quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O Corpo (fluídico?) de Jesus



O Corpo (Fluídico?)  
de Jesus

           
            "Esplrltas! amal-vos, este o primeiro enslnamento; Instruí-vos, este o segundo."
 ("O Evangelho segundo o Espiritismo", cap. VI, Item 5.)

            Muitos estudiosos da Doutrina mantém ainda reservas quanto a esse assunto. Entretanto, em face de tantas comunicações de Espíritos reconhecidamente evoluídos, e que nos merecem todo o crédito, não há porque ater-nos mais tempo ao véu da letra que mata. Se quisermos realmente compreender, a verdade se descortinará límpida e translúcida ante nossos olhos.

            É comum consultarmos os livros básicos da Doutrina, buscando os esclarecimentos do Codificador, quando somos acometidos por dúvidas pertinentes a assunto espírita. E, já que um dos aspectos básicos, para muitos, quanto à sublime lição tristemente apreendida no Gólgota, é o da dor infligida a Jesus devido aos maus tratos, vejamos o que nos diz Kardec a esse respeito: "Quem sofre não é o corpo, é o Espírito recebendo o contragolpe das lesões ou alterações dos tecidos orgânicos " e mais: "seu corpo se elevou, desvaneceu e desapareceu, sem deixar qualquer vestígio, prova evidente de que aquele corpo era de natureza diversa da do que pereceu na cruz" (1). Mas notemos que Ele, Jesus, dissera: "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas" (2). Ora, não tendo vindo destruir uma lei, a religiosa, poderia destruir outra: a da natureza? Tendo Ele um corpo carnal, e em desencarnando, como reerguer aquele templo em 3 dias - como asseverara - e ainda com o estigma das chagas, sem que sua carne se corrompesse? E onde fora parar o seu corpo material (aquele da cruz)? Não seria isso a destruição, ainda que parcial, de uma lei da natureza? Sabemos que alguns poderão avocar o efeito físico da desmaterialização para justificar o desaparecimento do corpo dEle. E não será isso, a utilização de dois pesos para uma medida? Não se pode conceber a Sua materialização fluídica, mas "o inverso sim? "Se Jesus-Cristo é o Eleito, o único visto neste orbe, como quereriam os que não fossem também únicos os preparativos que lhe tornassem possível a tangibilização entre nós: "algo" que intermediasse o imenso hiato existente entre a sua grandeza e as nossas misérias? Só com um corpo sideral, fluídico, de carne apenas semelhante (não confundir com idêntica) à humana poderia ele ter-se apresentado neste planeta sem contrariar as leis naturais, cada dia melhor conhecidas" (3).

            Mas prossigamos com Kardec: "A sua superioridade com relação aos homens não derivava das qualidades particulares do seu corpo,mas das do seu Espírito, que dominava de modo absoluto a matéria e da do seu perispírito, tirado da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres" (4). Já que falamos em fluidos quintessenciados vejamos o que nos esclarece a respeito Bittencourt Sampaio (Espírito): "Nós não conhecemos, em todas as suas evoluções, as leis dos fluidos, mas parece-nos que os Espíritos prepostos, designados a acompanhar o nosso Divino Mestre na sua missão sobre a Terra, foram buscar na flor da videira e na flor dos trigais os elementos que deviam compor o corpo de N. S. Jesus-Cristo" (5). Comparando-se os dois textos observamos que o segundo nos facilita a compreensão para com a atitude do Mestre na última ceia, distribuindo o pão e o vinho que realmente simbolizavam-Lhe o corpo e o sangue, fluidicamente.  

            Talvez uma das maneiras de se eliminar quaisquer dúvidas fosse pesquisar os fatos a partir do Seu nascimento. Mas já aí existe mistério: "Diz-nos Emmanuel, através de F. C. Xavier ("Paulo e Estevão", 14ª edição FEB, 1978), que Paulo de Tarso impressionou-se com a figura angelical de Maria, interessando-se especialmente pelas narrativas sobre a noite do nascimento do Mestre, que fora singular: não houve testemunhas." (6), e: "Distante da Virgem, procurando o mercado de Belém, José ia fazer os seus viveres para si e para a sua companheira.

            "Inebriada, saturada dos fluidos divinos, a Virgem Imaculada encontrou-se nesse êxtase santo de que só podem gozar os Espíritos puros; quando voltou a si do seu grande enleio, ouviu lá fora, nos campos, onde baliam as ovelhinhas, cânticos sonoros que se elevavam pelos espaços, dando glória a Deus no mais alto dos céus, e paz aos homens na Terra. Cheia de confusão e de respeito, diante do seu fruto imaginário, encontrou o seu menino Deus entre os braços" (7). Imagens poéticas! - afirmarão alguns. Se assim crermos, como interpretar a resposta do Senhor nos Evangelhos: "Na verdade vos digo que entre os varões nascidos de mulher não se levantou outro maior do que João Batista” (8)? Tivesse Ele sido gerado no ventre de Maria, outra seria Sua resposta. Não estaria Ele, em assim respondendo: a) evidenciando a grandeza espiritual de João Batista (que já fora Elias e Moisés), b) excluindo-se de tal condição humana, qual a de ser gerado num ventre terreno?

            Não nos melindraremos por continuar buscando citações alheias para ilustrar este pequeno artigo, pois, de nós mesmos, nada sabemos. Por isso invocamos, agora, algumas das experiências do Dr. Crookes: "A cabeleira da Srta. Cook é de um castanho tão forte que parece quase preto; um cacho da cabeleira de Katie, que tenho à vista, e que ela me permitira cortar de suas tranças luxuriantes, depois de ter seguido com os meus próprios dedos até ao alto da sua cabeça e de haver convencido de que ali nascera, é de um rico castanho dourado.

            "Uma noite, contei as pulsações de Katie; o pulso batia regularmente 75, enquanto o da Srta. Cook, poucos instantes depois atingia a 90, seu número habitual.  Auscultando o peito de Katie, eu ouvia um coração bater no interior, e as suas pulsações eram ainda mais regulares que as do coração da Srta. Cook, quando, depois da sessão, ela me permitia igual verificação" (9). Sabemos que, ao longo de quase cinco anos, inúmeras experiências foram levadas a efeito nas  sessões de materializações de Katie King. Ela, materializada, foi fotografada, distribuiu mechas do seu cabelo, pedaços de seus vestidos, dançou, e permitiu-se ser tocada por alguns dos assistentes aquelas sessões. Todos concordam, evidentemente, que não podemos sequer tentar comparar a evolução e pureza de Espírito entre Katie e Jesus. Como então conceber-se que Katie tenha tido o poder de materializar--se àquele ponto e não se crer que Jesus, o Governador Espiritual do nosso planeta, dominando o conhecimento de toda a sua matéria, na sua mais íntima constituição, não pudesse ter-se servido de um corpo fIuídico tão-somente para levar a termo a Sua missão? Parece-nos não envolver isso, necessariamente, farsa alguma, nem seja preciso - para podermos reconhecer-Lhe a
sublimidade do sacrifício e o Seu Divino Mandato - a crença de que obrigatoriamente tenha Ele possuído um corpo material sujeito às mesmas vicissitudes que o nosso.

            Mais uma evidência se impõe ao nosso raciocínio ávido de entendimento. Narra-nos o Evangelho:  "E levantando-se, o expulsaram da cidade, e o levaram até ao cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem. Ele, porém, passando pelo  meio deles: retirou-se"(10). Temos a impressão, pelas palavras do Evangelista, que o Senhor calmamente desvencilhou-se das mãos daqueles que o levavam e saiu do meio deles. "Como, porém, admitir-se que a multidão, enfurecida pela dura lição com que acabava de verberar o seu orgulho, o deixasse tão facilmente escapar-se--lhe das mãos? Não se vê aí a rápida desassimilação das moléculas materiais e a restituição do seu perispírito às condições de invisibilidade que o colocaram instantaneamente fora do seu alcance?" (11)

            Uma das modalidades de assistência aos encarnados, realizada pela Divina Providência através de algumas casas de Caridade, é justamente a cirurgia espiritual. Como ocorrem tais intervenções? Fluidicamente, sabemos. E, fluidicamente, operava também o Cordeiro de Deus. Ele não realizava milagres; curava, antes, os enfermos de moléstias curáveis. - "Sim, mas quanto à dor, ao seu sofrimento?" indagarão os mais céticos. "... por via de encarnação ou de condensação de fluidos, desde que se verifique a corporeidade, é lógico admitir que a sensibilidade se estabelece e caracteriza em condições análogas”: (12). Eis, aí, para a saciedade dos incréus.

            Busquemos outros esclarecimentos nos lances do Gólgota. "E Pilatos admirou-se de que Jesus houvesse morrido tão depressa e, chamando um centurião, perguntou- lhe se efetivamente estava morto" (13). "Dois pontos, não obstante, nos Indicam que este era um crucificado muito especial. Em primeiro lugar, os ossos das pernas não estavam quebrados, como, aliás, prescreveu o autor dos Salmos. ("Todos os seus ossos serão preservados; nem um só se quebrara" - Salmos, 34:20.) A fratura das pernas era, de certa forma, também um golpe de misericórdia, porque resultava em abreviação da morte. Isto porque, segundo explicou o Dr. Barbet, a morte se dava por asfixia, pois o crucificado somente podia respirar nos breves instantes em que, suportando dores atrozes, apoiava-se no cravo que o prendia pelos pés para levantar o corpo e assim poder movimentar os músculos do tórax que, pela sua rígida contratura, não permitiam expelir o ar dos pulmões. Em seguida, o supliciado deixava cair novamente o corpo, apoiando-se nos cravos das mãos. Novamente sufocava e tudo recomeçava. Assim ficava enquanto aguentasse ou até que lhe quebrassem as pernas - usualmente com uma barra de ferro. Impedido, afinal, de apoiar-se no cravo dos pés e, portanto, de erguer o corpo para renovar o ar dos pulmões, o condenado morria" (14),
Por que rendera logo Jesus o Espírito? Esclarecem-nos os Espíritos encarregados de disseminar a Verdade que, realizados os atos nefandos que corroborariam as Escrituras e os Profetas, não tinha mais o Meigo Nazareno o que exemplificar; a lição maior do Seu Amor se consumara. Até mesmo a evidência do primeiro mandamento da Lei fora realizada quando se dirigiu a Maria e a João. Será possível que os cravos nas mãos e pés (ainda que fossem da mesmíssima constituição que a nossa) daquele que foi o paradigma da Bondade e da Virtude lhe causassem à sensibilidade maiores dores do que a Sua angústia, a Sua piedosa amargura, por saber o que sobreviria à Humanidade pelo seu inominável e inesquecível crime?

            Especialmente para aqueles irmãos que se baseiam na evasiva de Kardec, quando instado a se pronunciar sobre a "teoria" do corpo de Jesus trazida à luz em "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing, trazemos à lembrança que as experiências de materializações eram ainda muito veladas.ao seu tempo. "Tivesse ele (Kardec) podido, no seu tempo, apreciar esses valiosos testemunhos, e a sua atitude certamente se modificaria", e Leymarie, que sucedera ao Codificador na direção de "Revue Spirite", assim se manifestava na edição de outubro de 1883: "Os discípulos de Allan Kardec, sem nada prejulgarem a tal respeito, deixando a cada um o cuidado de a apreciar, estão, não obstante, convencidos de que esse lógico emérito, Allan Kardec, saberia hoje tirar partido mais racional, mais avançado de uma revelação que lhe foi especialmente feita, se tivesse tido à mão as experiências decisivas dos sábios de todas as ordens, tais como Wallace, Zoellner, William Crookes com Katie King e outros médiuns, que Ihes forneciam provas da materialização e desmaterialização quase instantânea de um espírito”.

            "Allan Kardec não possuía então, para a sua demonstração, senão bases inteiramente hipotéticas, não se tendo ainda os fenômenos de materialização e tangibilidade produzido sob os aspectos que a ciência tem podido abranger depois da morte material do mestre." (15)

            Encerrando, para maior credibilidade, vejamos a procedência daqueles Espíritos puros que serviram como pais de Nosso Senhor. Lógico que na articulação dos meios que viabilizariam a missão do Mestre, todos os ingredientes e participantes teriam que ser compatíveis com a Sublimidade, a Magnitude, do Enviado. "Mas o amor sublime de excelsos Espíritos de Sírius não a abandonou os antigos companheiros, e foi de lá, daquele orbe santificado, que vieram, desde os primórdios da Terra, para auxiliar voluntariamente ao Cristo Jesus, aqueles seres extraordinários que cercaram, mundo, o Messias, como Ana e Simeão, Isabel e Zacarias, e principalmente o Carpinteiro José e a Santa Mãe Maria" (16) e, "Virgem, em seu desposório com José, Espírito este profundamente religioso que, por esse modo, fiel ao compromisso no espaço contraído, submeteu-se à injunção celestial da Anunciação, respeitando a sua angélica companheira, Maria conservou-se igualmente virgem até o termo de sua missão na Terra, missão cujo único objetivo fora esse de assistir a Jesus em sua jornada messiânica" (17), e a mais concludente assertiva: "Existem,
contudo, outros seres, muito peculiares, que não são propriamente agêneres, mas que pertencem muito mais ao plano extra físico do que ao plano que chamamos físico. Trata-se de criaturas sem dúvida humanas, mas cuja ligação biopsicofisiológica com a matéria densa a que chamamos "carne" é a mínima possível. São Espíritos sublirnes, de Imensa superioridade evolutiva, que só encarnam na Terra em raras e altíssimas missões, de slngularíssima importância para a evolução da Humanidade. O maior desses Espíritos foi a Mãe Maria de Nazaré, a Virgem Excelsa, Rainha dos Anjos, cuia presença material, na Crosta Terráquea, foi indispensável para a materialização do Messias Divino entre os homens. Coube a ela fornecer ao Mestre a base psicoplástica necessária é sua viabilização servindo ainda de ponto de referência e de equilíbrio a todos os processos espirituais, eletromagnéticos e quimiofísicos que possibilitariam, neste orbe, a Presença Crística. Tudo o que o Senhor Jesus sentiu na sua jornada messiânica, repercutiu diretamente nela, na Santa das Santas, na.Augusta Senhora. do Mundo, Estrela Divina do Universo das Grandes Almas, também ela teve de peregrinar do paraíso excelso de sua felicidade para o nosso vale de lágrimas, a fim de ajudar e servir a uma Humanidade paupérrima de espiritualidade, da qual se fez, para sempre, a Grande Mãe, a Grande Advogada e a Grande Protetora."(18)

            Que as bênçãos do Senhor sejam sobre nós.


(1)  "A Gênese", Allan Kardec, cap. XV, Item 65, 24ª ed. FEB.

(2) Mateus, 5:17.

(3) "Reformador", O Nascimento de Jesus, fevereiro 1979, pág. 80.

(4) "A Gênese", Allan Kardec, cap. XV, Item 2, 24ª ed. FEB.

(5) "Jesus Perante a Cristandade", Frederico Pereira da Silva Jr. (pelo Espírito Bittencourt Sampaio), pág. 34, 5ª ed. FEB.

(6) "Reformador", O Nascimento de Jesus, fevereiro 1979, pág. 80.

(7) "Jesus Perante a Cristandade", Frederico Pereira da Sllva Jr. (pelo Espírlto Bittencourt Sarnpaio), pág. 41, 5ª ed. FEB.

(8) Lucas, 7:28 e Mateus, 11:ll.

(9) "Fatos Esplrltas", Wllllam Crookes, pág. 79, 6ª ed. FEB.

(10) Lucas, 4:29-30.

(11) "A Personalidade de Jesus", Leopoldo Cirne, pág. 56, 3ª ed. FEB.

(12) Idem, pág, 70.

(13) Marcos, 15:44.

(14) "Reformador", O Sudário de Turim-I, Hermínio C. Miranda, março 1979, págs. 98 e 99.

(15) "A Personalidade de Jesus", Leopoldo Cirne, pag. 67, 3ª ed. FEB.

(16) "Universo e Vida", Hernani T. Sant' Anna (pelo Espírito Áureo), pag. 33, lª ed. FEB.

(17) "A Personalidade de Jesus", Leopoldo Cirne, pag. 75, 3ª ed. FEB.

(l8) "Universo e Vida", Hernani  T. Sant'Anna (pelo Espírito Áureo), pag. ll5, lª ed. FEB.   





por Geraldo Goulart

in Reformador Abril 1982

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