Esclarecimentos
A morte, longe de ser a “cessação da vida”, desvela, em plenitude, realidades inimaginadas pelas mais argutas concepções humanas.
Paisagens exuberantes, multidões pulsantes e engenhos surpreendentes, movimento, som e cor, certamente que noutra dimensão vibratória, aguardam o viajante carnal após a jornada física, oferecendo-lhe mais completa visão e compreensão da realidade.
Invisível ao estado material, não implica inexistente, o que inspirou Anaxágoras[1] a formular o conceito: “Tudo o que vemos é a materialização do invisível”, deixando, em transparência, entender que o último é o real por ser preexistente...
Seria, então, melhor, o verbete desencarnar, adotado por Allan Kardec, no moderno Espiritualismo ou simplesmente, no Espiritismo.
Não se surpreendam os nossos leitores com a adoção, de nossa parte, em toda esta Obra, da terminologia espírita, que nos pareceu mais consentânea, mais própria para exteriorizarmos o nosso pensamento.
Ocorre que, não havendo morte e sim abandono da carne através do fenômeno da interrupção da vida orgânica, fomos convidados a um reexame de comportamento mental em torno da religião e da Vida em si mesma.
Não travamos conhecimento direto com as Obras espíritas, enquanto no corpo somático, já que retornamos, quando “O Livro dos Espíritos” estava sendo divulgado em França[2]. Todavia, após o despertar, recuperando os dons preciosos da visão e do discernimento, tomamos conhecimento da Nova Revelação que se espraiava na Terra, dando cumprimento à promessa de Jesus sobre o Consolador.
Quanto de emoção e júbilo inundaram-nos o ser, difícil é descrevê-lo!
Amante do Evangelho e cultor das páginas do Velho Testamento, abeberamo-nos das fontes inexauríveis das informações revolucionárias, permitindo embriagar-nos de esperanças e ações renovadoras com que nos pudéssemos incorporar à legião dos obreiros anônimos e infatigáveis, na tarefa da restauração da fé.
Sem abdicar dos conhecimentos com que a Igreja Romana nos norteara os passos, e à qual devemos os instantes mais felizes da vida física, adicionamos, aos informes que possuíamos, a luz esfuziante da razão, renovando os conceitos em torno da imortalidade e da comunicabilidade da alma, da justiça divina, do céu e do inferno, da eucaristia, do sacrifício da missa, como de outras colocações teológicas ora confrontadas com os fatos que, de visu, podíamos melhor e mais profundamente compreender. Isto não implica esquecimento da dívida de gratidão para com a Fé que nos dulcificou a alma, guiando-a para o Bem, embora as prerrogativas que se atribuíam à Religião e das quais buscamos, quanto pudemos, ser um ardoroso defensor e divulgador afervorado.
Abordando temas sob angulação mais feliz do que antes fizéramos, muitos críticos sinceros irão tentar fazer paralelos de estilo procurando o orador do passado, cuja vaidade intelectual desapareceu com as cinzas do corpo...
Abandonados os períodos frequentes e as constantes citações em Latim, buscando a fraseologia simples, sem qualquer presunção sacra, Espírito que se descobre a si mesmo, iniciando experiências dantes não vividas, objetivamos alertar e, se possível, instruir pessoas desatentas ou ignorantes dos problemas espirituais.
Outros críticos, os que se comprazem em acionar os camartelos da destruição, sempre armados para a agressão ácida e a censura perniciosa,
encontrarão bons argumentos para os seus tentames e atuações, não fugindo, eles mesmos, que se acreditam “donos da verdade” à sua “hora da verdade”, já que a morte a ninguém poupa. De surpresa em surpresa, mudarão de comportamento e verificarão quanto foram vãs e inglórias as empresas negativas a que se entregaram.
A indigestão pela cultura, que se não diluiu prodigamente em atos de beneficência e amor, de libertação de consciências e fraternidade, é tão propiciadora de desditas quanto a falta das letras e do humano saber.
O Espírito são os seus valiosos empreendimentos de amor e solidariedade fraternal, com cujo patrimônio ganha altura e paz.
Estas páginas foram elaboradas ao largo de quase três anos, quanto nos permitiram os labores imediatos cá abraçados.
Não trazem qualquer vislumbre de presunção literária nem de exibição de talentos.
Destituídas de novidades reais, são contributos que se adicionam aos valiosos esforços dos nobres Benfeitores Espirituais encarregados de clarificar e conduzir o homem moderno ao fanal imortalista.
São florilégios espirituais da alma renovada pela fé racional, abrasadora, que impulsiona para a frente e liberta de qualquer coação ou algema.
Esperamos que possam despertar alguém hibernado na indiferença ou sensibilizar alguma alma interessada em seguir o rio da vida que ruma na direção do delta da plenitude espiritual.
Dar-nos-emos por felizes, se lograrmos ser lido e meditado.
Rogamos ao Dispensador de Bênçãos que a todos nos inspire e ampare, nas elevadas tentativas de crescer e evolver dos rumos da perfeição.
Francisco do Monte Alverne (espírito)
por Divaldo Franco
in ‘Florilégios Espirituais’, 3ª Ed Alvorada (1983)
[1] Da Wikipedia: Discípulo de Péricles. Filósofo grego do período pré-socrático.
[2] Frei Francisco do Monte Alverne desencarnou cego no dia 2 de dezembro de 1857. (Nota da Editora).
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