sábado, 29 de outubro de 2011

68 Trabalhos do Grupo Ismael




68


SESSÃO DE 23 DE OUTUBRO DE 1940


Manifestação sonambúlica

            De um Espírito pessimista, que absolutamente não acreditava na reforma do mundo, nem na eficácia do estado evangélico.

            Estudara-se, pelo Evangelho de João, o preceito de Jesus a seus discípulos, de se amarem uns aos outros, e a definição que Ele dá de quais são seus servos e seus amigos.

             Espírito. - Acreditam vocês que haja alguém capaz de amar aos seus semelhantes tal como prescreve o texto que acabam de ler? Creem, de fato, nesse conto de fadas, excelente para entreter crianças, quando, lançando as vistas para a humanidade, nós daqui só vemos maldades íntimas, inconfessáveis, paixões vis e criminosas? e o ‘’bezerro de ouro’’ dominando, atraindo a cupidez das criaturas sem nenhuma cultura espiritual, nem suscetíveis de agasalhar a palavra meiga dos que se propõem conduzi-las segundo os ditames desse livro? Por mim, penso que vocês perdem um tempo precioso com essas divagações.

            (O diretor obtempera que não é tanto assim, porquanto de todos os tempos houve beneficiários do legado de Jesus. Cita os Apóstolos, homens rústicos e escolhidos; cita Paulo e alude ao sublime martirologio cristão, para concluir que a obra é mesmo essa, longa, difícil e dolorosa, mas de cuja realização não há duvidar, desde que considerada sob o critério da eternidade, pelo prisma das reencarnações iterativas e sucessivas. Que olhasse para cima e veria, no seu plano, os grandes remidos da fé, em todos os tempos).

             E. - Esses não vivem no bulício, buscam a solidão, porque, digo, não há peçonha mais virulenta do que o entrechoque das ambições humanas.

            (O diretor adverte que o planeta Terra é cadinho de regeneração e que as paixões a que alude o manifestante podem considerar-se patrimônio humano de todos os tempos e que, em sentido mais amplo, também se poderá lobrigar uma elevação de nível coletivo).

            E. -  Sim, dizes bem, para compreender-se a vida, faz-se mister analisa-la nos dois planos em que se ela desdobra. O ser liberto, capacitado para executar, é uma coisa; outra, o ser encarcerado, sem as luzes do passado, que lhe esclareçam o presente e o futuro, qual cego em campo raso e largo, sem saber aonde se dirija.

            Não ignoro essa condição; porém, falo como analista da humanidade, através de porfiados estudos e meditações, do que meus olhos cerrados veem e surpreendem nessas almas vis que pululam ai na Terra. Mas... Fiquemo-nos por aqui. As torpezas são de tal vulto, tanto é o fel que as criaturas derramaram em meu espírito, que ao recorda-las, o ódio - fogo terrível - como que tenta novamente empolgar-me e me desvairar. Paremos na análise.

            (O diretor pede permissão para lembrar que todo sofrimento é qual bala que nos vem de ricochete e o manifestante, parecendo acalmado, pondera em tom breve):

            E. - Sois felizes em crer na regeneração das almas e em que dessa crença desabroche a semente da fraternidade entre os homens, de que trata a lição que estudastes.  Não serei eu quem venha dissuadir-vos de prosseguir nessa trilha, em que vos sinto satisfeitos, repousados. E, de vez que não o faço, também não sei o que aqui vim fazer.

            Falaste de Paulo e eu pergunto: conheceis alguém que se lhe possa comparar nos dias que ora viveis? Ele foi soldado, e dos maiores, da milícia cristã, sim, mas hoje, meu amigo, é tudo desolação! As almas estão vazias, a crença foi asfixiada pelo egoísmo e pela maldade humana.

            Contudo, aprendi alguma coisa e, segundo aqui me dizem, será este o ponto de partida para meu esclarecimento sobre o resto. É que o Espírito precisa vir ao teatro dos seus próprios crimes, a fim de compreender porque outras estâncias lhe são defesas. Processo interessante, na verdade, e vocês, como estudantes assíduos do Evangelho, talvez já o conheçam...

            (O diretor concita-o a invocar o esclarecimento dos prepostos de Ismael).

            E. - Sim, tudo pautado, marcado, tabelado em razão do próprio mérito. Daí a minha presença entre vós. Agradeço o vosso concurso e a esmola dos que até aqui me trouxeram, com a mão amiga e fraterna. Obrigado e até à vista.

*

Comunicação final sonambúlica

            Grandeza das esmolas concedidas ao Grupo. - Estimulo ao esforço em prol da autoeducação dos seus membros. - As duas coisas necessárias para a prática do amor ao próximo. - O que sucede ao Espírito que se senta á margem do caminho. -  Qual é esse caminho. - Antídoto ás sugestões pecaminosas. - Distinção entre o crime e a fraqueza.

Médium: J. CELANI


            Paz, meus companheiros e amigos.

            Mais de um motivo temos hoje, para render graças ao Criador e Pai, pelas esmolas que chovem, incessantes, sobre nós e vós.
           
            Quem contempla o vosso mundo, quem lhe recolhe os anseios, quem lhe ouve os estertores, as súplicas, as blasfêmias, partidas em direção às potestades  do infinito, é que pode avaliar quão grandes são as esmolas concedidas por aquele que nos tomou a seu serviço.

           Rendei graças, companheiros e recebei-as como estímulo ao vosso esforço em prol da vossa autoeducação pelo estudo desses Evangelhos em espírito e verdade. Educai, acendrai o vosso sentimento e, feito isso tudo mais vos advirá de acréscimo consoante a palavra do manso rabi da Galileia.

            Para amar o próximo, duas coisas se fazem necessárias: primeiro identificar-se com o Cristo; segundo sentir o sofrimento alheio. Coisas fáceis de realizar? Não, absolutamente. É, sim, obra de educação gradativa, de efeito comparável ao da gota de água sobre a pedra dura.

            Espíritos há, que hoje se acham alcandorados aos mais altos cimos da escala evolutiva, após séculos e séculos de jornadas dolorosas, na colimação desse escopo. Mas, o Espírito que dormita, que se assenta à margem do caminho palmilhado pela caravana, esse não atingirá os cumes que aproximam do Mestre pela identidade do sentimento e, conseguintemente, do Pai, que o Mestre veio revelar a todos as criaturas.

            O caminho é este que percorreis e que – digo-o – já foi mais ríspido, mais pontilhado de urzes e pedrouços, de vez que hoje as conquistas da inteligência e do coração sempre suavizam a caminhada. Se quiserdes transformar em sedosa alfombra  a vossa rota, identificai-vos com o Mestre procurando  atrair os seus legítimos servidores. Neles amparados, tereis o antídoto às sugestões pecaminosas e continuareis firmando a posição de estudante do Evangelho todo pureza, porque reflete a vida de N. S. Jesus Cristo.

            Sabemos distinguir do crime a fraqueza. Se amparamos o fraco, deixando o criminoso entregue aos seus instintos.

            Refleti, companheiros caros, tornemo-nos aptos de coração, para podemos deprecar à Mãe angélica o seu amparo. Roguemos-lhe, sim, que abençoe este colégio e fortaleça todos os seus alunos na compreensão e comprimento dos seus deveres.

            Peçamos-lhe que nos inspire a sua humildade e renúncia, a fim de galgarmos os aclives do nosso calvário, qual ela o fez, rastreando  o Divino Mestre.

            Deus vos abençoe. Encerrei o trabalho, em nome e na paz do Senhor. – Richard.

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