domingo, 30 de outubro de 2011

71 Trabalhos do Grupo Ismael





71


SESSÃO DE  4 DE DEZEMBRO DE 1940


Manifestação sonambúlica de um hábil mistificador que, todavia não logrou realizar o seu intento.


Médium: J. CELENI

            Espírito. - Recordar é viver ... Na digressão que fiz pelo passado da minha existência de criatura, quantas recordações amargas a mim também me assaltaram! Foi a última prova de fogo para o Espírito que precisava renovar suas ideias.

            Mas, em meio da jornada dolorosa, lobriguei bem distante, envolta nas dobras do tempo, uma etapa feliz e bonançosa. Chocou-me o Espírito essa doce lembrança de uma era longínqua, em que vivi vida simples e sincera, sem os convencionalismos da sociedade e da política. E tudo isto para comprovar a sabedoria da lei, que quer o progresso do Espírito por seu esforço próprio.

            O crime do homem, o crime da sociedade não se apagam com um mero querer. Há mister o resgate para a purificação, para o desaparecimento dos estigmas desses crimes. A cultura da inteligência não açaima os instintos do homem mau e a prova vós a tendes, observando o que se dá com tantas e tantas criaturas visíveis e invisíveis.

            Uns pensam manter presa à idolatria a consciência humana, como meio de domar lhe as fúrias e os pendores criminosos; outros acham que o livre raciocínio, a análise serena de todas as questões que entendem com a inteligência e o espírito conduzam a criatura ao equilíbrio do seu ser, o que quer dizer à posse de uma moral e de uma cultura relativas.

            Pendo para a corrente dos primeiros. Acho que a Igreja caminha certa para consecução de seus fins, porque a fera só teme o domador, enquanto não percebe a força de que dispõe contra ele. Por ai vedes que, solapando o prestígio da Igreja, algumas velhas instituições do mundo prepararam o descontrole dos espíritos e a hecatombe que presentemente se observa.

            Infelizmente, a palavra do Vaticano já não ecoa nas quebradas do mundo. Donde o seu desprestígio? Da obra dessas instituições maléficas. Vós outros quereis renovar a humanidade, esposando a segunda maneira, a que há pouco me referi, de resolver a questão. Julgais possível tal coisa pelo caminho que seguis , através de todas as misérias que vos cercam?

             Não é possível! A tristeza empolga o Espírito, ao ver perdido o labor de tantos séculos. Mas, o Espírito, no espaço, nunca perde tempo, diz aqui uma voz. Mensageiro de quem? O homem tem a infância, a mocidade, a madureza, a velhice, a decrepitude. O espírito tem a eternidade... É’ belo, sim, admirável!... Gozei desses eflúvios naquela etapa passageira que meu espírito vislumbrou na poeira do passado. Depois, veio a fogueira, o mar de fogo.

            (Dirigindo-se ao diretor dos trabalhos): Não dizes nada? Pergunto: acreditas que se possa regenerar as feras, dando-lhes liberdade de consciência e de ação?

            D. - Acredito, pois que tenho a prova comigo mesmo. Sem estabelecer termo de comparação entre mim e os luminares que nos assistem de plano superior, reconheço que grande transformação em mim se operou. De tigre que anteriormente era, em sentido relativo, tornei-me, não direi um cordeiro, porém um ser menos capaz de investir  contra os seus semelhantes, desde que compreendi que uma só é a lei: amar a Deus, amando ao próximo.

            Tu te referiste á falta de ressonância que se nota na palavra do Vaticano e a isso atribuis o que se está passando no mundo. Mas, porque já não ressoa essa palavra, quando o Vaticano dispos sempre de todos os meios, do ponto de vista  mundano, para fazer-se ouvir: honras, poderio predomínio, força e, até imensos tesouros materiais? Porventura, quando a Igreja se achava em todo o seu fastígio, não se perpetravam os mesmos crimes, as mesmas iniquidades, as mesmas ferocidades que se praticam agora? A luz vem, como sempre veio e virá, mas graduada por N. S. Jesus Cristo e não pela Igreja. É belo, disseste. Nós dizemos: é divino!

            E. - Dize-me: porque, depois de ter sido bom, eu me tornei um chacal? Como é possível semelhante retro gradação do Espiritismo?

            D. - Só a tua própria consciência poderá dar o motivo dessa paralisação, dessa estagnação do teu eu, visto que o Espírito não retrograda.

            E. - Sim, no meu passado, sacudi a poeira dos in-folios, perlustrei os fastos de muitas existências; mas, há sempre uma penumbra a me interceptar a visão ampla da minha peregrinação até o momento atual. Há longos anos vivo no espaço cercado de trevas, de nojo, de desesperança. Nem uma voz, nenhum incentivo, um encorajamento. Aqui tenho estado várias vezes; várias vezes já ouvi as vossas pregações; entretanto, volvendo ao meu meio, de novo o silêncio, a treva. Há certamente um enigma de tal sorte tenebroso, que não pude ainda desvenda-lo e me traz preso a esse estado terrífico.

            D. - Meu amigo, não basta compreender, é preciso sentir. Se queres decifrar o enigma, volve-te para o Divino Mestre, a quem de certo não desconheces. Ele permitirá obtenhas essa decifração, não por efeito da palavra e do sentimento precários do homem, mas pelo influxo do seu amor sem limites.

            E. - Eu bem quisera busca-lo; mas, ainda não sou o filho pródigo, ainda não encontrei o caminho que conduz à coisa paterna. Ah! quem me dera! Tal a razão do meu colóquio convosco: obter do vosso amparo essa mercê. Dei, no começo, a este colóquio uma orientação diferente; mas, fui levado, não sei por que força, a esta confissão. Procurar eu o Cristo, que só acolhia os simples e os de coração puro! Não é possível.

            D. - Ele curou leprosos, fez que andassem paralíticos, restituiu a vista a cegos. Para faze-lo, só queria e quer sinceridade, que, sinceramente arrependido, o pecador busque a misericórdia do seu Deus.

            E. - Desvendar o enigma. Em toda a viagem que fiz, jamais descobrir a razão deste estado tenebroso. Errei, pratiquei crimes; porém, crimes praticam todos. Decifra-me o enigma e eu talvez possa encontrar o Cristo de que fui servidor em várias oportunidades.

            D. - Nós não podemos decifra-lo. Podemos, porém, apelar para a Virgem, nossa Mãe celestial, e estamos certo de que o véu se romperá. Permite façamos uma prece?

            E. - Seja.

            (Faz-se uma prece).

            E. - Orgulho e juiz em causa própria! Mas, então, é necessário causticar tanto uma criatura por fatos de tão somenos importância? Nunca di importância a essas coisas; no entanto, elas pesam na balança da justiça. Pequenos nadas.

            Bom, vou-me embora para a escola que, segundo diz um dos vossos amigos, é a escola prática do Espírito; mas voltarei aqui.

            (Dirigindo-se a uma das entidades invisíveis)

            Filiar-me? De fato, senti a transmutação que se operou no meu ambiente, por efeito da oração. Mas dai a fazer profissão de fé nos teus arraiais vai muito grande distância. Não pretendi enganar a ninguém. Sabes que todos os caminhos vão ter a Roma. Eu não tinha o que dizer e fui dizendo o que me veio à mente. Somos da mesma família. À certa altura, enveredaste por uma estrada e eu por outra. Agora, encontramo-nos com ideias diferentes. Tu abjuraste a Igreja; eu me conservo fiel à Igreja... Ah! pois sim! Veremos. Sabes que, em habilidade  e sutiliza, ninguém me leva a palma.

            Hum! Quem  vejo! Mas, que vejo! Vocês têm uma companhia seleta! Dignitários da Igreja e até apóstolos! Onde vim meter-me!

            Não, a este pandego nenhum mal faço. Apenas o atrapalho um pouco. Mas, ele tem quem o defenda.

            Voltarei; porém, não à força, nem constrangido. Voltarei por minha vontade, como espírito consciente de si.

*

Comunicação final, sonambúlica


            Garras de fora, sob a aparência de grande mansidão. - O Espírito que se manifestara e a fereza de seus intentos. - Velho jesuíta, matreiro, insidioso e sutil. - As modalidades várias da sua manifestação. - Porque lhe foi permitido que assim a encaminhasse. - Educação do médium para manifestações cada vez mais edificantes. - No que devem pensar os componentes do Grupo, quando para as suas reuniões se dirigirem.


Médium: J. CELANI


            Glória a Deus nas alturas, meus caros companheiros.

            Mas um vez cumprido foi o dever, mais um estímulo para perseverardes nos vossos esforços.

            No estado atual o mundo, é naturalíssimo que aos vossos trabalhos acorram grandes levas de Espíritos de todas as categorias.

            Este, que daqui saiu, esconde, sob a aparência de grande mansidão, as garras das feras do espaço. Há muito que ele vos ronda com intuito tais, que não lhe permitíamos manifestar-se. É um velho jesuíta, matreiro, insidioso, sutil no apreender as questões e habilíssimo em expor seus pontos de vista. Não lhe percebestes a maneira de conduzir-se? Quantas modalidades apresentou a sua manifestação! Consentimos que ele assim a encaminhasse, para compreenderdes qual a personalidade que tínheis momentaneamente no vosso convívio e a fim, portanto, de encarecemos a necessidade do vosso cuidado, da vossa preparação mental para estes trabalhos, o que de nenhum modo é supérfluo.

            Estamos educando o médium. Para seu aprendizado e vosso, trazemos aqui Espíritos à  feição do seu preparo. À medida que o preparo do Grupo o permitir, as manifestações serão cada vez mais edificantes, para estímulo e conforto dos vossos Espíritos.

            Quando para aqui vos dirigirdes, pensai que em torno de vós caminha, acompanhando-vos, mais de uma dezena dessas criaturas, em busca de uma côdea do pão que recebeis de acordo com o vosso estado da alma.

            Deveis separar o material do espiritual, porque o primeiro obscurece o segundo. Só com os pensamentos adstritos ao objetivo que vos congrega  podereis obter boa recompensa a estes trabalhos, para renovação das vossas forças e robustecidos vossos conhecimentos teóricos da doutrina.

            Não são uma impertinência de minha parte estas constantes advertências que, aliás, sei,  todos vós acolheis com carinho.

            Que o manso Cordeiro de Deus vos auxilie nos esforços que empregais por adaptar-vos à sua moral, são os meus votos e dos companheiros e amigos que convosco trabalham na mesma cruzada. Que as bênçãos da Virgem coroem esses vossos esforços, se estendam aos vossos lares e acompanhem  perenemente os atos da vossa  vida de relação, a fim de vos manterdes atentos à obra cuja realização vos impusestes, para engrandecimento e elevação dos vossos Espíritos.

            Paz vos acompanhe sempre. Deus vos abençoe. – Bittencourt.



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