Reformador (FEB) Maio 1948 (?)
As Igrejas reconheceram como modelares alguns livros mediúnicos antigos e os catalogou como de origem divina, apesar de entre eles haver algumas contradições chocantes que deveriam mostrar a parte humana, ou de Espíritos inferiores, em tais obras. Por exemplo, no Decálogo, é estabelecido o respeito à propriedade - Não Furtarás -, à fidelidade conjugal - Não cometerás adultério, Não cobiçarás à mulher de teu próximo - e à vida - Não matarás. No entanto, foram determinados, pelo mesmo Jeová, o assalto à propriedade das tribos vizinhas, a violação de todas as mulheres das tribos vencidas e a matança dos seus homens.
Ao conjunto dos livros classificados como informativos ou canônicos, isto é, catalogados, porque neste sentido cânon significa simplesmente lista, foi dado o nome plural de Livros (em grego Bíblia). Bíblia para os católicos romanos é a coleção dos seguintes livros que foram declarados canônicos pelo Concílio Tridentino, em Abril de 1546:
1 Gênesis; 2 Êxodo; 3 Levítico; 4 Números; 5 Deuteronômio; 6 Josué; 7 Juízes; 8 Rute; 9 Primeiro de Reis; 10 Segundo de Reis; 11 Terceiro de Reis; 12 Quarto de Reis; 13 Primeiro dos Paralipômenos; 14 Segundo dos Paralipômenos; 15 Esdras; 16 Neemias; 17 Tobias; 18 Judite; 19 Ester; 20 Job; 21 O Saltério de David; 22 Provérbios; 23 Provérbios; 24 Cântico dos Cânticos; 25 Sabedoria; 26 Eclesiastes; 27 Isaías; 28 Jeremias; 29 Baruch; 30 Ezequiel; 31 Daniel; 32 Oséas; 33 Joel; 34 Amós; 35 Abdias; 36 Jonas; 37 Miquéias; 38 Nahum; 39 Habacuc; 40 Sofonias; 41 Ageu; 42 Zacarias; 43 Malaquias; 44 Primeiro dos Macabeus; 45 Segundo dos Macabeus; 46 O Evangelho segundo S. Mateus; 47 O Evangelho segundo S. Marcos; 48 O Evangelho segundo S. Lucas; 49 O Evangelho segundo S. João; 50 Atos dos Apóstolos; 51 Epístola de S. Paulo aos Romanos; 52 aos Coríntios; 53 aos Gálatas; 55 aos Efésios, 56 aos Filipenses; 57 aos Colossenses; 58 Primeira aos Tessalonicences; 59 Segunda aos Tessalonissences; 60 Primeira a Timóteo; 61 Segunda a Timóteo; 62 a Tito; 63 a Filêmon; 64 aos Hebreus; 65 Primeira Epístola de S. Pedro; 66 Segunda Epístola de S. Pedro; 67 Primeira Epístola de S. João; 68 Segunda Epístola de S. João; 69 Terceira Epístola de S. João; 70 Epístola de S. Tiago; 71 Epístola de S. Judas; 72 O Apocalipse de S. João.
Desse 72 livros que formam a bíblia da Igreja Católica Romana, os protestantes eliminaram os numeros seguintes, como apócrifos: 13, 14, 16, 17, 18, 26, 44 e 45 e mudaram alguns nomes.
A Bíblia dos israelitas não aceita todo o novo testamento, isto é, os livros aqui numerados como 46 a 72. Portanto, a Bíblia dos judeus está parada há mais de dois mil anos e a dos católicos e protestantes ficou estacionada em Apocalipse, escrita há quase mil e novecentos anos.
Portanto, para as Igrejas ortodoxas, Deus falou ao homem durante uns mil e seiscentos anos, de Moisés a S. João Evangelista, mas nestes 1900 anos mais recentes nada mais teve a dizer.
Para nós, espíritas, porém, Deus não começou a revelar-se ao homem por intermédio de Moisés, nem terminou a Revelação em Apocalipse de S. João Evangelista. Achamos inteiramente absurdo admitir-se qualquer limite no passado ou no futuro para os ensinos vindos de Deus ao homem. De toda a eternidade e por toda a eternidade a criatura recebe instruções do Criador e sempre mais completas são essas instruções, de conformidade com o progresso das criaturas. Assim considerada a Revelação, as suas páginas mais sublimes estão por ser escritas num futuro remotíssimo e o valor é decrescente, rumo ao passado; o homem primitivo da Terra pouquíssimo recebia, porque não podia assimilar o progresso espiritual.
Portanto, existe progresso nas Escrituras, porque não as podemos limitar aos livros católicos canônicos da Bíblia. Com o título ‘Obras Fundamentais” já incorporamos às Escrituras os livros de Kardec e muitos espíritas brasileiros incorporaram também os quatro volumes de Roustaing. Além desses volumes que já são canônicos para grande parte dos espíritas brasileiros, outros livros superiormente inspirados vão sendo recebidos, publicados e incorporados à nossa literatura. Destes livros novos, alguns ficarão consagrados pelo uso e farão parte das Escrituras no porvir. O valor real de muitos destes livros mediúnicos modernos é muito maior do que o de diversos livros da Bíblia. Na Bíblia há livros absolutamente medíocres que virão a ser eliminados no futuro, como o já foram muitos pela Reforma. O atraso do tempo em que foram escritos os velhos livros canônicos mesclou pensamentos superiores com a ignorância dos homens, dando textos confusos e perpetuando contradições grosseiras e criminosas. A pena de morte por apedrejamento, instituída por Moisés, é uma negação da Lei que determina não matar.
Do mesmo modo que os israelitas não aceitaram o Messias que esperavam, porque ele veio muito diferente do que imaginavam, e o perseguiram e crucificaram, as Igrejas do século 19 não aceitaram o Consolador prometido por Jesus; mas a hostilidade dos judeus não impediu a divulgação mundial do Evangelho, e a perseguição que as Igrejas move ao Espiritismo não impossibilita os Espíritos de cumprirem sua gloriosa missão.
A responsabilidade assumida pelos Judeus foi pavorosamente grande e lhes determinou dolorosos sofrimentos através da História; a das Igrejas é ainda muito maior, porque projetou o mundo no materialismo ateu e assim ocasionou o desenvolvimento de ideologias sanguinárias que enchem o mundo de crimes. (*)
Em que se baseavam os judeus ou se baseiam as Igrejas para hostilizar as idéias novas?
Simplesmente na interpretação parcial, apaixonada, sectária de velhos textos de origem suspeitíssima. Toda a autoridade para decidir da legitimidade dos livros sagrados foi dado aos bispos, reunidos em Trento de 1545 a 1563, por eles mesmos, que classificaram sua reunião de Santíssima: “Sacrossanta, oecumenica et generalis Tridentinas synodus, in Spititu Sancto legitimè congregata”.
Esta autoridade foi negada por outros cristãos, os protestantes, que se permitiram declarar apócrifos muitos dos livros canonizados pelo Concílio Tridentino. Essa aprovação do Concílio nada vale, nada prova, é simplesmente ridícula. O que dá força à Bíblia é o pensamento de bilhões de crentes que durante milênios aceitaram seus livros como de origem divina. Esta força espiritual é profundamente respeitável e tem sido respeitada pelos Espíritos superiores que nos trazem a Terceira Revelação. Nenhum deles trata de demolir a Bíblia, mas simplesmente de construir coisa melhor e que fará o desaparecimento do pior.
Desde o primeiro momento, os Espíritos trataram de aproveitar de todo o Velho Testamento apenas o Decálogo e do Novo Testamento os ensinos de Jesus. Tanto na obra de Kardec, como na de Roustaing, foi guardado silêncio sobre nada menos de 95% da Bíblia. Este silêncio é a morte num futuro mais ou menos afastado. Em compensação, pelos 95% de páginas da Bíblia que os espíritas não estudam, recebem eles uma rica e encantadora literatura espiritualista, ensinando princípios elevadíssimos de conduta e levantando o véu que nos ocultava a vida futura.
Seria erro imperdoável os espíritas combaterem a Bíblia, porque o exemplo dos nossos Maiores já mostrou o caminho a seguir: construir sempre o bem para que o mal desapareça; mas não atacar nem demolir coisa alguma. Todas as coisas más terão que cair naturalmente pela construção de outras melhores. As Escrituras têm a mesma sorte; as velhas vão sendo substituídas pelas novas que melhor correspondem ao nosso grau atual de progresso e estas, por seu turno, um dia serão Escrituras velhas, arcaicas, já pertencentes a um grau de progresso passado e que nunca mais voltará.
(*) Se as Igrejas houvessem compreendido a natureza genuinamente cristã do Espiritismo e lhe dessem pleno apoio, o mundo não teria caído nos abismos do materialismo desenfreado do nosso tempo. Negando, porém, toda a fenomenologia espírita, negaram sua própria base e deixaram o mundo entregue ao materialismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário