Carnificina Religiosa
J. F .
Reformador (FEB) Fevereiro 1961
Para que se tenha uma ligeira idéia do que foi a célebre e sinistra ‘Noite de São Bartolomeu’, matança que se espalhou por toda a França do século XVI, por ordem de dois papas, um dos quais canonizado pela Santa Madre, vamos transcrever alguns trechos de um longo artigo de 25 de Dezembro de 1960, do ‘Jornal do Commercio’, aqui do Rio:
“Tão monstruosa hecatombe mostra até que ponto atingia o espírito de intolerância e fanatismo da época, com o seu centro de gravidade e de irradiação de um livro insuspeitíssimo, pois que traz o imprimatur eclesiástico, do padre E. Vacandard, com o título de - Études de critique et d’histoire religieuse, 1906.
Narra o historiador católico e doutor em teologia que Pio V, ainda não satisfeito com a retumbante vitória alcançada sobre os protestantes na batalha de Jarnac, apesar da ‘grande alegria’ que experimentara, ‘rendendo graças a Deus, vivas ações de graças’, assim de dirigia a Carlos IX, em carta de 28 de março de 1569:
“Persegui e abatei tudo que restar dos vossos inimigos. Se não arrancardes o mal pela raiz, elas rebentarão, como já o fizeram tantas vezes”.
E à rainha Catarina de Médicis: “Se Vossa Majestade continuar a combater aberta e livremente, até a completa destruição, os inimigos da Igreja Católica. podeis ter certeza de que jamais vos faltará o socorro divino.”
“Estes conceitos de implacabilidade”, comenta o autorizado crítico e teólogo, “visavam também os prisioneiros que o Duque de Anjou fizera em batalha. Certo número dentre eles já tinha sido posto em liberdade: mas Pio V protesta contra essa medida de clemência que, segundo ele, só pode ser prejudicial à Igreja e ao Estado.”
Foi, porém, sob a pontificado de Gregório XIII, sucessor de Pio V, que se desencadeou a maior tragédia religiosa entre os povos cristãos, aliás prevista pelo núncio Salviati, representante do papa, na França, quando, em carta de 11 de agosto de 1572, ao cardeal de Come, dizia:
“Espero, enfim, que Deus me concederá a graça de vos anunciar em breve alguma coisa que encherá Sua Santidade de alegria e contentamento.”
No dia 24 eram os huguenotes apanhados de surpresa, arcabuzados por toda a França. De um relatório de Salviati, o mesmo que esperava ou previra a hecatombe, enviado a Gregório XIII, vale a pena transcrever os trechos seguintes:
“Foram cortados esta noite, em pedaços, todos os huguenotes, por ordem do rei; a execução começou pelo duque de Angoulême e pelos senhores de Guise e Aumale, que foram ao apartamento do Almirante (Cologny) com um forte contingente de tropa (...) Pereceram La Rochefoucault e seu filho; Teligny, genro do almirante, etc. Uma parte de huguenotes, do séquito do rei de Navarra e do príncipe de Condé, que saíram do palácio, atraídos pelo rumor do massacre, encontraram a morte (...) Toda a cidade tomou armas e as casas dos huguenotes foram atacadas e invadidas; muitos homens foram mortos e a populaça entregou-se ao saque com uma avidez incrível (...) Estou persuadido de que se fará outro tanto em todas as cidades da França, quando se souber da execução de Paris”. (Cit. E. Vacandard, ob. cit. págs. 271-72.)
Agora, o crítico e historiador E. Vacandard:
“Posto em reserva o modo de execução, a notícia da São Bartolomeu só podia ser agradável a Gregório XIII, que prosseguia a mesma política de seu predecessor e via no protestantismo ao mesmo tempo um perigo para a fé católica e um obstáculo insuperável à entrada de Carlos IX na liga contra os Turcos. Diz-se que ele experimentou um verdadeiro ‘alívio’, quando o cardeal de Come lhe fez entrega da correspondência de Salviati.” E não podia deixar de ser assim, porque, em sinal de regozijo por tão tenebroso feito, cantou-se um “Te Deum”, seguido de procissão, em Roma: “fez-se cunhar uma medalha comemorativa do massacre dos huguenotes, tendo Gregório XIII encarregado Vasari de pintar em uma sala do Vaticano as principais cenas da sangrenta jornada.” (E. Vacandard, ob. cit. págs. 274 a 276.)
Assim eram os santos e infalíveis ao tempo em que a Igreja dominava o mundo. Eram os “Lampiões” da época.
Hoje, como tábua de salvação, os papas apelam para a ajuda dos protestantes, dos ortodoxos e até dos judeus, suas vítimas durante séculos e séculos.
Newton Boechat
Reformador (FEB) Novembro 1975
Observemos, em estudo interessante, a existência de um espinho histórico, espetado na carne da França: a chamada Noite de São Bartolomeu, ocorrida na madrugada de 24 de agosto de 1572.
Se a Revolução Francesa, em 1789, não pode evitar os excessos e exageros, dada a sua estrutura de massa, com fatores heterogêneos e psicologicamente múltiplos, a existência de continuadas injustiças sobre a coletividade, alimentando revolta incontrolável, por outro lado, objetivou levantar a bandeira de “liberdade, Igualdade, Fraternidade”.
Evidentemente, a caudal política desembocou na aristocracia napoleônica; todavia, os frutos da Revolução ficaram substancializando a vida, e melhorando, paulatinamente, em toda parte, o comportamento das Nações, tendendo-as, mais ou menos tempo, ao Direito.
A Noite de São Bartolomeu não; foi movimento baixo, estúpido, cego, fanático, imediatista, em que, em nome de Deus e à sombra d’Ele, se cometeram as mais inomináveis barbaridades desencadeando causas que se prolongaram em séculos de provações para Espíritos que, na calada da noite, jogaram com o destino de milhares de protestantes hughenotes, aprisionando-os, primeiramente, numa cilada, usando como isca de atração o casamento de Henrique de Navarra (protestante) com Margarida de Valois (católica, filha de Catarina de Médicis, a rainha-mãe, que determinava energicamente sobre seu filho, o frágil Carlos IX).
A Corte Francesa não se conformava com a hegemonia espanhola, que se plasmava cada vez mais, evidenciando-se por toda a Europa. De há muito, discreta coletividade de nobres e conselheiros de Catarina, e ela mesma, elaboravam plano sinistro para eliminar do solo francês o que chamavam ‘a peste’. Avolumou-se a corrente evangélica não somente em Paris, mas na França toda, alentada pela figura austera e firme do Almirante Gaspar de Coligny, que era conselheiro e amigo de Carlos IX.
Antes de entrarmos nas implicações histórico-mediúnicas da tenebrosa noite, em rápidas pinceladas, pintemos o movimento hughenote.
Esta palavra parece ser de intenção pejorativa. Os protestantes franceses adotaram as idéias de Calvino. A origem da palavra hughenote é obscura. Estudiosos do assunto supõem-na derivada do vocábulo ‘hugon’, que designava, em Turena, as pessoas noctívagas, visto que os protestantes costumavam reunir-se à noite. Outros alegam que o nome se originou da pronúncia defeituosa da palavra alemã ‘eidegenosse’, que significa ‘confederados’. Outros afirmam que deriva do fato de os primeiros protestantes citados se reunirem em cavernas subterrâneas, próximas da porta Hugon, nos arredores de Tours.
O primeiro templo huguenote foi erguido em Strasbourg (1538), que, àquela época, não pertencia à França. Os freqüentadores eram indivíduos fugidos da França por motivos de perseguição religiosa. O movimento propagou-se rapidamente; em 1559, foi realizado em Paris um concílio de chefes, cujo fato alarmou os católicos franceses, que resolveram contê-los.
A poderosa família dos Guise chefiava os católicos, enquanto que os huguenotes se deixavam liderar pelo Príncipe de Condé e o Almirante Gaspar de Coligny. Lançaram um manifesto em Orléans, em 1562, em que hipotecavam sua lealdade ao rei, e justificando terem sido compelidos a pegar em armas em defesa da liberdade religiosa. Os huguenotes foram derrotados em Jarnac em 1569, e Condé foi morto com um tiro de arcabuz na testa. Com o seu desaparecimento, surgiu novo chefe entre os protestantes: Henrique, príncipe de Navarra. Em 1570, Coligny e Henrique de Navarra avançavam sobre Paris. Henrique ascendeu ao trono em 1572. Concertou-se seu casamento com Margarida de Valois, irmã do rei da França, Carlos IX, objetivando-se selar a paz entre os católicos e os huguenotes. Para comemorar o acontecimento e a recém assinatura do pacto de paz, os chefes huguenotes e milhares de seus seguidores uniram-se em Paris, alguns dias antes da véspera de São Bartolomeu.
Na antevéspera, ocorrera um atentado contra a vida de Gaspar de Coligny, desfechado por Maurevel, que lhe disparou a arma. Uma bala fraturou-lhe o indicador da mão direita, e outra alojou-se no seu antebraço esquerdo.
O malogrado assassinato fora instigado por Catarina de Médicis, mãe do rei, que temia a vingança dos huguenotes. Tanto ela como outros membros da Santa Liga obtiveram o consentimento do rei para a monstruosa matança de 24 de Agosto. Os partidários do rei, incitados por Catarina e chefiados pelo Duque de Guise, caçaram e mataram praticamente todos os huguenotes que havia dentro dos muros de Paris. Coligny foi morto, e Henrique de Navarra escapou por ter passado a noite no palácio real. Desencadeada a violência, foi impossível dominar a população e, nas semanas seguintes, milhares de protestantes foram mortos em toda a França.
Em 1589, Henrique II, da França, nomeou seu sucessor a Henrique de Navarra, que foi coroado com o nome de Henrique IV. Este se converteu ao Catolicismo, em 1593. Em 1598, assinou o Edito de Nantes, que assegurava a liberdade de culto aos protestantes. Henrique IV foi assassinado, em 1610, por um fanático, Ravaillac, e novamente estourou a guerra entre a Liga e os huguenotes. Tropas do Cardeal Richelieu, primeiro-ministro de Luis XIII, sitiaram os huguenotes no povoado de La Rochelle. A fortaleza caiu e, com isso, foi destruído o poder político dos huguenotes (1628). Estes não foram, entretanto, privados da liberdade de praticar o culto, até 1685, quando Luis XIV revogou o Edito de Nantes. Então, a maioria dos huguenotes emigrou. Cerca de 400 mil se estabeleceram na Inglaterra e na Prússia. Outros iniciaram novas colonizações na América do Norte. Alguns emigraram para o sul da África. Vários permaneceram na França, onde vez por outra sofreram perseguições. Em 1787 o Rei Luiz XVI concedeu-lhes certos direitos. Em 1790, depois da Revolução Francesa, foi promulgado um decreto que restituía aos huguenotes todos os direitos e todas as propriedades que haviam perdido com a revogação do Edito de Nantes.
A presença dos primeiros huguenotes no Brasil data de 1555, com a invasão francesa, chefiada por Villegaignon (séc. XVI).
À luz do reencarnacionismo, que a Doutrina Espírita sistematiza para o mundo, mostrando-lhe a lógica através das leis de mérito e demérito, conforme bem ou mal usado o livre-arbítrio, pelo Espírito - caminheiro da Evolução -, podemos apreciar, agora, por gentileza de Dona Izabel Bittencourt de Souza, distinta companheira de lides doutrinárias no Rio de Janeiro, uma faceta histórico-espiritual, vinda ao nosso conhecimento através da fecunda mediunidade de Chico Xavier, a quem há muito tempo cognominamos de ‘antena psíquica’, devido à quantidade de obras do Alto que nos ofertou e oferta, bem como às centenas, talvez milhares, de identificações de Espíritos em diferentes estados evolutivos.
Os leitores que ainda não leram nosso primeiro livro “Ide e Pregai...” poderão cientificar-se, no capítulo correspondente ao medianeiro da cidade de Pedro Leopoldo, quando inúmeros casos de registro de entidades desencarnadas, acompanhadas, muitas vezes, de pessoas que visitavam o médium, foram contados.
Já na obra “Dicionário da Alma”, lançado pelo “Grupo Espírita Fabiano”, do Meier, RJ, em 1964, prefaciando-a, o saudoso e querido Professor Ismael Gomes Braga, tecendo considerações em torno de D. Esmeralda Campos Bittencourt (mãe da senhora que nos enseja este estudo), assim escrevia:
“Esmeralda Campos Bittencourt, cujas mãos carinhosas prepararam este volume, é um coração de mãe, santificado pela dor, que assistiu à desencarnação violenta de filhos e filhas em plena juventude, brilhantes de conhecimentos científicos e de virtudes morais, em conseqüência de atos praticados no século XVI, mais precisamente na triste Noitada de São Bartolomeu (23 para 24 de agosto de 1572) e dias seguintes, quando a França foi banhada pelo sangue dos protestantes, homens, mulheres e crianças de todas as idades.
“Um grupo de espíritos ligados à corte de Carlos IX, da França, ficou comprometido naqueles tristes acontecimentos, e veio reparar no Brasil, no século XX, aquele passado, sofrendo morte violenta, em plena juventude radiosa.
“Felizmente, tudo ocorreu sem novos crimes, sem ódios, produzindo apenas muita dor. Nossa irmã foi mãe amorosíssima de alguns desses Espíritos, hoje já adiantadíssimos em moral e saber, que se quitaram sem revolta com a lei do Carma.
“Por mercê de Deus, conhecia ela muito bem o Espiritismo, foi suficientemente esclarecida dos acontecimentos e suportou com heroísmo esses tremendos golpes ao seu extremoso coração materno.
“Seu passamento foi sereno em avançada idade [2]. Na madrugada de sua desencarnação nos apareceu ela em sonho muito nítido, rejuvenescida, alegre, felicíssima e nos disse com entusiasmo:
“Terminei a escola; vou aposentar-me; esta é minha última aula!
“Despertamos encantado com a visão e logo pela manhã recebemos telefonema, comunicando-nos seu passamento.
“D. Esmeralda Bittencourt, em quem meditamos em perfume de saudade, era muito amiga de Francisco Cândido Xavier. Várias vezes visitou-o em Pedro Leopoldo, a fim de beber da fonte da água viva que ali jorrava.”
Prossegue o Prof. Ismael:
“Em mais de trezentos anos de evolução, aqueles espíritos progrediram muito, tanto em moral como em inteligência; não são mais os fanáticos religiosos do tempo de Catarina de Médicis e dos Guise, mas compreenderam que estavam em dívida com a Lei e precisavam de quitar-se para poderem galgar novas posições.
“Haviam interrompido violentamente a vida de jovens e precisavam de passar pela mesma experiência, mas não queriam que ninguém fosse culpado de sua morte violenta, por isso pediram para morrer de acidentes, quando jovens, bondosos e amados por todos. Foram atendidos: pagaram sua dívida sem deixar culpados no mundo, para sofrerem conseqüências.” (Op. cit.)
A seguir, os leitores terão a oportunidade de saborear uma das mais extraordinárias e edificantes mensagens recebidas pela mediunidade missionária de Chico Xavier. Apreciarão a roda-viva da lei da reencarnação, trazendo ao presente, na tarefa de maternidade dolorosa e sacrificial de D. Esmeralda Bittencourt, a outrora Duquesa de Nemours, conselheira e amiga da rainha-mãe Catarina de Médicis.
Foi a mensagem recebida em 9-5-1953, em reunião do “Centro Espírita Luiz Gonzaga”, de Pedro Leopoldo, e inédita nos arraiais espíritas.
Assim, o amoroso e ínclito Espírito Emmanuel dirigi-se àquela que, hoje, redimida, se encontra no Mundo Maior:
“Minha amiga, minha irmã:
Muita paz.
Com o temporal, a natureza purifica a atmosfera.
Com o orvalho, o céu alimenta a natureza.
Também com a chuva de lágrimas o Senhor regenera nossas almas e com o rocio da oração conseguimos amenizar a secura do caminho que nos reconduz ao Pai Celestial.
Inclinemo-nos à frente dos Divinos Desígnios!
Nossa marcha redentora para Deus, quando subimos pela escarpa do reajuste, desdobra-se entre espinheiros e vertigens da ascensão.
Escolheste o sublime roteiro das Mães! Mãe pelo sacrifício de todos os sonhos e pela renúncia a toda felicidade menos construtiva no mundo!
Começaste sofrendo no berço e, embora esperando a materialização do castelo de ventura arquitetado na meninice, conheceste a bênção do matrimônio, nele buscando a coroa da maternidade dolorosa e santificante... Acolheste nos braços velhos tesouros que velaste na eternidade, sob as flores de tuas melhores esperanças... Nos braços, acalentaste esses companheiros do grande caminho, nutrindo-os na fonte de teu amor... Afigurava-se-te o mundo, enquanto podias detê-los de encontro ao coração sensível e generoso, um templo em que as tuas dores se glorificavam na confiança e no otimismo, na expectação e na fé viva, à frente do futuro. Entretanto, se havias sido igualmente chamada à educação dos filhos alheios, eras, para os felizes rebentos de tua ternura, não apenas Mãe pela carne, mas, também, a amiga constante e a instrutora ideal...
É por isso que, hoje, a concha de teu devotamento parece esvaziar-se, torturada aos golpes da aflição... É por esse motivo que agora, por mais fulgure a luz solar, conclamando-te à alegria, sentes o coração sepultado nas sombras do peito, à maneira de nau desmantelada pela tormenta, a mergulhar-se sob a pesada corrente do mar revolto...
Somos, porém, uma família de muitos laços afetivos e não nos perderemos uns dos outros.
Prometemos fidelidade ao Amigo Eterno, que jamais nos desamparou, e, nas horas difíceis, entrelaçamos as próprias mãos para o justo soerguimento... Aqueles que nos seguem, de longe e de perto - chaves celestes de nossos destinos -, não nos relegarão à fúria da tempestade. Seguem-nos com o carinho das afeições indestrutíveis, que o tempo somente consegue fortalecer e reavivar.
Teu espírito atormentado não cairá...
Em companhia de Jesus, muitas vezes, conhecemos realmente a solidão; contudo, jamais o abandono.
O amor inextinguível por abençoado farol em nossa viagem brilha sobre os rochedos, indicando-nos o rumo certo.
Continua içando o estandarte de tua confiança em Deus, além de todos os percalços e tentações.
Achamo-nos, efetivamente, na batalha... Batalha fora de nós e dentro de nós. Combate que assume aspectos diferentes, cada dia, pela dor e pelas provações com que somos defrontados... Mas, na vanguarda vitoriosa, temos o Mestre da Cruz que nos espera com o galardão da paz, obtida ao preço de lágrimas e suor, e na retaguarda possuímos benfeitores abnegados que nos suprem com todos os recursos necessários para que não venhamos a perecer.
Armados pela graça divina, prossigamos na luta...
É possível que, embaixo, nos reinos inferiores de nossas velhas dívidas, vejamos nossos apetrechos terrestres reduzidos a frangalhos; é possível que não nos caiba, perante os homens ávidos de conquistas efêmeras, senão o terrível quinhão da amargura; entretanto, é sobre as ruínas fumegantes do passado que construiremos nosso luminoso futuro.
Não importa que o coração de carne padeça na forja da renovação; não faz diferença o agravo da tortura moral na Terra, desde que nosso espírito levantado para Jesus n’Ele espere a sublimação em novo dia...
Reanima-te...
Não nos faltará a Divina Misericórdia.
Tudo na vida é propriedade do Todo-Poderoso... De nós mesmos, apenas dispomos da própria alma que nos compete aprimorar para a Vida Eterna. Edifiquemos em nós mesmos o santuário de compreensão e humildade, aperfeiçoamento e amor em que a Vontade d’Ele exteriorizar-se-á, onde estivermos, a favor de nosso próprio engrandecimento...
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Quanto às angústias de agora, recordemos, de algum modo, a noite de 21 de agosto de 1572, na intimidade do Louvre.
Não obstante as festividades do casamento do príncipe de Navarra com a irmã de Carlos IX, o grande palácio guarda consigo uma sala escura e triste.
É o grande recinto em que a rainha-mãe congrega os amigos diletos...
Catarina de Médicis está indecisa...
Paris está repleta de protestantes para as núpcias reais.
A repressão contra Colligny deve expressar-se agora ou nunca...
Temendo as hesitações do filho, a soberana oculta-lhe a reunião levada a efeito, em surdina.
A corte deve decidir-se.
Um espetáculo disciplinar em Paris é o único lance capaz de erguer a França à altura da Espanha, na defesa papal.
As vitórias do Duque D’Alva, a influência de Felipe, dão motivo às cochichadas conversações.
Se os Países Baixos fossem definitivamente submetidos, o prestígio espanhol ofuscaria o mundo francês.
E a atuação do Almirante herege, transformado em conselheiro único e sumamente respeitado pelo rei, fornece alimento às mais estranhas sugestões do delito coletivo que jaz apenas esboçado.
A Duquesa de Nemours, porém, ergue a voz, tanto quanto possível, e recomenda que a morte é a única solução para os sofrimentos morais da corte humilhada. Coligny deve desaparecer. O conselheiro detestado é um entrave à exaltação da fé, e um inimigo da França.
Catarina, comovida, agradece. E o Duque de Guise aproxima-se, estendendo-lhe as mãos. Alguém, contudo, um padre do Louvre, pede complacência... E os martírios do povo? E a rebelião que, inevitável, se alastraria? O assassínio de Coligny seria a guerra civil, cruel e sanguinolenta... Há mães aflitas, desventuradas... A comunidade está exausta. Só a paz conseguiria restaurar a segurança de todos, e a tranqüilidade nasceria exclusivamente de recíprocas concessões. Guise, porém, retruca, desapiedado. A Duquesa de Nemours tem razão. Só a morte poderia liquidar o enigma daquela hora de provocação e incerteza. Alguém considera:
-E meus filhos?
E a devotada amiga da soberana confessa, com franqueza:
-Dar nossos filhos a semelhante empresa é privilégio que devemos disputar!...
E a reunião passou, até que o rei, frágil e doente, foi convocado pela energia materna ao anoitecer de dois dias depois. Acompanhado de alguns poucos amigos, quando o Almirante já havia sido assaltado pelos tiros de Maurevel, intimou o filho a render-se. A matança dos huguenotes devia processar-se de inesperado. Carlos treme irresoluto. O coração real está dividido entre o amor da progenitora e as atenções do favorito. O soberano enfermiço reage e chora... Mas quando Catarina cai em pranto convulsivo, implorando-lhe organize a chacina, em nome da França, o jovem infeliz brada, semilouco:
-Sim, concordo, mas então matem todos, matem todos!
E afasta-se, correndo...
A rainha-mãe não se deixa intimidar na previsão de quaisquer conseqüências.
Reunida a Nemours, a Guise, a Anjou e outros afetos particulares, mobiliza as providências imediatas.
Autoridades são chamadas à pressa...
E quando os sinos de Saint-Germain-l’Auxerrois começam a badalar, sinistramente, às três horas da madrugada, na noite quente, grupos de cavaleiros e guardas, ostentando a cruz branca nos chapéus e alvas faixas nos braços, erguendo os protestantes mal despertos, começaram a matança inesquecível.
O Duque de Guise dirigiu-se em pessoa à residência de Coligny, seguido de amigos fiéis.
Um deles, caráter duvidoso, de nome Besme [3], foi enviado ao interior doméstico, liquidando o Almirante, que se despediu, dignamente, da missão que desempenhava... Guise, contudo, cá fora, exigiu que o cadáver fosse lançado à via pública, para que se lhe decepasse a cabeça.
Os despojos do condutor popular foram projetados à rua e, logo após, com o Duque à frente, a expedição punitiva atravessou o limiar da casa e Guerchy, Téligny, Montaumur e Rouvray, além de muitos afeiçoados, foram mortos...
As aventuras do morticínio, no entanto, não foram paralisadas aí...
As portas da cidade foram cerradas, e as águas do Sena, ruborizadas de sangue, receberam fugitivos ou feridos que tentavam o escape. Carros repletos foram precipitados das pontes fustigando-se os animais espavoridos nas trevas que precedem o renascimento do sol...
No dia seguinte, a Corte de Carlos IX estava efetivamente vitoriosa.
Os príncipes protestantes foram constrangidos a modificar as diretrizes políticas em que evoluíam para a renovação religiosa, e Catarina de Médicis, embora sob o luto que lhe enegreceu a alma, conseguiu equiparar seu governo ao prestígio da Espanha inquisitorial...
Em verdade, porém, o dia 24 de Agosto de 1572 não era de triunfo, mas de queda e compromissos morais para muitos corações que, em troca de flagelação e sofrimento, se lucificam, agora, para as alegrias do Infinito Amanhã...
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Minha irmã, minha amiga, aceitemos o cálice de fel. Nele sorvemos adequada medicação para a nosso próprio reajuste na vida imperecível.
“O Senhor é o nosso Pastor!... - esclarece-nos a divina promessa -, e nada nos faltará.”
No mundo, experimentas o martírio das Mães que aceitam a existência, como apostolado de suprema abnegação, mas, enquanto o teu corpo de carne se consome à feição do óleo que desaparece na candeia viva, a tua alma, em busca do Senhor, avança, à maneira da luz inextinguível, na direção da Eternidade!
Emmanuel ”
Lancemos mais luz no fato histórico revertido aos dias que correm pela mediunidade.
A mensagem, como vimos, é de 9-5-1953.
Em 24 de agosto de 1965 (12 anos depois), Chico Xavier emocionado escreve a D. Izabel Bittencourt de Souza (D. Bibi, na intimidade), carta, de Paris, contando o seguinte:
“... Hoje, escrevo a você com a emoção que você pode imaginar, pois, alguns poucos dias antes da partida do nosso Antonio [4], Dona Esmeralda e eu achávamos em reunião íntima em nossa casa, junto à casa de Luiza [5], quando, finalizadas as nossas preces e encerrada a reunião, comentamos as lutas que haviam ficado no mundo, depois da perseguição aos nossos irmãos das igrejas evangélicas na França de Catarina de Médicis... Dona Esmeralda e eu comentávamos os vários aspectos das provações a que me referi, quando ela solicitou que eu perguntasse a Agar [6], então presente, se eu, Chico, estava também no círculo de provas por motivo da perseguição aludida, ao que ela respondeu:
-Sim, mamãe, de algum modo, embora indiretamente...
Dona Esmeralda, então, indagou em voz alta:
- Minha filha, quando terminarão essas provas?
Agar respondeu, com palavras que não me lembro, afirmando que, quando ela, D. Esmeralda e eu nos encontrássemos de novo, num 24 de agosto, em uma oração no Palácio do Louvre, isso seria o sinal de que as nossas provações (naturalmente, pelo menos quanto a mim, que reconheço ser uma alma infinitamente devedora perante as leis de Deus, somente as provações que se referem à perseguição de São Bartolomeu) estariam encerradas. Agar sorriu e despediu-se. Dona Esmeralda e eu encerramos a conversação com bom humor e alegria, e concordamos em que, com certeza, isso se verificaria quando nós ambos, ela e eu, estivéssemos no Mundo Espiritual. Passou o tempo, e a palestra, como tantas, ficou aparentemente esquecida. Pois hoje, Bibi, eu que nunca imaginei poder vir a Paris e demorar-me aqui, entre nossos irmãos franceses, estive no Louvre (hoje, grande museu) e, em prece rápida, pude ver D. Esmeralda com Dona Izabel Cintra e outras afeições. Ela estava de fisionomia tranqüila e feliz e, com lágrimas que não chegavam a descer dos olhos, apenas me disse: “Chico, meu filho, Deus te abençoe.” O movimento no Louvre é muito grande e a visão como a prece foram ligeiras. Mas, você pode avaliar a minha emoção escrevendo a você, agora à noite, no hotel, como não podia deixar de fazê-lo, pois você é um coração capaz de compreender a beleza do acontecido.”
Esta a interessante carta remetida da Rue Bonaparte, 49 - Paris.
***
Voltando ao passado, quando ocorreu o desastre que vitimou, aqui no Rio, D. Aparecida Bittencourt, D. Esmeralda recebeu carinhosa mensagem de Chico Xavier, datada de 17-1-1951, cheia de conforto e portadora de vida e paz:
“Minha bondosa amiga:
Deus nos proteja.
Não sei como começar esta carta, em face do lutuoso acontecimento de ontem. Tenho o meu coração infinitamente dolorido e, por mais me esforce, a palavra não traduz o que minhalma deseja dizer. Tenho procurado, de vários modos, estabelecer alguma ligação telefônica, de modo a ouvir-lhe a voz, mas debalde...
A Cia. Telefônica dá sempre um atraso de muitas horas, impedindo-me a comunicação com a querida amiga. Não esmorecerei. Continuarei tentando, até podermos estabelecer algum intercâmbio.
Esperando que o meu pobre telegrama lhe tenha chegado às mãos, continuo rogando a Jesus lhe fortaleça o dilacerado coração de mãe, ao lado do nosso devotado Sr. Quito, a quem desejo igualmente muita fortaleza, na hora difícil que vamos atravessando. Na sexta-feira última, quando tive a alegria de abraçar pessoalmente o nosso Antonio, no instante de nossas preces, vi Agar com o Dr. Bezerra de Menezes. Ela não quis escrever, apesar de haver pedido a ela endereçar ao seu carinhoso coração algumas palavras, alegando que só escreveria se pudesse escrever muito, de acordo com o desejo de seu coração, tomando o Doutor Bezerra a dianteira e endereçando ao Antonio uma pequena página.
Agora sei que o nosso abnegado missionário estava junto de Agar para receber mais um coração sublime que parte.
Elevemos nossos pensamentos para o alto para auxiliar aquela que, tão jovem, tanto fez pela caridade, recebendo a chamada divina em serviço, quando justamente se preparava ao trabalho do bem... Dolorosas foram as circunstâncias em que a sua ternura de mãe a viu partir; entretanto, minha amiga, nós sabemos que a justiça do Céu nunca surge sem misericórdia. Confiemos na Infinita Bondade. Temos a eternidade à nossa frente, e a nossa fé representa uma luz a guiar-nos. Aquela mãe Sublime que chorou aos pés da cruz virá consolá-la... Ela sabe onde se ocultam as lágrimas dos corações como o seu, que tudo tem dado ao bem de todos, no verdadeiro sacrifício, recebendo da Terra os espinhos e as aflições em troca. Ao Anjo Tutelar da Humanidade envio minhas preces, em nosso favor. Que Ela nos abençoe.”
Na carta de 26-1-1951, após os saudares de conforto, escrevia o médium:
“Não mais tive notícias diretas de Agar, isto é, a presença dela, desde a noite de 19, em que tive o conforto de ouvir a sua voz (dela, Esmeralda) ao telefone. Ela (Agar) compareceu à cabina e declarou-me que desejava aproveitar a hora para dirigir-lhe algumas palavras. Não me cabia modificar o programa dela, e entreguei-me. Do que ela conversou com a bondosa amiga, não tenho a menor idéia. Lembro-me, apenas que me achava em conversação com Bibi quando a nossa consoladora mensageira me envolveu num abraço fraternal e nada mais percebi, a não ser quando me achei escutando a sua voz. Voltei a casa, depois do telefonema, sob forte impressão, sentindo-me, porém, contente por haver servido de veículo à palavra de quem nos é tão querida e, na ligeira oração com que faço proceder o sono, vi-a distintamente ao meu lado. Perguntei-lhe, então, sobre a Dra. Aparecida [7], e ela me disse que o acontecimento se filiava ao passado e que era uma página escura a se converter em claridade. Afirmou que fora informada, há muito tempo, de semelhante prova, que não foi possível ser modificada e, na manhã do dia 16, dirigiu-se em companhia do Dr. Bezerra para junto dela, encorajando-a e fortalecendo-a espiritualmente e, tentando quando lhe era possível pela oração, para auxiliar a todos, guardando, ainda, a esperança de que o acontecimento fosse desviado, mas, igualmente em lágrimas, viu a irmãzinha tombar sob a provação que se tornara inevitável e inflexível. Havia ou há alguma árvore no local do acontecimento doloroso? Assim pergunto, porque Agar me disse que ela, Dr. Bezerra e outros amigos permaneceram ao lado de uma árvore, de onde puderam prestar socorro à abnegada irmã que partiu, com a urgência precisa, afirmando que a desencarnação foi imediata, mas que a retirada espiritual só foi realizada em seguida a algumas horas. Disse-me que o choque foi tão grande que ela não registrou os fenômenos de angústia e do sofrimento, sendo imediatamente anestesiada por recursos espirituais, com o Dr. Bezerra de Menezes operando na direção. Acrescentou que a irmã achava-se recolhida em organização da esfera próxima, para tratamento, mas, ainda incapaz de coordenar idéias sobre o ocorrido, mantendo-se numa situação de alheamento de tudo. Pedi a ela que eu desejava ver Dindinha[8], e, com a assistência de Emmanuel, senti-me em desdobramento, seguindo a ambos, como se eu estivesse correndo sem fazer esforço. Chegamos a um lugar arborizado com grande beleza, e penetramos em edifício enorme, cheio de movimento, mas silencioso. Agar abriu uma porta e entramos. Num leito muito amplo e muito branco estava uma jovem prostrada. Alguma coisa me pungiu o coração e nada pude falar. Fixei-a, em pranto, e só me lembro que a fisionomia muito delicada assemelhava-se bastante à do Antonio. Lembrei-me da senhora, do Dr. Mena Barreto, do Sr. Quito e de todos nós que tanta dor experimentamos com o fato inesperado, e minhas lágrimas se desataram e, com isso, notei que Emmanuel me arrebatou do aposento. Então, de volta, porque eu indagava sobre a causa de tamanho sofrimento, o nosso benfeitor espiritual, que se mostrava muito sereno, disse-me, paternal: - Queres, então, saber?
Abracei-me a ele, como se eu fosse uma criança, e declarei que sim.
Ele pousou as mãos de leve na minha cabeça, como se me magnetizasse, exclamou:
- Observa alguma cousa.
Senti como se uma força diferente me impulsionasse para cima, com um estalido que não posso descrever, e vi-me numa cidade enorme[9] de ruas sombrias, em estranha noite. Vozes em algazarra me chegaram aos ouvidos. Eu estava também naquela cena em outro corpo e, com horror, observava um povo desvairado a matar, com ruído e gargalhadas, os próprios irmãos. Incêndios aqui e ali mostravam quadros terríveis que as badaladas dos sinos no ar tornavam mais impressionantes.[10]. De chofre, retomei uma lembrança que estava dentro de mim e que até então me parecia perdida. Lembrei-me e corri também para os acontecimentos. Era a Noite de São Bartolomeu, em Paris, em 1572...
Os gritos ‘massacrez! massacrez! O rei deseja! O rei deseja! massacrez!’ me enchiam os ouvidos e eu, em desespero, recordei alguém que talvez já estivesse nas sombras da morte e bati às portas de uma casa nobre, rogando socorro, reconhecendo aí muitas pessoas do nosso meio que se acham encarnadas. Não consegui o socorro almejado e pus-me a correr sem destino, mas a perturbação era enorme. As casas particulares eram invadidas por turmas de pessoas truculentas, e mulheres e crianças eram trazidas para morrer em praça pública. Muitos meninos eram atirados às águas do rio, depois de passarem na ponta dos sabres de homens embriagados. Muitas vítimas eram levadas as correntes do Sena, ainda vivas, para, ali, encontrarem a morte. Por mais de uma vez, vi homens e mulheres, em grupos, atirando feridos à pata dos cavalos, os quais eram horrivelmente mutilados sob os carros que passavam, de quando em quando, em disparada. Depois de longa luta comigo mesmo, não mais suportei a situação e senti que a consciência de mim mesmo me faltava... Foi quando tornei a mim, sob o olhar calmo de Emmanuel, que me disse:
- Aí se encontram as nascentes da amargura de hoje. Bendigamos a dor que refaz o equilíbrio e reconstrói o destino.
Depois de entreter com ele uma palestra longa, retornei à vida habitual e, apesar de ver que esta carta está inconveniente e longa demais, julguei melhor relatar-lhe tudo, enquanto o assunto de minha experiência está vivo na minha imaginação...”
E para finalizar este depoimento feito por alguém dotado de sensibilidade mediúnica, assistido por tão augusta entidade, leiamos trechos da carta que D. Esmeralda Bittencourt recebeu, datada de 7-2-1951:
“ ... Realmente, a visão da noite de 19 de janeiro último me sensibilizou muito. Eu me achava na condição de uma pessoa de quinze anos e me lembro de haver corrido à residência de amigos do meu círculo familiar, e recordo-me que entrei por uma residência senhorial a dentro e a encontrei [11] visivelmente preocupada. Lancei-me em seus braços, rogando socorro para alguém, mas a bondosa amiga, ao lado de pessoas muito importantes, afetuosamente disse: “Pobre criança! é muito tarde!”
Tentei forçá-la a dar-me maior atenção, mas, não consegui, porque havia muita gente ao seu lado. Reparei que a bondosa amiga me enviava a uma casa, que era alguma de sua residência, em companhia de uma pessoa de sua confiança, um homem alto, com um chapéu largo, onde se destacava uma cruz branca, que não pude observar muito bem, porque chorava muito, e de quem me afastei, fugindo pela via pública. Sei que o nome ‘Nemours’ foi pronunciado várias vezes, como designando a sua residência. Para falar francamente, recordei que a estimada amiga me pareceu amiga íntima da rainha Catarina de Médicis e, como ela também, de origem italiana, desposando um alto dignatário da corte francesa de então...”
“Ainda não tornei a ver Agar, mas o Doutor Bezerra de Menezes explicou-me que ela tentou materializar-se aos olhos do Dr. Mena Barreto, no Pronto-Socorro [12] , mas não conseguiu senão solicitar-lhe a atenção para forma ectoplásmica, indefinida, com que ele se surpreendeu.”
Com a permissão do Alto, o fato aqui descrito com as minudências possíveis, dá-nos uma idéia do que foi a “Noite de São Bartolomeu” e seu cortejo de horrores.
No plano das formas, vitoriou-se a Corte de Carlos IX mas, no plano espiritual, todos os responsáveis pelo massacre dantesco desciam à densidade espiritual, encontrando, na sucessividade dos séculos, expiações e provações inenarráveis, na urdidura das circunstâncias humanas, sem falar no sofrimento superlativamente grande nas esferas esferas invisíveis.
Mas, no dizer de Castro Alves, em “Parnaso de Além-Túmulo”, psicografado por Chico Xavier, no poemas “Marchemos!”,
“É a dor que através dos anos,
Dos algozes, dos tiranos,
Anjos puríssimos faz,
Transmutando os Neros rudes
Em arautos de virtudes,
Em mensageiros de paz.”
[1] Este trabalho constitui capítulo inédito do Livro “O Problema da Insatisfação”
[2] Aos 75 de idade, em 30-10-1963, no Rio de Janeiro.
[3] Besme, alemão, criado de François de Guise. Conta-se que foi o primeiro a abordar Coligny. “Sois o Almirante? -Sou”, respondeu, “e deveria respeitar a minha idade e minha debilidade, moço, porque não haverá, de nenhum modo, vida mais curta.” O criado atravessou-lhe o peito, golpeando-lhe a cabeça respeitável, e outros caíram sobre ele. (Nota do autor)
[4] Filho também, desencarnado por acidente. (Nota de Dona Bibi.)
[5] Irmã do médium psicógrafo.
[6] Quando em vida, filha de Dona Esmeralda.
[7] Desencarnada por acidente, no Rio de Janeiro
[8] Como era carinhosamente chamada a Doutora Maria Aparecida Bittencourt Mena Barreto.
[9] Paris, século XVI.
[10] Regressão de memória, provocada magneticamente por Emmanuel.
[11] O “encontrei” refere-se a Dona Esmeralda, reencarnada como Duquesa de Nemours
[12] Tal fato se deu aqui no Rio.
Muito interessante. Acabei de assistir Rainha Margot, estava pesquisando a família Médici, pra saber um pouco de história geral e amarrei palavras chaves a espiritismo e cheguei aqui. De fato, eu queria saber do destino dos entes dessa família, incapaz de imaginar o que os teria acontecidos nas reencarnações.
ResponderExcluirFoi muito interessante tudo que compartilhou.
Muito obrigado, obrigado.
Eder.
Prezado Aron,
ResponderExcluirSou Carmen Silvia Menna Barreto filha do Dr. Menna Barreto, viúvo da médica Aparecida a qual Chico Xavier fez referência .
A aghar e o Dr. bezerra de Menezes estiveram com meu pai na ocasião que Aparecida ( filha de D. Esmeralda ) desencarnou.
Tenho alguns indícios que me fazem pensar que sou a reencarnação da Aparecida, morta em 1951, agora encarnada como filha do Dr. menna Barreto.
Vc pode me dizer alguma coisa sobre esse meu relato?
Obrigado
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPor curiosidade : Catarina mora atualmente em qual Estado?
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ExcluirÉ vc Rose?
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ResponderExcluirno Livro Sinos que Tocam, conta essa tragedia
ResponderExcluirCarmem Menna Barreto meu nome é Odilon, sou filho de Isabel (Bibi) e sobrinho de Aparecida, por favor faça contato obfrossard@terra.com.br ou (11) 972815253. Obrigado
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