sexta-feira, 4 de março de 2011

Comunicações do Espírito Allan Kardec - Parte 1




Paz Caridade sejam convosco,

            por D. José Amigó y Pellícer
           Fonte: “Roma e o Evangelho” (FEB)
              Data da Comunicação: Novembro/1873
           
            Meus irmãos e meus filhos, porque o sois de minha doutrina, fundada sobre a fé de Jesus: a paz seja convosco e a caridade em vosso espírito. Glória a Deus nas alturas e a Jesus Cristo à direita do Pai - e eu a seus pés.
            Estou convosco desde que vos reunistes em espírito de verdade e em nome de Jesus - e ansiosamente sigo vossos passos.
            Receava que retrocedêsseis por causa das contradições e pelo temor dos juízos do mundo! Felizmente, assim não foi, e, pois, me felicito e vos felicito.
            Também tenho acompanhado vossos trabalhos em prol da propaganda cristã.
            Vosso livro será o protesto da verdade humilde contra o erro triunfante e orgulhoso. Sua doce filosofia penetrará suavemente pelas entranhas do povo; será um pequeno roedor, mas que, em sua pequenez, contribuirá eficazmente para destruir os pés do gigante.
            Não é um trabalho perfeito, mas sim de grande utilidade; mais útil para o povo que alguns dos meus livros, que convirá reformar.
            Talvez Roma e o Evangelho não seja o último que tenhais de publicar em defesa das verdades cristãs. Pedi e dar-se-vos-á, disse Jesus, nosso divino Mestre.
            Esvaziai vosso coração de suas impurezas e pesai vossas obras e vossos hábitos nas balança do dever. Não vos peço impossíveis; mas, porque vos amo, vos aconselho e continuarei aconselhando-vos por amor e por dever. Sede perseverantes no bem, como é o Pai em suas misericórdias. A paz seja convosco, e a caridade em nosso espírito. Kardec
  


Sejamos  todos - cada dia - melhores com Jesus Cristo


por D. José Amigó y Pellíce
Fonte: “Roma e o Evangelho” (FEB)
Data da Comunicação: Abril/1874

                Irmãos congregados! Chegastes ao segundo período das vossas excursões no campo da verdade religiosa, do Cristianismo em sua primitiva e celestial pureza. No primeiro período estudastes, observastes, enchestes a vossa mente e o vosso coração com as verdades que, como luminosos raios do sol da inteligência, varreram as nuvens amontoadas no céu das vossas convicções, e pudestes alimentar-vos com os sentimentos que nascem e se desenvolvem ao puríssimo calor dos dons e das graças do Altíssimo. Ditosos sereis, se souberdes aproveitar das riquezas semeadas, sob os vossos passos, no primeiro período dos vossos ensaios e estudos religiosos.
            Entrastes no segundo período, irmãos congregados, e venho fazer-vos algumas indicações, que espero e vos rogo não olvideis: Tendes estudado e observado, e é chegado o momento de praticar os vossos estudos. Os bons Espíritos vos observam dos mundos da luz; eles foram, para vós emissários da misericórdia do Eterno e esperam ansiosos o vosso progresso e o fruto dos seus desvelos. Obrigá-los-eis a arrependerem-se da confiança que depositaram em vós e a voltar-vos as costas com desprezo? E não somente eles, mas também os da Terra, vos seguem com as suas vistas, prontos a julgar pelas vossas obras a bondades das doutrinas que difundis com a palavra.
            Sois cristãos ou não? respondei. Se o sois, não me respondais com a palavra, mas com os vossos sentimentos e com a vossa conduta. Em vão direis que o sois, se as vossas obras desmentirem o que a vossa língua afirma; porque só passa como verdadeiro cristão, aquele que tem o Cristo no coração e trilha as veredas da caridade que o Cristo abriu à Humanidade inteira. Em vão ficareis entusiasmados com a leitura das revelações obtidas, se não traduzirdes o vosso entusiasmo em fatos que se harmonizem com a magnitude das instruções reveladas. Ignorais porventura que os erros da igreja pequena tiveram princípio no falso cristianismo do coração de seus doutores?
            Assim, se o vosso coração não tiver em mira a caridade e a humildade, sereis abandonados pelo gênio do verdadeiro cristianismo, que vos cobriu com suas asas, divagareis de novo pelas solidões do espírito, castigo das almas frívolas e infecundas para o bem.
            Cumpre-vos, sobretudo, irmãos congregados, não esquecer, antes deveis tê-lo constantemente em vista, que o Espiritismo é o próprio Cristianismo, e que tudo o que é alheio e contrário às doutrinas evangélicas, à palavra e ao Espírito do Cristo, deve ser alheio e contrário à vossa palavra e ao pensamento que há de guiar-vos, como uma estrela, na segunda jornada dos vossos estudos religiosos.
            Alheio e contrário à palavra e ao Espírito de Jesus é o domínio do orgulho; alheia e contrária é a hipocrisia; alheio e contrário é o apego aos prazeres e bens temporários; alheios e contrários são o egoísmo, a ociosidade, os zelos invejosos, a revolta, o ódio e a lisonja; em uma palavra, tudo aquilo que é alheio e contrário aos conselhos e preceitos de uma consciência sã e ilustrada, é contrário e alheio à seiva do Cristianismo, e é para vós uma árvore de prova e um fruto de proibição. A cena bíblica do paraíso repete-se todos os dias; a árvore da ciência não morreu; cresce e estende os seus ramos sobre a Terra; e a serpente enroscada no tronco da árvore, se não no coração de cada um dos homens, convida-os, com os seus mentidos afagos, à infração do preceito.
            Leio no vosso pensamento e, discorrendo sobre o maior ou menor preço das minhas palavras, vejo que dizeis convosco: Amor, caridade, simplicidade, adoração, pureza, tudo isso é muito bom, mas já o sabíamos; era melhor que nos falassem de outros pontos por nós ignorados, de alguma coisa que se refira ao mundo dos Espíritos e à sua admirável ação. Para que repetir-nos hoje, amanhã e sempre os mesmos conselhos e preceitos?
            Oh! irmãos congregados! Julgais que os Espíritos de conselho tenham por missão satisfazer a vã curiosidade, o orgulho, o amor-próprio e os caprichos dos homens? Não sejais injustos, eu vo-lo rogo, em benefício de vós mesmos; e, a fim de que julgueis com mais acerto e retidão, proponho-me a falar-vos também do formoso, do celestial ministério dos Espíritos de Luz.
            Antes, porém, tenho de falar-vos de outras coisas que vos tocam mais de perto, porque se referem a vós; antes de vos elevardes sobre as nuvens, é necessário que conheçais a Terra que os vossos pés pisam e os laços que a ela vos prendem.
            Eu deixaria de cumprir a missão que me traz ao vosso centro se, oferecendo à vossa consideração o belíssimo quadro das harmonias celestes, deixasse de mostrar-vos o caminho pelo qual podeis em pouco tempo entrar no gozo dessas venturosas harmonias. Sem o consolador auxílio da Providência, que nunca deixa as criaturas abandonadas às suas próprias forças, em vão buscareis elevar-vos sobre as miséria da Terra e sobre o lodo das debilidades humanas: as vossa asas inexperientes se derreteriam ao sopro corrupto e abrasador das paixões engendradas pelo egoísmo e pelo orgulho.
            Uma só palavra explica e sintetiza toda a moral, toda a lei e toda a revelação, desde o começo do mundo até hoje; a fórmula universal do progresso, da virtude e da felicidade é o próprio Verbo divino revelado do pensamento infinito. Será preciso citar-vos essa palavra? Julgo que não; porque, sem esforço, ela vos ocorrerá a todos; mas, seria melhor, muito melhor que, em vez de tê-la escrita na vossa mente, a sentísseis, enchendo o vosso coração e comovendo incessantemente as suas fibras.
            Pois bem; essa palavra caridade, que todos evocais espontaneamente, sem eu precisar repeti-la, é a fórmula que sois chamados a resolver no segundo período dos vossos estudos religiosos; é a caridade prática, como no primeiro período em que discorrestes, sobre as suas belezas e excelências, no terreno filosófico. Já vos manifestei que o Espiritismo e o Cristianismo são uma mesma coisa; agora vos direi mais que ambas essas palavras significam caridade, sem a qual não há espírito verdadeiramente cristão.
            Caridade! palavra amorosa, manjar divino das almas puras, dos Espíritos de Deus! Os anjos, ao pronunciá-la, uma suave harmonia enche os céus e uma ditosa corrente de inefáveis doçuras se estabelece entre o sólio do Altíssimo e a morada dos homens. É a escada de Jacó; por ela sobem os ais, os desejos e as preces, - por ela descem, ao coração humano, os consolos, as esperanças e os primeiros crepúsculos da felicidade imortal.
            Mas, ah! Quão diminuto eco acha, no coração do homem, a palavra caridade! Muitos lábios a pronunciam, porém ela não vem do íntimo da alma. Escrita na mente, pronunciam-na com frieza, quando essa palavra devia sair envolta em turbilhões de chamas, porque a caridade é o fogo purificador que consome todas as impurezas e imperfeições das criaturas formadas pela soberana vontade.
            Tendes franqueado ao vosso coração o mundo das misérias humanas, vastíssimo campo em que podeis e deveis exercitar e desenvolver os gérmens do amor com que Deus enriqueceu as vossa almas, assim como exercitastes e cultivastes o entendimento no campo das especulações filosóficas.
            Pensastes e meditastes em matéria de religião;  é agora chegada a ocasião de senti-la se não quiserdes ficar responsáveis pelos sentimentos recolhidos na primeira jornada da vossa viagem ao mundo da verdade.
            A religião é antes sentimento, que conhecimento; por isso, vemos muitos ignorantes crendo em Deus e amando-o sem conhecê-lo, e muitos sábios que, conhecendo-o até onde pode alcançar a sabedoria humana, não o amam, nem respeitam os decretos da sua soberana vontade. Por isso, o julgamento do primeiro será bom, visto ter cumprido a lei pela bondade do seu coração; e o julgamento do segundo será o castigo, porque conheceu a lei do bem e desprezou-a com a frieza e com o orgulho do seu espírito.
            Nenhum homem é condenado por não saber, mas sim por deixar de sentir, porque o livro da sabedoria é um livro geralmente fechado; mas o livro do sentimento é um livro universalmente aberto. Não é dado a todos possuir os segredos da Ciência, mas sim as doçuras do sentimento, cujos tesouros estão à vista de todas as criaturas, disseminados no Universo pela mão da misericordiosa Providência. Desde o modesto lampadário; desde o majestoso cedro que eleva a sua copa ameaçando romper as nuvens, até a humilde erva que se alastra no solo; desde a águia até o inseto; desde o leão até o réptil e até o gusano; desde o monarca até o último dos seus servos; desde o palácio da abundância e do prazer até a choça da miséria e da dor; em tudo se vêem outras tantas páginas do livro do sentimento, sempre aberto à consideração dos mortais.
            Sois obrigados a sentir. E não vos admireis de que eu chame energicamente a vossa atenção para o sentimento e a sua necessidade, porque, sem ele, serão inúteis todos os esforços que empregardes para pertencer ao número dos verdadeiros cristãos, dos discípulos e imitadores de Jesus, pois ele era todo caridade. Sereis cristãos especulativos e nada mais; árvores sem fruto, que o pai da família mandará arrancar, para lançá-las ao fogo.
            O sentimento é tudo, e por isso ele está ao alcance de todos. É mais que a Ciência, porque a Ciência achá-la-eis entre os ímpios e entre os justos; e é mais que a filantropia, porque também os maus fazem às vezes boas obras. O que realmente sente, faz, se lhe é possível, as obras do sentimento, e mesmo, quando, por lhe não ser possível, não as faça perante a lei, elas são reputadas como feitas e indicadas à justiça.
            Vede, pois, a norma do vosso dever na segunda jornada dos vossos estudos religiosos, que é a jornada decisiva do vosso porvir; vede-a e segui-a sem desviar-vos. Oh irmãos! Tremo ao pensar que alguém de vós pode ser chamado ao juízo com o gelo no coração, depois das luzes que a onipotente mão do Excelso tão profusamente derramou sobre as vossas cabeças.
            O sentimento é o amor, e o amor é a lei; vede, portanto, que, para o cumprimento da lei, é necessário, indispensável, que ameis. O amor cobre a multidão dos pecados, porque é a chama que purifica e o bálsamo que consola. O que ama, pratica exclusivamente o bem, que é a reparação do mal, e a felicidade será o prêmio das suas obras amorosas. Amai, irmãos congregados; amai, meus filhos, e no ministério do amor achareis o ministério dos Espíritos perfeitos.
            Estes são, pelo amor e para o amor, os mensageiros cumpridores e os guardas da vontade excelsa, dessa vontade eternamente ativa, que é a lei da criação, dessa vontade que acende os celestes luzeiros e a inteligência do homem, dessa vontade que, penetrando todos os seres e todo o espaço, infunde por toda parte a força e multiplica a vida.
            Seres de luz, os Espíritos puros e perfeitos têm por missão refletir sobre os demais a luz que recebem do inextinguível foco da sabedoria de Deus; seres ditosos pelo amor, é seu dever a caridade, por cuja virtude se desprenderam de impurezas e imperfeições e se elevaram às moradas felizes onde não se conhecem as misérias da Terra, nem as tormentas do coração, nem as veleidades do espírito; moradas de felicidade sempre perene, porque é a felicidade do dever, e o dever está eternamente no seu princípio. Se o dever se esgotasse aí, no mesmo momento se acabaria a lei de felicidade.
            Oh! Que formosíssima é a missão dos mensageiros do amor e dos Espíritos da luz! Pela luz e pelo amor, eles foram glorificados e aspiram constantemente à glorificação dos demais pelo amor e pela luz. Com a velocidade do pensamento, circulam sem cessar e sem cansar-se ao redor dos orbes imensos que se movem nos infinitos seios do espaço, orbes que vêm a ser células da colmeia universal, em cada uma das quais os Espíritos puros vão depositar o mel da sua caridade.
            O ministério que, desde a sua elevação, os Espíritos de luz exercem, vós podeis, embora em menor escala, exercer igualmente na Terra. Eles vêem diante de si a infinidade de mundos que necessitam do seu amor; estais rodeados de uma infinidade de seres, para os quais o orvalho da vossa caridade é o progresso, a regeneração, a vida e a felicidade do porvir. Quantas vezes o homem que ama seus irmãos exerce a caridade, sem suspeitar que as suas obras na Terra são o prelúdio de missão espiritual nas regiões celestiais! A caridade, irmãos congregados, é uma árvore cuja raiz está no misterioso e fecundo seio do Criador, e cujos ramos, carregados de frutos e perfumes, se estendem em todas as direções, derramando benéfica sombra sobre as moradas esparsas no Universo, que é a casa do Senhor.
            Dizeis que sois espíritas, irmãos; é bom, eu vos felicito. Sois melhores do que ontem? Sereis amanhã melhores do que hoje, e ireis melhorando cada dia? Comove-os o espetáculo da natureza e a contemplação do céu? Derramais lágrimas do coração à vista das desditas alheias? Amais, caros irmãos, amais?
            O Espiritismo, que é o Cristianismo, que é a caridade, permite-me repeti-lo, não se reduz a discorrer e a propagar, mas exige, antes de tudo e sobretudo, o sentimento, que é o princípio e a fonte das obras que nos aproximam da perfeição e de Deus. Aquele que se cinge ao conhecimento e à prédica das verdades cristãs, mas sem as sentir nem aplicar, assemelha-se ao que descobriu um abismo e que, não obstante, se precipita nele, apesar de dar aos demais aviso do perigo.
            Que as minhas palavras não sejam para vós um motivo de desalento; demasiado conheço das debilidades da natureza humana, para estranhar as vossas e poder exigir que vos liberteis rapidamente de todas as impurezas. Como poderei exigir de vós o que foi e é ainda impossível para mim! Eu não faço outra coisa senão chamar a vossa vontade e os vossos sentimentos para o bem, mostrar-vos o caminho que juntos temos de percorrer, para nos aproximarmos da idéia sempre progressiva da perfeição espiritual.
            Os anjos do Senhor, esses ditosos seres que bebem o amor em seu divino manancial, e dos quais, como de outras tantas fontes, emana a caridade que rege e fecunda as pobres plantas humanas esparsas pelo Universo, os anjos do Senhor descerraram a luz da verdade, a fim de que eu possa fazer  e faça o mesmo convosco.
            E como vi que a verdade está na virtude e só na virtude, chamei-vos à prática do amor, compêndio de todas as virtudes irradiadas do divino foco.
            Vou terminar, irmãos congregados. Sejamos todos cada dia melhores em Jesus; o seu jugo é suave e podem carregá-lo ainda os mais débeis e imperfeitos. Tomemos cada um a nossa cruz com resignação e amor, e, subindo assim o Calvário da expiação, da reparação e da prova, imitaremos a Jesus nos merecimentos, para sermos depois glorificados ao seu lado pela virtude da sua doutrina.  Allan Kardec

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