quinta-feira, 2 de junho de 2011

Mãezinha, estou bem...



Mãezinha, estou bem!

com base no livro: ‘Somos Seis’ (Ed. GEEM-1976)
psicografia de Chico Xavier

           
Querida mãezinha, meu querido......... 
Primeiro a bênção que rogo a Deus em nosso auxílio 
e a bênção que rogo à querida mamãe para que as forças não me faltem,
agora que tomo o lápis com o auxílio de meu avô para escrever.

Não sei explicar a emoção que me controla todos os pensamentos.
 É como se voltasse o quadro de meses antes à memória.

Tudo me sensibiliza em excesso, tudo me faz recuar para rever 
o que devo contemplar em mim própria com serenidade. 
E parece sonho, mamãe, estarmos juntas, 
através das letras, no entendimento desejado.
............................................
Aqui, é alma para alma nas palavras que anseio impregnar 
de amor sem conseguir. 
Peço-lhe não chorem mais o que ficou para trás no tempo, 
por expressão das leis Divinas em forma de sofrimento.

Embora isto, sei que a senhora e os meus pedem notícias. 
Como foi o inesperado? Muito difícil a revisão. 
Tudo aconteceu de repente, 
como se devêssemos todos naquela manhã obedecer, 
de um modo só, a ordem que vinha do mais Alto, 
a fim de que a gente trocasse de vida e corpo.

Quando recebi o impacto da notícia do fogo, 
o tumulto fora da sala não era pequeno. 
O propósito de fazer com que o trabalho rendesse, 
habitualmente, nos isolávamos dos ruídos exteriores. 
E o tempo de preservação possível havia passado. 
Atendi automaticamente ao impulso que nascia nos outros companheiros
 – descer à pressa. E fizemos isso. 
Elevadores não mais podiam aguardar-nos.
 A força elétrica sofrera queda compreensível.

Esforcei-me por atingir algum meio para a descida, 
mas isso se fazia impraticável. 
Com alguns poucos que me podiam ouvir, 
subimos apressadamente para os cimos do prédio. 
A esperança nos helicópteros estava na nossa cabeça, 
mas era muito difícil abraçar tantos para o regresso 
à rua com os recursos tão poucos.  Entendi tudo e orei. 
Orei como nunca, lembrando toda a vida num momento só,
 porque os minutos de expectativa eram para nós 
um prolongado instante de expectativa sempre menor. 
Tudo atravessei com a prece no coração. 
E posso dizer a você, mãezinha querida,
 que um brando torpor me invadiu, pouco a pouco...

O calor era demasiado para que fosse sentido por nós, 
especialmente por mim com minudências de registro. 
Compreendi que não estávamos à beira de uma libertação 
para o mundo e sim na margem da Vida Espiritual 
que devíamos aceitar com fé em Deus. 
E aceitei. 
Os Amigos Espirituais, destacando-se meu avô ..., 
comigo durante todo o tempo, 
não me deixaram assinalar quaisquer violências, 
naturais numa ocasião como aquela, 
da parte daqueles que nos removiam do caminho 
em que se acreditavam no rumo da volta que não mais se verificaria.

Lembrando nossas preces e nossas conversações em casa, 
procurei esquecer as frases de desespero 
que se pronunciavam em torno de mim. 
Essa atitude de prece e de aceitação 
me auxiliou e me colocou em posição de ser socorrida.

Mais tarde com algumas horas de liberação do corpo, 
é que despertei ao seu lado.
Aquele amigo certo que hoje sei nele o meu avô
e benfeitor de todos os dias, 
estava a postos, reconfortando-me...

Estava em meu próprio leito, refazendo energias, 
e por ele fui informada de que a ilusão de estar no corpo, 
precisava ser esquecida; que o nosso querido ...., 
auxiliado por ele, me encontrara a forma física
 na instituição a que fôramos recolhidos, 
depois da luta enorme e que não me cabia agora, 
senão estar calma e forte para fortalecê-la.

Mas quem pode se gabar de ser mais forte que os outros 
numa ocasião qual naquela em que nos vimos 
todos agoniados e alterados
sem qualquer possibilidade de opção?
Chorei muito, mas Deus não nos abandona.

Por alguns poucos dias 
estive quase que constantemente ao seu lado, 
até dar-lhe a certeza de que devíamos estar em paz.
Meu avô e outros amigos me ajudaram 
e prossigo na recuperação necessária.

Os irmãos hospitalizados, os que se refazem dos choques, 
os que se reconhecem desfigurados 
por falta de preparação íntima na reconstituição da própria forma 
e os que se acusam doentes, são ainda muitos.

De minha parte, estou melhorando. 
Agradeço as suas preces e as orações de .............,
 ........ e dos nossos todos, 
sem esquecer a nossa querida ....e outras amigas.
Todos os pensamentos de paz que me enviam
 são preciosos agentes de auxílio em meu favor.

Quanto posso, mamãe, 
e auxiliada por enquanto e sempre por amigos queridos daqui, 
volto ao nosso ambiente familiar.

...............................................

O amor é um milagre permanente.  
Por ele as aflições se multiplicam 
e os nossos corações sempre se escoram 
em novas esperanças para a vitória da vida.

Querido ....., lembre-me como em nossos retratos felizes.
 Não me recorde desfigurada ou em situação difícil 
qual você é induzido a lembrar-me.
 Querido irmão, atravessamos aquela sombra.
 Agora, tudo é luz e bênção; 
seja para a nossa querida mamãe, o que você sempre foi, 
um companheiro e uma bênção.
............................................

Mamãe, continue forte e calma na fé. 
A morte não existe; o que existe é a mudança que, 
por vezes, quando imprevista, 
como foi o nosso caso, não é fácil de suportar.
.........................................................
Volquimar
13 Julho 1974

Nota de Esclarecimento: 
A jovem Volquimar trabalhava no 23º andar do Edifício Joelma, em São Paulo, Capital,  como gravadora de processamento de dados. Desencarnou em 1º de fevereiro de 1974, quando do incêndio iniciado na manhã desse dia e que consumiu quase todo o prédio, resultando em centenas de vítimas.


Favor atentar: 
Depois da FEB, O Grupo Espírita Emmanuel GEEM foi o que mais livros recebeu em doação pelo Chico. Atentem aos livros editados pelo GEEM. São como que um selo de qualidade da sã literatura espírita. 

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