Aplausos
e Homenagens
Bem poucos são os Companheiros que, tomados de acendrado fervor, se agigantam nos testemunhos remissores da jornada terrena.
Eles formam minoria, mas valem, sozinhos, por multidões inteiras e representam a cúpula do Ideal Espírita-Cristão.
Fazendo das fraquezas forças, reagem contra as ameaças de desfalecimentos e seguem em frente, conscientes de suas responsabilidades ante a natureza dos compromissos assumidos.
Humanos como os outros, destacam-se da massa comum pela verticalidade das ideias e pela horizontalidade das atitudes.
Vulneráveis às enfermidades e suscetíveis de sentir o impacto de todas as amarguras e
decepções, sobrepõem-se, assim mesmo, aos padecimentos físicos e morais, represando lágrimas e soluços para melhor refletirem a glória de Deus.
Expostos, como qualquer outro mortal, aos perigos da trajetória terrena, correndo o risco de quedas e falências, revestem-se da couraça da fé e da armadura de soldados da redenção, vivendo a condição de autênticos depositários dos ensinamentos do Senhor
Falíveis, superam a situação de falidos.
Pequenos, engrandecem-se ao máximo.
Obscuros, revelam-se e passam a ser notados e notáveis.
Se falam, ensinam.
Se agem, impressionam e edificam.
Impõem-se à admiração alheia pelo que são e valem.
Por isso mesmo as opiniões a seu respeito variam muito.
Há quem os tenha em conta de oráculos; há quem os considere super-homens; há quem os qualifique de seres privilegiados, de vultos excepcionais, de Espíritos de escol ou eleitos.
No entanto, eles próprios conhecem-se a si mesmos e sabem muito bem a justa posição que ocupam no cenário da vida.
Qualquer que seja o setor onde se achem colocados, compreendem que têm contas a dar e devem obediência aos mandamentos do Senhor.
Não se deixam envolver na urdidura da fama.
Não se envaidecem com as demonstrações de apreço que lhes são espontaneamente tributadas. Não cedem ao calor dos aplausos. Não se perturbam ante as homenagens. Não se contradizem diante das decepções consagradoras dos círculos sociais, nem com as atenções de que os cercam amigos e admiradores.
Não se creem merecedores de outra coisa senão do direito de bem cumprir os seus deveres.
Veem-se simplesmente em sua condição de homens.
Evitam iludir-se e iludir. Nem enganos dos outros para com eles, nem equívocos de interpretação deles para com os outros.
Não se preocupam com o que os demais pensem a seu respeito, por entender que os juízos humanos, temerários em alguns casos, ilusórios noutros, não os tornarão melhores nem piores.
Nisto, como em tudo o mais, inspiram-se no Mestre para saber como se conduzirem. Jesus se apresentara como Filho do Homem e Filho de Deus, situando num mesmo plana de grandeza a condição humana e divina.
Dissera que dos nascidos de mulher, João Batista era o maior.
Sustentara que coisa alguma do que Ele fazia poderia ser feita, se o Pai não estivesse com Ele.
Ensinara que o maior no Reino dos Céus seria o que se fizesse o menor.
Sentenciara que não viera para ser servido e, sim, para servir.
Esclarecera que o seu reino ainda não era deste mundo.
Lavara os pés aos Discípulos.
Significativamente, pouco depois da calorosa e consagradora manifestação que tivera quando de Sua entrada em Jerusalém, fora condenado e, em lugar de aplausos e homenagens, recebera apupos e escárnios, provocações e vexames, cusparadas e açoites, afrontas e bofetadas, para culminar com morte infamante, crucificado, entre dois criminosos, no topo do Calvário.
Antes d'Ele, João, o Precursor, identifica--se perante a multidão, desfazendo equívocos a seu respeito.
“E estando o povo em expectação, e, pensando todos de João, em seus corações, se porventura seria o Cristo, respondeu. João à todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água mas eis que vem Aquele que é mais poderoso do que eu, a quem. eu não sou digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.”
Depois d'Ele, Pedro e o Discípulo Amado, nos começos do apostolado ativo, defrontam-se com uma situação delicada, quando da cura do homem “que se assentava a pedir esmola à porta Formosa do templo”, e ficaram todos os que presenciaram o fato “cheios de pasmo e assombro, pelo que lhe acontecera”,
“E apegando-se o coxo, que fora curado, a Pedro e João todo o povo correu atônito para junto deles, ao alpendre chamado de Salomão.
“E quando Pedro viu isto, disse ao povo: Varões israelitas, porque vos maravilhais disto? Ou, porque olhais tanto para nós, como se, por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?”
E conclui explicando que foi pela fé no Cristo de Deus que se operou aquela verdadeira
maravilha.
Paulo e Barnabé, em Listra, também são convocados ao testemunho da Humildade. Eles fizeram com que “certo varão leso dos pés, coxo desde o ventre de sua mãe, o qual nunca tinha andado”, ficasse bom. A multidão, maravilhada, os tomou por deuses e quis sacrificar-lhes, ao que ambos terminantemente se recusaram, esclarecendo:
“Varões, porque fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões, e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu, e terra e o mar, e tudo quanto há neles.”
Na mesma hora, como que para estabelecer o contraste e mostrar-nos o lado versátil do espírito humano, acontecera coisa completamente diferente.
“Sobrevieram, porém, uns judeus de Antióquia e de Icônio, que, tendo convencido a multidão, apedrejaram a Paulo, e o arrastaram para fora da cidade, cuidando que estava morto.”
Bastante significativa é a passagem que registra a chegada de Simão Pedro à casa do
centurião Cornélio, com quem fora ter por determinação do Alto.
“E acontecera que, entrando Pedro, saiu Cornélio a recebê-lo, e, prostrando-se a seus pés, o adorou, Mas Pedro o levantou, dizendo: “Levanta-te, que ,eu também sou homem.”
Sobrepondo-se a todos os fatos, invocamos a própria palavra do Senhor, ao dirigir-se aos Discípulos em uma de- suas prédicas:
-“Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou guardando gado lhe dirá, ao voltar ele do campo: - Vem já sentar-te à mesa.? Não lhe dirá antes: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, até que eu tenha comido e bebido, e depois comerás e beberás? Porventura agradecerá ao servo, por ter feito este o que lhe foi ordenado? - Assim também, após haverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: -Somos servos inúteis, fizermos o que era da 'nossa obrigação.”
Depois do ensino do Senhor, só nos cumpre apresentar nosso propósito de exemplificação, tornando-o realidade em nossa existência, para podermos progredir sem o perigo da inchação provocada pelo terrível e maligno vírus da Vaidade.
Alberto Nogueira Gama
Reformador (FEB) Maio 1970
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