quarta-feira, 15 de junho de 2011

'A Nova Aliança'



A Nova Aliança

por Vinícius
Reformador  (FEB) Outubro 1942
           
“Após a ceia, tomou Jesus, do mesmo modo, o cálice, dizendo: 
Este cálice é a  nova aliança em meu sangue, que é derramado por vós.”

            A expressão - Nova Aliança - faz ver que houve, em tempo, uma outra aliança, que, destarte, fica sendo a velha.  Entre esta e aquela medeia um abismo de distância evolutiva. A primeira reporta-se ao pacto moisaico, firmado com o povo judeu, encerrando o conceito humano de Jeová. Seu escopo era sobrepor o monoteísmo ao politeísmo. Para lograr tal objetivo, justificava-se a violência, cerceando a liberdade em todos os setores, ditando regras e preceitos acompanhados de ameaças e severos castigos aos infratores. Tudo se impunha pela força e pelo terror. Jeová era cioso dos seus direitos, lavrando sentenças em voz tonitruante, através de labaredas que lambiam as sarças do Sinai. Lutas cruentas e guerras de extermínio se sucediam, ensopando o solo de sangue. O ferro e o fogo vingavam a rebeldia da gentilidade idólatra. A fé não granjeava corações, impunha-se, reduzindo a ruínas e escombros as cidades e os povos recalcitrantes.
            A Nova Aliança encerra ideal e programa diametralmente opostos. Fundada no amor, a ninguém constrange, por isso que não pretende impor dogmas nem princípios rígidos, mas revelar à humanidade as leis divinas, portanto naturais, que regem os seus destinos. É um pacto social, de caráter universal. Apresenta Deus, não mais como potência vingadora que destroi e aniquila, fomentando lutas cruentas, mas como Poder que edifica, orienta e conduz. O Onipotente não é mais cabo de guerra, ou marechal de campo, porém, o Pai que recebe em seus braços, com bondade e doçura, os filhos transviados. O intérprete de sua vontade não é a casta sacerdotal fanática e vaidosa, eivada de pruridos particularistas: é o seu Cristo bem amado. A Ele delegou poderes de firmar com os homens de todas as raças, nações e povos, a Nova Aliança, não mais provocando a efusão de sangue alheio, mas dando o seu próprio, como penhor de renúncia e sacrifício, a prol daqueles que, mergulhados nas trevas da ignorância e do pecado, necessitam de luz e de redenção.
            Abolida, por isso, foi a violência e o emprego de todos os processos terroristas e liberticidas na implantação da Fé oriunda da Nova Aliança. Enquanto a Velha açulava os ânimos, originando lutas fratricidas, a Nova desperta os sentimentos altruístas, gerando apóstolos capazes de sacrificarem a própria vida pela causa da verdade que ilumina e da justiça que reabilita e santifica. Onde sopra o espírito da Nova Aliança, aí há liberdade, contrastando com os da Velha cujo fumo asfixiante sufocava os corações, obinubilando o entendimento.     Segundo a Nova Aliança, Deus é o Pai comum, e os homens são todos irmãos, portanto, iguais perante a soberana justiça, sujeitos aos mesmos deveres e participantes dos mesmos direitos. Só o caráter e a virtude assinalarão o grau evolutivo que distingue os homens entre si. Nenhum dispositivo, título, marca ou rubrica vigorará entre eles. Uma só distinção revelará os que se acham sob o pálio da Nova Aliança; o amor recíproco, expresso no desejo de servir, na disposição de renunciar, sempre que da renúncia própria resulte um bem para outrem.
            A Velha Aliança, explorando o egoísmo humano, promete recompensas aos fiéis passivos, e cruéis penalidades aos rebeldes e relapsos. A Nova, apela para a centelha divina que bruxuleia nas profundezas da alma humana, despertando-lhe as faculdades latentes para as nobres conquistas do Bem e do Belo. Proclama e demonstra os proventos recíprocos que decorrem da solidariedade, como processo natural e prático de vencer os óbices do carreiro que todos têm de percorrer na consumação do destino comum. Tal é, em ligeira síntese, a Nova Aliança, selada com o sangue do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.


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