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SESSÃO DE 7 DE AGOSTO DE 1940
Manifestação sonambúlica
Segunda do outro lugar-tenente de Miguel e do Padre Ascêncio.
Descreve a situação em que ficara após a sua primeira visita.
Médium: J. CELANI
Espírito. – Escuridão! Saí daqui em busca dos companheiros. Não os encontrei. Gritei, blasfemei. Nada! Trevas, opressão, sofrimentos! Em vez das vozes que me eram familiares, o clamor das vítimas a me perseguir e amaldiçoar. Aqui vim pensando que isto fosse um templo de oração, onde, ao que me disseram, encontraria o comandante da minha legião. Nada! Nem ele, nem altar, nem coisa alguma, a não ser a treva pavorosa que me envolve. Como sair disto?
Diretor. - Rogando a N. S. Jesus Cristo que se apiede de ti.
E. – Ouvir-me-á?
D. - Ele disse que nenhuma ovelha do seu rebanho se perderia. Tu pois, que também é ovelha do rebanho, não estás excluído. Se fizeres do teu coração um altar e ai depuseres como oferenda ao Filho de Deus o teu arrependimento sincero, suplicando-lhe perdão para os teus erros e delitos, terás galardão não menor do que muitos outros têm tido.
E. - Mas, como?
D. - Orando. Queres que oremos por ti? Queres orar conosco?
E. - Orei a vida inteira.
D. - Não importa. A questão não é apenas orar, é sentir a virtude da oração.
E. - Eu era o braço executor, a obediência passiva, o entusiasmo pela ideia! Tudo fazia, é certo, sem piedade, pensando que defendia um princípio e trabalhava para o bem. Escolhido para as execuções mais ferozes seguia, sem uma objeção, a cumprir fria e cegamente a ordem recebida. Daí, um rosário de crimes horrendos. Temo que, ao recuperar a visão, se me patenteiem aos olhos as cenas dantescas da minha obra. E tu me dizes que ore, que peça!
(O diretor lhe faz ver que a justiça divina é sempre misericordiosa; que, com o ser infinita misericórdia, nenhuma falta há irremissível. Pondera-lhe que o Divino Mestre, que somente obras de amor produzia, não pode prescindir do sacrifício, para glorificação plena do Pai que o enviara e que, portanto, não é ao réprobo que cabe esquivar-se ao sacrifício, quando neste é que está o penhor da sua redenção, o caminho por onde lhe será dado voltar ao aprisco. Lembrando haver ele dito que agia com entusiasmo e sinceridade, pondera-lhe que a fé não pode ser cega, tanto assim que o mesmo Jesus disse que pelo fruto é que se conhece a arvore. Acentua que se a isso houvesse atendido a visitante, não temeria agora o espetáculo das cenas dantescas em que foi protagonista. Mas acrescenta, aqui não estamos para admoestar, sim para te encorajar, para implorar contigo a misericórdia e o perdão do Pai celestial. Vamos faze-lo e podes ficar certo de que a misericórdia sobre ti descerá).
E. - Tens esperança de que assim aconteça? Ah! o confessionário! Lá está, muito ao longe, envolva na poeira dos séculos, uma velha ermida. Revejo-me nos primórdios da minha tarefa. A gente era simples, mas o sacerdote era uma alma de chacal, uma hiena faminta a farejar cadáveres para matar a sua fome de luxúria. Fui-me da terra à terra voltei. Cresci em dignidades sacerdotais; esmerei-me na podridão moral, desci ao abismo da miséria e da ignomínia.
Perdão! Será possível? Pede. Aceito. Sou um náufrago e o teu oferecimento é a tábua de salvação. Pede.
(E’ feita uma sentida súplica de perdão e luz à Virgem).
E. - Estupendo! Extraordinário! A maior vítima, aquela que mais temor infundia ao meu espírito é o anjo que me estende a mão, convidando-me ao novo sacerdócio da Verdade e do Amor!
Extraordinário! A vossa magia, o sortilégio, o encantamento, ou que outro nome tenha, me produziu, repentinamente, grande metamorfose! Ainda não tenho a visão, mas ouço. Agradeço-vos do imo da alma a esmola que me destes e vos imploro que não olvideis este pobre infeliz que, subjugado embora pelo reconhecimento de suas loucuras, ainda se conserva cético respeito à possibilidade da modificação do seu estado da alma.
Ela me envolve no seu carinho, porém algo ainda me falta, que não compreendo. Adeus, meus amigos. Até a vista.
*
Comunicação final, sonambúlica
A oração dos lábios e a do coração. – O que resta da falange dirigida pelo Espírito que se fora . – As legiões de Espíritos que rodeiam os trabalhadores de Ismael. – Onde a defesa deles. – A obra Espírita na Terra de Santa Cruz . – A imprestabilidade de grande parte dessa obra. – Qual a causa principal dessa imprestabilidade. – Como combater as falanges que a inutilizam. – Como educar os companheiros que cedem à ação de tais falanges. – O que é, na realidade, a obra espirita. – Mais Evangelho, mais Evangelho, mais Evangelho.
Médium: J. CELANI
Paz, Louvado seja o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Sortilégio! Diz ele. Orou com os lábios durante séculos; ensinou a orar às gerações infantis e aos adultos. Entretanto, não conheceu, nem conhece o valor da prece sentimento, da prece que nasce do coração amargurado e se evola em busca da entidade espiritual a quem é dirigida.
Sofredor, tomado de pavor das suas vitimas, vinha ele, há dois dias, torturando o médium. Hoje quis evitar, inconscientemente, que esta aqui comparecesse.
Agora, meus companheiros, vencestes mais uma batalha, como o auxílio dos vossos maiores e a permissão do Divino Mestre. Restam apenas soldados esparsos, mais apavorados do que desejosos de prosseguir na senda do mal.
Se eu vos disser que em torno de vós há verdadeiras legiões de Espíritos dessa envergadura; se vos disser que todo o afã desses Espíritos é derrubar a obra espirita, certamente não vos direi nenhuma novidade, porque bem o sabeis e sentis. A vossa defesa está na boa vontade, no esforço com que procurais colocar-vos em condições de desempenhar o vosso mandato na Casa de Ismael.
Conheceis a obra espirita na Terra de Santa Cruz; mas se houvesse, de fazer uma seleção, veríeis que uma grande percentagem dessa obra teria de ser condenada. Porque? Será que os filhos de Deus que tomaram a seu cargo propagar a Nova Revelação não estão á altura da tarefa? Ou deveremos levar o fato à conta da ação desses Espíritos, persistentes no preparo da confusão, na inspiração das discórdias, no espicaçamento do amor próprio de cada um, a fim de dificultarem ou impedirem que os espíritos se amem uns aos outros, conforme o quer o Cristo, para se qualificarem como seus discípulos?
De que modo combater essas falanges? Com o amor, com o amor de Jesus Cristo, que não possuis, mas cujos influxos experimentais, através da caridade dos vossos Guias.
Como educar os companheiros que cedem aquela ação? Repisando as lições do Evangelho de N. S. Jesus Cristo.
Meus companheiros, a obra espirita é obra de martírio, porque aquele que não se colocar em condições de bem servir não terá a inspiração do Espírito Santo.
Se, pois, verificardes que, apesar do progresso da doutrina em vosso país, ainda não existe a verdadeira obra espírita, deveis levar o fato à conta desses infelizes que, em toda parte, em todos os centros, todas as coletividades se intrometem, desenvolvendo sua ação com o objetivo de dificultar a ligação entre os assistentes e o trabalho dos médiuns.
Tenho recomendado cautela a este companheiro. Ele, porém, se aborrece. Se eles aqui não respeitam a santidade da hora, imaginai o que não farão por aí além.
Tudo isso está indicando: mais Evangelho, mais Evangelho, mais Evangelho. Eis o que vos cabe realizar. Não importa digam que isso é banal, é antiquado. Continuai batendo na mesma tecla, porque água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Agora, rogai à Virgem que nos abençoe a todos, que nos fortaleça e inspire, a fim de merecermos o amparo, a luz e as bênçãos de Deus e de Jesus.
Paz fique convosco. – Bittencourt.
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