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Crônica Espírita ( B )
Escrevem-me vários confrades, enviando artigos em que o clero católico procura provar a seus fiéis que a transmissão do pensamento e o Espiritismo são obra do pobre demônio, e pedem-me para responder a eles pelas colunas do “Correio”.
Supõem que eu seja uma espécie de malho e que com os meus insulsos artigos devo dar cabo da Igreja Católica e colocar o Espiritismo à altura de um princípio.
Não é este o fim dos meus escritos. Se escrevi contra os ensinos católicos foi tão somente por ter sido a isso provocado.
A nós, espíritas, cabe um papel diferente do que muitos pensam.
Se nos foi concedida a esmola da luz, que irradia na Nova Revelação, cabe-nos o dever de, em primeiro lugar, antes de querer converter os outros, dar batalha às nossas próprias imperfeições, de modo que os nossos atos sejam uma prova da grandeza e proficuidade da nossa doutrina.
Ao espírita cabe ser apontado como cumpridor do seu dever em todas as circunstâncias em que agir na vida terrena.
Cumpre-nos o estudo assíduo do Evangelho e a prática dos ensinos de Jesus, pois é no Evangelho que vamos buscar as forças e a coragem necessárias para podermos ser dignos convivas do banquete divino a que por misericórdia fomos convidados.
Para converter a quem quer que seja, Jesus não precisa de nós, porque assim como nos convertemos, quando chegar a sua hora, se converterão os que estiverem maduros para isso. O que se exige de nós é a própria conversão, de modo que nenhum dos nossos atos possa ser apontado como indigno da doutrina que esposamos. E Jesus o disse: “Ai daquele por quem vier
o escândalo”.
Poder tem Deus para das pedras, dar filhos a Abrahão, e, assim também, quando a Igreja for desnecessária, ela desaparecerá, porque nada é inútil neste mundo. Ela deu o seu fruto, e este não foi maior, por não ter o clero sabido aproveitar as graças que sobre ele têm baixado.
Não nos cabe o papel de demolidores de crenças de ninguém, pois estas já foram em grandes partes demolidas pela própria Igreja e pelas escolas materialistas. É nos destroços, no meio dos descrentes, que devemos procurar o material necessário para a reconstrução da verdadeira Igreja do Cristo.
Na “Revue Spirite” de Agosto (1) encontra-se uma carta de Allan Kardec, da qual transcrevo uns períodos que mostram ser este o ponto de vista do mestre.
“O Espiritismo não tem que se preocupar do poder temporal; se este sucumbir será por causas que em si encerra e que o minam desde muito tempo, mas não pelos feitos do Espiritismo, ao qual a existência ou não existência deste poder muito pouco importa. Ele vem preencher as lacunas deixadas entre as crenças pela religião e não sobrepor-se à religião. Marchando sobre o terreno que a religião deixa livre, o Espiritismo não tem maior interesse em combater ou defender o poder temporal.
“Encarando a questão religiosa dum ponto de vista geral, o Espiritismo emite os seus princípios, dentro dos quais cada qual está livre de tirar as conseqüências que lhe convém, sem que tenha necessidade de se imiscuir na consciência de quem quer que seja. Seu fim é dar a fé àqueles que a não possuem, e não tirá-la daqueles que a têm. Daí não ter desviado de qualquer religião os seus adeptos; os que vêm a ele, vêm livre e voluntariamente, unicamente porque encontram nele aquilo que não encontraram alhures.
“Que os adversários do Espiritismo dêem tanto, ou melhor, do que ele, e eles nada terão a temer.”
Sigamos, pois os conselhos do mestre; não procuremos convencer a ninguém, e, se formos procurados, mostremos então9 a satisfação que as nossas convicções nos proporcionam e deixemos ao livre arbítrio deles a escolha da religião que lhes convenha, certos de que, se ela há de ser a nossa, eles estudarão os livros de Kardec, Roustaing, Bezerra e outros, que lhes mostrarão o caminho. E os fatos se encarregarão de lhes dar a prova provada da verdade.
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No intuito de esclarecer o público sensato sobre o valor das sessões espíritas, orientadas no verdadeiro critério doutrinário, aqui transcrevo mais uma mensagem recebida na Federação Espírita Brasileira e que nos parece ser de plena atualidade.
“Vem a propósito e com todo o cabimento o estudo de hoje – a parábola das virgens loucas.
“Ele vale, certamente, por uma advertência salutar a quantos se propuseram empunhar o facho da Verdade, dessa Verdade que tem de ser dita nas praças públicas e do cimo dos telhados.
“Como, entretanto, poderão abrir a boca para proferi-la, aqueles que não houverem agasalhado no seio todos os sentimentos que os tornem capazes de fazê-lo?
“Já se tem dito que o momento não é de palavras, mas de fatos, e fatos que atestem a envergadura do crente, que provem ser ele o portador de uma Verdade nova, que há de fazer, fatalmente, a felicidade do homem não só aí, na Terra, como aqui, na espiritualidade.
“O estado anárquico, revolucionário, no qual vive subvertida a Humanidade do presente, em que todos os princípios de direito e de justiça foram esmagados pela brutalidade do homem, a ponto de não trepidar no sacrifício de seus irmãos, fazendo jorrar caudais de sangue – esse estado não pode perdurar e o momento se aproxima da derrocada geral desse carcomido edifício a que se acolhem as hodiernas sociedades, para dar lugar ao ressurgir da nova vera de luz, que projete sobre a Humanidade novos conhecimentos e lhe faça compreender que um só caminho se lhe abre para Deus – o respeito absoluto a Ele, de par com o cultivo do amor ao próximo.
“Não há como negar que, empenhados na continuação dessa anomalia, grande número de Espíritos está agindo de concerto com os homens, que em seu coração não quiseram ou não souberam dar guarida aos sentimentos de amor e caridade.
“Ai deles, porém; ai desses tais, que estão procurando alimentar o fogo no intuito de satisfazerem integralmente desejos de ambição e vaidade!
“Dia virá em que terão de fugir zurzidos pelo remorso, tendo estereotipada, ante os olhos pávidos, a hediondez da própria obra.
“Deus, na sua infinita misericórdia, espalha sentinelas por toda parte. Elas desveladamente assistem o envolver dos acontecimentos e, com relação a este torrão que se chama Brasil, ou antes, bem denominada Terra de Santa Cruz, sobre a qual o anjo Ismael exerce amorosa, contínua vigilância – parece poder-se dizer que a caudal de sangue, que tinge os campos da velha Europa, dificilmente a ele chegará.
“Não obstante é mister, é imprescindível mesmo, que vós espíritas deis a todo o momento a prova de fé, fazendo brotar de vossos corações não as fezes que porventura ainda contenham, mas os sentimentos de piedade, carinho, humildade e perdão.
“Nas grandes assembléias dos inimigos da luz, daqueles que sistematicamente supõem guerrear o Cristo e votaram guerra de morte ao seu Evangelho, trama-se contra o vosso sossego. O ódio deles não tem limites; tudo é pretexto para a execução de planos diabólicos.
“E a verdade é que, infelizmente, uma grande parte da Humanidade terrena está a fim com aqueles sentimentos. Certo, as sentinelas velam, mas é necessário que cada um de vós por si vele também. Qualquer desfalecimento poderá dar lugar a conseqüências graves; e assim importa que a fé predomine em vosso espírito.
“Essa fé vós já sabeis a maneira de adquiri-la. Importa terdes firmeza nas vossas convicções, já que tendes de ser duramente experimentados.
“Esteja a vossa consciência de acordo com a moral do Cristo e eu vos asseguro que a assistência dos vossos guias será constante. Com o Evangelho na mão, procurando a todo o instante exemplificar os ensinamentos nele contidos, eis, caros amigos, o maior de todos os deveres a cumprir no momento difícil e perigoso que a Humanidade atravessa.
“Tende cuidado com as provocações que vos hão de surgir pela frente; não vos intimideis; antes conservai toda a serenidade de espírito para serdes inconfundíveis. Toda a calma, toda a prudência é pouca, neste momento. Jesus, do alto da sua morada, baixará sobre os discípulos diligentes a sua luz repassada de amor e caridade.”
(assinado) Bittencourt
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Se, de um lado, os nossos adversários não se cansam de pôr entraves à nossa santa doutrina, satisfaz-nos imensamente ver que, por outro lado, nos Estados Unidos e, especialmente, na Inglaterra, o clero anglicano, além de mandar, aos que a sua religião não mais satisfaz, estudar o Espiritismo, faz até conferências em seu favor. Demonstração clara de que acima de seus interesses colocam a educação religiosa da Humanidade. Que contraste com o clero daqui!
O mundo caminha: e é na nobre Inglaterra que a maior evolução em matéria de religião se está operando.
Além do grande campeão Sir Oliver Lodge, Sir Conan Doyle colocou-se à testa do movimento espírita, combatendo pelo Espiritismo evangélico.
Eis algumas palavras por ele escritas, prefaciando a publicação da conferência do rev. F. Fielding-Ould, M. A., vigário da Igreja de Cristo, de Londres.
“Caro Sr. Fielding
Li a sua excelente conferência – “É do Demônio o Espiritismo?” – na ocasião em que ela foi feita. E agora que a está preparando para ser dada à publicidade, tenho sumo prazer em manifestar a minha opinião sobre o assunto.
Qualquer um que tenha amor a esta grande causa e crê, como eu creio, que esta Moderna Revelação é um dos maiores acontecimentos na História do mundo, tem particularmente de alegrar-se quando a vê advogada por um pastor.
Certo estou de que, com os existentes preconceitos, é preciso coragem para fazê-lo; não concebo, porém, trabalho mais produtivo para quem deseja o adiantamento do verdadeiro espírito da religião.
Esta nova mensagem do invisível, do eterno, contém verdades que, sem destruir as velhas crenças, tem que modificá-las e esclarecê-las. Ninguém está melhor aparelhado para fazer este trabalho do que aqueles que procuram a necessária fórmula e, sem irreverência pelas velhas crenças, tenham a mente preparada para receber as novas.
Com especialidade, a gente séria e bem educada, tem-se afastado pouco a pouco da ortodoxia, porque, da maneira pela qual ela lhe tem sido apresentada, há ofendido o seu senso de justiça e moralidade, constituindo um verdadeiro pesadelo.
Agora, porém, vêm as vozes do Além explicando e esclarecendo as interpretações errôneas e abrindo caminho através das formas cerimoniais, até atingir as raízes espirituais da religião, que estavam tão encobertas, que o seu sentido e até a sua existência foram esquecidos.
A Nova Revelação traz bastante luz para nos conduzir por alguns séculos, e marcará o maior movimento ascendente desde o dia da descida do maior Espírito – o Cristo – sobre a Terra.
Algumas pessoas parecem pensar que o clero faz oposição a este movimento, porém estou certo de que isto não é exatamente o que se passa. Há, no mínimo, uma forte minoria que compreende sua verdadeira importância, e não existem melhores livros sobre o Espiritismo do que aqueles escritos pelos revs. Artur Chambers, Tweedale e outros.
Posso bem lembrar que depois de trinta anos de experiência, comecei a expressar as minhas próprias conclusões em público, e a primeira e a mais calorosa carta de aprovação recebida foi a do falecido arquidiácono Wilberforce, o ilustrado capelão da Casa dos Comuns, que também experimentou na sua própria vida o consolo do Espiritismo.
É a parte religiosa que me atrai. É humana e prática, e tem, forçosamente, de se infiltrar na nossa vida diária. Quanto ao lado fenomenal e comprobativo, sobre o qual a mensagem do Além se baseia, ele tem sido tão positivamente estabelecido que me parece inútil perda de tempo a continuação destas pesquisas.
Qualquer quantidade de resultados negativos, ou de médiuns fraudulentos (certamente a mais abjeta e perversa forma de fraudar o mundo) nunca poderá prejudicar os resultados positivos, obtidos por uma grande cópia de testemunhas.
Se o testemunho definitivo de Crookes, Wallace, Lodge, Barret, Myers, William James, Charles Richet, Lombroso, Gurney, Hodgson, Stead e tantos outros não levar à convicção, qual é a prova que o poderá fazer...? A colheita a fazer é essencialmente religiosa, reconciliando a religião com a razão, que, há tanto tempo estiveram divorciadas a despeito de serem essenciais uma à outra...
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