sábado, 4 de junho de 2011

'O Fim do Mundo'


O Fim do Mundo

por Indalício Mendes
em Reformador (FEB) Março 1962

            Se há obra que realmente mereça estar ao lado daquelas que Allan Kardec codificou, justamente pelo caráter complementar que possui, é a de J. B. Roustaing, denominada  ‘Os Quatro Evangelhos”. Ninguém pode, sem exagero, nem injustiça, depreciar-lhe o valor científico-doutrinário.

            Nota-se, porém, que o estudo dessa obra monumental se restringe a um número relativamente pequeno de pessoas mais esclarecidas e mais desejosas de alargar conhecimentos. Quanta coisa bela e útil ela contém!

            Agora mesmo se fala no fim do mundo. De quando em quando, aparecem pretensos profetas, anunciando a aniquilação da Terra. Ora, os Evangelistas dizem o seguinte, segundo Roustaing:

            O fim do mundo, predito por Jesus e que, na parábola, corresponde ao tempo da ceifa, não é o que as interpretações humanas figuraram. Não se trata de um fenômeno repentino, como o imaginaram erroneamente quantos acreditaram que, de um instante para outro, o universo inteiro seria transformado, renovado.
O fim do mundo vem sendo preparado desde há muito e pouco a pouco se vai operando. Avançais para a época em que, pela influência da vossa presença, os Espíritos inferiores que encarnam na Terra serão repelidos e fugirão para meios que melhor lhes quadrem. Os Espíritos inferiores, como sabeis, temem a presença dos Espíritos elevados. Não é natural que o homem devasso e vil se sinta embaraçado e pouco á vontade numa reunião de pessoas de escol, das mais instruídas e virtuosas? e não é natural também que volte, assim lhe seja permitido, para o meio de seus iguais?  É o que se dará com os Espíritos inferiores, quando chegar o fim do mundo, isto é, quando, por se haverem as vossas naturezas elevado e mudado de ordem, subido na hierarquia espírita, tudo mudará entorno de vós. O joio terá sido, então, lançado ao fogo da purificação e o bom grão refulgirá aos olhos do pai de família.”

Esse trecho é de extraordinária clareza e mostra que o fim do mundo não se dará segundo a impressão popular ou o noticiário mais ou menos sensacionalista dos jornais. Ele já começou e vai, progressivamente, se dirigindo para o ponto culminante  da evolução moral da Humanidade.

Basta remontar á História para se verificar o que aconteceu a outras ‘civilizações’, como, entre muitas outras, a chinesa, a grega e a romana. Grande progresso, principalmente material, excesso de abusos, na vida social, na vida política, na vida de relação, desmandos, depravações, vícios, violências, etc., e, finalmente, o reinício da queda, quando se encerrou cada ciclo dessas ‘civilizações’. É o que está sucedendo agora. Nunca se viu tanto desamor às  virtudes, tantos crimes horrorosos, principalmente sexuais, tão grande número de demonstrações públicas e nas casas de espetáculos. Aqui e no estrangeiro, o homem vive em constante inquietação, ávido de prazeres impuros, sempre perseguido pelo pior dos fantasmas que é o medo. A Humanidade tem medo e para afugentá-lo entrega-se a desregramentos de toda sorte. Até mesmo a música revela esse estado anormal do espírito humano. Vejam-se os “rock´ n’ roll” , “twist”, etc. Parece que a Humanidade enfrenta um período de loucura coletiva, de cujas consequências terá muito que deplorar.

Achamo-nos talvez no fim do primeiro dos três períodos que constituem o fim do mundo mencionado na supradita obra de Roustaing. Afirmam os Evangelistas:

“O fim do mundo, compreendido como sendo a época da colheita, se apresenta dividido em três períodos distintos:. o primeiro é o em que aos Espíritos inferiores foi e será permitido encarnar na Terra para, por sucessivas expiações e reencarnações, se purificarem, passarem de ‘filhos da iniquidade’ que era, a ‘filhos do reino’.

O segundo é o em que o joio começará a ser separado do trigo, o em que os Espíritos que se mantiverem culpados, rebeldes, voluntariamente cegos, serão afastados do vosso planeta e deportados para planetas inferiores.

O terceiro e o em que, concluída a separação do joio e do trigo, estará acabado o afastamento dos Espíritos inferiores; é portanto, o em que a Terra se terá tornado morada da paz e de felicidade, de bons espíritos já aptos a entrar na fase espírita, o que se efetuará conforme acabamos de explicar, a  a avançar, sob a influência dos Espíritos do Senhor e de Espírito encarnados em missão, na via do progresso, pela ciência, pela caridade e pelo amor.”

O capítulo é grande e interessantíssimo mas os trechos que reproduzimos já nos dão uma ideia acerca de como se deve interpretar o fim do mundo, frequentemente anunciado. Desta vez o alarme veio da Índia, onde os homens sagrados predisseram a catástrofe para o período de 3 a 5 de fevereiro, ‘ quando oito planetas se conjugariam apara destruir o nosso’.  Felizmente, os sacerdotes executaram os sacrifícios rituais denominados ‘yangas’ para aplacar os planetas ‘inimigos’, sacrifícios que consistem em queimar grandes quantidades de arroz e manteiga’... Por isso, todos escapamos de levar a breca...

Cuide cada qual de reformar sua maneira de pensar e proceder, se estiver trilhando maus caminhos.  Nada acontece por acaso e ninguém escapará às consequências das más semeaduras que fizer na vida. A oportunidade é magnífica e nunca é tarde para uma retificação de rumos, pra uma regeneração sincera. O Espiritismo está aí, de portas abertas, pronto para ajudar aqueles que desejarem lutar contra os hábitos inferiores que se achem escravizados.

O mundo está acabando dia a dia para aqueles que, divorciados do bem, persistem no erro e insistem na prática de ações prejudiciais a seus semelhantes. Ninguém será realmente feliz dessa maneira. Os prazeres que o mal proporciona são ilusórios e traidores, porque ele sempre cobra juros elevados pelo que dá. Quanto ao bem, este proporciona a serenidade e a confiança, a paz de espírito e a solidariedade das forças do Alto.

Ser bom é mais fácil do que ser mau, quando o Espírito ainda não se encontra irremediavelmente corrompido. As dores e as aflições que assediam os Espíritos inferiores mostram com espantosa eloquência o destino triste dos maus, sempre envoltos nas trevas e no desassossego.



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