Do saudoso Kleber Halfeld, mais uma abordagem sobre o tema
‘Grandes perdas’ sempre sob a ótica consoladora da Doutrina Espírita...
A
‘Os Instrumentos
do Grande Cirurgião’
por Kleber Halfeld
Reformador (FEB) Agosto 1992
Elas fazem parte da história da Humanidade, pois sua ocorrência data dos primórdios do Planeta.
Países subdesenvolvidos tanto quanto aqueles que alcançaram alto índice tecnológico tem experimentado seus efeitos: ora, pequenos grupos atingidos por suas garras destruidoras; ora, enormes coletividades a sofrerem o impacto de suas investidas.
Refiro-me às catástrofes, aos flagelos em seus mais diversificados aspectos, que regularmente abatem sobre os seres dessa grande escola: a Terra.
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Em francês o termo catastrophe está documentado em Rabelais[1] -1546 -, assim como, em inglês, com a mesma grafia, é encontrado em Spenser[2] - 1579.
Atentos à Geologia, a expressão catástrofe inicialmente designava apenas a ação dos terremotos; com o passar dos anos teve seu sentido ampliado, compreendendo inúmeras outras transformações súbitas que ocorrem na Terra, sem mencionar aquelas que surgiram com o advento da tecnologia.
A teoria das catástrofes, ou catastrofismo, atribuída a Cuvier[3] e que predominou durante o século XVIII, ‘seria uma tentativa para explicar as formas do relevo terrestre pela sucessão de violentos cataclismos provocados por forças da Natureza, na época pouco conhecidas’.
No caso particular do presente estudo, não ficarei preso a semelhante teoria: debaixo da rubrica catástrofe, identificarei, igualmente, o conjunto de ocorrências designadas como calamidades naturais, bem como episódios revestidos de forte impacto e decorrentes de circunstâncias criadas pela visa moderna.
Adentrando, pois, nesse campo, fazendo citações sem considerações extensas e ainda deixando de lado as convulsões pelas quais passou nosso Planeta nos anos iniciais de sua formação, podemos imaginar que dentro da era cristã uma das mais conhecidas – e violentas = catástrofes naturais de que temos conhecimento foi a erupção em 79 d.C. do Vesúvio, quando foram destruídas as cidades romanas de Herculanum e Pompéia. Aliás, em algumas obra espíritas, particularmente em romances, há referências a esse acontecimento. De momento, recordo duas grandes obras de grande aceitação por parte do público: ‘Há 2000 anos...’ de Emmanuel, através das psicografia de Francisco Cândido Xavier, e ‘Herculanum’, de J. W. Rochester, por intermédio de Wera Krijanowsky.
Ainda na época do vulcanismo me vem à mente a erupção de 1883, ocorrida na ilha de Krakatoa, entre Sumatra e Java, que causou a morte de 36.000 pessoas, sem se mencionar o desaparecimento de dois terços da ilha!
E, em 1902, a erupção do Monte Pelée, na Martinica, que destruiu totalmente a cidade de Saint-Pierre, matando seus 28.000 habitantes.
Fazendo-se alusão a terremotos, quem nunca ouviu referências ao abalo sísmico que, acompanhado de um maremoto, vitimou, em 1923, cerca de 140.000 pessoas em Tóquio e Yokohama.
Inundações também são responsáveis por desencarnações coletivas, sempre dentro – sabemos os espíritas – de uma planificação divina, a escapar, não raro, da compreensão de quantos apenas encaram a vida presente... De momento, recordo as enchentes do rio Mabadani, na Índia, as quais mataram em 1955 mataram 300.000 pessoas!
Mas, outros fenômenos concorrem para tal modalidade de desencarnação, ou seja, a coletiva.
Entre outros, citemos os deslizamentos de solo, comuns em áreas montanhosas, como os Alpes, Andes, Himalaia; os furacões (recordem-se aqueles de grande frequência no mar das Caraíbas, litoral oriental dos Estados Unidos e no Sudeste da Ásia) Em 1970, o Paquistão Oriental – hoje Bangladesh – foi tragicamente atingido, quando morreram centenas de milhares de pessoas! Citemos, ainda, as secas, porquanto anos a fio de aridez excepcional podem apresentar para as populações graves consequências. Caso o homem não se encontre munido dos indispensáveis elementos de defesa. Como impressionante exemplo ocorrido em nosso País, pode ser citada a seca que destruiu partes do sertão do Nordeste nos anos de 1877-1878.
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Kardec não se descuidou do estudo das catástrofes. Exatamente por perceber que oportunos comentários poderiam advir para os leitores da Revista Espírita. À sua atenção juntou-se aquela do plano espiritual, conforme podemos observar em algumas páginas desse órgão de imprensa. 9Também em 'O Livro dos Espíritos’ o assunto é tratado de forma ampla.)
Vejamos, aqui, o caso de uma catástrofe – traduzida por uma epidemia numa ilha.
Datada de 8 de maio de 1867, uma correspondência era portadora de triste notícia: uma epidemia na ilha Maurícia.[4] O mais curioso é que Kardec dela já tinha conhecimento através de um médium sonâmbulo que normalmente frequentava a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Aliás, o remetente da carta era sócio correspondente da mencionada ‘Sociedade’.
Da mesma forma alguns moradores da ilha haviam sido avisados dessa epidemia, que ‘surgira como flagelo destruidor’. O que, realmente ocorreu, porquanto Kardec em novembro de 1868 voltava a comentar esse fato, já 60.000 pessoas haviam desencarnado vítimas da doença, que consoante expressões do missivista começava com...
“uma febre sem nome, que reveste todas as formas, começa suavemente, hipocritamente, depois aumenta e derruba todos os que ela atinge (...) São terríveis acessos que quebram, torturam durante, pelo menos, doze horas, atacando cada um por sua vez, cada órgão importante. Depois o mal cessa durante um ou dois dias, deixando o doente abatido até o próximo acesso, e se vai assim, mais ou menos rapidamente, para o termo fatal.”
É sugestivo observar que o autor da carta, componente de um grupo de estudiosos do Espiritismo na ilha Maurícia, tinha perfeita compreensão quanto à finalidade da epidemia que à época devastava a região, uma vez que em determinado ponto de sua carta confessava que via no acontecimento...
“um desses flagelos anunciados, que devem retirar do mundo uma parte da geração presente, e destinados a operar uma renovação tornado necessária.”
O término do seu relato contém, da mesma forma, depoimento assaz curioso. Esclarece que o grupo de espíritas a que pertencia estava disperso havia três meses e eu embora todos os membros houvessem sido atingidos pela doença, nenhum deles havia morrido. Ele próprio fora atingido e estava na quarta recaída.
Sentindo Kardec a imperiosa necessidade de uma resposta confortadora para o grupo espírita da ilha Maurícia, em carta dirigida aos seus componentes, juntou ele a mensagem que o Espírito Demeure havia deixado na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Dessa mensagem – de profundo conteúdo moral – permito-me transcrever pequeno trecho que nos explica a função da catástrofes, sobre os habitantes da Terra, em todos os tempos de sua história.
Mensagem que, afinal, continua perfeitamente atualizada, malgrado os anos decorridos.
“(...) Cada dia mais entramos no período transitório, que deve trazer a transformação orgânica da Terra e a regeneração de seus habitantes. Os flagelos são instrumentos de que se serve o grande cirurgião do Universo para extirpar do mundo, destinado a marchar para a frente, os elementos gangrenados que nele provocam desordens incompatíveis com o seu novo estado. Cada órgão ou, para melhor dizer, cada região será, passo a passo, batida por flagelos de naturezas diversas. Aqui, a epidemia sob todas as suas formas; ali, a guerra, a fome. Cada um deve, pois, preparar-se para suportar a prova nas melhores condições possíveis, melhorando-se e se instruindo, a fim de não ser surpreendido de improviso. Já algumas regiões foram provadas, mas seus habitantes estariam em completo erro se se fiassem na era da calma, que vai ceder á tempestade, para recair nos seus antigos erros. Há um período, que lhes é concedido, para entrarem num caminho melhor. Se não o aproveitarem, o instrumento de morte os experimentará até os trazer ao arrependimento”. [5]
Apenas por uma questão de curiosidade, informo que, além desses ensinamentos de tão profundo conteúdo moral, o Espírito comunicante teceu comentários sobre um medicamento – o Croton tiglium -, ou seja, o óleo de cróton. Segundo nos explica a Homeopatia, esse medicamento tem larga ação sobre a diarreia, dores lancinantes e ardentes que ocorrem no lado esquerdo do peito, atingindo as espáduas. Tem ainda influência sobre os pruridos intensos que se estendem sobre todo o corpo.
(Possivelmente, sintomas que também poderiam ser encontrados nos habitantes da ilha Maurícia quando foi assolada pela epidemia que dizimou mais de 60.000 pessoas!).
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