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Uma Narrativa Comovente
A história de Célia começa no ano 131 da nossa era, em Esmirna, cidade da Lídia, na Ásia Menor. é nesse florescente porto comercial da época, então sob o domínio romano, que vamos localizar a família Lucius: Helvídio, a esposa Alba Lucínia e as filhas Helvídia e Célia.
Presta serviço nesse lar o antigo senador Públio Lêntulus, reencarnado na personalidade do escravo Nestório, posteriormente sacrificado, juntamente com Ciro - alma querida do coração de Célia -, em um circo, num dos repugnantes espetáculos proporcionados pelo Imperador Adriano à população.
Helvídio é filho de Cneio Lucius, nome que tem o respeito de todo o Império, em decorrência de sua cultura e generosidade. De início o avô de Célia está ligado aos templos de Júpiter e Serápis. Mas compreenderá, em breve, as belezas das máximas de Jesus. E é esta mesma aceitação do Evangelho do Senhor que vai proporcionar-lhe condições de ser o espírito protetor da neta amada, em seus momentos de extrema aflição.
Em Roma, que após Esmirna será a residência da família de Helvídio, surge a figura de Cláudia Sabina, personagem de influência decisiva no destino de Célia e, afinal, no de todos os familiares. Inconformada porque não é correspondida pelo amor de Helvidio, perpetra terrível plano de vingança. Através da amiga Hatéria, serviçal de Alba Lucínia, para introduzir, sorrateiramente, no lar desta, uma criança que mandara buscar na coluna lactária, no mercado de legumes - ou Forum Olitorium -, que, de acordo com a explicação de Emmanuel, era o local onde ficavam expostos, diariamente, os recém-nascidos enjeitados. Objetiva, com este plano, incriminar a pessoa da respeitável senhora.
Célia, para resguardar o nome da mãe, embora inocente em todo esse quadro e consciente das responsabilidades que terá de assumir, admite como seu filho a criança.
É expulsa de casa.
Enfrenta as maiores dificuldades.
Tem a seu lado, porém, nos momentos mais cruciais, o amorável Espírito do avô, que a conforta.
Em Minturnes, local que mais tarde passará a chamar-se Trajetta, conhece uma figura patriarcal e veneranda que a acolhe, sugerindo-lhe, mais tarde, prosseguir viagem, oculta debaixo de trajes masculinos, até um mosteiro, perto de Alexandria, no Egito, onde se reúnem mais de quatro dezenas de cristãos ricos, desiludidos dos prazeres do mundo.
Passa a residir nesse mosteiro.
Acusada e punida por uma falta não cometida, perde o privilégio de ocupar uma das celas do mosteiro e é obrigada a morar em modesta habitação não longe do convento.
Desencarna após entregar-se a um incomparável trabalho de assistência aos necessitados, emoldurado pela renúncia do seu magnânimo coração.
De volta à Espiritualidade, diz Emmanuel, a alma ditosa de mártir “é conduzida numa onda de luz e perfumes, aos páramos do Infinito”.
São Marinho e a Igreja
A grafia italiana San Marino, que com o passar dos anos se internacionalizou, tem alternado, em francês, com Saint-Marin, ocorrendo também em português a expressão São Marinho.
Um estudo que se faça em torno desse nome revela ao pesquisador não apenas uma figura centralizadora, mas vultos diversificados, em diferentes séculos e regiões, merecedores, todos, da atenção e do respeito por parte da área católica.
Essa diversificação tem criado, no próprio seio da Igreja, muitas expressões reticenciosas, gerando, não raramente, indagações que ficam sem as devidas respostas.
Vejamos, a seguir, o resultado de um estudo levantado entre diversos autores (Poderá o leitor apreciar o expressivo número de vultos com o nome Marinho, todos santificados pela Igreja.)
I. Claude Boillon comenta que, na cripta da abadia beneditina de Saint-Savin-sur-Gartempe (Poitou, França), foi descoberto no século XVII um sarcófago com uma inscrição indicando que ali repousava ‘o ilustre mártir Marinho’ festejado no século XVIII em cerimônia dupla. Sem explicar os detalhes de semelhante cerimônia, Boillen confessa que os dados sobre esse santo foram adquiridos mais tarde, sendo verdadeiramente fantástica sua cronologia. Esses dados apresentam-no como um romano do século VII que, tendo ingressado como monge no convento Condancence, tornou-se depois eremita, passando a residir próximo à Vila Maurianensis.
Seu culto, diz o autor, não é limitado a Saint-Savin: a ele foi dedicada, também, uma igreja na diocese de Bourges, meta de contínuas peregrinações.
II. O estudo feito por Agostino Amore sobre São Marinho é longo, mas apresenta alguns pontos obscuros. Ele explica que o Martiriólogo Romano e relembra no dia 26 de dezembro, afirmando que era um rapaz, filho de um senador romano, preso pelo Imperador Numeriano e decapitado depois de muitos tormentos. Em outro trecho escreve que Giovanni Malalas aceita São Marinho como um mártir de Gindara e que suas relíquias foram conservadas na igreja de São Guiliano, em Antióquia. Mas, ao término do trabalho, o próprio Amore confessa: “-Quem foi na realidade o mártir de Gindara, venerado em Antióquia, não sabemos!”
III. Mário Sgarbossa e Luigi Giovannini confiam a Eusábio o relato sobre São Marinho: um oficial do exército imperial em Cesaréia da Palestina, cidade próxima das fronteiras da Galiléia e da Samaria. Relata o autor de ‘História da Igreja” que o cargo era de Marinho. Aguardava ele a entrega da vara de videira, símbolo do grau de centurião romano, quando um dos mais obstinados pretendentes ao cargo declarou Marinho impossibilitado às dignidades romanas, por ser cristão, fato que este confirmou perante o juiz Aqueu, magistrado que lhe possibilitou três horas para melhor reflexão. Ao sair do tribunal encontrou Marinho o bispo Teotecno que o levou a uma igreja, colocando-o entre uma espada e uma bíblia, pedindo, a seguir, que optasse por uma das duas.
Escolheu a Bíblia.
O bispo o abençoou saindo o cristão feliz e pronto para o sacrifício.
Passadas as três horas, voltou e proclamou sua fé.
Foi condenado à pena capital no ano 261, sendo comemorado pela Igreja no dia 3 de março.
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