sexta-feira, 10 de junho de 2011

João Batista. O Elias que há de vir...




João Batista,
Reencarnação de Elias


Rodolfo Calligaris
Reformador (FEB)
Parte 1 -  pág. 41, em Fevereiro 1968


            Quem foi Elias e qual os seus feitos?
            Foi um valoroso profeta, cuja atuação se desenvolveu numa época em que olvidando os mandamentos divinos, o povo de Israel, mal influenciado pelo rei Acab, descambara para o culto de Baal, que consistia em queimar crianças vivas diante do altar e chegou a ser praticado no próprio templo de Salomão.
            Além de enfrentar seu soberano, verberando-lhe o procedimento, Elias, disposto a fazer que os hebreus voltassem a cultuar o verdadeiro Deus, desafiou os sacerdotes do deus Baal para uma confrontação entre este e Aquele.
            Como?
            Providenciou para que o povo e os baalitas fossem reunidos no alto do monte Carmelo, onde duas pilhas de lenha foram erguidas, à guisa de altar, colocando-se sobre cada uma delas um boi esquartejado.
            Quatrocentos e cinqüenta sacerdotes de Baal deveriam invocar o seu deus e pedir-lhe que, mandando fogo do céu, consumisse a vítima. Elias, em seguida, faria o mesmo pedido a Jeová. O deus que saísse vencedor da prova teria que ser reconhecido o único Deus de Israel.
            Por mais que gritassem desde as primeiras horas da manhã até o meio-dia, os adoradores de Baal nada conseguiram.
            Chegada a vez de Elias participar do teste, dirigiu uma veemente evocação ao Senhor. O fogo caiu, devorou o holocausto, e todos os judeus presentes à cena prostraram-se com o rosto em terra, exclamando: O Senhor é o Deus, o Senhor é o Deus!
            Ao invés, porém, de dar-se por satisfeito com isso, Elias, empolgado, talvez, com o resultado do desafio, incitou o povo a que agarrasse os sacerdotes de Baal e, dando o exemplo, ordenou que fossem todos decapitados e atirados à corrente do rio Ciron.
            Malgrado a boa causa defendida por Elias, esse homicídio constituiu-lhe, sem dúvida, uma grande falta perante as Leis Divinas, pois contrariava o ‘não matarás’.
            Por outro lado, não produziu tal chacina o efeito desejado: reconduzir os rebeldes filhos de Israel às suas melhores tradições religiosas. Efetivamente, anos depois, com a morte de Acab, seu filho e sucessor, Ocozias, continuou servindo aos deuses estrangeiros, tanto assim que, ao sofrer um acidente, mandou consultar a Belzebu, deus de Acaron, se lhe seria dado convalescer.
Elias, sabedor disso, sai ao encontro do mensageiro e manda dizer ao rei que, devido a sua atitude, decidindo-se a consultar não a Deus, mas a Belzebu, morreria na certa.
            Informado sobre quem lhe mandava esse recado, Ocozias encarrega um capitão e cinqüenta soldados para obrigar a Elias e vir explicar-se. O profeta invoca fogo do céu, que fulmina os cinqüenta e um.
            Ocozias destaca outro capitão e mais cinqüenta soldados para a mesma incumbência e novo fogo do céu os consome também.
            Um terceiro pelotão é despachado, mas o capitão deste, caindo aos pés do profeta, suplica-lhe poupe suas vidas, no que é atendido.
            Elias vai, então, pessoalmente, à presença de Ocozias, repete-lhe o vaticínio, e o rei morre mesmo.
            Diz o Velho Testamento que, mais tarde, Elias foi arrebatado aos céus num carro de fogo, puxado a cavalos igualmente de fogo.
            É muito difícil compreender semelhante narrativa, mas, seja lá como for, o certo é que ele desaparece deste mundo e só voltou a ser citado nas Escrituras numa profecia em que Deus falando ao povo judeu, lhe disse:       
            “Eis aí vos enviarei eu o profeta Elias antes que venha o dia grande e horrível do Senhor. Ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais, para não suceder que eu venha a ferir a terra com anátema.” (Malaquias, 4:5-6.)

Parte II                              Reformador (FEB) Março 1968
               
            Cerca de três séculos após a profecias que vimos de citar, um anjo aparece a Zacarias a fim de anunciar-lhe o nascimento de um filho, que deveria receber o nome de João, do qual diz que ‘converterá muitos filhos de Israel ao Senhor seu Deus’ e que ‘irá adiante d’Ele no espírito e virtude de Elias, para reunir os corações dos pais nos filhos, e reduzir os incrédulos à prudência dos justos, e assim preparar ao Senhor um povo perfeito.’ (Lucas 1;13-17)
            Confirmava-se, destarte, que Elias voltaria ao proscênio da Terra, tendo como missão dar continuidade ao seu trabalho anterior de edificação espiritual do povo judeu, preparando-o (e por seu intermédio a Humanidade toda) para o recebimento do Cristo.
            E, voltou, de fato, assumindo a personalidade de João Batista.
            Malgrado, porém, todo o seu esforço no sentido de preparar o caminho do Senhor, isto é, converter os hebreus ao arrependimento e à penitência, de sorte que seus espíritos e corações ganhassem condições de receptividade para a mensagem cristã, poucos lhe deram ouvidos.
            O povo judeu, mais uma vez, no exercício de seu livre arbítrio, não correspondeu ao que dele se esperava, pois recusou-se (salvo um pequeno número) a reconhecer no humilde carpinteiro da Galiléia ‘aquele’ que estava para vir Jesus. E que, segundo criam, ‘o esperado’ haveria de libertá-lo da opressão estrangeira e conduzi-lo a uma situação de hegemonia mundial, e não seria o meigo Jesus, com sua doutrina de amor, de perdão, de fraternidade universal e de renúncia aos bens temporais quem fosse capaz desse desiderato. Longe, então, de aceitá-lo como o Messias, acabou pedindo a sua crucificação.
            Daí as palavras de João Evangelista, referindo-se ao Batista:
            “Houve um homem enviado por Deus, que se chamava João. Este homem veio por testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. Essa ‘luz verdadeira’ (o Cristo) veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.” (João 1:6-11.)

                                   *

            Observem os leitores a concordância desta série de textos escriturísticos sobre a reencarnação de Elias.
            Primeiro, aquela profecia através de Malaquias; em seguida, o anúncio do renascimento registrado por Lucas; depois, a confirmação dada por João Evangelista, de que o Batista era, realmente, aquele antigo profeta que deveria vir de novo a este mundo para ser o precursor do Cristo Jesus.
            As expressões ‘houve um homem enviado por Deus’ e este (homem) veio por testemunha’ são bastante esclarecedoras. Se FOI ENVIADO e VEIO  é porque ele já existia, e se já existia, seu ressurgimento na Terra, na pessoa de João Batista, só poderia dar-se, evidentemente, por via da reencarnação, não acham?
            Agora, outro detalhe corroborrante de que João Batista não foi outrem senão o próprio Elias reencarnado.
            Na encarnação anterior, como vimos, Elias tomou da espada e comandou a degolação de 450 sacerdotes de Baal.
            Ora, pela Lei de Causa e Efeito, ‘todos os que lançam mão da espada, à espada morrerão’ (Mateus 26:52; João 10:11; Apocalipse 13:10), para que, sofrendo na própria carne o que fizemos outros sofrerem, todos aprendamos a viver de conformidade com a regra áurea, ‘não fazendo aos outros o que não queremos que nos façam’.
            Elias era um Espírito de certa elevação, prestara bons serviços batendo-se pela pureza da religião, mas excedera-se em seu zelo e, no citado morticínio que teve por palco as margens do Cison, cometera um grave delito, do qual teria que redimir-se.
            Que lhe aconteceu então, em sua nova existência?
            Di-lo o Evangelho: cedendo à exigência da amásia, ‘Herodes tetrarca mande DEGOLAR João no cárcere e sua cabeça foi trazida em um prato’.  (Mateus 14:8-11; Marcos 6:27-28).
            Matara à espada, à espada morreu.

Parte III                             Reformador (FEB)  Abril 1968

            Os que combatem a lei palingenésica costumam valer-se de dois episódios registrados nas Escrituras para negarem tenha sido João Batista a reencarnação de Elias, mas apenas alguém com as virtudes daquele profeta.
            Primeiro: seu encontro com os sacerdotes e levitas do templo de Jerusalém que lhes foram perguntar: “És tu Elias?”, ao que respondeu: “Não o sou.”(João 1;21.)
            Isto não invalida, absolutamente, a tese que estamos desenvolvendo porque, enquanto encarnado, o Espírito raramente se lembra de suas vidas pregressas. Haja vista que perguntado, também: “És tu profeta?”, deu como resposta: “Não”. No entanto, como veremos logo mais, ao referir-se as João Batista, o Cristo Jesus, que o conhecia de outras idades, afirmou exatamente o contrário, considerando-o muito mais que um simples profeta.
            A resposta negativa dada por João justifica-se, ainda, porque poderiam tomá-lo como a ressurreição da pessoa de Elias, o que não seria verdadeiro, pois embora Elias e João se constituíssem uma só individualidade, representaram, cada um a seu tempo, duas personalidades distintas.
            Segundo: o fato ocorrido no momento da transfiguração de Jesus, fato esse posterior à morte de João Batista, no qual quem apareceu ao Mestre, falando com ele (juntamente com Moisés) foi Elias e não João Batista.
             Entendem que a entidade manifestante, em tal circunstância, deveria ter-se apresentado como João e não como Elias, e se a coisa não se passou assim é porque o Batista não fora a reencarnação de Elias.
            Este argumento também não vale nada, porquanto a Doutrina Espírita nos elucida que o Espírito ao manifestar-se pode tomar a forma de qualquer uma de suas encarnações e não apenas a da última.
            Mas, ponhamos de lado a opinião do Espiritismo e dos espíritas, deixando que o próprio Cristo nos diga a respeito:
            Abramos Mateus, capítulo 17:
            “E quando eles desciam do monte (após a transfiguração), pôs-lhe Jesus este preceito, dizendo: Não digais a pessoa alguma o que vistes, enquanto o Filho do homem não ressurgir  dos mortos. E os seus discípulos lhe perguntaram: Porque dizem os escribas que importa vir        Elias primeiro? Mas ele, respondendo, lhes disse: Elias certamente há de vir e restabelecerá todas as coisas; digo-vos porém que Elias já veio, e eles não o reconheceram, antes fizeram dele quanto quiseram. Assim também o Filho do homem há de padecer às suas mãos. Então conheceram os discípulos que de João Batista é que ele lhes falara.”(v. 9:13)
            Que outra interpretação se poderia dar, honestamente, a um texto de tal clareza? Nenhuma outra, afora esta: “Elias veio, como não o reconheceram, mataram-no.”
            Aliás, bem antes, Jesus já houvera afirmado a mesma coisa.
            Ouçamo-lhe novamente a palavra, referindo-se a João Batista:
            Que saístes a ver? um profeta? Certamente, eu vos digo, e ainda mais do que profeta. Porque este é de quem está escrito: Eis aí vos envio eu o meu anjo a tua face, que aparelhará o teu caminho diante de ti. Desde os dias de João Batista até agora o reino dos céus padece força, e os que fazem violência, são os que o arrebatam. E se vós o quereis bem compreender, ele mesmo é o Elias que há de vir. O que tiver ouvidos de ouvir, ouça.” (Mat. 11, 9-15.)
            Que significam estas palavras: “desde os dias de João Batista até agora”, se este ainda vivia na ocasião? É que, como ele e Elias eram a mesma individualidade, Jesus aludia ao tempo em que João vivera com a nome de Elias.
            Acrescentando: “Aquele que tiver ouvidos de ouvir, ouça”, expressão essa que repetia freqüentemente, Jesus queria dizer que nem todos estavam em condições de compreender a lei da reencarnação, o que não é para admirar, pois ainda hoje há quem não a ‘suporte’ e a negue, obstinadamente.
            Que se há de fazer? Ninguém os obriga a crer. Nem Jesus obrigou seus discípulos a isso. Limitou-se a dizer: “Se quereis dar crédito” e, “quem tiver ouvidos de ouvir, ouça.” A verdade, em última análise, é esta: o Cristo afirmou, incisivo: João Batista é o mesmo Elias que havia de vir, e seus discípulos compreenderam-no perfeitamente. 
            Os espíritas, reencarnacionistas que somos, estamos, pois, em muito boa companhia.        





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