sexta-feira, 13 de maio de 2011

'O primeiro Assassínio'


O Primeiro Assassínio
 Epiphânio Bezerra
 “Reformador” Julho 1943 (?)
           
            Nunca é demais, ao espírita cristão, uma vista d’olhos, vez por outra, sobre as páginas do Livro da Lei - a Bíblia, para daí extrair as gemas preciosas escondidas sob a crosta grossa da letra. Por isso, jamais nos cansaremos de esmerilhar-lhe os ensinamentos, a fim de encontrar aquelas que mais à tona se achem.
            Desta vez pusemo-nos a rebuscar-lhe as origens, à procurar daquilo que de mais primitivo pudesse existir. E fomos dar com a velha lenda de Caim e seu irmão Abel, um, bem visto por Deus, - Abel; o outro, Caim, desde o princípio, mal visto por esse mesmo Deus.
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            Conta-nos a lenda, no seu magistral simbolismo, que Eva (princípio da vida) concebera de Adão, após a queda, dois filhos: Caim e Abel.  “Caim (aquisição) trouxe do fruto da terra (era lavrador) uma oferta ao Senhor. Abel (vaidade) trouxe dos primogênitos de suas ovelhas. Atentou o Senhor em Abel e sua oferta e não atentou (não tomou em consideração) em Caim, que se irou, e descaiu-lhe o semblante” (Gên. 3:3-5)
            Como se vê, sempre a mesma e carunchosa concepção humana com seus prejuízos, a emprestar ao ‘Princípio Superior”- Deus, as mesmas paixões e preferências por uns em detrimento de outros. Será crível que Deus, o Eterno, único eterno, Aquele que é o Espírito dos espíritos, o pai de quem todas as coisas tiram o ser”, como o comum dos mortais, tomasse o partido de Abel contra Caim? Não, seria absurdo.
            Caim é, pura e simplesmente, um símbolo de queda, do desvio da reta senda em que incide o espírito no seu princípio, isto é, na sua infância espiritual.
            Assim como Adão é o símbolo de uma raça já bastante evoluída, que decai, por faltas menos graves, de um mundo de delícias, qual paraíso, mais verdadeiro; Caim simboliza outra classe de espíritos, ferreteados desde o princípio pelo orgulho e pela revolta, com o ‘sinal’ de seu crime contra o Criador.
        Ainda agora Caim tem os seus remanescentes na Terra - nos egoístas, invejosos, presunçosos e enfatuados, que só fazem o bem por convenção, procurando comprar o ‘reino dos céus’ por ostentação.
            Mas, como “Deus não quer a morte do ímpio, senão que ele se arrependa e salve”, daí a sentença “Qualquer um que matar a Caim sete vezes será vingado. E pôs-lhe o Senhor um sinal, para que não ferissem,.” (Gen. 4-15)     
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            Os Espíritos, disseram os reveladores ao insígne apóstolo da Terceira Revelação - Kardec, são criados simples e ignorantes, isto é, em estado de inocência, quais livros em branco, cujas páginas estão aptas a ser impressas, estão virgens. Se obedientes, ascendem às Culminâncias da espiritualidade, sem um tropeço; se rebeldes, invejosos, ambiciosos e enfatuados, porque livres de procederem como querem, logo tropeçam, atraídos ou atraindo os similares, sendo jogados, por vezes, dos esplendores espirituais (símbolo da revolta dos anjos, como Lúcifer) aos mundos inferiores, expiatórios, em formação, onde “fugitivos e vagabundos (sem orientação nem rumo certo) serão sempre escondidos da face da Deus”. (Gen. 4:8 a 15). Porém, ‘se o Filho do homem veio salvar o que estava perdido’ (Mt 18:11), Caim logo sente o peso de suas iniquidades e diz ao Senhor: “É maior a minha maldade que a que possa ser suportada (Gen. 4;13).
            Um vislumbre de arrependimento se manifesta, no momento de sua transferência para as clausuras das terras inferiores e expiatórias!
            Como a verdadeira vida é a espiritual, porque a vida na carne representa a morte do Espírito, este morre desde que se condenou, pela sua queda, às encarnações nos mundos de expiações e torturas. E, como essas quedas são oriundas das más inspirações agasalhadas em razão das afinidades, filhas dos pendores livres, dão-se os desvios coletivos, verdadeiros assassinos espirituais, isto é, “Caim atrai Abel ao campo de suas sugestões para matá-lo”. (Gen. 4:8)
            Porventura estarão os Espíritos à mercê de seus maus pendores e sugestões desde o princípio? Não. Desde o princípio os Espíritos são orientados, inspirados pelos seus Guias e Prepostos de Deus; tanto que, logo que Caim se desvia, porque o Senhor não toma em consideração a sua oferta, ele “se ira, e decai-lhe o semblante”. “Porque te iraste? diz o Senhor a Caim. Se não  fizeres o bem, o pecado jaz à porta e para ti será o seu desejo e sobre ele dominarás.” (Gen. 4;3 a 7).
            É claro - se o Espírito persiste na falta, buscando aumentar as suas culpas, “o pecado jaz à porta”, enquanto as possibilidades de resistência ao mal diminuem cada dia mais e o mal o domina. Se, ao contrário, o Espírito faz o bem, combatendo as suas fraquezas, as culpas encontrarão remissão, passando ele da “morte para a vida”.
            Eis, em síntese, a explicação da lenda do primeiro assassínio, tal como a entendemos, à luz da Terceira Revelação.


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