quarta-feira, 6 de abril de 2011

45/50 'Crônicas Espíritas'


    45CM

  O Espiritismo, por que estudá-lo?                       (   E  )



            Sob o título acima, lemos na revista “Apostolado das Filhas de Maria no Brasil” uma crítica na qual o autor faz um confronto entre o Espiritismo e o Catolicismo.
            Transcreve o articulista trechos de uma entrevista com Lourenço Faget, na qual este disse que a base dos trabalhos do congresso a que ia presidir seria:
            “1º -- A sobrevivência da alma depois da morte e a sua evolução progressiva para a perfeição infinita.
            2º “-- A possibilidade das comunicações normais – note que digo normais e não acidentais – entre os vivos e os mortos, entre os encarnados e os desencarnados.”

            Sobre isto diz o rev. articulista: “A doutrina católica ensina, ela também, a sobrevivência da imortalidade, o que não é inteiramente o mesmo, como demonstraremos.” (Não é mesmo o mesmo, rev., porque sobreviver da imortalidade parece como quem quisesse ir além do infinito).
            “A doutrina católica, ensina, admite que as almas possam se purificar depois da morte; nós sabemos que há um purgatório (?). Mas não permite que se esqueça que há um inferno (?). Além disso, não admite tão pouco que as comunicações entre os vivos e mortos possam ser normais e habituais, ela os considera como sendo excepcionais.”
            No entanto, é dos fatos espíritas que a Igreja Católica tira os maiores proventos, como por exemplo: da aparição de um Espírito a Bernadette em Lurdes e de fatos semelhantes, além de outros fraudulentamente preparados pelo clero, de que ela vive e se enriquece.
            Também não é de admirar que a Igreja faça questão que as manifestações dos Espíritos sejam excepcionais, isto é, que eles só se manifestem para o seu proveito, visto que os Espíritos elevados e todos os que ela considera os seus santos, todos eles a condenam. É daí o pavor pelas comunicações normais. Mas a despeito do esforço que se faz para sufocar o Espiritismo, os Espíritos continuarão a sua obra até que os muros da nova Jericó caiam por terra. A obra é deles e não nossa.
            O rev. pretende duvidar, que, como diz Faget, os Espíritos, segundo o seu estado moral, são atraídos para as diferentes esferas, dizendo “que o purgatório dos Espíritos inferiores consiste em ficarem rebatidos à tarefa que cumpriram na Terra”. É aí que começa a confusão do rev. e é natural, como natural seria a minha se eu fosse obrigado a ir dizer missa.
            Aí entra a questão da zona lúcida, mas é fácil elucidar o ponto por comparação. Imagine um suíno colocado em um salão cheio de alfombras. Acha que ele estaria lá tão satisfeito como num lameiro? Ou um bugre, acostumado à tanga, numa festa do Clube dos Diários?
            O mesmo se dá com os Espíritos: cada um, naturalmente, procura o ambiente que se coaduna com o seu estado moral e sente-se bem ou mal, sempre de acordo com os sentimentos que o animam; têm o céu ou o inferno dentro de si mesmo.
            Quanto à interpretação que o rev. quer dar à resposta de Platão, “de que na realidade o Senhor não fala com Sócrates nem mesmo com Pitágoras, nem mesmo comigo...
            “No universo espiritual tornamo-nos uma vibração impessoal, para nos confundir numa nota harmônica e sublime: fazer vibrar a um de nós é fazer vibrar a todos”, tirada, segundo afirma, do livro de M. Simosimo, dizendo que ela desmantela o andaime espírita pela base e que se depreende daí que é sempre o mesmo Espírito que, se manifesta, é uma conclusão tão errônea como as outras.
            Para nós, é claro o que Platão diz, e significa muito e muito simplesmente que os Espíritos atingem um estado moral em que amam o seu próximo como a si mesmos; amando a Deus sobre todas as coisas, é natural que, reunidos lá, nos mesmos sentimentos, aquilo que faça vibrar a um faça vibrar a todos; é a identidade de manifestação do amor. O mesmo poderia o rev. observar se entrasse em uma loja onde houvesse uma porção de pianos: produzindo um som que faz vibrar certa corda de um piano, em todos os pianos (que, aliás, não têm alma) a mesma corda vibraria também, desde que fossem afinados pelo mesmo diapasão. Assim, todos os Espíritos elevados se confundem na manifestação que qualquer um deles dá, por estarem todos nas mesmas condições harmônicas. A palavra de um é a palavra de todos.
            Diz ainda o rev. que a dedução que se pode tirar da Doutrina Espírita é que os Espíritos, à força de se purificarem, acabam por não serem mais eles próprios, por se tornarem impessoais, por se perderem no grande todo... E para sermos lógicos, a conclusão final será: que um dia haverá mais Espíritos!...”
            O sofisma que o rev. emprega é falho como todos os precedentes. É. Porém, uma conclusão perdoável para as criaturas que ainda são dominadas pelo egoísmo.
            O Cristo, porém, que nunca foi subjugado por esse vício, ensinou: “Sede um em mim como eu sou um no Pai, para todos sermos um no Pai.” Porventura o Cristo não tinha a sua personalidade e não a conserva até hoje? E por ser um n’Ele, praticando as mesmas obras que Ele fazia, perde-se a personalidade? Ou não estava Jesus ainda puro? E quando a criatura atingir um dia a altura moral do Cristo, identificando-se com ele nos sentimentos, no amor e na caridade, perderá por isso a sua individualidade? Certo que não.
            A conclusão que o rev. devia ter tirado é outra: Jesus disse que “das ovelhas que o Pai lhe confiou nenhuma havia de perder”, e, portanto, que pela purificação dos Espíritos, dia virá em que não haverá mais Espíritos – homens – vaidosos e egoístas no nosso planeta e que todos se confundirão no mesmo amor de um para com o outro, e então virá Jesus tomar posse do seu reino em toda a sua glória.
            Também não é certo quando o rev. afirma que “Nós cristãos ensinamos clara e simplesmente que as almas são imortais, que a responsabilidade das suas obras as acompanha e que terão eternamente a recompensa ou o castigo que lhes é devido.”
            A Igreja prega, sim, as penas eternas para aqueles que não comungam com ela, mas para os seus adeptos adotou alvitres diversos. Para estes há as indulgências (bulas) que ainda hoje se negociam, há as absolvições até a terceira geração e o perdão pela confissão, etc. O maior criminoso, confessando-se, é absolvido, e tantas vezes quantas se confessa – isto para a Igreja – mas outra é a lei que rege a matéria no Além.
            O rev. interpretou mal os ensinos da Igreja; se, porém, ela tivesse ensinado o que o rev. diz, e se o clero tivesse demonstrado o medo das responsabilidades das suas obras no Além, outros teriam sido os frutos da Igreja.
            Também é natural que Faget tivesse dito “que quanto maior fosse a moral do médium, tanto mais acessível estaria à recepção de comunicações de Espíritos elevados, pois isto é dogma da lei de atração: as ovelhas não se juntam com os lobos, entre os homens há o ditado: “dize-me com quem andas e eu te direi quem és”. E se isto se dá na Terra, como poderia, segundo ainda afirma o rev., “um mau padre consagrar tão realmente e absolver tão validamente como um bom?”
            Jesus afirmou “quem não é por mim é contra mim”. Ora, um mau padre decerto não pode estar com Jesus, isto é, Jesus com ele. E Jesus ainda ajuntou: “pelas obras os conhecereis”. E falando ao clero da sua época, disse: “Ai de vós escribas e fariseus hipócritas; pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e depois de o terdes feito, o fazeis filho do Inferno, duas vezes mais que vós”, e “que as suas palavras eram para todos os tempos”. Logo?... Ao povo ensinou Jesus: “Fazei aquilo que eles vos dizem, não, porém o que fazem”.
            É no próprio Evangelho que se encontra a condenação da Igreja, como também a luz que desaltera a sede dos sedentos das verdades pregadas pelo Cristo, e a confirmação da Doutrina Espírita.
            A Igreja não quer que se estude a Doutrina Espírita porque ela tem por base o Evangelho, e a ela (Igreja) não convém que este seja conhecido, a não ser nos poucos versículos que lhe apraz dar à publicidade.
            É preciso que o povo se conserve na ignorância da lei moral pregada por Jesus, para que os tesouros do Vaticano não diminuam, e os cardeais e os bispos possam sustentar a pompa, o luxo, o conforto e o bem estar, pouco importando que o desgraçado que dá uns últimos cinco cruzeiros para batizar seu filho, não tenha no dia seguinte um prato de feijão, ou haja de passar fome.
            Esta é a lei principal da Santa Madre Igreja.
            Que lhe faça bom proveito.



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