outros períodos de vida do Grupo, quando serviam de instrumentos os dois que nomeamos, da importância, delicadeza, significação e alcance dos trabalhos mais recentes dessa nova fase do Colégio de Ismael nos abstemos de falar, porque de tudo isso podem e devem julgar os próprios leitores, através do que deles já disseram, em mais de uma de suas comunicações, Pedro Richard e, especialmente, Bittencourt Sampaio.

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            Bem sabemos que nomes nada valem, como ainda há pouco ponderava esse luminoso Espírito, com referência ao de um sofredor que acabara de manifestar-se, e menos que nunca valem quando, conforme é aqui o caso, se trata de uma obra absolutamente impessoal, em que as pessoas figuram apenas como apagados colaboradores, ou, melhor, como simples instrumentos materiais, quase sempre deficientíssimos, dos únicos agentes de que depende a sua execução, agentes invisíveis e imponderáveis, se bem que perceptíveis e sensíveis: a misericórdia de Deus, a caridade de Jesus Cristo e o amor do excelso Espírito da Virgem, Mãe desvelada dos míseros pecadores da Terra e do Além.

            Nada obstante, e embora o risco quase certo de incorrermos em omissões, visto que temos de servir-nos unicamente da memória, por não dispormos de nenhum registro dos que sucessivamente pertenceram ao quadro de integrantes do Ismael, uma vez que, a bem da clareza deste esboço histórico, os nomes hemos citado de alguns deles, outros mais mencionaremos agora. Será uma homenagem que, como aos primeiros, lhes tributamos da nossa afeição fraternal e do nosso reconhecimento pelo concurso que prestaram aos trabalhos de que falamos, legando desse modo grande e magnífico estímulo aos que lhes sucederam no porventura mais antigo núcleo de espíritas constituído no Brasil, para trabalhos da natureza dos a que se propôs e tem realizado, o primitivo Grupo dos Humildes, denominação altamente expressiva, pois que, somente quando encontrou na humildade de uns tantos corações o alicerce de que necessitava, pôde a edificação da oficina do Anjo Ismael erguer-se forte bastante vara resistir aos vendavais que contra ela soprou o espírito do mal, desde o primeiro momento; forte bastante para manter firmemente arvorado e desfraldado seu estandarte, cujo lema concretiza toda a doutrina do Consolador: "Deus, Cristo e Caridade".

            São estes os nomes dos obreiros a quem nos estamos referindo, desencartados todos, mas todos, como os outros a quem antes aludimos, incorporados sempre àquela oficina: João RamosJoaquim Alves Ribeiro, Pedro Sayão, filho de Antônio Luiz Sayão, primeiro diretor do Grupo, Miguel Ricardo Galvão, Albino Teixeira, Arthur Rosenburg, Joaquim Alves Cardoso, Cid Matos, Nilo Fortes e Anselmo Moreira.

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            Uma última observação, oportuna e conclusiva. Desde que apareceu e começou a divulgar-se entre nós a obra de J.-B. Roustaing, Revelação da Revelação, por ela entrou a ser feito o estudo dos Evangelhos em espírito e verdade, no Grupo a que Antônio Sayão presidia e do qual fazia parte, como já dissemos, Bittencourt Sampaio, a quem o primeiro considerava seu mestre e assim lhe chamava. Do mesmo Grupo também fez parte Pedro Richard que, posteriormente, foi, como vimos, substituto de Sayão, na sua presidência, sem falar de outros espíritas de escol, que igualmente pertenceram ao quadro de seus constituintes.

            As Elucidações Evangélicas, compiladas e publicadas por Antônio Sayão, constituem, na sua primeira parte, excelente resumo dos comentários dos evangelistas, na obra de Roustaingsobre os três Evangelhos canônicos, os de Mateus, Marcos e Lucas.

            Bittencourt Sampaio publicou a Divina Epopéia, que é uma tradução em versos hendecassílabos do Evangelho de João, seguindo-se a cada canto do poema algumas páginas de comentários explicativos, comentários que nada mais são do que resumo dos dos evangelistas naquela obra.

            Bezerra de Menezes, quando, no desenvolvimento da sua ação apostolar em prol da união da família espírita, ocupou a presidência da Federação, era pela Revelação da Revelação que fazia o estudo dos Evangelhos, nas sessões públicas desta instituição, e as suas explanações evangélicas, em artigos do Reformador, giravam em torno do que consta da citada obra de Roustaing.

            Todos esses Espíritos, terminadas as suas missões na Terra, se incorporaram à legião dos mentores e guias da Federação e, em particular, do Grupo Ismael, comprovando, pelas suas comunicações a qualidade que, quando ainda encarnados, lhes fora universalmente reconhecida, de Espíritos elevados, evangelicamente esclarecidos e ricos de virtudes cristãs.

            Entretanto, nunca nenhum deles, em qualquer dos seus ditados, quer psicográficos, quer sonambúlicos, proferiu uma única palavra que se possa considerar de condenação, velada ou clara, de Os Quatro Evangelhos, de Roustaing, ou, sequer, como restritiva de alguma das revelações e explicações contidas nessa obra.

            Ora, será crível que Espíritos de tão alta envergadura, de tanto saber e de tão largo cabedal de grandes predicados morais, dirigindo um grupo de crentes, sinceramente desejosos de assimilar os ensinos do Evangelho e possuídos de inegável boa vontade, hajam descaridosamente assentido que os seus guiados patinassem durante anos no erro e na mentira, se orientassem por uma revelação falsa e por elucidações apócrifas dos ensinamentos evangélicos, sem lhes ministrarem, ainda que veladamente, um esclarecimento que os divorciasse das errôneas ideias esposadas? Será crível que, ao contrário, só tenham, com as suas instruções, corroborado essas ideias, atestando-lhes a justeza e a veracidade e, com isso, a procedência altíssima da obra onde foram hauridas, a pureza da fonte donde promanou a Revelação da Revelação?

            Ninguém, cremos, ousará dizer que semelhante coisa se possa ter dado.

            Mas, então, é quanto basta para que a Federação, mesmo que aos que nela mourejam e a tem humanamente dirigido falecessem todos os requisitos intelectuais e morais para por si mesmos lhe apreenderem o subido valor e a sabedoria do que nela se contém, como provindo dos mais luminosos planos da espiritualidade, aceitasse, adotasse e recomendasse, para inteligência integral de tudo o que nos Evangelhos se encerra e, em especial, no de João, a aludida  Revelação da Revelação, sem se perturbar com as opiniões personalistas dos que, sem a conhecerem, por não na terem estudado convenientemente, condenam, combatem, repudiam e achincalham essa obra sábia, que completa admiravelmente a de Kardec, imprimindo à Revelação Espírita o seu cunho mais relevante - o de complementar da Revelação Cristã.

Nota da Redação: O texto deste trabalho foi extraído da Introdução do livro
"TRABALHOS DO GRUPO ISMAEL", VOL. I, escrita por Guillon Ribeiro em 1941 para a FEB."

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