quarta-feira, 23 de março de 2011

14/50 'Crônicas Espíritas'




14CM
Meu caro padre Dubois:

Muito teria ainda a dizer-lhe em resposta à sua carta de 14 de Maio, como, porém, desejo satisfazê-lo, passo a responder à de 2 de Julho.
Diz o amigo: “O senhor não ignora que Jesus mandou aos apóstolos o Espírito Santo para lhes ensinar as verdades que eles ainda não podiam suportar (é um contra-senso) e para lembrar-lhes tudo quanto lhes havia ensinado”, (O grifo é meu)
Em termos, meu amigo, Jesus de fato disse aos apóstolos, ao despedir-se deles: “Ainda tenho muita coisa que vos dizer, mas vós não as podeis suportar agora, porém, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade.” (João, XVI: 12-13)
Medite, meu amigo, sobre aquela afirmativa do Mestre de que os apóstolos não estavam em condições de suportar – compreender – as coisas que deixou por isso de lhes ensinar na ocasião que deles se despedia, antes da sua paixão. Ter-se-ia modificado o seu estado de inteligência de tal modo, que, seis semanas mais tarde, 
podiam compreendê-las? Parece que não.
E se o Espírito Santo lhes ensinou todas as verdades, onde ficaram elas? Não consta nos “Atos dos Apóstolos” que novas verdades lhes tivessem sido reveladas depois da ascensão do Senhor.
O que se depreende dos versículos acima citados, como do vers. 26 do cap. XIV de João: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar tudo quanto vos tenho dito”, é que o Pai enviaria o Espírito Santo (os Espíritos guias e protetores dos apóstolos) para assisti-los e guiar, como explicitamente ensina João, e rememorar, relembrar nas suas mentes as palavras de Jesus, para que passasse, de boda em boca até que os Evangelistas as escrevessem.
A promessa de que o Consolador, o Espírito de Verdade ensinaria todas as coisas, referia-se a tempos futuros, quando as inteligências mais esclarecidas pudessem compreendê-las. A cada época a sua revelação; à nossa coube a vinda do Consolador, o Espiritismo, que a um mesmo tempo e em todas as partes do globo está esclarecendo as inteligências, que estão aptas para isso, a respeito da verdadeira vida da criatura e a razão de ser da encarnação terrena.
Nos “Atos dos Apóstolos” está relatada a assistência eficaz que o Espírito Santo deu aos apóstolos, como eles produziram prodígios da mesma natureza dos que Jesus obrou e como eles foram constantemente inspirados, guiados e protegidos por estes Espíritos de escol celeste, enviados pelo Senhor.
Porventura, meu amigo, o clero da Igreja Católica, em virtude dos exemplos dados pelos apóstolos e por varões ilustres que, de vez em quando, no seu meio labutaram, seguiu a trilha dos apóstolos? Quais são as suas obras? Onde estão os coxos e os paralíticos que, em virtude do dom concedido por Jesus, andam e proclamam a glória de Deus? Onde estão os cegos que vêem, os leprosos e enfermos curados pelo clero?
Essa impotência de poder obrar prodígios em nome do Manso Cordeiro é dolorosa, é incômoda, e produz acesso de raiva, especialmente quando se chama para ela a atenção; mas do esforço para se obter virtudes, para se modificar o seu eu, não se cogita, como bem disse o abade Dubois no seu livro “O Padre Santificado”.
Só se cogita de galgar rendosas posições e de viver farto, à custa de quem for. Ameaça-se com o inferno os simples e ignorantes para que não faltem meios à farta subsistência dos dignitários da Igreja, sem se importar se o óbolo assim extorquido faltará amanhã para matar a fome a pobres crianças.
Explora-se a vaidade com as pomposas missas em luxuosos templos, procura-se por todos os meios contar com as simpatias dos chefes de Estado, concedem-se títulos de nobreza, e a despeito do ensino de Jesus, “o reino dos céus é dos simples de coração”, prometem-no aos ricos e poderosos, desde que o queiram comprar, prestigiando a Igreja.
E quando os Espíritos mensageiros de Jesus, que por sua misericórdia de novo baixam em coro à Terra e em todas as partes do globo, se manifestam e procuram esclarecer esta pobre Humanidade, apontando-lhe o caminho da virtude para a sua salvação, “é o demônio”, diz a grita que se ouve de todos os púlpitos, qual aconteceu no tempo do Cristo.

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