quinta-feira, 5 de maio de 2011

Alguns dos perseguidos pela igreja de Roma...



                                                                                             
Doutrinas Novas

por Djalma Farias
Reformador (FEB)  Março 1947

             Devem estar lembrados os nossos caros leitores daquela velha observação que o sábio geólogo Agassiz formulou há longo tempo e que tem sido sempre aplicada no curso da História.

            É esta a observação: “Todas as vezes que um fato novo e admirável aparece na Ciência, há logo quem exclame: Não é possível. E depois: É contrário à religião. E por fim: Há muito que se tinha notícia disso.”

               Eis aí uma reflexão cem por cento verdadeira e, a cada passo, dela nos recordamos.

            De fato, todas as idéias e doutrinas novas suscitadas e alimentadas pelo progresso das inteligências têm encontrado obstáculos aparentemente insuperáveis.

            Mas, o progresso da Ciência consegue sempre vence-los. A História, a grande mestra da vida, na expressão de Cícero, registra fatos e acontecimentos que provam à evidencia a realidade daquela expressão de Agassiz.

            Mal começam a cintilar as luzes de uma verdade nova e logo os demagogos de todos os tempos erguem as mãos para apagá-las.

            Vimos em Bolonha, segundo o testemunho da História, que Pietro d’Álbano, autor do “Tratado de Astronomia”, ser queimado, em efígie, em 1327.

            Em Florença, Cecco d’Ascoli é condenado por ser adepto da teoria do movimento da Terra. Por ter professado, também essa doutrina, Giordano Bruno é queimado em Roma, a 17 de Fevereiro de 1600. Ainda em Roma, o cadáver do sábio Antônio de Dominis é desenterrado, em 1625, no Castelo de San Angelo, onde havia morrido como prisioneiro, para ser atirado às chamas vingadoras, Campanela, por ter professado uma filosofia semelhante à de Galileu, foi sete vezes torturado e esteve preso durante vinte e sete anos. Também Copérnico, padre, autor de “Astronomia Nova”, teria sofrido os horrores da Inquisição, se não houvesse morrido antes da publicação do seu livro, de que apenas pode tocar, em seu leito de agonia, com as mãos já frias, o primeiro exemplar que saiu do prelo.

            Contudo, isso não foi razão bastante forte para que, os que não o puderam queimar vivo, deixassem de queimar com solenidade o seu livro. Kepler, o continuador da obra de Copérnico, que era protestante e nunca saíra da protestante Alemanha, durante toda a sua vida foi perseguido e acusado de herege, pelos homens da Igreja. Sua tia Guldeman foi queimada, como feiticeira, em Well. Sua mãe foi também acusada como feiticeira, sendo encarcerada, em Stuttgart, no ano de 1615. Permaneceu encarcerada durante cinco anos e só a muito custo foi libertada.

            O sábio monge de Oxford, Roger Bacon, passou a maior parte da sua vida preso, ora em uma célula do seu próprio convento, ora no cárcere, como a antecipar a época das descobertas e das perseguições que, por causa delas, teriam que sofrer mais tarde os seus autores! E o seu grande crime, o seu monstruoso delito, era ocupar-se com a Física e com a Astronomia! Pela mesma falta, dois séculos depois, o seu homônimo Francis Bacon, fora lançado ao Index pelos eclesiásticos ingleses!

            Também na França, Descartes, filósofo dos mais distintos, espiritualista por excelência, cuja ortodoxia era profundamente sincera, e que, sempre que pronunciava o nome de Deus, descobria-se respeitosamente, passou a vida inteira errante, exilado e perseguido por todos e odiado pelos devotos por causa das suas idéias.

            Em 1630 era Galileu encarniçadamente perseguido pelos padres romanos, e a publicação dos seus imortais ‘Discursos’ onde demonstrava o movimento  da  Terra  e  outras verdades astronômicas, provocou grandes rancores contra a sua pessoa que só cessaram com a morte do sábio florentino, depois da  abjuração  solene e muito humilhante perante Urbano VIII  e seu sacro colégio, da leitura do decreto pontificial, no qual, muito santamente, foi proibido para o futuro, de viva voz e por escrito, o ensino de sua doutrina!.. Conta-se, também, que um sábio astrônomo jesuíta desceu, certa vez, as escadas da masmorra, sobraçando a Bíblia, para provar ao sábio octogenário Galileu que a sua doutrina era contrária às escrituras sagradas: “Não sabe o meu mestre, diz solenemente o jesuíta, que a sua doutrina do movimento da Terra é contrária à Bíblia? Não sabe que a Bíblia nos refere ter Josué feito parar o sol?  E como ousa o mestre ensinar o contrário? Galileu, velho, respeitável, cabelos fios de neve, ergue-se do seu mocho e, com o carinho de um pai, responde: “Sim, meu filho, conheço a Bíblia, sei o que ela ensina e que Josué fez parar o sol, mas como ele não deu contra-ordem, até hoje, o sol continua parado, fixo, tendo, então, a Terra iniciado o seu movimento em torno dele. É por isso que, ensino que a Terra se move.”

            Na verdade, foi muito feliz a resposta de Galileu.



Fantasma de Galileu

Antônio Túlio*
Reformador (FEB)   Janeiro 1958
* Ismael Gomes Braga

            Na coleção de livros contra o Espiritismo, publicada sob o título ‘Contra a Heresia Espírita’, o 7º tomo é sobre Galileu Galilei e Giordano Bruno e traz o nome ‘Galileu Galilei - à luz da História e da Astronomia’. Foi escrito por José Bernard, S. J. e é prefaciado por Frei Boaventura, O.F.M.

            A finalidade do livro é acusar de novo Galileu e defender a Igreja.

            Reconhece que Galileu foi um gênio de primeira grandeza, mas lhe ataca a moral. Diz que ‘em Pádua tinha três filhos sem estar casado’ (pág. 22); que era arrogante, combativo, desrespeitoso e assim desencadeou ódios que culminaram pela sua condenação.

            Quanto a Giordano Bruno igualmente faz tremendas acusações contra sua moral e sua agressividade. Diz que a condenação não foi por causa das suas descobertas astronômicas, mas por imoralidade e heresias. Um lamentável erro tipográfico na pág. 66 diz que ele foi queimado ‘vido em 17-2-1699’. Foi em 1600, aos 52 anos de idade, pois que nasceu em 1548.

            O livro foi escrito especialmente contra os espíritas, como fica dito no prefácio, o que nos dá certo prestígio. Pensamos que essa coleção de livros nos faz demasiada honra.

            A propósito do decreto que condenou o livro de Copérnico, o autor é muito elegante. Diz na pág. 35:
            “Este funesto decreto é sem dúvida um dos atos mais infelizes jamais realizados por um órgão oficial da Igreja Católica. Condena uma verdade das ciências naturais e o faz por um  motivo religioso.”

            Sobre a sentença contra Galileu, lemos na pág. 57:

            “Assim chegou no dia 22-6-1633 o desfecho da triste drama, a publicação oficial da sentença. O ato se fez na aula magna (não na igreja!) do colégio dominicano Maria sopra Minerva, só em presença dos membros do S. Ofício (Inquisição). Os juízes declaram: Galilei se tornou suspeito de heresia. Existe a suspeita de ter ele defendido a doutrina falsa e contrária à Sagrada Escritura de que o Sol seja imóvel, a Terra móvel, o Sol e não a Terra o centro do mundo e que se passa sustentar e defender como provável uma opinião ainda depois de ela ser declarada contrária à Sagrada Escritura. Desta forma Galilei incorreu nas censuras eclesiásticas das quais será absolvido se fizer abjuração. Seu livro é proibido, ele mesmo condenado à prisão segundo o beneplácito da Inquisição e, durante três anos, rezará semanalmente os sete salmos penitenciais.”

            O livro ataca fortemente Camille Flammarion que cita em ‘Astronomie Populaire’ os episódios das condenações de Giordano Bruno e Galileu. As palavras de Flammarion vêm citadas na pág. 63.

            A fim de demonstrar que queimar vivo não era privilégio da Igreja, o autor nos cita o seguinte fato:

            “Em 1307, Filipe IV, o Belo, cobiçou os ricos bens da Ordem dos Templários. Em 12 de Outubro daquele ano, o rei fingido distinguiu o grão-mestre Jacob de Molay com grandes honras e no dia seguinte o lançou repentinamente na prisão com todos os cavaleiros, membros da Ordem na França. 54 cavaleiros que se prontificaram a testemunhar pela inocência da Ordem foram queimados vivos em Paris. Em todos os casos (p. ex. fora da França, onde foi aplicada a tortura), ficou patente a inocência dos cavaleiros. O Papa protestou, mas em geral mostrou-se fraco, e aboliu a Ordem. A 13-3-1314 o rei mandou queimar vivo também o grão mestre.” (Pág. 67.)

            Esse rei católico morreu nesse mesmo ano de 1314, em que mandou queimar vivo o grão mestre dos Templários. Não sabemos se é honroso para a igreja o episódio citado, de fato ocorrido no mundo católico, havendo sido queimados vivos 55 homens inocentes e virtuosos, com a finalidade expressa de se apoderarem dos bens da Ordem.  Temos mais compaixão  de Filipe, o Belo, do que de suas numerosas vítimas.

            Mais de três séculos depois do processo inquisitorial que condenou Galileu, seu fantasma ainda assusta a Igreja e a leva a acusá-lo de novo, como vemos nesse livro.

            Como defesa da Igreja, o livro não tem valor algum; ao contrário, confirma a verdade triste de sua História. E essa História já vem de longe. As perseguições contra os judeus, movidas pela Igreja e continuadas através de séculos, nunca serão esquecidas. As Cruzadas, guerras de pilhagem e extermínio, em nome da Igreja, duraram quatro séculos. Esse longo passado é indefensável. Atacar o Espiritismo, ainda tão jovem, é inútil. Cumpre reconhecer que é preciso fazer tudo de novo, porque o passado está todo errado.





Giordano Bruno e a Filosofia Natural

Trechos de artigo de Carlos Bernardo Loureiro
Reformador (FEB) pág. 336 Novembro 1993

                Giordano Bruno (cujo verdadeiro nome era Filippo Bruno) nasceu em Nola, reino de Nápoles, no ano de 1548, e faleceu na manhã de 17 de fevereiro de 1600, no Campo Dei Fiori (Praça das Flores), em Roma, consumido, em vida, pelas chamas infamantes da fogueira inquisitorial.

            Ainda adolescente, entra para a Ordem dos Dominicanos, de onde é afastado por heresia. Ao deixar o mosteiro, começa a sua vida errante, visitando Nápoles, Gênova, Milão, Veneza e Nice, sendo considerado “persona non grata” pela audácia de suas opiniões. Em 1580, estava em Gênova, quando abraça o Calvinismo. Desentendendo-se, mais tarde, com Calvino, passou a Lyon, depois a Toulouse e, por último, a Paris. Encontrou, na “Cidade Luz”, poderosos protetores, mediante os quais obteve a permissão de ensinar Filosofia na Universidade de Paris, onde fez refulgir o seu talento e a sua prodigiosa cultura. Posteriormente, passou um ano em Londres (Inglaterra), Entre 1584 E 1585, quando publicou as suas principais obras: “Da Causa, do Princípio e da Unidade” (1584): “Do Infinito, do Universo e dos Mundos” (1584), ambos em italiano.

            Retorna a Paris, de onde segue para Wittenberg, Praga e Helmstad. Por onde passava, Giordano Bruno deixava uma inapagável impressão nos espíritos ávidos de esclarecimentos sobre o problema do ser. Denominava-se a si mesmo “Excubitor” ou “Acordador de Almas”. Em 1592, volta, imprudentemente, a Veneza, refugiando-se com o patrício Giovanni Mocenigo. Este o entrega ao Santo Ofício. É preso e levado para Roma.”...
           
            “...Na manhã  fria de 17 de fevereiro de 1600, Giordano Bruno caminha, resoluto, para o martírio. Iria ser cremado, vivo, por ordem do Tribunal do Santo Ofício, monstruosa instituição gerada nas entranhas do Vaticano...”
           


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