Consequências da Doutrina Espírita
Dr. Gustave Geley (Tradução
por Luiz de Almeida)
Reformador (FEB) Agosto 1944
“A Ciência é incapaz de nos fornecer
uma explicação ou uma interpretação aceitável do Universo. Ela é incapaz de
criar uma moral. Ela é incapaz, enfim, de substituir a Religião na evolução
social da Humanidade." (Brunetière - "Revue des Deux Mondes", 15
octobre, 1896).
Contentemo-nos, por ora, de
encarar algumas das consequências que resultarão imediatamente, sem dúvida, da
constatação rigorosamente científica dos dois principais fundamentos da
doutrina espírita:
1°) Persistência do eu consciente
depois da morte e
2°) Evolução progressiva da alma
pelos seus próprios esforços.
É evidente que esta nova ciência
arrastará uma revolução completa na filosofia, na moral, na vida social e
individual. No domínio da filosofia, ela permitirá, enfim, por de lado,
definitivamente, as obscuridades sistemáticas, as doutrinas incoerentes e
caducas, sem demora esquecidas em face da simplicidade luminosa da nova ideia
e, também, diante da satisfação completa que ela conduz ao nosso instinto de
felicidade, ao nosso desejo de imortalidade, à nossa esperança de conhecer o
Além.
Nos domínios da FÉ, ela fará
desaparecer as ideias niilistas tão deprimentes e tão desesperadoras; assim
também os dogmas religiosos tão pouco satisfatórios. Ela substituirá as crenças
impostas pela convicção raciocinada. Desembaraçará o espiritualismo dos
ouropéis sob os quais, durante tantos séculos, se esforçou por escondê-lo e mascará-lo
o gosto de diversas teocracias. Ela nos libertará desses deuses
antropomórficos, amiúde caprichosos e cruéis, intervindo constantemente na
criação através dos milagres, da graça e da predestinação; reservando seus favores
a raros eleitos; exigindo sacrifícios sangrentos e escolhendo as vítimas
destinadas a "aplacar sua cólera" entre as melhores de suas criaturas,
semeando as tentações sob nossos passos e, pela menor falta, punindo-nos com a
eternidade; prostrando-nos, enfim, durante nossa miserável existência, com
provas e dores que não são mais que o ressaibo de castigos ainda mais cruéis!
Com esta ideia nova desaparecerão
certas prescrições dogmáticas impondo crenças extravagantes, restringindo, até
anulá-lo, nosso livre arbítrio, estorvando nosso desenvolvimento consciente; -
desaparecerá esta interpretação, incrivelmente mesquinha, do Universo,
submetendo toda a criação à humanidade terrestre!
Desaparecerá o dogma do pecado
original, com suas consequências injustas e bárbaras. (1)
(1) Consequências que vão, para
certos teólogos, até à condenação das crianças mortas sem batismo.
Desaparecerá a noção da
"salvação" pelas preces e pelos sacramentos.
Desaparecerão, sobretudo, estas
aberrações ferozes sobre o inferno, suas legiões de demônios e seus suplícios
eternos!
Quanto estes dogmas infantis
parecem miseráveis em comparação com os ensinamentos da nova filosofia: dupla
ideia de involução e de evolução abarcando tudo em um panteísmo grandioso. (2)
Evolução progressiva dos mundos e dos seres por suas próprias forças, sem
intervenção caprichosa da divindade!
(2) A respeito destas magníficas
concepções panteístas, não posso impedir-me de citar as belíssimas almas
palavras de M. Marius George - Humanité integrale,
janeiro de 1896 - "parafraseando uma citação célebre, eu disse uma vez:
sou homem e tudo que toca ao homem me é muito caro; mas o que deveria realizar-se
fora de seu destino não poderia tocar-me. Se existe um Deus ou vários deuses,
anjos ou arcanjos não tendo jamais conhecido nem o esforço, nem a luta, nem o
sofrimento, não tendo jamais atravessado a noite angustiosa da ignorância, estes
seres exteriores não me são nada, não sendo humanos. Eu não quero e não posso
receber por irmãos, mesmo que tão alto estejam na glória, senão os primogênitos
em humanidade, os vencedores das nossas mesmas misérias, aqueles que, embora
possuindo mais luz, irradiando mais amor e harmonia, passaram também maior tempo
que nós pela luta, pelo sofrimento e pela conquista."
"A mais alta ideia que se
pode fazer de um ordenador, disse justamente Léon Denis, é de supô-lo formando
um mundo capaz de se desenvolver por suas próprias forças e não por contínuos
milagres ... "
A divindade não pode ser
compreendida fora do Universo.
“A ideia de Deus não exprime mais
hoje, para nós, um ser qualquer, mas a ideia do ser, o qual contém todos os seres...
Nada de criação espontânea, nascida, miraculosa; a criação é continua, sem começo
nem fim... O mundo se renova incessantemente em suas partes, mas no conjunto ele
é eterno. (3)
(3) Léon Denis - "Depois da
Morte".
A terra sobre a qual, segundo
expressão de Flammarion, as religiões querem concentrar todo o pensamento do
Criador, não é senão um ponto insignificante no Universo. Uma só existência sobre
esse planeta, por outro lado, não é mais que um momento insignificante na série
das encarnações numerosas do ser vivente. A alma individual não foi criada
completa, com as faculdades que desejou assinalar-lhe o capricho do Criador.
Forma-se e se desenvolve ela mesma pelos seus esforços, seus trabalhos e seus
sofrimentos. De si própria que se liberta então, pouco a pouco, do mal agarrado
necessariamente nas fases inferiores de sua evolução; dela mesma é
que chega à compreensão do verdadeiro, do belo e do bem; que
retirará lentamente os elementos conquistados para sua felicidade futura.
No Além, a compreensão perfeita
das desigualdades humanas e a solução completa do problema do mal - estas duas
condições da vida terrestre - é que se conciliam tão dificilmente com a noção
de uma Providência ativa.
As desigualdades humanas, sob o
ponto de vista da inteligência, da consciência e do coração, desigualdades que
nem a hereditariedade, nem a influência do meio explicam suficientemente,
encontram sua interpretação fácil nas diferenças evolutivas dos seres.
"A pluralidade das existências pode, sozinha, explicar a
diversidade dos caracteres, a variedade das aptidões, a desproporção das qualidades
morais, em uma palavra, todas as diferenças que ferem nossos olhares... Sem a
lei da reencarnação é a iniquidade que governa o mundo".
(Léon Denis)
A explicação do mal não é menos
satisfatória. O mal não é o produto das forças cegas da Natureza, impondo às
nossas personalidades efêmeras sofrimentos sem compensação. Não é a consequência
injusta de um pecado original; não é uma experiência, ainda menos castigo ou
vingança da divindade.
O Mal é tão somente a medida da inferioridade dos mundos e a
condição necessária para seu aperfeiçoamento.
O mal é o grande aguilhão da
atividade dos seres, necessário para impedir sua imobilização no estado
presente. Mesmo na humanidade avançada, a dor física ou moral desfruta de um
índice expressivo. Ela impõe o trabalho e impede o retardar-se durante muito
tempo nos prazeres inferiores.
Certos privilegiados da existência
poderão perder vidas inteiras na ociosidade, mas cedo ou tarde sofrerão a
advertência do mal. A doença, um grande desgosto, a dor sob qualquer de suas
formas, o fará compreender a inutilidade dos prazeres materiais, lastimar o
tempo perdido e, então, lhe dará uma ideia mais elevada e, consequentemente, o
desejo da verdadeira felicidade.
Sob condições evolutivas o mal é
inevitável. Mesmo seus excessos, as grandes catástrofes, as infelicidades
imerecidas, são a consequência do livre desenvolvimento dos mundos pelas suas próprias
forças, e não poderiam ser reprovados pela divindade.
O mal diminui paulatinamente
consoante a escala da evolução. A história da Terra, desde os tempos mais
remotos até nossos dias, é uma prova evidente disso. Não há mais lugar, em face
desta interpretação do Universo, para as ideias de paraíso ou de inferno.
Punições e recompensas vêm de nós mesmos e são a consequência natural, forçada,
de nossas faltas ou de nossos esforços.
"A vida atual (Léon Denis) é
a consequência direta, inevitável, de nossas vidas passadas, como nossa vida
futura será a resultante de nossas ações presentes. (4)
Nós somos aquilo que somos feitos, por nós mesmos.
(4) Não se poderá censurar a
possibilidade de exceções acidentais, impondo encarnações dolorosas imerecidas.
Semelhantes acidentes são inevitáveis, nada tendo com a intervenção de uma
Providência em nossa evolução. Mas eles serão compensados nas encarnações
ulteriores. É necessário encarar o conjunto e não os detalhes; e pensar bem que
uma só existência não é quase nada, no curso de nossa evolução. Quase sempre aliás,
as provas e os sofrimentos foram prévia e livremente escolhidos pelo Espírito
antes de sua reencarnação, no seu interesse ou pelo de seus semelhantes.
A sanção de nossas faltas será
simplesmente o estacionamento nas encarnações inferiores, segundo as condições
que resultam, matematicamente, para cada existência, das existências já vencidas.
A recompensa e compensação que devemos esperar de nossos esforços, de nossos sofrimentos,
de nossas virtudes, é a passagem para um estado superior, e esta recompensa
resultará das leis evolutivas e não de um julgamento divino. Nosso progresso nos
assegurará a felicidade, resultado natural da diminuição do mal, coincidindo
com o desprendimento da consciência, da liberdade e das faculdades emotivas. Esta
felicidade nós a obteremos apenas pelo nosso merecimento, em virtude dos livres
esforços.
Para ser capaz de admirar um
estado superior é necessário, antes de tudo, elevar-se ao seu nível. Não se
poderá desfrutar de um bem que não seja compreendido.
Não vejamos, sem sair da vida ordinária, pessoas incapazes de
saborear prazeres estéticos, de apreciar a beleza, de experimentar emoções elevadas!
Não procuremos saber em que consistirá nossa felicidade futura. O
desenvolvimento prévio é a condição necessária, não somente para a obtenção,
mas também para a compreensão
desta felicidade. Isto basta para saber que ela resultará, necessariamente,
dos progressos evolutivos.
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Nota do tradutor - O excerto
presente foi extraído do "Essai de revue génerale et d'interprétation synthétique
du Spiritisme", do famoso sábio francês Dr. Gustave Geley que, a 28 de
janeiro de 1918, perante a Sorbonne, deu conta de seus primeiros trabalhos, no
domínio das ciências psíquicas. Grande foi sua contribuição ao assunto pois que,
em outros livros de notável transcendência, depôs o fruto de suas experiências
aclaradas à luz da análise fria e meticulosa. Cumpre assinalar, entanto, para
esclarecimento do leitor, uma ressalva do texto, no trecho em que o autor se
refere ao termo - panteísmo. Aqui, não se justifica, a rigor, o significado
filosófico delineado como sistema religioso. Ele quer admitir o que a razão
comum acolhe: sendo as criaturas partículas divinas, cabe em todas elas a
essência do Criador. Os Atos dos Apóstolos testificam, nos v. 28 e 29, cap. 17:
"Porque nele vivemos e nos movemos, e existimos, como também alguns de
vossos poetas disseram: pois somos também sua geração. Sendo nós, pois, geração
de Deus, etc.". Em outro número daremos algumas das Consequências Morais
que o ilustre psicólogo anteviu, como fundamento pré-estabelecido, para o círculo
da conduta humana, dilatado pela força incoercível da Nova Revelação.
Consequências
morais da Doutrina Espírita (1)
Dr. Gustave Geley (Trad.
De Luiz de Almeida)
Reformador (FEB) Outubro 1944
As consequências filosóficas que
precederam (v. "Consequências da
Doutrina Espírita", em número anterior) arrastarão consequências
morais de uma importância capital. A nova moral constituirá uma ciência cujos
princípios sério rigorosamente deduzidos dos conhecimentos adquiridos sobre nosso
destino. Como tal, sua influência será verdadeiramente poderosa. Mas, como tal
também, ela sacrificará impiedosamente o montão de preconceitos, de obrigações
artificiais, de restrições inúteis que embaraçam a moral tradicional, e que os
homens parecem ter acumulado por prazer, para tormento reciproco. Ela se
apoiará sobre três bases principais:
1º) O conhecimento das leis e
condições evolutivas;
2º) A necessidade do livre
desenvolvimento individual;
3º) A noção da relatividade da
liberdade moral, apoiada sobre a compreensão do mal e das desigualdades
humanas.
DO CONHECIMENTO DAS LEIS EVOLUTIVAS
se deduzirão:
A necessidade do trabalho pessoal;
A necessidade de cultivar,
sobretudo, nossas faculdades intelectuais e afetivas, e de nos desvencilhar o
mais possível das sujeições materiais;
A solidariedade forçada entre os
homens, pelo encadeamento das existências sucessivas as quais se acham
sujeitos, nas condições e meios os mais diversos. Disto gera a necessidade do altruísmo
que, segundo expressão do Dr. Gibier, será o egoísmo verdadeiro, pois
auxiliando o aperfeiçoamento do seu próximo e da sociedade,
a criatura ajudará seu próprio avanço e tornará menos penosas as
encarnações futuras.
A NECESSIDADE DO LIVRE DESENVOLVIMENTO
INDIVIDUAL é uma lei que se deduz necessariamente do conhecimento do livre desenvolvimento
do mundo. Guardamos em nós tudo que é necessário para assegurar nosso progresso;
e este progresso deve resultar dos nossos esforços pessoais. Portanto, nos
limites do possível, a moral humana deve deixar livre o indivíduo. Não é somente
inútil, mas nocivo, impor um dever que a pessoa não compreende ser um dever (1).
(1) Seria inútil registrar que não
se trata aqui da educação da infância. Haveria muita coisa a dizer sobre este
objetivo enquadrado na nova filosofia, mas, no momento, isto nos arrastaria
muito longe.
O ideal da moral será instruir,
mas não impor, e advertir a criatura sobre as consequências de suas ações. A
luta é necessária ao desenvolvimento de sua inteligência (2).
(2) Um exemplo fará melhor
compreender meu pensamento: suponho dois adolescentes em nível psíquico
semelhante. O primeiro se encerrará em um convento, onde passará a vida a orar,
sem nada saber dos trabalhos, dos prazeres, das dores, das tentações ou das
faltas da Humanidade. Terminará, portanto,
sua existência, sem ter sobre a consciência um só pecado mortal. O segundo,
na sociedade, lutará, trabalhará, conhecerá prazeres e dores. Sem ter sido criminoso, terá cometido muitas
faltas. É certo que este último estará mais avançado, na morte, e melhor
preparado para a vida futura.
Cedo ou tarde, as faltas, os erros
cometidos serão, sob a advertência da dor e, consequentemente debaixo da
percepção intelectual, julgados e compreendidos pelo próprio culpado e, então, sua
liberdade moral dará um passo acima. Bem entendido, este respeito completo pelo
livre desenvolvimento do homem não passa de um ideal. Praticamente, ele deve
ser subordinado sob justa medida à segurança e à liberdade dos seus
semelhantes. Mas todas as restrições e todas as imposições que não visam exclusivamente
este objetivo são nocivas e devem ser rejeitadas.
O terceiro princípio que servirá
de base à moral futura, o da RELATIVIDADE DA LIBERDADE MORAL, vem em apoio das
considerações precedentes, e prova também o perigo das restrições mundanas ou
sociais. Da parte da lei da evolução, o livro arbítrio está sempre proporcional
ao progresso do Espírito (3).
(3) Esta solução do problema da
liberdade moral constitui um dos mais belos ensinamentos da Doutrina Espírita.
Consequentemente, a gravidade de
uma falta não pode ser apreciada em si mesma, nem mesmo após as circunstâncias;
mas, antes de tudo, de acordo com o grau de evolução do culpado. Isto significa
que os julgamentos humanos, baseados sobre o princípio da igualdade moral, são
sempre acoimados de injustiça. É, pois, prudente e sábio abster-se de julgar. É
suficiente, aliás, lembrar-nos do nosso passado, para nos convencer da
necessidade de uma indulgência completa para com as faltas do próximo. Todos
nós, em encarnações diversas, temos sido criminosos e miseráveis; e se soubemos
elevar-nos para o conhecimento do belo e do bem, seria rebaixar-nos ao nível
dos pecadores toda vez que lhes dispensássemos desprezo.
O espírito elevado não considera
faltas ou crimes as consequências do vício, as manifestações da maldade, do
egoísmo, do ódio, da inveja, do espírito de vingança, de todos os sentimentos
baixos que fazem a infelicidade humana, como produtos inevitáveis de um estado
inferior. Ele sabe que existe, no mundo, muito menos culpabilidade que
ignorância (4).
(4) Não se argumente que certos
criminosos, bem conhecidos, estejam instruídos e inteligentes; semelhantes
exceções não poderão ser opostas a uma regra geral. Seria, aliás, provável que estes
malfeitores, apesar de algumas faculdades lúcidas, pudessem ser, em conjunto, seres
inferiores. Um ser realmente superior é necessariamente bom e não pode jamais
agirem função do crime.
Também buscará, antes de tudo,
instruir os culpados ou preveni-los sobre suas más ações. Ele não se rebaixará
jamais para punir ou para vingar. Ele sabe que os castigos inventados pelos homens
são inúteis para melhoria do culpado e que toda a ação carrega em si a própria sanção.
Vê-se o alcance de princípios
parecidos na atividade humana. Ao contrário da moral clássica, a moral
evolucionária será sobretudo positiva, e reduzirá ao mínimo o número e a importância
das restrições, o número e a importância dos deveres (5).
(5) Em uma humanidade
suficientemente evoluída, quer dizer, suficientemente inteligente e boa, o princípio
de obrigação tomará o lugar do princípio de liberdade. A noção do dever
desaparecerá quase inteiramente para ser substituída pela noção do amor. Isto
se tomará, com efeito, um prazer em praticar o bem e um sofrimento em praticar o
mal.
Na vida individual ela aconselhará,
antes de tudo, o trabalho; sobretudo, bem entendido, o trabalho intelectual e a
cultura das nossas faculdades emotivas e afetivas.
Podemos desenvolver-nos em
qualquer um dos ramos da atividade psíquica, porque importa menos chegar a
conhecer muitas coisas que dilatar nossa capacidade de saber. Aquilo que se
aprende é menos importante, em si, que o exercício intelectual necessitado para
instruir o aperfeiçoamento consecutivo. É inútil, aliás, tentar, numa
existência terrestre, abraçar um punhado de conhecimentos. Evitando uma especialização
estreita, sempre nociva, nós nos esforçaremos por cultivar disposições inatas e
adquirir o mais possível nesse sentido. É a melhor regra, tanto para a
sociedade como para nós mesmos.
Ao mesmo tempo em que trabalhar
por si, a criatura, com efeito, em face da Lei do Altruísmo imposta como a
encaramos segundo a noção das vidas sucessivas, deverá trabalhar pelo
aperfeiçoamento de seus semelhantes.
Ela fará o bem sem inquietar-se
com resultado imediato.
Desdenhará pensar sobre o reconhecimento
que auferirá de seus benefícios e não exigirá reciprocidade.
Menosprezará as injúrias pessoais,
esforçando-se por reprimir qualquer sentimento de ódio ou de ciúme.
Não se vingará.
Saberá desculpar e compreender nos
outros os vícios e os defeitos, inexistentes por si mesmos, e, na medida do
possível, evitará julgá-los.
Deverá aliás, antes de tudo,
trabalhar, fazer prova desse testemunho, oferecendo aos olhos dos seus
semelhantes o exemplo de uma bondade ativa, consagrada pelo amor e pelo
auxilio.
Não fará, pois, nada que a possa
diminuir.
Aproveitando o mais possível sua
atual encarnação, deverá cuidar do corpo, instrumento de sua atividade.
Evitará, portanto, os excessos, os
perigos inúteis, a preocupação de uma morte prematura.
Não terá nulamente que rejeitar de
"caso pensado" os prazeres da existência terrestre, nem considerá-los
"pecados".
Somente não esquecerá que apenas os
prazeres elevados da inteligência e do coração é que serão úteis ao seu
aperfeiçoamento, que os gozos puramente sensuais são apanágio de seres inferiores,
acompanham-se quase sempre de desilusões e de dores, podendo, em certa medida, retardar
o processo da evolução.
Pensará, sobretudo, na renúncia de
todo prazer que poderá prejudicar o próximo.
(6) Nos quais limites em que pode
e deve manifestar-se este amor do próximo, é o que não é poss1vel fixar. Aí,
ainda, o evolucionismo não estabelecerá senão leis gerais, deixando toda
liberdade para as interpretações individuais.
Consequências
morais da Doutrina Espírita (2)
Dr. Gustave Geley (Trad.
De Luiz de Almeida)
Reformador (FEB) Novembro 1944
Esforcei-me por examinar fielmente
a parte essencial do Espiritismo. Eu o fiz sem "parti pris", se bem
que enlaçado por certa simpatia que não posso dissimular, mas esta simpatia mesma
me impede concluir de maneira formal, no temor de uma possível ilusão de minha
parte.
Contentar-me-ei, para finalizar,
com algumas reflexões que me parecem ponderáveis.
Os fenômenos espíritas têm sido
observados por inúmeros testemunhos conscienciosos, controlados por numerosos
sábios, para serem agora negáveis "a priori". Vou mais longe: ninguém
tem o direito de repudiar, sem prováveis contra-experimentações, as conclusões
investigadoras de Crookes, Wallace, Zõelner, Aksakof, Oliver Lodge, Myers,
Lombroso, Richet, De Rochas e tantos outros não menos ilustres. A Doutrina Espírita,
seja justificada ou não, é por demais grandiosa para não impor aos pensadores,
aos filósofos e aos sábios, uma discussão aprofundada.
Grande número dentre eles
concluirá, certamente, após exame sério, que uma doutrina baseada sobre fatos
experimentais igualmente numerosos e precisos, de acordo com todos os conhecimentos
científicos nos diversos ramos da atividade humana, dando uma solução bastante clara
e satisfatória dos grandes problemas psicológicos e metafísicos, que uma tal
doutrina - arrisco eu - é verossímil. Bem melhor, que ela deve ser verdadeira;
que ela é muito provavelmente verdadeira.
Em todo caso, não se trata mais
hoje de se satisfazer com ilusões, de se deixar embalar por "velhas
canções", nem de dormitar sobre o "fofo travesseiro da dúvida".
Nós devemos saber. Nós queremos
saber. Nós podemos saber.
Agora a Ciência abateu para sempre
as velhas concepções do Universo.
- Distinção essencial entre os
animais e o homem, por este ser provido de alma imortal. - Criação
relativamente recente, antropocêntrica e geocêntrica. - Divindade exterior ao Universo,
céu, empíreo, etc.
Todas estas noções desapareceram da
face do progresso das Ciências Naturais e da Astronomia, mesmo porque se
tornaram insuportáveis para a consciência moderna as ideias de um inferno
eterno e de um Deus punidor e vingativo.
O evolucionismo se impõe, bom
grado ou mau grado, a todo aquele que pondera e raciocina; e, portanto, o
Espiritismo evolucionista é a única doutrina que pode hoje em dia ser oposta
cientificamente ao niilismo.
- Que a Evolução encarada sob suas
duas faces é infinitamente mais satisfatória que a evolução orgânica pura, isto
é evidente, pois que ela atende nossos desejos de imortalidade e de ventura,
oferece uma sanção moral, satisfaz os anseios do coração e da razão, reunido
numa única síntese a Ciência, a Filosofia e a Religião.
- Mas esta doutrina tão bela será
verdadeira? (1)
(1) A propósito desta pergunta
aleatória, convém realçar que o renomado cientista que foi o Dr. Gustave Geley,
na França, estabeleceu esta CONCLUSÃO - para seu pequeno estudo "Essai de
Revue Genérale et d'Interprétation Synthétique du Spiritisme", ainda em
1897, nos pródromos do Espiritismo europeu, quando ensaiava, então, suas primeiras
experiências. Estudos pacientes e continuados na investigação dos fenômenos,
muitos dos quais englobados na conferência que proferiu na Sorbonne, a 28 de
janeiro de 1918, nos vieram demonstrar que esse químico e psicólogo veio a
abraçar mais tarde, e definitivamente, as teses da 3ª Revelação.
Afirma seu amigo íntimo e prefaciador
Sr. Jean Meyer: "no curso de suas fortes páginas, Geley afirma a
sobrevivência com uma lógica, uma largueza de vista e uma elevação de espirito
que sua autoridade, como experimentador, torna singularmente
impressionante".
Nas experiências realizadas em 1924,
expostas em seu livro - "L'Ectoplasmie et Ia Clairvoyance" - Gustave
Geley, embora sem uma conclusão relacionada com qualquer sistema, assim se
expressa: "a única conclusão que
tirarei no momento, da exposição árida dos fenômenos, é a certeza de sua autenticidade".
Porém, em seu anterior e recente livro - "De l'inconscient au
conscient" - deixa transparecer, nestas linhas, sua convicção definida: "na sequência das existências, uma vida
terrestre não tem mais importância relativa que uma jornada no curso desta
vida. Uma vida, um dia; uma e outro tem, na evolução, importância comparável e uma
verdadeira analogia".
Morrendo em 1924, nos arredores de
Varsóvia, em consequência de uma queda de avião, deixou no campo da
investigação científica seleta sementeira de estudos que hoje frondejam e
frutificam para as almas sequiosas da realidade palpável. Liderou com Charles
Rlchet o movimento psiquista na França, tendo sido diretor do Instituto Internacional
de Metapsíquica. - Nota do tradutor.
A palavra está com a Ciência.
Pode-se, porém, declarar bem alto: a Ciência não poderá mais, hoje em dia,
desinteressar-se pelos estudos psíquicos. Que existam lá apenas ilusões ou quimeras,
ou que eles sejam o prefácio de uma transformação completa na atividade humana,
a Ciência nos deve uma conclusão precisa a respeito.
Nenhum sábio, nenhum pensador,
nenhum homem um pouco instruído poderá desdenhar interessar-se por estes
empolgantes problemas.
”A imortalidade - disse Pascal - é
coisa que tão forte nos importa, que nos toca tão profundamente, que é
necessário ter perdido todo sentimento para ser indiferente ao que existe nela."
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