terça-feira, 13 de setembro de 2011

'Os Arquivos Secretos do Espírito'



Os arquivos secretos
do Espírito
por Hermínio C. Miranda

in ‘Reformador’ (Ed FEB) Março 1970

            Segundo o historiador G. Glotz, especialista em assuntos gregos, a lenda precede a História. É que no fundo de todas as narrativas legendárias há sempre um conteúdo autêntico de fatos. Compete ao historiador separar a realidade da fantasia, a fim de não se perder na areia movediça da ficção. Na verdade, seria mais correto dizer-se que a História é que antecede a lenda, pois é do fato histórico que surge o mito bordado pela imaginação na tentativa de suprir as lacunas deixadas pelo desconhecimento dos pormenores. Parece legítimo, dessa maneira, concluir-se que atrás das lendas está sempre algum resíduo de realidade. Torna-se, no entanto, muito difícil, com o correr do tempo, apurar os fatos que deram origem às lendas. Nesse ponto, a mediunidade poderá ser de grande ajuda.

            Há várias formas de penetrar na escuridão do passado ignoto e levantar a poeira dos séculos através das faculdades maravilhosas do Espírito. Uma delas é a psicometria, mediunidade segundo a qual o sensitivo, posto em contato com objetos, pessoas ou lugares relacionados com acontecimentos passados, sintoniza-se de tal maneira com o clima psicológico em que esses acontecimentos ocorreram, que se torna capaz de descrevê-los com assombrosa precisão. Também se pode investigar o passado através das manifestações dos Espíritos desencarnados que participaram dos acontecimentos que se pretende examinar. Ou ainda, fazer regressão de memória em pessoas encarnadas, fazendo-as recuar, no tempo, às vidas em que testemunharam os fatos históricos que desejamos alcançar.

            Todas essas formas já foram experimentadas com resultados surpreendentes.

            Eleanor Touhey Smith, por exemplo, relata no seu livro “Psychic People” as experiências de Frederick Bligh Bond que, utilizando-se da mediunidade de um amigo, fez notáveis descobertas no antigo Convento de Glastonbury, construído ao tempo de Henrique VIII da Inglaterra. Suas experiências estão narradas no livro “The Gate of Remembrance”, publicado em 1918. Quando, porém, ele revelou seus métodos de trabalho, tanto a Igreja da Inglaterra quanto a Somerset Archaelogicial Society ficaram chocadas e cassaram a autorização que lhe haviam concedido para dirigir as escavações.

            Edgar Cayce, o extraordinário sensitivo americano, em estado de transe auto-induzido, fez extensos levantamentos acerca da Atlântica, o lendário continente referido, entre outros eminentes vultos da História, pelo grande Platão. Segundo Cayce, a civilização Atlanta desenvolveu-se num dilatado período que vai de 200 mil anos até 10.700 anos antes do Cristo, tendo alcançado elevadíssimo nível cultural e científico. Os atlantes conheceram e exploraram as faculdades extra-sensoriais do homem, dominaram inúmeros segredos da matéria, desenvolveram a eletricidade e a eletrônica, construíram navios e até aparelhos voadores. Conheciam processos eficientes de comunicação e descobriram estranhas propriedades num cristal que se supõe ter sido o que hoje se conhece como raio laser. Dizia ele ainda que foi o mau uso dessa poderosa fonte de energia que acarretou a destruição de Atlântida. Por esse tempo, ainda segundo Cayce, a civilização atlante se tornara extremamente corrupta, gozadora e desinteressada dos valores morais.

            Cayce predisse também que por volta de 1969-70 seriam localizados os primeiros vestígios da Atlântida numa pequena ilha, não muito distante da costa americana.

            Confrontando essas informações com o notável livro “O Enigma de Atlântica”, do Coronel Alexandre Braghine (Edição Pongeti, 1959), vemos que, em muitos pontos essenciais, as narrativas concordam. Braghine acha, no entanto, que a Atlântida desapareceu em consequência de um cataclismo cósmico e não de uma explosão gigantesca provocada pelo homem. Quanto às datas, também se aproximam: Cayce fixa a tragédia em 10.700 A. C. e Braghine, “há cerca de 11.000 anos, ou sejam, 9.000 anos antes da era cristã.”

            É curioso, no entanto, que o Cel. Braghine, ilustre oficial russo, naturalizado brasileiro, não acreditava que a mediunidade pudesse oferecer qualquer contribuição digna de nota à pesquisa histórica, muito embora a julgasse em condições de “proporcionar acesso a certos domínios que o uso dos nossos sentidos corporais nunca nos permitiria alcançar.”

            O erudito coronel morreu aqui mesmo no Rio, em 1942, e hoje, no mundo espiritual, deve saber que se enganou quanto ao valor e ao alcance da mediunidade bem orientada, como a de Edgar Cayce. O Espírito guarda possibilidades inexploradas e dimensões insuspeitadas nos seus arquivos secretos.

                                                                          (Ext. do “Diário de Notícias”, de 4/1/70)
                                  

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