sábado, 23 de julho de 2011

O Batismo de Jesus

O Batismo de Jesus

3,13   Da Galiléia foi Jesus ao Jordão ter com João Batista, a fim de ser batizado por ele. 3,14 João recusava-se : Eu devo ser batizado  por Ti e Tu vens a mim! 3,15 Mas Jesus lhe respondeu: “- Deixa por enquanto, pois convém cumprirmos a justiça completa.” Então, João cedeu. 3,16 Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre Ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus.3,17 E, do céu, baixou uma voz: “- Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição.”

            Para Mt (3,13-17) - Batismo de Jesus , temos a palavra de Antônio Luiz Sayão em  “Elucidações Evangélicas”:

            “O batismo em Espírito Santo, ou seja a assistência dos Espíritos do Senhor compreendidos nessa denominação, as criaturas humanas o recebem mediunicamente, pela intuição e pela inspiração, quando não de maneira ostensiva, pelas comunicações do Além. Concede-a o Cristo, enviado de Deus e seu preposto ao governo do mundo terreno, aos homens de boa vontade, a fim de que sejam sustentados em suas provas, guiados nas suas missões e ajudados na obra de purificação de seus Espíritos e na de seu progresso pela senda do aperfeiçoamento moral e intelectual.
            Esse batismo Ele o administrou, clara e exemplificadamente, fazendo que descessem até seus discípulos aqueles Espíritos, que os iam amparar e auxiliar no desempenho da missão de que se achavam incumbidos, e que se manifestassem sob a aparência de línguas de fogo, formadas pela luminosidade dos seus perispíritos. Essa também é uma das razões por que o batismo em Espírito Santo é dado o nome de “batismo de fogo”. É que por ele desce sobre a criatura o fogo da inspiração divina, a abrasá-la dos sentimentos puros e elevados, que geram os heroísmos da fé.
            Hoje, como sempre, esse batismo, ou influência, podemos obtê-lo todos, pelo trabalho, pelo amor, pela humildade e, sobretudo, pela caridade, e a temos, constante, animadora e eficaz, fazendo-se mister unicamente, para que aproveitemos de todos os seus inestimáveis benefícios, que dela tenhamos consciência, que a prezemos e guardemos como preciosíssimo tesouro, de que nos podemos valer em todas as circunstâncias da vida. Temo-la, com efeito, continuamente, porque temos de contínuo, a velarem por nós, os nossos Anjos de Guarda, Espíritos elevados, caridosos, santos, que tomaram a si o encargo de nos proteger e conduzir pela estrada do progresso, com o que também eles avançam nessa mesma estrada.
            Jesus não tinha necessidade de ser batizado por João. A prova encontramo-la na circunstância de que recebeu um batismo, que era de penitência, que, por isso, exigia prévia confissão pública de pecados, sem ter confessado culpa alguma, sem de nenhum pecado se haver penitenciado. Quer isso dizer, evidentemente, que Ele era puro e perfeito, porquanto só os que alcançam a perfeição na pureza se acham livres de ter a mais leve culpa, a mais ligeira falta de que se acusar em consciência. E essa circunstância, por si só, indica e demonstra que Ele não podia estar encarnado, ser um homem como os demais, porquanto, conforme se lê em O Livro dos Espíritos, aqueles, dentre estes, que compõem  a primeira classe, classe única, da primeira ordem, na escala espírita, já percorreram todos os graus do aperfeiçoamento e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo alcançado a soma de perfeição de que é suscetível a criatura, não tem mais que sofrer provas, nem expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna, no seio de Deus.
            Trazia ele, portanto, um corpo celeste, que não precisava ser lavado, como os nossos corpos de lodo, por motivo algum e ainda menos como expressão material da necessidade de purificação espiritual.
            Jesus, conseguintemente, e só Jesus, segundo proclamou João que Ele o faria, estava capacitado para administrar o batismo em Espírito Santo e em fogo e para investir a outros de o ministrarem, como investiu os apóstolos que, depois de terem recebido esse batismo, foram incumbidos de pregar e  exemplificar a moral que Ele trouxera ao mundo e de o conferirem a quantos, escutando-lhes as palavras, praticassem a lei do amor e, a seu turno, a propagassem pela palavra e pelo exemplo. 
            Segue-se, então, que apenas para dar um exemplo, para confirmar a missão de que o Precursor se achava encarregado, e ainda para receber pública e ostensivamente a confirmação da sua, foi que Jesus se fez batizar por João. Essa confirmação Ele a teve, de fato, mediante aquelas palavras que se ouviram, vindas do alto, e que continham, em seu sentido profundo, a afirmação de que à Terra descera o Espírito excelso, cujo advento os profetas anunciaram, e mediante o aparecimento de uma pomba a lhe pairar sobre a cabeça.
            Foi esta uma manifestação espírita, que se produziu pela faculdade  que tem o Espírito de dar ao próprio perispírito as formas e aparências que queira. Um dos que secundavam a Jesus no desempenho de sua missão, tomou, obedecendo aos desígnios de Deus, a forma de uma pomba que, considerada pelos antigos como emblema de pureza, veio atestar, naquele momento, a do Messias prometido.
            Segundo a narração evangélica, aconteceu que, batizado Jesus, quando estava em oração (Lc, V.22), o céu se abriu e uma voz ressoou no espaço, dizendo: Este é o meu Filho bem-amado, em quem hei posto toda a minha complacência. Disse essas palavras um dos Espíritos Superiores, órgãos das inspirações divinas e executores das vontades de Deus.
             E as disse quando Jesus orava, para demonstrar aos homens que a prece de coração atrai as bênçãos do Senhor e os testemunhos do seu amor infinito; que determina, por intermédio dos Espíritos protetores, a influência divina; e também como sanção expressa da legítima autoridade de Jesus, da sua identidade na condição de enviado direto de Deus.”

            Ainda sobre o tema do Batismo leiamos a José Monteiro Lima como publicado no Reformador de Novembro 1946:

            Moisés, o célebre legislador hebreu, no intuito de orientar o seu povo aos mais rudimentares preceitos de higiene, estabeleceu, além das leis de natureza político-religiosas, uma série de medidas que visavam defender a saúde daquele povo ainda inculto e agreste. Com efeito, o Velho Testamento recomenda lavar as mãos, os copos, os pratos, as camas, a roupa, etc., enfim, uma série de medidas de feição religiosa, cuja finalidade era formar certos hábitos indispensáveis à saúde do povo. Ora, o batismo judaico era, em última análise, uma dessas medidas de higiene e, nesse ponto, ninguém tem maior autoridade para dizê-lo do que Flávio Josefo, célebre historiador judeu do 1º Século. Profundo conhecedor das seitas religiosas do seu povo, diz, referindo-se a João, ‘chamado o Batista’, que ‘a imersão na água (o batismo), agradável a Deus, era feita, não para a remissão dos pecados, mas para purificar o corpo, desde que a alma tivesse sido purificada por uma via justa.” (Antiguidades XVIII, 5,2).
            A lavagem das roupas era também considerada um dos meios de santificação, mesmo antes da revelação do Sinai (Êxodo, 19:10) e os rabis ligavam a isso o dever de banhar-se por imersão completa (Lev., 15:5; Num 19:7, etc.)
            Lendo os preceitos religiosos de outros povos antigos, chega-se à conclusão de que o batismo não começou com o Batista nem o batismo teve origem propriamente no povo judeu. Na antiga Babilônia, na Índia, na China, etc, o batismo, no adulto ou na criança, de modo geral, se assemelhava ao batismo judaico-cristão. Mesmo entre os antigos pagãos, astecas, incas, etc o batismo era praticado muito antes da influência do Cristianismo. Entre os pagãos, de onde provavelmente se originou o batismo que hoje se faz nas Igrejas, a cerimônia, em geral, tinha lugar logo após o nascimento, ocasião em que o recém-nascido recebia o nome, sendo então colocado sob a proteção dos deuses.
            De acordo com os ensinos rabínicos, o batismo era praticado no antigo Judaísmo como meio de penitência, a fim de poderem pronunciar, em perfeita pureza, o nome de Deus nas orações. Os essênios, sem dúvida  por isso, costumavam batizar-se, isto é, banhar-se todos os dias pela manhã  (The Jewish Encyclopedia, Isidore Singer, 2º Vol. pág. 500).
            O batismo de João era, pois, um velho preceito de caráter religioso, que lembrava a idéia de purificação, cuja finalidade era evitar a propagação de doenças, sobretudo da lepra, comum entre os judeus daquela época. Jesus, mesmo, reconhecera a sua necessidade, tanto que, embora ele próprio não batizasse, os seus discípulos batizavam ainda mais que João (João 4;20). O próprio Batista via na tradição do batismo da água uma medida indispensável à saúde daquele povo que vivia em promiscuidade num país quente, seco e poeirento. Jesus mesmo, para não escandalizar, pede ao Batista para ser batizado, dizendo: “Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda justiça(Mt 3;15). É claro que Jesus não tinha nenhum ‘pecado original’.
            Para Jesus, o batismo tinha significação espiritual. Quando dois dos seus discípulos se aproximaram dele e pediram que, no seu reino, lhes permitisse assentar-se um à sua direita e o outro à sua esquerda, Jesus respondeu: “Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o cálice que eu bebo e ser batizado com o batismo com que sou batizado?” Eles responderam: “Podemos”. Mas Jesus, como se já esperasse essa resposta, disse: “Em verdade, vós bebereis o cálice que eu beber, e sereis batizados com o batismo com que sou batizado; mas assentar-se à minha direita ou à minha esquerda, não me pertence a mim conceder, senão àqueles para quem está preparado.” (Mc 10:35-40) Compreende-se, pois, que Jesus aí não se refere ao batismo da água, mas às dificuldades e às lutas que teria de enfrentar. O cálice e o batismo simbolizam a vitória do seu Espírito diante das dificuldades terrenas. Não tem outra significação as suas palavras: “quem quer e for batizado será salvo”, isto é, quem vencer o mundo como ele venceu, alcançará a paz. A história do batismo da água para ‘lavar o pecado original’ é pura invenção da Idade Média.

                                   
        



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