terça-feira, 22 de março de 2011

Inquisição - Parte 2

A man held upside down in a stockade being tortured before a tribunal



Inquisição

Caetano Sobrinho
Artigo transcrito  do ‘Mensário Espírita’,
ano X, nº 109, janeiro de 1983, que é publicado em Recife (PE),
sob a responsabilidade da ‘Comissão Estadual de Espiritismo’.
Fonte: Reformador (FEB) Abril 1983

            De todas as coisa tristes e feias executadas pela humanidade, em nome de Deus e do Cristo, as práticas do Tribunal do Santo Ofício - a Inquisição - foram as mais lamentáveis que a consciência humana teve que suportar.
            A Inquisição foi instituída no ano de 1203, pelo Papa Inocêncio III, tendo sido confirmada em diversas bulas pelos Papas Gregório IX, João XXII, Eugênio IV, Calisto III, Pio II, Sixto IV, Alexandre VI, Clemente VII e Gregório XV; e seu último ato verificou-se em Barcelona, a 9 de outubro de 1861, com o Auto-de-Fé da queima dos livros espíritas.
            Para cumprimento das finalidades da Inquisição, foram nomeados, para dirigirem a sua execução, os Padres Dominicanos, tendo, em diversos países onde o Catolicismo dominava o poder temporal, sido criados Tribunais que tinham poderes absolutos para condenar à morte, confiscar bens, queimar livros, interditar locais, proibir ensinos e transmissão de idéias.
            Alegando que os poderes lhes haviam sido outorgados por Deus, os Inquisidores, para cumprimento de suas funções, nomeavam-se como os defensores de Deus, da Fé e se arvoravam como o braço da Justiça Divina.
            Tamanha estupidez e pretensão faz tremer a consciência humana, quando olha para aquele período negro da História da Humanidade.
            A bem da verdade, reconheçamos que, pelas próprias proibições, pelo medo e pelo terror imposto às criaturas de então, é muito pouco o que se sabe dos horrores praticados pela Inquisição. Felizmente, para que se pudesse fazer uma idéia do que ocorreu, alguns casos não ficaram escondidos, graças à proeminência pública dos nomes dos personagens que se encontravam envolvidos.
            Se aqueles personagens, respeitáveis por todos os títulos, não foram poupadas pela Inquisição, o que não deverá ter ocorrido com as criaturas simples e comuns, para as quais nenhuma conveniência existia para respeitá-las?!
            A História da Inquisição nunca foi escrita, nem nunca o será porque a memória e guarda dos seus documentos ficou, na sua totalidade, em poder dos seus executores e responsáveis o que persiste até hoje, e estes nunca permitirão a sua publicação.[1]
            Tudo  o  que se sabe da Inquisição, são informações vagas sobre o número dos condenados à morte (um milhão, ou dez milhões, ninguém garante); sobre o confisco de fortunas fabulosas, principalmente de judeus; sobre a proibição de anunciar verdades científicas, como no caso Galileu; sobre a repressão violenta às outras crenças e práticas religiosas minoritárias, que não aceitavam as proibições, e, principalmente, sobre os considerados bruxos e feiticeiros.
            Para que o leitor tenha uma idéia do que era a Inquisição, transcreveremos, a seguir, algumas bulas papais, onde se poderá entrever o que de terrível e ignominioso ocorreu naquela época, quando a Igreja dominava o poder temporal:
-           Bula assinada  em 9 de dezembro de 1484, pelo Papa Inocêncio VIII  e que condenava “todos aqueles que, esquecendo a sua própria salvação e afastando-se da fé católica, se entreguem aos demônios, íncubos e súcubos e pelos seus feitiços, sortilégios, abjurações, crimes e atos infames, cometam toda a espécie de excessos e de crimes abomináveis com graves perigos para suas almas”.
-           Bula de Paulo IV, de 1559, proclamava:  “monarcas, príncipes, bispos, todos, apenas caiam em heresia, ou separem-se da Igreja, ficam ao mesmo tempo irrevogavelmente depostos, independentemente de qualquer formalidade legal, privados de seus direitos soberanos e condenados à pena de morte. No caso de arrependimento e conversão cumpre sejam enclausurados num mosteiro, para se penitenciarem a pão e água durante a vida inteira.”
-           Bula “Malleus Maleficarum”, que dizia: “mesmo os imaculados e os justos são freqüentemente enfeitiçados pelo diabo, como foi Jó”, só lhes restava, “caridosamente”, pelo suplício do fogo terreno, imposto aos hereges em vida, “evitar que sofressem o castigo do fogo eterno, após a morte”.
-           Em 1623, o Papa Gregório XV ordenava  à Inquisição que “condenasse ao cárcere perpétuo, quando não com mais justiça ao suplício do fogo, quem quer que se envolvesse com Satã”.
            É necessário que se chame a atenção para o fato de que entre milhões de mortos pela Inquisição, grande número deles foram queimados vivos, condenados sob a alegação de manterem ligações com Satã. Foram os famosos casos dos endemoinhados, os quais nenhuma culpa tinham nas manifestações, que ocorriam por seu intermédio, como meros instrumentos que eram da vontade dos espíritos comunicantes.
            Quem deseje conhecer, em detalhes, a descrição dos horrores dos casos demoníacos e um processo de condenação por pacto com Satã, até à morte na fogueira, do condenado, leia o livro do escritor, por todos respeitado, Aldous Huxley, “Os Demônios de Loudun”, editado no ano de 1982 pela Livraria Globo, onde ele descreve, analisa e estuda, com base em livros publicados sobre o assunto desde 1634, o ocorrido na cidade de Loudun, na França, no período de 1627 a 1636.
            Somente trevas existe na História da Inquisição, como de trevas foi sua existência durante os séculos afora, em que perdurou como um escárnio e vergonha a consciência humana.
            Eis os nomes de algumas personalidades célebres na História, pelos feitos nos ramos de seu conhecimento, e que sofreram condenação da Inquisição, a partir de proibição de seus livros, até a condenação à morte queimados: Galileu Galilei, Giordano Bruno, Vésale, Servet, Agrippa, Helmont, Della Porta, Wien, João Huss, Wolfhart, Severino, Savanarola, Bacon, Erasmo, Victor Hugo, Kant, Pascal, Spinoza, Descartes, Melanchton, Lamartine, Rousseau, etc., etc.
            Quando se examina, mesmo o pouco que se sabe da Inquisição, vem do espírito uma pergunta: os inquisidores eram bestas, ou homens? Como se entender e aceitar que, após as claridades maravilhosas da Boa Nova, trazida por Jesus à Humanidade, abrindo um horizonte novo de Esperanças, criaturas houvessem que, recebendo o legado para disseminar e praticar esse Evangelho Divino, se transformassem em algozes e destruidores, fazendo exatamente ao contrário da Mensagem de Jesus?
            Somente a força divina da Mensagem de Amor de Jesus, pela sua imensurável grandeza e raízes celestiais, teria condições - como, realmente, teve -, para não permitir a sua destruição, porque qualquer outra doutrina ou crença em que seus maus seguidores fizessem tais coisas, em seu nome, estaria legando à destruição e repulsa dos homens, pelos tempos vindouros.
            Hoje, publicamente, o Papa João Paulo II proclama, oficialmente, aquilo que a consciência humana, há séculos, já fazia: o repúdio da Inquisição.
            A Inquisição é uma advertência para os crentes e dirigentes religiosos, a fim de que tenham sempre em mente que tudo que pode acontecer de bem ou de mal, até no seio dos depositários da Palavra de Deus, tudo dependendo, obviamente, da vigilância de cada um, individualmente, e de todos, coletivamente, para não se deixarem levar pelas suas inferioridades e pela ação dos Espíritos inferiores, ignorantes e maus.
            Devemos sempre ter em mente que coisas terríveis como as realizadas pela Inquisição, ainda poderão ocorrer, haja vista, por exemplo, como homens se deixaram corromper nas últimas duas grande guerras mundiais, praticando horrores que também envergonharam a consciência humana.
            Por isto é que o Mestre Divino, na sua singeleza, apiedado da ainda pequenez dos Espíritos que habitavam e deveriam habitar, no futuro, o nosso mundo, recomendou como fórmula única para as criaturas se precatarem contra as exteriorizações de suas inferioridades, o “orai e vigiai para não cairdes em tentação”.
            SURSUM CORDA!!!


[1]  Afirmativa de responsabilidade do Autor do artigo ora transcrito em ‘Reformador’- A Redação.

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