A Explorada Proibição
Parte 2
com base em Editorial
do Reformador (FEB)
de Julho 1937
Mesmo deixando de lado os inúmeros fatos e fenômenos já tantas vezes analisados e explicados que o Velho e o Novo Testamentos registram, idênticos, na forma, como no fundo, aos que presentemente ocorrem e são observados nas sessões mediúnicas, constituindo o opulentíssimo acervo de fenomenologia espírita, muitos outros trechos das Escrituras poderíamos citar, em prova de que a comunicação dos Espíritos com os homens sempre se deu e há de, necessariamente, dar-se sempre, visto que se produz por efeito de leis naturais e, portanto divinas; que assim sendo, jamais podem ter sido objeto de uma proibição de Deus as relações entre os dois mundos, o visível e o invisível.
Abstemo-nos, porém, de fazê-lo, tão claros, positivos e concludentes são os textos que reproduzimos, no primeiro destes artigos, de João e Jeremias, aquele comprovando que com os humanos se comunicavam como hoje se comunicam, Espíritos de todas as naturezas e categorias: bons, elevados, luminosos, os que vêm de Deus; atrasados, inferiores, maus, os que não vem de Deus; o segundo oferecendo fundamento legítimo para qualquer interdição de gênero de que Moisés promulgou.
Aliás, se esta proibição, como a vemos no Deuteronômio, tivesse o caráter, a extensão, a generalidade que lhe confere a igreja para combater o Espiritismo, teríamos Deus condenando-se a si mesmo. Nem se argumente com a intervenção do imaginário Satanás para justificar a referida proibição. Ainda aí estaria Deus a condenar o que Ele próprio fizera, a menos se admita que Satanás se criou a si próprio, com poderes iguais, senão superiores aos da divindade, caso em que esta lhe pertenceria realmente e não a Ele ou a qualquer outra entidade.
Tais os absurdos, as enormidades a que invariavelmente chega quem de intento desfigura, torce, falseia a verdade, para adaptá-la aos interesses, conveniências e ambições meramente mundanos ou materiais, como faz a igreja de Roma, que só por isso não pode tolerar o Espiritismo, do mesmo modo que outrora o farisaísmo, nela revivente, não pode tolerar o Cristianismo.
Mas, voltemos aos textos de que nos temos servido. O de Jeremias, além de fornecer, como dissemos acima, explicação e justificativa para uma proibição, ou, melhor, para uma advertência qual a que fez Moisés e que o Espiritismo, nos tempos de hoje, reproduz, é, tanto quanto o de João, concludente e insofismável, no que respeita a naturalidade e, por conseguinte, à legitimidade do intercâmbio que mantinham e mantém os Espíritos encarnados e desencarnados.
Na realidade, segundo esse texto, Deus falava aos homens, sendo os profetas os órgãos pelos quais a estes transmitia Ele suas instruções, suas determinações, suas ordens e lhes dava conhecimento de seus desígnios. E não colhe a objeção, que já antevemos formulada, de que aí era Deus quem se comunicava, ou manifestava, e não só Espíritos. Semelhante objeção unicamente poderá levantá-la quem não tenha de Deus a mais ligeira noção acorde com a maneira por que Jesus, o seu Cristo, ensinou os homens a concebê-lo e por que o Espiritismo, assente nos ensinamentos cristãos, no-lo faz concebível, isto é, como sendo a inteligência das inteligências sublimadas, a inteligência suprema, o Espírito do Universo, ao qual anima, vivifica e aciona, como, individualmente, o nosso Espírito anima, vivifica e aciona os nossos organismos etéreo e corpóreo, ressalvada a precariedade de toda a comparação, ou assimilação entre o infinito e o finito, ou entre o absoluto e o relativo.
Quanto aos que imaginam conforme o catolicismo romano o apresenta e representa, antropomórfico, sendo menos a divindade única, com os atributos de absoluta e infinita perfeição, que lhe são próprios e que só Ele possui, mas, preferentemente, um homem divinizado pelos homens, e agindo como um homem sumamente poderoso, qualificado de perfeito, porém cheio de taras humanas, tanto que se encoleriza, odeia, condena a castigos que são mais atos de vingança do que punições, esses é natural considerem irrespondível aquela objeção.
Aos primeiros, porém, a idéia da comunicação direta de Deus com os homens seria blasfematória, se não fosse de todo ponto rematado absurdo, visto que envolveria a de um extremo rebaixamento da majestade divina, com o ter de admitir que Deus seja passível de uma diminuição, de uma restrição que, pode-se dizer, lhe eliminariam todos os atributos, para, sendo infinito, pôr-se em contato direto com o finito, limitando-se ao âmbito deste, sem o absorver e suprimir. E porque haveria de fazê-lo, mesmo admitida a plausibilidade da hipótese, quando Ele dispõe dos seus Cristos, Espíritos excelsos, integrados no seu pensamento e no seu amor, o que eqüivale a dizer: nas suas mais altas leis, e das coortes dos Espíritos mais ou menos purificados, cujas atividades desenvolvem sob a direção e a égide dos Cristos?
Ao demais, não se compreende que, dispondo de poder infinito e agindo arbitrariamente, à guisa dos soberanos e ditadores terrenos, como o supõem os que o acreditam representado na Terra por um homem tão pecador quanto os outros, cumulado das imperfeições e misérias destes, apenas porque esse homem, imaginando poder lançar mão sacrílega a um dos atributos divinos, se proclamou a si mesmo infalível, não se compreende, dizíamos que, em tais condições, houvesse Deus mister, para se comunicar com os homens, de instrumentos humanos especiais: os profetas, que eram médiuns daquela época, instituídos por determinação e segundo um plano traçado pelo alto, conforme veremos, apreciando a Escola de Profetas, que Moisés criou ‘por ordem de Deus’.
Vê-se, pois, que, assim no passo que temos estudado, como em todos os outros, quando, os livros bíblicos apresentam Deus a falar aos homens, a lhes dar preceitos e ordens, essa palavra simboliza ou sintetiza o plano celeste ou divino, onde vivem, se movem e atuam os Espíritos mais altamente colocados na hierarquia espiritual, sem que isto prejudique, nem de leve, a propriedade do emprego daquele termo simbólico. Ainda quando não o exigisse o grau de desenvolvimento das inteligências no seio das massas humanas a quem se dirigiam as palavras dos livros sagrados, o emprego daqueles se legitimaria plenamente, uma vez que tudo de Deus vem, que nada ocorre no universo fora do âmbito de suas leis sábias, imutáveis e eternas, de cujas transgressões unicamente decorrem os males e dores que afligem as criaturas na Terra, pois que tais sofrimentos, males e dores mais não são do que efeitos, conseqüências lógicas e naturais da infração daquelas leis, todas convergentes para um só e único objetivo: facultar a todos os seres criados, sem exceção de um só, a conquista da perfeição, para fruição da vida eterna, que Jesus definiu, integrando-se na Sua pureza absoluta, e através Dele a Deus que O enviou aos homens para revelá-lo qual Ele de fato é: Espírito de amor, de justiça e de misericórdia, a quem somente em espírito e verdade devem os seus filhos adorar porque exclusivamente assim quer Ele ser adorado.
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