Eutanásia
A Redação
Reformador (FEB), pág. 130 - Maio 1994
Que dizer de alguém que obriga uma pessoa a empreender, sem qualquer aviso ou concordância, uma viagem imprevisível, rumo ao desconhecido, sem o preparo indispensável para tanto?
E a morte corporal, não será a maior e a mais importante das viagens que o Espírito encarnado é forçado a empreender, e para a qual deve preparar-se com o máximo cuidado?
Nas longas viagens pela crosta planetária, o excursionista prevenido mune-se da bagagem necessária, para enfrentar tão bem quanto possível as exigências e os imprevistos da jornada, de modo a evitar ou minimizar possíveis contratempos.
Na viagem desencarnatória, de regresso aos planos invisíveis, o Espírito não pode levar consigo bens materiais, alimentos, roupagens, recursos financeiros, privilégios, titulações ou serviçais... Deve devolver ao mundo material, imediatamente e por completo, tudo o que é próprio dele, a começar pelo seu próprio corpo físico e a terminar por todos os seus pretensos direitos sociais, familiares ou sentimentais.
A única bagagem que o Espírito levará obrigatoriamente para essa magna viagem é a dos seus conhecimentos e sentimentos verdadeiros, acrescidos das vibrações de simpatia, amor e gratidão dos seus afeiçoados, ou das terríveis emissões de ódio dos desafetos que teve a desventura de semear.
Cada dia e cada minuto de vida, antes do hausto final, são preciosíssimos para o Espírito prestes a abandonar a roupagem material, no rumo do Infinito, porque é exatamente nas vascas da agonia corporal, quando se afrouxam os laços físicos que prendem a alma e o enfermo pressente a aproximação do grande desenlace, que a visão da realidade espiritual se aclara como nunca, propiciando condições inusitadas de reajustamento moral, na preparação do desprendimento inevitável.
Mesmo o coma físico, que atinge o cérebro carnal, não significa inconsciência da mente espiritual, que, ao contrário disso, na maioria dos casos, desfruta, nessa oportunidade, de alto grau de lucidez, capacitando o Espírito, geralmente assistido por amigos invisíveis, para importantes reajustamentos emocionais na hora próxima.
Agredir violentamente alguém neste instante supremo, decretando-lhe a morte antecipada, não passa, portanto, de cruel assassinato, das mais funestas conseqüências, porque, sob a falsa aparência de misericórdia, não somente subtrai ao desencarnante preciosos ensejos de mais tranqüilo traspasse, como, além disso, desorganiza-lhe as estruturas perispirituais, mergulhando-o num choque de perturbação indesejável.
A chamada “morte piedosa” não é, portanto, nada piedosa. É sobretudo um crime.
Eutanásia
Weimar Muniz de Oliveira
Reformador (FEB), pág. 296 - Outubro 1994
A vida, que subsiste e se perpetua para sempre, é lei natural e irrevogável em todo o Universo.
Deus, o Pai, criou-nos com vida e para a vida abundante e sempiterna. Poderia nos ter criados perfeitos, mas por motivos imperscrutáveis, criou-nos perfectíveis.
Para que pudéssemos atingir a perfeição, por nosso próprio trabalho, esforço e merecimento, ordenou que fôssemos colocados em mundos físicos adversos à indolência e à apatia intelectual, garantindo-nos a movimentação para a frente e para o alto.
Esses mundos físicos - todos transitórios, porque constituídos de energia concentrada, que poderá dispersar-se com o perpassar dos milênios -, oferecem-nos os meios indispensáveis ao exercício das nossas faculdades intelectuais e morais.
Tais mundos, de escala variada, representam pousadas dos Espíritos em evolução planetária, onde são submetidos às experiências de toda sorte, até que atinjam o grau de aperfeiçoamento que os habilite a ficar definitivamente domiciliados nas esferas espirituais, seu habitat natural.
Nos mundos de provas e expiações, como o nosso, as adversidades de toda monta são uma constante, representando a medicação indispensável às almas impuras e inexperientes.
Toda essa gama de miséria humana faz parte do Plano Divino, tendo em vista o burilamento das almas.
Entre as misérias que assolam a humanidade espiritualmente necessitada da Terra estão as insidiosas moléstias, do corpo e do espírito, que prendem no leito de dor e de sofrimento inúmeras criaturas.
Dois são os fatores essenciais que levam as almas ao sofrimento dessa natureza: primeiro, a necessidade de crescimento intelecto-moral-espiritual, tal como, por exemplo, a conquista da fé; segundo, a necessidade de quitação das dívidas pretéritas, através de persistente expiação.
No que toca à fé, sabe-se que ela representa o acervo da conquista de maior ou menor experiência, através das eras, transmudando-se em sensibilidade no ser.
Não é temerário afirmar-se, pois, que pelo nível de fé ou de religiosidade de alguém, torna-se possível medir-se-lhe o grau de longevidade e de experiência.
Isso se pode afirmar, porque o verdadeiro sentimento de religião ou de fé no Supremo Poder não se acha divorciado da Ciência (strictu sensu) e a Filosofia, compreendendo que a Religião, a Ciência e a Filosofia acham-se entrelaçadas, irremediavelmente, e apenas se desassociam por necessidade didática.
*
Feita essa necessária digressão, torna-se mais fácil entender que os humanos que ainda insistem na aplicação da Eutanásia fazem-no mais por ignorância das leis da vida do que propriamente por maldade.
E esse fato humano, de todas as épocas , levou o Grande Mestre galileu a dizer a Pedro, num certo diálogo:
“O homem do mundo, Pedro, é mais frágil do que perverso”
É justamente porque ignora o que há de fundamental quanto ao ser e à vida, que assim procede.
Disso resulta a grande e premente necessidade da divulgação das verdades espiritualistas, precipuamente das verdades espíritas embasadas nas experiências científicas e nos pressupostos filosóficos.
Tendo em conta o destino, ou o determinismo, da alma humana, ignoram, ou fingem ignorar que, nos últimos momentos de dor e de agonia, o Espírito, prestes a libertar-se, redime-se, às vezes, de inúmeros débitos passados e assume resoluções para o porvir de inapreciável importância para sua vida imortal.
Sobre o assunto, leia-se em “Chico de Francisco” (Adelino da Silveira, 1ª Edição, Editora Cultural União, 1987, pág. 33), o seguinte fato:
“Um grupo de pessoas acompanhava o Chico numa de suas visitas a uma senhora que trazia o corpo coberto de chagas. O quadro era tão chocante que um dos médicos que o acompanhava lhe perguntou:
- Chico, a eutanásia não seria uma bênção para ela?
Emmanuel, sempre presente, diz ao Chico:
- “Diga ao nosso irmão que esta nossa irmã nunca esteve tão bem. Nas três últimas encarnações ela se matou, e nesta, apesar de todo o seu sofrimento, não pensou uma vez sequer em suicídio.”
Considerando que a vida no corpo só se justifica para o Espírito se se levar em conta a necessidade que tem de evoluir, até ao ponto de não mais esta sujeito à esteira extensa das reencarnações, é de boa oportunidade transcrever-se também o caso em frente, narrado no mesmo livro de Adelino (págs. 54/55)
Ei-lo: “Chico visitou durante muitos anos um jovem que tinha o corpo totalmente deformado e que morava num barraco à beira de uma mata. O estado de alienado mental era completo. A mãe deste jovem era também muito doente e o Chico a ajudava a banhá-lo, alimentá-lo e a fazer a limpeza do pequeno cômodo em que moravam.
O quadro era tão estarrecedor que, numa de suas visitas em que um grupo de pessoas o acompanhava, um médico perguntou ao Chico:
- Nem mesmo neste caso a eutanásia seria perdoável?
- Não creio, doutor, respondeu-lhe o Chico. Este nosso irmão, em sua última encarnação, tinha muito poder. Perseguiu, prejudicou e com torturas desumanas tirou a vida de muitas pessoas. Algumas o perdoaram, outras não e o perseguiam durante a toda a sua vida. Aguardaram o seu desencarne (sic) e, assim que ele deixou o corpo, eles o agarraram e o torturaram de todas as maneiras durante muito anos. Este corpo disforme e mutilado representa uma bênção para ele. Foi o único jeito que a Providência Divina encontrou para escondê-lo de seus inimigos. Quanto mais tempo agüentar, melhor será. Com o passar dos anos, muitos de seus inimigos o terão perdoado. Outros terão reencarnado. Aplicar a eutanásia seria devolvê-lo para que continuassem a torturá-lo.
- E como resgatará ele seus crimes? - Inquiriu o médico.
- O Irmão X costuma dizer que Deus usa o tempo e não a violência.”
*
Somente a Deus, doador da vida, assiste o direito de tirá-la. Trata-se de direito indelegável.
À pergunta 106, de “O Consolador”, (pág. 70, 16ª edição - FEB), que indaga se a eutanásia poderá constituir-se num bem nos casos de moléstia incurável, Emmanuel, o autor da obra, responde:
- “O homem não tem o direito de praticar a eutanásia, em caso algum, ainda que a mesma seja a demonstração aparente de medida benfazeja.
A agonia prolongada pode ter finalidade preciosa para a alma e a moléstia incurável pode ser um bem, como a única válvula de escape das imperfeições do Espírito em marcha para a sublime aquisição de seus patrimônios da vida imortal. Além do mais, os desígnios divinos são insondáveis e a ciência precária dos homens não pode decidir nos problemas transcendentes das necessidades do Espírito”.
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A desesperança e a descrença pregam, muitas vezes, as suas peças. Paga-se muito caro, às vezes, pela falta de confiança e fé numa força superior.
É o que aconteceu com famoso médico francês, conforme está narrado no livro “Da Eutanásia” (Livraria Três Poderes, 1991, págs. 40/41), de autoria do Desembargador Pedro Soares Correia, meu colega e amigo:
Eis o fato:
“Adoece, de uma feita, a vários quilômetros de Paris, formosa criança. Seu pai, médico, desvela-se em cuidados. Era, porém, temerosa a moléstia, difteria. Ascendiam os óbitos naquela época, da terrível doença, à cifra espantosa de 99%. O pai valeu-se de tudo que possível para salvar a filha. Vieram os fenômenos asfíxidos. A cianose da face era, então, o sinal precursor da morte! Consultara, em desespero de causa, os colegas de Paris. Nenhuma resposta. Doía-lhe, ao infinito, o espetáculo da ansiedade sem cura da pobrezinha. Pensa, nesse instante, em abreviar o desfecho. Injeção de ópio muito forte que aliviasse tudo... Pensou e fez! Não falhou o tóxico. Vê, cedo, a serenidade definitiva...
Depois, o enterro, a volta do cemitério, o pranto, a saudade imensa e a sensação de um cruel dever cumprido... É quando, de súbito, lhe anunciaram um telegrama que dizia:
“Roux acaba de descobrir o soro antidiftérico, aplicando-o com êxito. Aguarde remessa...”
O exemplo é de uma realidade flagrante...
Bibliografia
1. Kardec, Allan - “O Livro dos Espíritos” 74ª Ed. FEB - 1994.
2. Kardec, Allan - “O Evangelho segundo o Espiritismo” 108ª Ed. FEB -1994
3. “Chico de Francisco” (ob. cit.)
4. “Da Eutanásia”(ob. cit.)
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