sábado, 30 de abril de 2011

04 Escravidão e Espiritismo




-IV-
 ‘Escravidão
no Novo Mundo’

por Alberto de Souza Rocha
Reformador (FEB) Março  1988

            Comecemos por lembrar a história dos Grandes Descobrimentos, do caminho marítimo costeando a África e descerraremos para breve o espetáculo com que alguns países colonizadores – Portugal, no nosso caso – assumiram o privilégio da venda de negros para a América em pleno século XVI, mais precisamente para A América do Norte, para as Antilhas e para o Brasil. Há uma data de início mais ou menos provável, o ano de 1526.
            Pois, enquanto as bandeiras e as entradas tentavam aliciar o índio trazendo-o de suas matas para a lavoura, os navios negreiros traziam para os portos brasileiros as primeiras cargas de negros, a ferros. Chegavam como se fossem animais bravios, selvagens, como se neles não houvesse sentimentos nem consciência.
            Sobre a tentativa de escravidão do índio, no lado espanhol, o governo da Metrópole doava latifúndios a produtores rurais incluindo a posse dos índios que aí habitassem... Eram as ‘encomiendas’. Certo número de índios eram cedidos para as minas. A ‘encomienda’ e a ‘mita’ apenas mascaravam a escravidão do índio. (’Diálogo Médico’, Roche, ano 13, nº 7/87.) Já o padre (Diogo Torres) recomendava aos missionários não permitissem a escravidão do índio (idem).
           
Os bandeirantes, apontados ufanisticamente como desbravadores do sertão, na verdade encarregavam-se de dizimar tribos inteiras e escraviza-las para os engenhos.” 
(a mesma revista, textualmente).

Não se tendo o ameríndio, autóctone, submetido à escravidão, teria ela que prosseguir com o povo vindo do outro lado do Oceano... Pois, chegaram ao Brasil só no século XVIII 1.300.000 negros e no século XIX, apesar da proibição, 1.600.000.
Falando-nos do Rio de Janeiro no tempo dos Vice-Reis, Humberto de Campos (Espírito), em ‘Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho` (Capítulo XII, págs. 105 e 106 da 16ª ed. FEB), descreve:

“(...) um dos espetáculos mais dolorosos e comovedores ofereciam-no os mercados de escravos, como o do Valongo, onde os miseráveis se amontoavam aos magotes, esperando o comprador que lhes examinava os pulsos e os dentes, selecionando os mais fortes para os duros trabalhos das fazendas. Ali, encontravam-se representantes dos negros de Guiné, de Cabinda e de Benguela, que eram separados dos pais e das mães, dos irmãos e dos filhos, nos sucessivos martirológicos da raça negra, na qual os próprios padres de Portugal não viam irmãos em humanidade, mas os amaldiçoados descendentes de Cam.”

Nem tudo seriam horrores, todavia. Por isso, o autor espiritual ameniza:

“(...) Costumes fraternos surgem espontaneamente no seio da população de todas as cidades brasileiras O hábito de apadrinhar os negros faltosos, ou fugitivos, nunca é desrespeitado pelo senhor. Reconhece-se o direito de propriedade aos escravos, e o costume de ceder um dia ou dois aos trabalhos dos cativos é confirmado por lei, em 1700. Alastra-se o precioso movimento das alforrias na pia batismal, onde, com um óbulo insignificante, são declarados livres os filhos dos escravos”. (Pág. 107.)
                       
E o mesmo autor, em palavras reconfortantes:

“(...) As ordens religiosas possuíam os seus pretos, que eram bem tratados e jamais podiam ser vendidos. (...) nunca a emancipação foi impedida por lei, como em outras nações. (...) nunca teve o Brasil um código negro, à maneira da França e da Ingleterra.” (Pág. 108.)


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