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SESSÃO DE 27 DE MARÇO DE 1940
Manifestação, sonambúlica, de um Espírito sofredor,
por desconhecer a verdade evangélica,
e obstinado na sustentação dos dogmas e ensinos da Igreja romana:
mais um sacerdote católico.
Médium: J. CELANI
Espírito. – Então, não há milagres? Que restaria da Igreja, sem o milagre? Pregais uma doutrina subversiva, porquanto, embora insustentável,leva a dúvida aos mais fiéis, sobre a infalibilidade dos dogmas da Igreja.
(O diretor lembra-lhe com brandura que, a seu tempo, o Cristo foi acusado de pregar doutrinas subversivas. Assim, não admira que, agora, a mesma doutrina seja novamente qualificada como tal; porque, realmente, a doutrina é a mesma, visto ser a do Evangelho, mas entendido segundo o espirito. É, pois, a verdade).
Espírito. – Sim, o Evangelho é a Verdade. Mas a humanidade ainda não está preparada para receber a substância das teorias do Cristo. Por isso, ele permite que se faça um trabalho de preparação e esse trabalho incumbe à Igreja.
(Objeta-lhe o diretor que só o Cristo, Senhor do mundo e diretor da humanidade terrena, pode saber se esta se acha ou não preparada para receber, segundo o espirito e em verdade, a doutrina que Ele pregou e exemplificou. Se entretanto, a humanidade não estivesse preparada para isso, Ele decerto não consentiria que os espíritos de luz, seus mensageiros, viessem reviver, em toda a pureza, os ensinos que os Apóstolos receberam a incumbência de espalhar no seio de todos os povos).
E. (Depois de trocadas mais algumas observações em tom profundamento amistoso):
- Fui aqui trazido por um meu companheiro de sacerdócio, que me declarou ser necessário que eu confabulasse com alguns de meus irmãos da Terra, a fim de que se dissipasse a névoa terrena que ainda me envolvia e a minha alma recebesse a iluminação de que necessitava para compreender o Cristo e a verdade que Ele personifica.
D. – Nessa caso, reconhecendo a precariedade dos nossos corações para tal efeito, vamos pedir a esmola de luz de que necessitas àquele que é o Sol espiritual da humanidade a que pertencemos, o Pastor divino do rebanho de que somos ovelhas.
(É feita uma prece).
E. (Após longa pausa): - Tudo morre e tudo renasce, diz-me aqui o meu mentor e acrescenta: Ao Cristo não se serve com ódio, porque o Cristo é o amor. Postos no caminho, precisamos parar e retemperar as energias, para prosseguir. A luz colocada sob o alqueire conduziu a humanidade à encruzilhada em que se encontra. Faz-se mister desfraldar a bandeira do Cristianismo do Cristo, reeducar o homem, revivificar o espírito religioso da humanidade, para que ela sinta o seu dever e o cumpra, dispensada de freio.
Estupenda, formidável obra! Quem a executará? Os pescadores redivivos, os Pedro, os Tiago, os João, os Paulo, diz ele, porque a obra do Cristo não é obra da inteligência sem o coração. É indispensável a comunhão da consciência e do sentimento, para que a humanidade evolua em equilíbrio, seguindo a trajetória que a levará à existência de um só rebanho sob o mando de um único Pastor.
Diz-me ele também que um lugar me está preparado nesta caravana; que se me faz mister, para ocupá-lo, apagar o passado, no qual me servi do púlpito e do confessionário para cometer crimes contra a moral. É obra para um titã, não para o meu espírito ainda chumbado à atmosfera do pecado. Preciso de um banho fortíssimo, para me limpar dos estigmas do passado e remi-lo.
Terei amparo necessário à realização dssa obra formidável? Poderei ser recebido entre vós, como o filho pródigo que volta ao lar paterno? Então ao despedir–me, rogo vos lembreis deste pobre filho de Deus e que por ele peçais nas vossas orações, cujo efeito extraordinário acabo de comprovar.
Eu tinha a visão de muitas das minhas vitimas e lhes ouvia as maldições, o estrugir dos ódios e rancores. Fenômeno espantoso! Tudo desapareceu! Não sei se neste momento, ou quando.
Sim, diz ainda, o meu mentor: desde o instante em que reconheceste os teus erros e culpas e tomastes a deliberação de os reparar. Repara-os, pois, buscando servir ao Cristo, com o sacrifício e renúncia das coisas transitórias. Esquece-te de ti mesmo e lembra-te da missão de Jesus entre homens. Então, subindo degrau a degrau, poderás colocar, ao lado de cada conquista nos domínios da filosofia,um ato de caridade e de amor ao próximo. Eis o caminho.
Agradeço-vos, amigos, a bondade que tiveste para comigo. Agradeço-vos, em nome de N. S. Jesus Cristo, o Pastor. Adeus.
Comunicação final, sonambúlica
Frutos que produz a conjugação de esforços entre os servos do infinito e os homens.
– Situação atual do mundo, comparada a em que começou o declínio do império romano.
– Corrupção da fonte donde jorrava a linfa pura da Verdade.
– A prevaricação da Igreja. – Consequência dessa prevaricação para a humanidade.
– Como poderá a Igreja reparar os grandes males que causou
e readquirir autoridade para impor-se aos potentados.
– Que sucederá, se assim o não fizer. – Como receber os anátemas da turba fanática.
– Onde a fonte perece de renovação das energias morais.
– Palavras dirigidas à viúva de José Petitinga,
– Palavras dirigidas à viúva de José Petitinga,
recém-desencarnado, a qual se achava presente à sessão.
Médium: J. CELANI
Meus, filhos, glória a Deus e paz às criaturas. Dessa conjugação de esforços entre os servos do Infinito e os homens, colaboradores daqueles no trabalho da seara, resultarão certamente proveitosos frutos para todos: para vós que aqui vindes trabalhados pelas lutas quotidianas, para os Espíritos sedentos de paz e de luz e que, amparados pelos vossos Guias, aqui vêm aprender a preparar-se para novas jornadas.
O mundo é uma caldeira em ebulição. Ninguém mais se entende, nem sabe qual seja o seu destino. A moral desapareceu das ações humanas e a religião é letra morta, é coisa passadista, na frase da atualidade terrena. O que se quer é a vida moderna,cheia de encantamentos e isenta de responsabilidades.
Foi assim que começou o declínio do império romano, quando às suas fronteiras chegaram
as primeiras decúrias do exército de Nosso Senhor Jesus Cristo.
De nada lhe valeram as perseguições, os martírios, com todos os seus horrores.Os ecos das catacumbas de Roma repercutiam pelo mundo e pouco a pouco foram surgindo os Francisco de Assis,os Vicente de Paulo, para glória do Cristianismo perseguindo e aborrecido dos homens.
Cresceu, deitou raízes na península itálica e se estendeu à Gália, penetrou na Germânia
e teve a sua época de fausto e respeito na consciência das massas.
Depois, o veneno do homem, a peçonha dos corações não escolhidos principiaram a corromper o reservatório onde os iniciados bebiam a linfa pura da Verdade. Criaram-se fórmulas e dogmas e no íntimo dos servos da Igreja começou a brotar a ânsia do poderio, o desejo do mando, do predomínio sobre as consciências.
A Igreja prevaricou e afastou de si o Espírito daquele que era manso e humilde de coração.
Para que rememorar o que se seguiu? A humanidade, tingida por vielas tortuosas,
acumulando crimes sobre crimes, atingiu o ponto culminante do desvario, do desrespeito à lei do amor, por conseguinte ao maior dos mandamentos, na frase do Manso Cordeiro de Deus.
Será possível, meus caros filhos, a essa mesma Igreja, culpada de tantos crimes, ou por eles responsável, a reparação dos males que causou, sem que volte atrás e se renove, para encontrar o Espírito do Cristo e poder então dirigir-se aos potentados da Terra com a mesma humildade que ele demonstrou diante de Pilatos?
Só assim adquirirá autoridade para dizer a cada um deles: contém-te verme, porque és pó e em pó te hás de tornar. Lembre-se ela da frase do Cristo àquele preposto de César: nenhum poder terias sobre mim, se te não fosse concedido do Alto.
A Igreja precisa adquirir essa autoridade e, se o não quiser, outros virão das vielas para realizar a grande obra que não é dos homens, porque é do Cristo e, portanto, do Consolador por ele prometido.
Não vos importeis, meus caros filhos, com os anátemas da turba fanática, que não vos compreende. Prossegui na vossa jornada, com os olhos postos na epopeia em que foi protagonista o Cordeiro imaculado.
Nas vossas horas de desconforto e desânimo, dirigi o olhar para o Calvário, símbolo de resignação no cumprimento do dever, e a coragem tornará às vossas almas, para o labor que tomaste sobre os ombros e que deveis levar avante, custe o que custar, a fim de resgatardes os erros do passado.
Não vos faltarão estímulos e recompensas; as misericórdias vós as conheceis. Não há mister, portanto, vos acenemos com as esmolas do céu, que chovem sempre sobre os fiéis trabalhadores da Seara de N. S. Jesus Cristo.
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E tu, minha filha (dirige-se á viúva de José Petinga presente á sessão), que, com o coração alanceado de dor, bateste a esta porta! Bem quisera eu que o teu companheiro te falasse, a fim de encorajar-te para a luta e para encher de alegrias o teu coração!Mais uma vez se cumpre a promessa de Jesus: ao que bate abrir-se-á; ao que pode, dar-se-á.
Aquele que lhe confia o seu coração te-lo-á sempre a palpitar de esperanças. Crê na veracidade das minhas palavras. Ele aqui está, feliz, tão feliz quanto o pode ser a criatura que serve ao seu Deus. Leva daqui a certeza de que ele te fala, pelas intuições que te transmite na horas de calma e de prece.
Lembra-te da Virgem, tu que és mulher. O Cristo era para o seu coração o que de mais sublime havia na Terra. E ela, a mater dolorosa, o acompanhou em toda a sua via sacra, partilhando dos ultrajes que a turba lhe lançava a Ele. Sentiu os espinhos da corda que puseram à cabeça do seu amado Filho, bem como o peso da cruz que lhe colocaram aos ombros.
Entretanto, até ao cimo do Calvário, a serenidade e a submissão jamais deixaram de dominar em seu Espírito, para que ela ali correspondesse, pela sua atitude, à resposta que dera ao Anjo, quando lhe este anunciou a missão para que fora escolhida: ‘’Cumpra-se na escrava a vontade do Senhor’’.
Não o olvides, tu que és mulher e que, como mulher, precisas exemplificar os sentimentos peculiares ao coração da mulher. Dá graças a Deus. Teu companheiro viveu vida de humildade, de labor e de exemplificação. Colhe agora os frutos da sua fidelidade ao dever e à consciência cristã.
Leva estas minhas palavras, que traduzem os sentimentos de todos os que aqui se acham, inclusive ele,como testemunho de solidariedade e fraternidade cristãs.
Invoca-o sempre que necesssitares de receber as suas inpirações amorosas.
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E a vós também, meus caros filhos, a minha palavra de despedida, exprimindo o desejo de que convosco esteja sempre a palavra do Divino Mestre. Paz. – Romualdo.
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