Os Apóstolos Parte 1
por Roberto Macedo
Congregou Jesus, em torno de si, doze apóstolos diretos: André, irmão de Pedro; Bartolomeu (Natanael?); Filipe; João (Boanerges) Evangelista, irmão de Tiago maior; Judas Iscariote; Mateus (Levi), irmão de Tiago menor?; Pedro (Simão, Cefas); Simão cananeu, o Zelador ou o Zeloso; Tadeu (Judas Tadeu); Tiago (Boanerges) ou Tiago maior, filho de Zebedeu; Tiago menor, filho de Alfeu e Tomé (Dídimo).
Incumbidos de predicar o Evangelho ou Boa Nova, cada qual se imortalizou como enviado ou “apóstolo” (do grego “apóstolos”, pelo latim “apostolu”).
Escassas fontes autênticas fornecem, fragmentariamente, a ordem da vocações. Faltam elementos para o quadro integral, em dispositivo cronológico inteiriço. Daí recorrermos à enumeração alfabética, contornando assim um dos obstáculos. Outros subsistem:
a) - Homonímias, Alterações, Supressão e Acréscimo de Personativos.
b) - Incerteza Relativa nos Graus de Parentesco.
Homonímias:
- Judas (Iscariote) e Judas (Tadeu), de onde simplesmente Tadeu para o segundo;
- Simão, verdadeiro nome primitivo de Pedro, e Simão Cananeu, o Zelador;
- Tiago, filho de Zebedeu e Tiago, filho de Alfeu, diferençáveis por filiação conhecida ou ainda pelo recurso prático, algo inadequado, de “Tiago maior” e “Tiago menor”.
Alterações:
- Simão Barjona ou Simão, filho de Jona, por Jesus camado “kepha” em dialeto (“pétra” em grego, “Petru” em latim), como Pedro ficaria universalmente consagrado, inclusive na memória popular e na própria Igreja do Vaticano (ver O Evangelho segundo João, 1:42);
- João e seu irmão Tiago (maior), por Jesus chamados Boanerges, “filho do trovão” (Marcos 3:17), nem sempre se mencionam como João Boanerges e Tiago Boanerges, antes João Evangelista e Tiago maior, distintos assim de João Batista e do outro Tiago;
- Mateus, anteriormente Levi, só após a vocação, mudou de nome, hoje tradicional (Marcos, 2:14; Lucas, 5:27);
- De Judas Tadeu freqüentemente se elimina “Judas”, mantido não obstante na designação de santo (São Judas Tadeu), mais correntio que São Judas ou São Tadeu; - Tomé também era conhecido como Dídimo (João 11:16), mas a linguagem popular parece inconciliada com o personativo e prefere, no caso, lançar mão de ingênua perífrase (“o que quis ver para crer”).
Supressão, Acréscimo (aparentes):
- Traduções autorizadas do Evangelho segundo Marcos (3:18) eliminam Tiago menor e, em seu lugar, inserem Jacob, reconstituído o grupo de doze. Supressão de Tiago menor? Acréscimo de Jacob? Argumentos não acomodatícios fornecem invulnerável resposta, ao amparo concomitante da etimologia e da filiação:
a) - Tiago provém da locução “Sant’Iago”, sendo forma divergente de Jacob (Iakov);
b) - Quer Tiago, quer o suposto Jacob, em todos os evangelistas se identificam com o “filho de Alfeu” (Mateus 10:3; Marcos 3:18; Lucas 6;15; Atos dos Apóstolos 1:13). Jacob é pois Tiago menor. Na variante de elementos mórficos, permanece una à pessoa física. A rigor, nem supressão, nem acréscimo. Divergência não houve, senão aparente, embora toleráveis em Marcos deslizes desse tipo. Não presenciara tudo quanto narrou. Recolheu informação de Pedro, este como aquele imbuído de inspirações, porém, não discípulo direto. Em resumo, feita honesta ressalva, não subsiste conflito entre evangelistas, quanto à enumeração dos apóstolos; se subsiste, estaria apenas a unanimidade lacerada por um dos evangelistas, restritamente acerca de um dos apóstolos (sobre Natanael, ver adiante “Especificações e Referências”, 2).
Incerteza Relativa em Graus de Parentesco:
O Evangelho segundo Marcos (2;14) aponta Levi, ou seja, Mateus, como filho de Alfeu. Irmão portanto de Tiago menor (ver Mateus 10:3; Marcos 3:18; sob a forma divergente “Jacob” - Lucas 6:15; Atos dos Apóstolos 1:13).
Ora, esse mesmo Tiago menor, filho de Alfeu, costuma ser designado, sem maior exame, como “irmão de Jesus” (Mateus 13:55; Marcos 6:3).
Ressaltamos, de passagem: raramente, os textos evangélicos especificam familiares do Cristo
(Mateus 12:46; Marcos 3:31, 32; Lucas 8:19,20; João 2:12; 7:3,5, 10; Atos dos Apóstolos, 1:14).
Logo, se as interpretações literais aceitassem Mateus como irmão de Tiago menor e este como irmão de Jesus, resvalariam talvez, inadvertidamente, em argumento problemático dos mais melindrosos: Mateus, irmão de Jesus (ver adiante “Especificações e Referências”, 11).
Sim, no sentido espiritual , porque filhos do mesmo Criador. Não, no sentido carnal, posta de lado a questão transcendente, porque estudos históricos e semânticos esclarecem:
a) - avezaram-se povos orientais a empregar “irmão” no sentido de “parente”;
b) - documentos vetustos fornecem filiações legendárias, em ritmo salteado;
c) - “Irmão” no sentido de “neoconverso” já tinha curso naquela época. Demonstra-o a própria Bíblia. Quando o Velho Testamento, referindo-se a Abraão, informa ser ele “tio de Lot” (Gênese 11:27,30), nem por isso deixa de recair no uso oriental e passa, repetidamente, a definir como “irmãos” o sobrinho e o tio. (Peço-te que não haja rixas entre mim e ti... porque somos irmãos um do outro”, ib., 13;8 - e assim se separaram os dois irmãos um do outro”, ib., 11;
- “Abraão, tendo ouvido que Lot, seu irmão, ficara prisioneiro...”, ib., 14:14;
- “E recobrou... a Lot seu irmão...”, ib., 17.). Com relação a outras personagens, consulte-se Gênese 24:5; Tobias 7;4 e 8:9; Levítico 25:48; Deuteronômio 2:4,8 etc.
Genealogia e seqüência não inteiriça: “Jorão gerou a Ozias”, assevera-se no Evangelho segundo Mateus, omitidos três ascendentes. Oconias, Joás e Amasias, este sim, pai carnal de Ozias (Paralipômenos, Livro Segundo, 22:1; 27:1,27; 25:1; 26:1). O Rei David, remoto ascendente de Amasias, é dado como seu pai em Reis, Livro Quarto, 14:3. Neoconverso, como irmão, insere-se na Epístola de Tiago menor, dirigida às “doze tribos que estão dispersas” (1:2).
Fim da primeira Parte
Sobre o Autor:
Roberto Macedo nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1904 e desencarnou em 1978. Foi espírita convicto, tendo sido, por vários anos, membro do Grupo Ismael, da FEB. Bacharel em Direito, Professor de História Geral, jornalista, diretor do Departamento de História e Documentação do, então, Distrito Federal. Pertenceu à ABI, à IHGRJ, à Academia Carioca de Letras, ao IHGSP, ao Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambucano, ao Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, ao Instituto Genealógico Brasileiro, à Sociedade Capistrano de Abreu. Deixou rica bagagem de obras sobre a História pátria. Publicou apenas uma obra de caráter espírita, o Vocabulário Histórico - Geográfico dos Romances de Emmanuel, em 1960, de onde extraímos o trecho acima. artigo. O ‘Vocabulário Histórico - Geográfico dos Romances de Emmanuel’ (FEB) é obra recomendável a todos os que desejem formar um acervo de livros espíritas de qualidade.
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