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SESSÃO DE 23 DE OUTUBRO DE 1940
Manifestação sonambúlica
De um Espírito pessimista, que absolutamente não acreditava na reforma do mundo, nem na eficácia do estado evangélico.
Estudara-se, pelo Evangelho de João, o preceito de Jesus a seus discípulos, de se amarem uns aos outros, e a definição que Ele dá de quais são seus servos e seus amigos.
Espírito. - Acreditam vocês que haja alguém capaz de amar aos seus semelhantes tal como prescreve o texto que acabam de ler? Creem, de fato, nesse conto de fadas, excelente para entreter crianças, quando, lançando as vistas para a humanidade, nós daqui só vemos maldades íntimas, inconfessáveis, paixões vis e criminosas? e o ‘’bezerro de ouro’’ dominando, atraindo a cupidez das criaturas sem nenhuma cultura espiritual, nem suscetíveis de agasalhar a palavra meiga dos que se propõem conduzi-las segundo os ditames desse livro? Por mim, penso que vocês perdem um tempo precioso com essas divagações.
(O diretor obtempera que não é tanto assim, porquanto de todos os tempos houve beneficiários do legado de Jesus. Cita os Apóstolos, homens rústicos e escolhidos; cita Paulo e alude ao sublime martirologio cristão, para concluir que a obra é mesmo essa, longa, difícil e dolorosa, mas de cuja realização não há duvidar, desde que considerada sob o critério da eternidade, pelo prisma das reencarnações iterativas e sucessivas. Que olhasse para cima e veria, no seu plano, os grandes remidos da fé, em todos os tempos).
E. - Esses não vivem no bulício, buscam a solidão, porque, digo, não há peçonha mais virulenta do que o entrechoque das ambições humanas.
(O diretor adverte que o planeta Terra é cadinho de regeneração e que as paixões a que alude o manifestante podem considerar-se patrimônio humano de todos os tempos e que, em sentido mais amplo, também se poderá lobrigar uma elevação de nível coletivo).
E. - Sim, dizes bem, para compreender-se a vida, faz-se mister analisa-la nos dois planos em que se ela desdobra. O ser liberto, capacitado para executar, é uma coisa; outra, o ser encarcerado, sem as luzes do passado, que lhe esclareçam o presente e o futuro, qual cego em campo raso e largo, sem saber aonde se dirija.
Não ignoro essa condição; porém, falo como analista da humanidade, através de porfiados estudos e meditações, do que meus olhos cerrados veem e surpreendem nessas almas vis que pululam ai na Terra. Mas... Fiquemo-nos por aqui. As torpezas são de tal vulto, tanto é o fel que as criaturas derramaram em meu espírito, que ao recorda-las, o ódio - fogo terrível - como que tenta novamente empolgar-me e me desvairar. Paremos na análise.
(O diretor pede permissão para lembrar que todo sofrimento é qual bala que nos vem de ricochete e o manifestante, parecendo acalmado, pondera em tom breve):
E. - Sois felizes em crer na regeneração das almas e em que dessa crença desabroche a semente da fraternidade entre os homens, de que trata a lição que estudastes. Não serei eu quem venha dissuadir-vos de prosseguir nessa trilha, em que vos sinto satisfeitos, repousados. E, de vez que não o faço, também não sei o que aqui vim fazer.
Falaste de Paulo e eu pergunto: conheceis alguém que se lhe possa comparar nos dias que ora viveis? Ele foi soldado, e dos maiores, da milícia cristã, sim, mas hoje, meu amigo, é tudo desolação! As almas estão vazias, a crença foi asfixiada pelo egoísmo e pela maldade humana.
Contudo, aprendi alguma coisa e, segundo aqui me dizem, será este o ponto de partida para meu esclarecimento sobre o resto. É que o Espírito precisa vir ao teatro dos seus próprios crimes, a fim de compreender porque outras estâncias lhe são defesas. Processo interessante, na verdade, e vocês, como estudantes assíduos do Evangelho, talvez já o conheçam...
(O diretor concita-o a invocar o esclarecimento dos prepostos de Ismael).
E. - Sim, tudo pautado, marcado, tabelado em razão do próprio mérito. Daí a minha presença entre vós. Agradeço o vosso concurso e a esmola dos que até aqui me trouxeram, com a mão amiga e fraterna. Obrigado e até à vista.
*
Comunicação final sonambúlica
Grandeza das esmolas concedidas ao Grupo. - Estimulo ao esforço em prol da autoeducação dos seus membros. - As duas coisas necessárias para a prática do amor ao próximo. - O que sucede ao Espírito que se senta á margem do caminho. - Qual é esse caminho. - Antídoto ás sugestões pecaminosas. - Distinção entre o crime e a fraqueza.
Médium: J. CELANI
Paz, meus companheiros e amigos.
Mais de um motivo temos hoje, para render graças ao Criador e Pai, pelas esmolas que chovem, incessantes, sobre nós e vós.
Quem contempla o vosso mundo, quem lhe recolhe os anseios, quem lhe ouve os estertores, as súplicas, as blasfêmias, partidas em direção às potestades do infinito, é que pode avaliar quão grandes são as esmolas concedidas por aquele que nos tomou a seu serviço.
Rendei graças, companheiros e recebei-as como estímulo ao vosso esforço em prol da vossa autoeducação pelo estudo desses Evangelhos em espírito e verdade. Educai, acendrai o vosso sentimento e, feito isso tudo mais vos advirá de acréscimo consoante a palavra do manso rabi da Galileia.
Para amar o próximo, duas coisas se fazem necessárias: primeiro identificar-se com o Cristo; segundo sentir o sofrimento alheio. Coisas fáceis de realizar? Não, absolutamente. É, sim, obra de educação gradativa, de efeito comparável ao da gota de água sobre a pedra dura.
Espíritos há, que hoje se acham alcandorados aos mais altos cimos da escala evolutiva, após séculos e séculos de jornadas dolorosas, na colimação desse escopo. Mas, o Espírito que dormita, que se assenta à margem do caminho palmilhado pela caravana, esse não atingirá os cumes que aproximam do Mestre pela identidade do sentimento e, conseguintemente, do Pai, que o Mestre veio revelar a todos as criaturas.
O caminho é este que percorreis e que – digo-o – já foi mais ríspido, mais pontilhado de urzes e pedrouços, de vez que hoje as conquistas da inteligência e do coração sempre suavizam a caminhada. Se quiserdes transformar em sedosa alfombra a vossa rota, identificai-vos com o Mestre procurando atrair os seus legítimos servidores. Neles amparados, tereis o antídoto às sugestões pecaminosas e continuareis firmando a posição de estudante do Evangelho todo pureza, porque reflete a vida de N. S. Jesus Cristo.
Sabemos distinguir do crime a fraqueza. Se amparamos o fraco, deixando o criminoso entregue aos seus instintos.
Refleti, companheiros caros, tornemo-nos aptos de coração, para podemos deprecar à Mãe angélica o seu amparo. Roguemos-lhe, sim, que abençoe este colégio e fortaleça todos os seus alunos na compreensão e comprimento dos seus deveres.
Peçamos-lhe que nos inspire a sua humildade e renúncia, a fim de galgarmos os aclives do nosso calvário, qual ela o fez, rastreando o Divino Mestre.
Deus vos abençoe. Encerrei o trabalho, em nome e na paz do Senhor. – Richard.
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