Fonte: ‘Revista Espirita’- Setembro , Ano: 1869 Ed. FEB 2004
Acreditamos ter sido Leymarie o autor do texto
abaixo uma vez que a direção
da ‘Revue Spirite’ por Allan Kardec se encerra com a edição de Abril,
face seu desencarne,
tudo de acordo com nota que aparece no início do livro-fonte.
Precursores do Espiritismo
“Lemos no Siecle de 11 de
julho de 1869:
Os quinhentos anos de João Huss
"Recentemente os
jornais da Boêmia publicaram o seguinte apelo:
"Neste ano se comemora o 5OOº aniversário de nascimento
do grande reformador, do patriota e do sábio mestre João Huss. Esta data impõe,
sobretudo ao povo boêmio, o dever de rememorar solenemente a época em que
surgiu, em seu seio, o homem que tomara como objetivo de vida defender a
liberdade de pensamento. Foi por esta ideia que ele viveu e sofreu; foi por
esta ideia que ele morreu.
"Seu nascimento fez luzir a aurora da liberdade no horizonte
do nosso país; suas obras espargiram a luz no mundo e, por sua morte na
fogueira, a verdade recebeu o seu batismo de fogo!
"Estamos convictos de que temos não só as simpatias dos
boêmios e dos eslavos, mas ainda a dos povos esclarecidos, e convidamos a
festejar a lembrança deste grande espírito, que teve a coragem de sustentar sua
convicção diante de um mundo escravo dos preconceitos e que, ao eletrizar o
povo boêmio, o tornou capaz de uma luta heroica que ficará gravada na História.
"Os séculos se escoaram; o progresso se realizou, as
centelhas produziram chamas; a verdade penetrou milhões de corações. A luta
continua, a nação pela qual o mártir imortal se sacrificou ainda não deixou o
campo de batalha sobre o qual o havia chamado a palavra do mestre.
"Conjuramos todos os admiradores de João Huss a se reunirem
Praga, a fim de colherem, na lembrança dos sofrimentos do grande mártir, novas
forças por meio de novos esforços.
“Será em Praga, no dia 4 de Setembro próximo, e no dia 6,
em Hussinecz, onde ele nasceu, que celebraemos a memória de João Huss.
"Nesses dias
todos os patriotas virão atestar que a nação boêmia ainda honra o heroico
campeão de seus direitos, e que jamais esquecerá o herói que a elevou à altura
das ideias que são ainda o farol para o qual marcha a Humanidade!
"Nosso apelo também se dirige a todos os que, fora da
Boêmia, amam a verdade e honram os que morreram por ela. Que venham a nós, e
que todas as nações civilizadas se unam para, conosco, aclamarem o nome
imperecível de João Huss!
"O presidente do comitê."
Dr. Sladkowsley
"Seguem-se trinta assinaturas de membros do comitê, advogados,
literatos, industriais.
"O apelo dos patriotas boêmios não poderia deixar de
suscitar viva simpatia entre os amigos da liberdade.
"Um jornal de Praga tivera a desastrada ideia de
propor uma petição ao futuro concílio para pedir a revisão do processo de João
Huss. O jornal Norodni Listy refutou
com vigor esta estranha proposição, dizendo que a revisão se efetuara perante o
tribunal da civilização e da História,
que julga os papas e os concílios.
"A nação boêmia, acrescenta o Norodni, perseguiu esta revisão com a espada na mão, em cem
batalhas, no dia seguinte mesmo da morte de João Huss."
"A folha Tcheca tem razão: João Huss não precisa ser
reabilitado, assim como Joana d'Arc não precisa ser canonizada pelos sucessores
dos bispos e doutores que os queimaram.
Por nosso lado, vimos juntar às homenagens prestadas à
memória de João Huss o nosso testemunho de simpatia e de respeito pelos princípios
de liberdade religiosa, e de solidariedade que ele popularizou em vida.
Esse espírito eminente, esse inovador convicto, tem direito à primeira fila
entre os precursores da nossa consoladora filosofia. Como tantos outros, tinha
a sua missão providencial, que realizou até o martírio, e sua morte, como sua
vida, foi um dos mais eloquentes protestos contra a crença num Deus mesquinho e
cruel, bem como aos ensinos rotineiros, que deviam ceder ante o despertar do
espírito humano e o exame aprofundado das
leis naturais.
Como todos os inovadores, João Huss foi incompreendido e
perseguido; ele vinha corrigir abusos, modificar crenças que não mais podiam
satisfazer às aspirações de Sua época. Necessariamente devia ter como
adversários todos os interessados em conservar a antiga ordem das coisas. Como Wyclif, como Jacobel e Jerônimo de Praga,
sucumbiu sob os esforços de seus inimigos coligados; mas as verdades que havia
ensinado, fecundadas pela perseguição, serviram de
base às novidades filosóficas dos tempos ulteriores e provocaram a era de
renovação que devia dar origem à liberdade de consciência e à liberdade de
pensar em matéria de fé.
Não duvidamos que João Huss, como Espírito ou como encarnado,
caso tenha voltado à nossa Terra como homem (1) , haja se consagrado constantemente ao
desenvolvimento e à propagação de suas crenças sobre o futuro filosófico da Humanidade.
(1) Do Blog: Sim, ele
retornou na personalidade de Allan Kardec!
Pesquise no 'mini' Gloogle do Blog o texto sob título ‘As 5
(?) Encarnações de Allan Kardec’ de Luciano dos Anjos.
Estamos autorizados a pensar que o apelo do povo boêmio será
ouvido por todos os que apreciam e veneram os defensores da verdade. Os grandes
filósofos não têm pátria. Se, pelo nascimento, pertencem
a uma nacionalidade particular, por suas obras são os luminares da Humanidade
inteira que, sob o seu impulso, marcha para a conquista do futuro.
Persuadidos de satisfazer ao desejo da maioria dos nossos
leitores breve nota, o que foi em toda a
sua vida o homem eminente cujo 500º aniversário a Boêmia celebrará no próximo
dia 4 de setembro:
João Huss nasceu a 6 de julho de 1373 sob o reinado do
imperador Carlos IV e sob o pontificado de Gregório XI, cerca de cinco anos
antes do grande cisma do Ocidente, que se pode encarar como uma das sementes do
hussitismo. A História nada nos
ensina do pai e da mãe de João Huss, senão que eram criaturas probas, mas de
origem obscura. Segundo o costume da Idade Média, João Huss ou melhor, João de Huss, foi assim chamado porque
nasceu em Huissinecz, pequeno burgo
situado ao sul da Boêmia, no distrito de Prachen,
nas fronteiras da Baviera.
Seus pais tiveram o maior cuidado com sua educação. Tendo
perdido o pai na infância, sua mãe lhe ensinou os primeiros elementos de
gramática em Hussinecz, onde havia
uma escola. Depois o levou a Prachen, cidade do mesmo distrito, onde havia um
colégio ilustre. Logo fez grandes progressos nas letras e atraiu a amizade dos
mestres por sua modéstia e docilidade, conforme testemunho que a Universidade
de Praga lhe prestou após sua morte. Quando estava bastante adiantado para ir a
Praga, sua própria mãe o conduziu. Contam que esta pobre mulher, cheia de zelo
pela educação do filho, levava consigo um ganso e um bolo, para presenteá-las
ao seu regente. Mas, infelizmente, o ganso fugiu no caminho, de sorte que, para
seu grande pesar, ela não tinha senão o bolo para dar de presente ao mestre.
Magoada profundamente por este pequeno incidente, orou várias vezes, pedindo a
Deus que se dignasse ser o pai e o preceptor de seu filho.
Quando ele adquiriu em Praga sólidos conhecimentos em
literatura, os professores, nele notando muita inteligência e vivacidade de
espírito, bem como uma grande atividade pela Ciência, julgaram por bem matriculá-lo
no capítulo Universidade que tinha sido fundada em 1247 pelo imperador Carlos VI, rei da Boêmia, e confirmada
pelo papa Clemente VI.
Afastado das diversões da juventude, João Huss empregava
suas horas vagas para boas leituras. Lia com prazer sobretudo as dos antigos
mártires, Conta-se que um dia, lendo a lenda de São Lourenço, quis experimentar se teria a mesma coragem desse
mártir, pondo o dedo no fogo; mas acrescentam que logo o retirou, muito
descontente com a sua fraqueza, ou que um de seus camaradas a isto se opôs.
Seja como for, ao que parece ele não fazia mal em se
preparar para o fogo. Aliás, quando quis fazer este ensaio, já estava bastante
avançado em idade para que o edito de 1276, pelo qual Carlos VI condenava os heréticos ao fogo, de algum modo lhe desse o
pressentimento do que devia acontecer com ele.
Um grande obstáculo se opunha ao ardor que tinha João Huss de se instruir: a pobreza.
Neste apuro, aceitou a oferta que lhe fez um professor, cujo nome é ignorado,
de tomá-la ao seu serviço e de lhe fornecer os livros e tudo o que era
necessário para prosseguir seus estudos. Embora essa situação fosse bastante
humilhante, ele a achava feliz tendo em vista o seu objetivo, e a aproveitou
tão bem que satisfez, ao mesmo tempo, seu mestre, cuja amizade ganhou, e sua
paixão pelas letras.
João Huss fez
progressos consideráveis na Universidade; por seus livros, parece que era
versado na leitura dos Pais gregos e latinos, pois que os cita muitas vezes.
Pode-se julgar por seus comentários que sabia grego e tinha noções de hebreu.
Com cerca de vinte anos, conquistou o titulo de bacharel e, dois anos depois, o
de mestre em artes. Não se sabe quem
foram seus mestres, salvo o que ele
próprio diz de Stanislas Znoima, que,
mais tarde, se tornou um de
seus maiores adversários. Ordenou-se sacerdote em 1400 e, no mesmo ano, foi
nomeado pregador da capela de Belém. Foi aí que teve oportunidade de exercitar
os seus talentos, querido por uns, suspeito e odiado por outros, admirado por
todos. Na mesma época foi nomeado confessor de Sofia da Baviera, rainha da Boêmia.
Foi no período de 1403 a 1408 que João Huss juntamente com Jerônimo de Praga, estudou as obras de Wyclif e de Jacobel e começou a se separar do ensino ortodoxo. Desde o começo, um certo número
de discípulos que sempre lhe foram fiéis, mantiveram-se ligados a ele.
No dia 22 de outubro de 1409 foi nomeado reitor da
Universidade de Praga, desobrigando-se desse novo encargo com os aplausos de
todo o mundo. Até então, não havia aprovado as doutrinas de Wyclif senão em termos vagos e com
cautela. Nessa época começou a falar mais abertamente de suas crenças pessoais.
Entre suas obras anteriores ao concílio de Constança,
nota-se o Tratado da Igreja, de onde
foram tirados todos os argumentos para sua condenação. Durante o seu cativeiro, consagrou-se especial e
inteiramente à execução de suas últimas obras filosóficas. Foi assim que fez os
manuscritos do Tratado do casamento, do
Decálogo, do amor e do conhecimento de Deus, da Penitência, dos três inimigos
do homem, da ceia do Senhor, etc.
Todos os historiadores contemporâneos, mesmo entre os
seus adversários, rendem homenagem à pureza de sua vida: "Era, dizem, um filósofo, de grande reputação
pela regularidade de seus costumes, sua vida rude, austera e inteiramente
irrepreensível, sua doçura e sua afabilidade para com todos; era mais sutil que
eloquente, mas sua modéstia e seu grande espírito conciliador persuadiam mais
que a maior eloquência."
Não nos permitindo a falta de espaço que nos estendamos
tanto quanto desejaríamos, limitar-nos-emos a algumas citações características.
Longe de temer a morte, por vezes parecia aguardá-la com impaciência, como o
termo de seus trabalhos e o início da recompensa.
Tinha o hábito de dizer: "Ninguém é recompensado na outra vida mais do que
mereceu nesta, e que os modos e locais de recompensa variavam segundo os
méritos." Aos que queriam convencê-lo a se retratar e abjurar, várias
vezes deu esta resposta digna de nota: ''Abjurar
é deixar um erro que se cometeu; se alguém me ensinar algo melhor do que avancei;
estou pronto a fazer de bom grado o que exigis de mim.”
Terminamos pelo testemunho da Universidade de Praga, dado
em seu favor após a sua morte:
"Dizem que ele tinha, neste terreno, um espírito
superior, uma penetração viva e profunda; ninguém era mais apto para escrever
de um jato, nem dar respostas mais contundentes às objeções. Ninguém tinha um
zelo mais veemente, nem melhor discernimento; jamais o pilharam em erro, a não
ser na opinião dos maus, que o atacaram ferozmente por causa de seu amor pela
justiça. Ó homem de virtude inestimável, de brilhante santidade, de humilde e
piedade inimitáveis, de desinteresse e de caridade inacreditáveis! Desprezava
as riquezas no último grau, abria o coração aos pobres; muitas vezes era visto
de joelhos, ao pé do leito dos doentes; vencia as naturezas mais indomáveis
pela doçura e levava os impenitentes a se desfazerem em lágrimas; tirava das
Santas Escrituras, sepultada no esquecimento, motivos novos e poderosos, a fim
de exortar os eclesiásticos viciosos a voltarem atrás em seus desregramentos e
a cumprirem os compromissos de seu caráter,
e para reformar os costumes de todas as ordens com base na Igreja primitiva.
"Os opróbrios, as calúnias, a fome, a infâmia, mil torturas
cruéis e, enfim, a morte que padeceu, não só com paciência, mas mesmo com um
semblante tranquilo e risonho, tudo isto é o testemunho autêntico de uma
virtude a toda prova, de uma coragem, de uma fé e de uma piedade inabaláveis.
Julgamos por bem expor todas estas coisas aos olhos da cristandade, a fim de impedir
que os fiéis, enganados pelas falsas imputações, maculem o conceito deste homem
justo, nem dos que seguem sua doutrina.”
Evocado por um de nossos médiuns, o Espírito de João Huss
deu a seguinte comunicação, que nos apressamos em mostrar aos nossos leitores,
bem como uma instrução do Sr. Allan Kardec sobre o mesmo assunto, porque nos
parecem bem caracteriza a natureza do homem eminente,
que se ocupou com tanto ardor desde o século quinze, a preparar os elementos da
emancipação e da regeneração filosóficos da Humanidade.
(Paris, 14 de agosto de 1869)
A
opinião dos homens pode dispersar-se momentaneamente, mas a justiça de Deus,
eterna e imutável, sabe recompensar, quando a justiça humana castiga, perdida pela iniquidade
e pelo interesse pessoal. Apenas cinco séculos (um segundo na eternidade) se
passaram desde o nascimento do obscuro e modesto trabalhador e já a glória
humana, à qual ele não se prende mais, substituiu a sentença infamante e a
morte ignominiosa, incapazes de abalar a firmeza de suas convicções.
Como és grande, meu Deus, e como é
infinita a tua sabedoria! Sob o teu sopro poderoso minha morte tornou-se um
instrumento de progresso. A mão que me feriu alcançou, com o mesmo golpe, os
terríveis erros seculares de que se encharcou o espírito humano. Minha voz
encontrou eco nos corações indignados pela injustiça de meus algozes, e meu
sangue, derramado como um orvalho benfazejo sobre um solo generoso, fecundou e
desenvolveu nos espíritos adiantados de meu tempo os princípios da eterna
verdade. Eles compreenderam, refletiram, analisaram, trabalharam e, sobre bases
informes, rudimentares das primeiras crenças liberais, edificaram, na sucessão
das eras, doutrinas filosóficas verdadeiramente generosas, profundamente religiosas
e eternamente progressivas.
Graças a eles, graças aos seus
trabalhos perseverantes, o mundo sabe que João Huss viveu, sofreu e morreu por
suas crenças; é muito, meu Deus, para os meus frágeIs esforços, meu espírito reabilitado tem dificuldade em
resistir aos sentimentos de reconhecimento e de amor que o arrebatam. Reconhecer
que se enganaram ao me condenar, era justiça; as homenagens e os testemunhos de
simpatia com que me glorificam são excessivos para os meus fracos méritos.
O Espírito humano tem caminhado desde
que o fogo consumiu meu corpo. Uma chama não mais destrutiva, mas regeneradora,
abarca a Humanidade; seu contato purifica, seu calor faz crescer e vivifica.
Nesse foco benfazejo vêm reanimar-se todos os feridos pela dor, todos os
torturados pela provação da dúvida e da incredulidade. O sofredor se afasta
consolado e forte; o indeciso, o incrédulo e o desesperado, cheios de ardor, de
firmeza e de convicção, vêm engrossar o exército ativo e fecundo das falanges
emancipadoras do futuro.
Aos que me pediam uma retratação,
respondi que só renunciaria às minhas crenças diante de uma doutrina mais
completa, mais satisfatória, mais verdadeira. Pois bem! desde esse tempo meu
Espírito se engrandeceu; encontrei algo melhor do que havia conquistado e, fiel
aos meus princípios, repeli sucessivamente o que minhas antigas convicções
tinham de errôneo, para acolher as verdades novas, mais largas, mais
consentâneas com a ideia que eu fazia da natureza e dos atributos de Deus.
Espírito, progredi no espaço; voltando à Terra, progredi também. Hoje, voltando
novamente à pátria das almas, estou na fila da frente ao lado de dos os que,
sob este ou aquele nome, marcham sincera e ativamente para a verdade e se
dedicam, de coração e de espírito, ao desenvolvimento progressivo do espírito humano.
Obrigado a todos os que reverenciam em
minha personalidade terrestre a memória de um defensor da verdade; obrigado,
sobretudo, aos que sabem que, acima do homem há o Espírito, libertado pela
morte dos entraves materiais, a inteligência livre que trabalha em acordo com
as inteligências exiladas, a alma que gravita incessantemente para o centro de
atração de todas as criações: o infinito, Deus!
João Huss
(Paris, 17
de agosto de 1869)
Analisando através das eras a História da Humanidade o
filósofo e o pensador logo reconhecem, na origem e no desenvolvimento das
civilizações, uma gradação insensível e contínua. - De um conjunto
homogêneo e bárbaro surge, em primeiro lugar, uma inteligência isolada, desconhecida
e perseguida, mas que, não obstante, faz época e serve de baliza, de ponto de
referência para o futuro. - A tribo, ou se quiserdes, a nação, o Universo avançam em idade
e as balizas se multiplicam, semeando aqui e ali os princípios de verdade e de
justiça que serão a partilha das gerações que chegam. Essas balizas esparsas
são os precursores; eles semeiam uma ideia, desenvolvem-na durante sua vida
terrena, vigiam-na e a protegem no estado de Espírito, e voltam periodicamente
através dos séculos para trazerem seu concurso e sua atividade ao seu
desenvolvimento.
Tal foi João Huss
e tantos outros precursores da filosofia espírita.
Semearam, laboraram e fizeram a primeira colheita; depois
voltaram para semear ainda, esperando que o futuro e a intervenção providencial
viessem fecundar sua obra.
Feliz aquele que, do alto do espaço, pode contemplar as diversas
etapas percorridas e os trabalhos realizados por amor à verdade e à justiça; o
passado não lhe dá senão satisfação, e se suas tentativas foram incompletas e
improdutivas no presente, se a perseguição e a ingratidão
por vezes ainda vêm perturbar a sua tranquilidade, ele pressente as alegrias
que lhe reserva o futuro.
Glória na Terra e nos espaços a todos os que consagraram
a existência inteira ao desenvolvimento do espírito humano. Os séculos futuros
os veneram e os mundos superiores lhes reservam a recompensa devida aos
benfeitores da Humanidade.
João Huss encontrou no Espiritismo uma crença mais
completa, mais satisfatória que suas doutrinas e o aceitou sem restrição. -
Como ele, eu disse aos meus adversários e contraditores: "Fazei
algo de melhor e me reunirei a vós."
O progresso é a eterna lei dos mundos, mas jamais seremos
ultrapassados por ele, porque, do mesmo modo que João Huss, sempre aceitaremos
como nossos os princípios novos, lógicos e verdadeiros que cabe ao futuro nos
revelar.
Allan Kardec
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