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Os grupos espíritas sabem hoje que a mediunidade se desenvolve e se disciplina no recolhimento, nas renúncias, na oração, tudo isso secundado pelos passes de outros médiuns já desenvolvidos e afeitos à tarefa espiritual. O procedimento é hoje idêntico ao daqueles tempos recuados e somente quando a fonte é a mesma pode a prática ser tão maciçamente consistente como tem sido. Veremos isso ao longo de todo aquele tempo aureolado de luzes celestes em que o Cristianismo se implantou na terra, aparentemente de baixo para cima, mas, na realidade, de cima para baixo. De outra forma, como se explicaria o êxito sem precedentes daquela doutrina que, confiada a um punhado de humildes trabalhadores incultos, pode renovar em pouco tempo o mundo inteiro das crenças e descrenças? As comunidades se mantinham em permanente intercâmbio com os Espíritos orientadores do movimento. Por toda parte os desencarnados se manifestavam. Era impossível prendê-los, torturá-los e exterminá-los. Era impossível obrigá-los à apostasia – eles continuavam a divulgar a mensagem imortal de Jesus e a espalhar consolações inesquecíveis no meio daquela pobre gente batida pela perseguição de um mundo que recusava Cristo. Sem a mediunidade, o Cristianismo não seria o que foi. Há, porém, uma classe de espíritos tão aferrados à volúpia do poder que qualquer instrumento serve para exercê-lo e, quando o Cristianismo começou a representar também um dispositivo de poder temporal, chegaram-se e ele que os queriam dele apenas a sua estrutura material, humana, sem nenhum interesse real pela contraparte espiritual invisível. E foi assim que, já no princípio do século IV, começaram a extinguir-se, por ordens dos novos ‘donos’, os focos luminosos, onde a mediunidade se exercia nas igrejas cristãs. Foi aí que começou a decadência, não da idéia, da doutrina, mas do movimento em termos espirituais. Daí em diante, é o personalismo, é a sede do poder, o exercício da autoridade, a acumulação das riquezas, o domínio das almas e não a compreensão através do amor. Não tardaria a longa noite medieval do obscurantismo. Ao correr dos séculos, muitos foram convocados para revigorar o poder do espírito na estrutura que se montara sobre o poder temporal, mas a despeito de sacrifícios generosos e sublimados esforços, os êxitos eram parciais, ocasionais, temporários e em pouco tudo voltava à frieza da máquina poderosa que triturava as mais santas esperanças. As mediunidades que surgiam no próprio seio da igreja foram classificadas em dois grupos estanques: aquelas que serviam aos propósitos do poder temporal eram santificadas e preservadas, mas as que se opunham eram impiedosamente esmagadas. Começara a caça à bruxa, isto é, a uma das mais nobres faculdades do ser humano, aquela que lhe permite entender-se com os seus irmãos desencarnados. E, por fim, a mediunidade foi também desvirtuada para servir de instrumento de demolição e não de edificação, porque, desguarnecida da assistência de Jesus, o médico se perde e se entrega à escravidão do erro, como joguete de implacáveis companheiros das trevas.
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